domingo, 18 de janeiro de 2015

CRISTO MORTO OU RESSUSCITADO?

Em breve comemora-se o carnaval, os dias de folia, o reinado de momo, a festa da carne. Logo depois, as pessoas são tomadas por tamanha comoção, sensibilidade e "espiritualidade" incomuns - por apenas 40 dias! É a chamada quaresma. Tanta espiritualidade tem seu ápice na chamada sexta-feira da paixão. Para muitos, trata-se de mais um fim de semana prolongado, outra oportunidade para o descanso e lazer. Para outros, - os tais espiritualizados - é um feriado religioso, ocasião para celebração e reflexão. 

Na sexta-feira chamada santa, a ênfase é no Cristo morto na cruz do Calvário, imagem que ficou impregnada na tradição cristã e no imaginário da maioria de crentes e descrentes - até porque a cruz é um dos símbolos mais utilizados para representar o cristianismo. Para muitos, a cruz passou a ser o centro da história. Sem ela, nada na vida tem significado. Seu simbolismo remete diretamente à salvação.

A salvação de todos, através do trabalho missionário e evangelismo, tem sido o objetivo de muitas denominações evangélicas. A abordagem do trabalho na Igreja tem sido em sua grande maioria, tirar o pecador do lamaçal do pecado. Depois de convertido, o novo crente logo aprende que também deve se engajar nessa tarefa árdua de levar outros a Cristo, para que, depois de convertido, possam estes também levar outros aos pés do Senhor, e assim por diante.

Nada de errado há, claro, com a necessidade da pregação do Evangelho e do trabalho missionário. Esta tem sido a grande ênfase da Igreja Cristã nos últimos cinco séculos. A questão é que, quando focamos apenas a cruz e tão somente a evangelização como obra central da Igreja, deixamos de lado o que é mais importante - a vitória de Jesus Cristo pela ressurreição. Um Cristo morto é como qualquer outro líder religioso também morto, mas não ressuscitado. Um cristo morto é apenas ignominia, desprezo, maldição - e ele se fez maldição por nós. Morrer na cruz, qualquer um podia, tanto que ele não estava sozinho na sua morte de cruz. Não havia nada de sobrenatural em morrer na cruz. O sobrenatural está é na ressurreição e essa sim deve ser o foco, a base, o sustentáculo da nossa fé.

Se enfatizamos apenas a cruz e a salvação, corremos o grave risco de pregarmos um evangelho antropocêntrico, que só interessa ao homem. Seria como focalizar o presente ao liberar o homem de suas angústias materiais ou apenas alimentar o desejo humano de evitar o inferno.

A ressurreição é tão importante que Cristo é declarado Filho de Deus por meio dela. A cruz foi fundamental, sem ela, não haveria perdão de pecados. Mas o que  dá significado ao Evangelho é a obra completa que se realizou pela ressurreição. Portanto, a pedra removida do sepulcro é o centro da história humana, e não a cruz. Sem a ressurreição, nossa fé seria vã, disse o apóstolo Paulo, que também mostrou que assim como fomos crucificados com Cristo, devemos ser com ele ressuscitados, e isso em novidade de vida.

Ser salvo requer apenas o exercício do arrependimento e da fé. Mas prosseguir para assumir uma nova vida, uma vida ressuscitada, requer abnegação incondicional a cada momento. Isso é centenas de vezes indesejável - afinal, quem desejaria abandonar sua vontade, suas aspirações, seus bens e direitos, e diariamente entregá-los no altar de Jesus, conforme Romanos 12:1? O Evangelho da cruz é mais fácil. Mas Jesus não ficou no túmulo. Então, será que ainda vale a pena continuar no túmulo de nossa vida?

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