quinta-feira, 4 de março de 2021

A BÍBLIA COMO ELA É: DO TABERNÁCULO A CRISTO — 1) INTRODUÇÃO

Como eu sempre digo, a Bíblia Sagrada é linear em seu contexto, do Gênesis ao Apocalipse, sem qualquer inconsistência em seus relatos. Os ensinamentos e a simbologia profética do Tabernáculo é mais uma das provas incontestes disso.

Embora muitos não saibam (e há os que sabem e ignoram), é útil estudar sobre o Tabernáculo para aprender mais da pessoa de Cristo. O espírito da profecia é Cristo:
"E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: 'Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia'" (Apocalipse 19:10 —  [cf. 1 Pedro 1:10,11]).
O nosso conhecimento de Cristo não é danificado pelo estudo do Velho Testamento, mas é instruído e fortalecido pelo estudo do Velho Testamento. Por isso convém estudar o que diz a Bíblia sobre o Tabernáculo. 

Devido à complexidade do tema, para melhor compreensão didática, irei dividi-lo em capítulos, sendo que, ao final de cada capítulo creditarei todas as minhas fontes de pesquisas.

O significado do Tabernáculo


Tabernáculo (em hebraico: מִשְׁכַּן, mishkan, "residência" ou "habitação"), de acordo com a Bíblia hebraica, era a habitação terrestre de Deus entre os filhos de Israel desde o tempo do Êxodo do Egito até a conquista da terra de Canaã.

Ou seja, o Tabernáculo era o lugar onde Deus escolheu manifestar a Sua presença de glória no meio de seu povo. O Tabernáculo também é chamado no Antigo Testamento de "santuário" e "tenda da congregação". Essa designação indica seu propósito e significado em ser um lugar de reunião entre Deus e seu povo escolhido.

Um projeto de Deus


O Tabernáculo foi construído de acordo com as especificações que Moisés recebeu diretamente do próprio Deus (Êxodo 25:1; 31:18). Isto teve lugar por ocasião da aliança que Deus estabeleceu com seu povo no Sinai. Então Israel deveria ser reconhecido como o povo pertencente ao Senhor, e o Tabernáculo serviu como símbolo claro da autoridade divina sobre aquele povo.

O Tabernáculo foi usado como santuário portátil durante a peregrinação pelo deserto. Os levitas eram os responsáveis por montar, desmontar e transportar o Tabernáculo. Depois, mesmo após os israelitas terem entrado em Canaã, o Tabernáculo continuou sendo utilizado por eles durante muito tempo.

Devido a sua portabilidade, o Tabernáculo esteve em diferentes locais da Terra Prometida, até chegar finalmente em Jerusalém, quando o rei Salomão construiu o Templo (cf. Josué 18:1; 1 Samuel 21; 1 Crônicas 16:39; 1 Reis 8:4). Depois da construção do Templo não havia mais a necessidade de se transportar o Tabernáculo como um santuário móvel.

Qual o objetivo da construção do Tabernáculo?


Por que Deus mandou construir o Tabernáculo? Certamente essa é a pergunta que muita vezes nos fazemos. Uma coisa é certa, absolutamente nada do que Deus faz não deixa de ter propósitos específicos, tais quais, à saber: promover a Sua comunhão com Homem, manifestar a Sua glória, exercer Seu poder e Sua soberania. No caso do Tabernáculo, não foi diferente. Vamos fazer uma análise do contexto.

Os Israelitas estão aos pés do Monte Sinai, e um dos maiores pilares de sua 
herança eterna é lançado. Deus diz para Moisés:
"E me farão um santuário, e habitarei [betochan] no meio deles" (Êx 25:8).
A construção do Mishkan, o Santuário portátil, que acompanhará os Hebreus durante a sua jornada pelo deserto, é iniciada. Ele serviria como um precursor do Beit haMikdash, a Casa Santa, o Templo que seria erguido em Jerusalém.

Se o objetivo final era a construção do Templo em Jerusalém, por que Deus ordena que os Israelitas fizessem o Tabernáculo?

Primeiramente, a Bíblia introduziu no mundo o conceito sublime da onipotência e onipresença de Deus, que pode ser encontrado e adorado em qualquer parte do mundo.

E se Deus é onipresente, porque Ele necessitaria de um "endereço espiritual"?

Não estariam os Hebreus limitando Deus, ao construírem uma "casa" para Sua habitação? Ou seja, porque Deus determinaria a construção do Santuário, se Ele não pode ser corporalmente definido, ou limitado a um local específico?

Uma das abordagens da Midrash (a Tradição Oral) afirma que a ordem para a criação do Mishkan, o Tabernáculo, foi em resposta ao pecado do עגל הזהב egel hazahav, o bezerro de ouro.

O Êxodo, entretanto, traz a narrativa do Tabernáculo sete capítulos antes do episódio do bezerro de ouro.

A abordagem da tradição oral sobre o Tabernáculo, requer uma reorganização do texto, seguindo o princípio do Ein mukdam umeuchar ba'Torah — o texto bíblico não segue, necessariamente, a ordem cronológica dos acontecimentos.

Esta reordenação da narrativa, nos permite lançar nova luz sobre o simbolismo complexo do Templo e do santuário do Senhor, uma vez que o Tabernáculo não fazia parte do plano original de Deus para o seu povo.

Deus não precisava de um "Santuário feito por mãos de homem". O ser humano, este sim é quem demonstrou precisar, por causa da sua imaturidade e inabilidade de se relacionar com o Criador.

O povo de Israel estava já sem esperança, distanciado de Deus, após pecar adorando a um bezerro feito de ouro. O Senhor, contudo, ultrapassa essa fissura profunda no relacionamento com os filhos de Jacó, para mostrá-los o caminho de volta à casa do pai.

Era necessário um intermediário. E é aqui que entra o Tabernáculo, com todas as suas simbologias do sacrifício expiatório do ungido do Senhor, trazendo uma nova oportunidade para o povo se aproximar de Deus.

Se entendidos de forma própria, vemos que cada detalhe, dos rituais e utensílios do Tabernáculo traz uma mensagem de que Deus desejava ardentemente se fazer acessível ao homem, e perdoá-lo.

O Senhor começa um processo de revelação ao homem, de como deveria corrigir os seus caminhos para chegar à perfeita comunhão com Ele, que futuramente levaria ao entendimento do Sacrifício eterno de Jesus.

E habitarei dentro deles

"E me farão um santuário [מִקְדָּ֑שׁ mikdash], e habitarei no meio deles [בְּתוֹכָֽם betochan]" (Êx 25:8).
Dois padrões linguísticos surgem, se observarmos cuidadosamente o mandamento para a construção do Mishkan, o Tabernáculo. As palavras "no meio deles" em hebraico correspondem ao termo בְּתוֹכָֽם betochan — que significa "dentro deles".

E porque Deus afirmaria que "habitaria dentro deles", em paralelo com a ordem para se fazer o Tabernáculo? Ainda, na ordem para erguer o Tabernáculo, Deus usa uma palavra genérica, que não significa exatamente o termo "Tabernáculo".

Tabernáculo em hebraico é Mishkan. Mas no Êxodo 25:8 o Senhor fala de um מִקְדָּ֑שׁ mikdash — que traduzido é, "um lugar santo". Porque a Bíblia usa este termo genérico "um lugar santo"?

Este é o único texto em que o Tabernáculo não é tratado por seu nome real, "Mishkan".

Acompanhando a temática bíblica, esta passagem faz muito sentido. O Êxodo diz, "e habitarei dentro deles", porque Deus não habitou no Tabernáculo e nem habitaria, mais tarde, no Beit haMikdash, o Templo de Salomão.

Séculos depois, na histórica consagração do Templo em Jerusalém, שלמה מונרך, Shlomo haMelech, o Rei Salomão, deixou este entendimento muito claro:
"Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado. 
Ouve, pois, a súplica do teu servo, e do teu povo Israel, quando orarem neste lugar; também ouve tu no lugar da tua habitação nos céus; ouve também, e perdoa" (1 Reis 8:27,30 — grifo acrescentado).
Os sentimentos de Salomão foram brilhantemente antecipados pela Bíblia, logo no início, na ordem para edificar o Tabernáculo.

O texto declara "e habitarei dentro deles", para enfatizar que o propósito do Santuário era trazer Deus para dentro da vida do Seu povo.

Podemos ter ainda um entendimento mais profundo, ao entendermos que os Israelitas foram ordenados não somente a construir um Santuário físico, mas a constituir um Santuário no interior de seus próprios corpos, de ordem espiritual, dentro de suas almas.

Eles são instruídos a criar "um lugar santo", para Deus "habitar dentro deles", nas suas almas e nos seus corações.
"Jesus respondeu, e disse-lhes: 'Derribai este templo, e em três dias o levantarei'. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo" (João 2:19-21 — grifo acrescentado)
É semelhante o entendimento da palavra genérica מִקְדָּ֑שׁ mikdash — um lugar santo. Muitos comentaristas afirmam que este termo reflete o caráter de uma obrigação eterna.

O povo de Deus recebeu este mandamento para edificar um lugar santo, não apenas em um ponto da história, mas eternamente.

O rabino Ohr Hachaim nos ensina que o termo mikdash, um lugar santo, traz uma lição muito bonita aos nossos corações. Alguém poderia esperar que o Santuário só se tornaria santo após a sua consagração a Deus.

Entretanto, ao se referir ao Santuário, imediatamente como "um lugar santo", a Bíblia transmite a ideia verdadeira de que o Templo é santo desde o momento em que os Israelitas começam a criá-lo.

Ou seja, o Templo é santo, desde o momento em que os Israelitas decidem obedecer à voz de Deus. A santidade é criada neste mundo quando o homem age em acordo com a vontade divina.

Quando o homem obedece a Deus, ele imediatamente é investido da santidade, pois é santificado pelo Senhor.
"Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando" (Jo 15:14).

Conclusão

Hora de avançar


A maior importância desses capítulos não consiste em descrever o ritual ou dizer como Deus será adorado. Isso será mostrado no livro de Levítico. Toda a ênfase aqui é no preparo do lugar onde "Deus habitará". Na nossa experiência de fé sabemos que 
"o Altíssimo não habita em casas feitas por homens" (Atos 7:48). 
Por isso, nossa fé não está centrada em lugares sagrados, mas na pessoa e presença de Cristo em nós. No entanto, essas instruções têm muito a ensinar o povo de Deus hoje, pois, mostra como um povo liberto deve viver com a consciência da presença constante de Deus no centro da vida comunitária.

Os autores do Novo Testamento aplicam continuamente figuras do tabernáculo para a vida do cristão. Veja por exemplo 1 Pedro 2 e Romanos 8

Para terminar essa introdução


Uma reflexão: imagine o que significa acordar toda manhã e ver no centro do acampamento um sinal visível da presença de Deus. Será que isso afetava o modo como as pessoas viviam o seu cotidiano? Quais são algumas coisas que fazemos para nos lembrar a cada dia que vivemos na presença de Deus e que tudo que fizermos deve ser feito na presença dEle?

[Fonte: Estilo Adoração, por Daniel Conegero; Rude Cruz, por Israel Silva; Comunhão; ICP Instituto Cristão de Pesquisas]
  • Continua no próximo capítulo.
A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso. 
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

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