terça-feira, 24 de novembro de 2020

FILMES QUE EU VI — 61: "NASCE UMA ESTRELA", DE 1976


O filme "Nasce uma Estrela", de 2018, estrelado por Lady Gaga e Bradley Cooper ("Sniper Americano", 2014), fez muito sucesso, arrecadando milhões de euros e colecionando prêmios. Além disso, a atuação e química dos atores foi muito elogiada. A cantora pop Lady Gaga surpreendeu com sua brilhante atuação como protagonista (muitos, aliás, pensaram que ela não consegueria dar conta do recado, em sua estreia como atriz, em um papel de tanto peso).

Porém, o que muitos não sabem é que essa não foi a primeira vez que a trama de Hollywood "Nasce uma Estrela" chegou aos cinemas. Em 1937, o filme foi lançado pela primeira vez, com Janet Gaynor (✩1906/✞1984, "Garota do Interior", 1936) e Fredric March (✩1897/✞1975, "O Médico e o Monstro", 1936) nos papéis principais, os quais tinham os nomes fictícios de Esther Blodgett e Norman Maine. 

A história ganhou o primeiro remake em 1954, com Judy Garland (✩1922/✞1989, "O Mágico de Oz", 1939) e James Mason (✩1889/✞1959, "Condenado", 1947), e o segundo em 1976, com Barbra Streisand ("O Príncipe dos Mares", 1991) e Kris Kristoofferson ("Blade, O Caçador de Vampiros", 1998). E é sobre esse remake que vou falar, pois, o original eu não cheguei a assistir e nem o de 1954. Assisti ao de 1976 e o de 2018, com a Lady Gaga e Bradley Cooper, mas, entre os dois, fico com o de Barbra Straisend e Kris Kristoofferson, que, na minha opinião, não tem como comparar.

Porque é melhor

(Mesmo com os contras)

O mais interessante nesta versão da história de "Nasce Uma Estrela" é sua transposição ao cenário decadente dos artistas setentistas.

Kris Kristofferson interpreta um clássico exemplo de artista que já passou de seu auge e hoje encontra-se num caminho rumo à decadência: é alcoólatra, fadado ao fracasso, enquanto Barbra encarna uma cantora amadora, mas que desde os primeiros instantes em cena transpira o status glamouroso que a própria celebridade carrega. 

Não há uma tentativa de esconder que essa versão do clássico é mais próxima de uma maneira de consolidar Barbra Streisand num cânone artístico do que qualquer tentativa de validar-se artisticamente.

Comparando, é evidente que há pouco esforço em firmar John, rockstar decadente perto de Esther, uma presença única de corpo e alma. Ele beira o superficial e o estereótipo da época e não há um bom balanço em comparação à Barbra, que é o grande veículo do filme.

É um cenário mais vivo e com melhores oportunidades de encenação, durante um contexto bastante interessante de ser explorado, mas é dependente demais da figura de uma estrela que acaba não compensando no final das contas.

Drama em essência


De acordo com a análise do saudoso crítico de cinema Rubens Ewald Filho (✩1945/✞2019), dramaticamente há menor dependência da musicalidade, comparado à versão de 1954, onde Judy Garland talvez tivesse maior peso a ser segurado que Barbra, mas há essa abordagem fria que pouco funciona. 

Rubens, em sua análise, diz ainda que tudo é trabalhado de forma descompensada, deixado de lado, um filme sem eira nem beira sobre artistas numa época anárquica da música. Realmente, dá para se observar uma certa falta sentimento e pessoalidade nesse trabalho concupiscente que demanda pulso mais firme, justamente devido ao período de turbulências social, cultural e artística, pano de fundo de toda a trama, da época. Se Kristofferson interpreta um músico descompensado e louco no palco, muito reflete o trabalho de roteiro e direção do próprio filme.

Tenta-se romper com antigos regimes cinematográficos, mas não há noção de como fazer ao menos o básico. Há a preferência por uma estrutura de filme-show onde faça Barbra Streisand brilhar musicalmente, e é cativante o suficiente para satisfazer por momentos, mas o fascínio acaba assim que qualquer outra peça é posicionada ou qualquer drama é plantado. 

Duas horas e vinte é tempo demais para um filme tão incipiente que não é capaz de explorar a década de excessos que foram os anos 70. Em certos momentos, o tédio bate a porta mais que o aceitável. Ainda de acordo com o Rubens, mesmo duas décadas depois, o filme de Frank Pierson (✩1925/✞2012, "Um Dia de Cão", 1975) não é mais enxuto ou dinâmico que a versão de três horas estrelada por Judy Garland, que além de contar com o carisma da artista é composto brilhantemente em quase todos os aspectos.

Por mais que seja um projeto situado num contexto brilhante do cenário de rock dos anos setenta, "Nasce Uma Estrela" é largado demais, sem vetor guiando a condução do filme e busca uma estratégia egocêntrica de abusar da figura da Barba Streisand para atingir o sucesso. 

Não digo que não vá cativar em seus melhores momentos, mas há largos instantes onde pouco acontece, além de ser desorganizado e nitidamente feito sem qualquer carinho. Mesmo assim, com todos esses contras, o filme ainda é melhor do que o remake de Bradley Cooper (que também atua como o protagonista Jackson). 

Tá bom, confesso, sou fã de Barbra Straisend e nem um pouco de Lady Gaga, mas reconheço que ela fez por merecer os prêmios recebidos (embora eu considere a música 'Shallow' um horror que a tal de Paula Fernandes fez a proeza de conseguir piorar, com sua famigerada pérola 'Juntos [e Shallow Now]', num dueto inaldível com o tal de Luan Santana).

Conclusão



A trama, que faz sucesso por mais de 80 anos, conta a história da jovem que se apaixona por um complicado homem famoso, que vê seu prestígio cair, enquanto ela ascende. O filme retrata pontos muito importantes, além do nascer de uma estrela, ele aborda o lado ruim da fama e apresenta críticas sociais envolvendo não só a decadência e o fracasso, mas também a depressão.

Por fim, em essência, o filme permanece o mesmo, apresentando uma perspectiva sobre a construção e manutenção da fama em cada época, além, é claro, de seguir o mesmo enredo principal. Contudo, apesar da estrutura não sofrer tantas alterações, os roteiristas tomaram a liberdade de adaptar a história de forma a tornar essa franquia relevante a cada década.

Entre os quatro filmes é possível notar diversas semelhanças e diferenças. Mas, obviamente, não vou falar sobre isso aqui, mas indico a matéra do site Prosa Livre: "As Diferenças e Semelhanças Entre as Quatro Versões de 'Nasce Uma Estrela'".

Ficha Técnica


  • Nasce Uma Estrela (A Star Is Born) – EUA, 1976

  • Direção: Frank Pierson

  • Roteiro: Robert Carson, Frank Pierson, John Gregory Dunne, Joan Didion, William A. Wellman

  • Elenco: Barbra Streisand, Kris Kristofferson, Gary Busey, Oliver Clark, Paul Mazursky, Joanne Linville, Venneta Fields, Clydie King, Marta Heflin, Sally Kirkland, M.G. Kelly, Bill Graham, Rita Coolidge

  • Duração: 139 min.
[Fonte: Plano Crítico, por Bruno dos Reis Lisboa Pires]
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