"Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade" (2 Coríntios 13:8).
"...e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela..." (Mateus 16:18b).
É impressionante ver o quanto a internet — principalmente através da plataforma de vídeos YouTube, das redes/mídias digitais/sociais (principalmente o Facebook) e do aplicativo de mensagens WhatsApp — foi inundada de teorias conspiratórias sobre o novo coronavírus e sobre a resposta dos governantes e das autoridades científicas a ele.
É preocupante quando vemos muitos líderes religiosos (patentei-os com o título eclesiástico que quiser) engrossando o caldo de eloquentes sermões e palestras (seja de púlpito, seja via lives) com eles. É assustador o número de cristãos — fiéis seguidores dessas personalidades religiosas — que não só acreditam, como fazem tanta questão de dar toda sua atenção à essa avalanche de teorias conspiratórias (quanto mais complicadas e, claro, como não podia deixar de ser, e com viés apocalíptico, mais atrativas se tornam).
O fato é que vemos muitos de nossos amigos cristãos considerando teorias conspiratórias — se não acreditando nelas, pelo menos ouvindo-as. Mas, a pergunta que me faço é: por que conspirações são tão atraentes agora?
Um entendimento bíblico sobre conspirações
"Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem".
Esse antigo dito popular expressa, creio eu, o que devemos crer em relação à existência de conspirações em nosso mundo. Esclareço, de imediato, que não sou um conspiracionista. Não acredito em Illuminati (nem sob tortura!). Não creio na existência da Área 51, nem que a chegada do homem a lua, em 1969, foi uma farsa. Não, também não acredito que a Terra é plana e muito menos ainda que podemos ter a qualquer momento uma invasão alienígena.
Sei que é necessário ter muito cuidado com aquilo que se lê e com o que é visto, pois, do contrário, começaremos a sair na rua com chapéus de alumínio na cabeça. Não obstante, creio que conspirações existem.
Veja bem, não estou me referindo a conspirações específicas como as mencionadas acima. Em hipótese alguma podemos esquecer da imensa capacidade do coração do homem para fazer o mal, e também para planejar, para engendrar perversidades as mais variadas, com consequências gigantescas.
Logo no início da revelação bíblica o Senhor Deus viu que era continuamente mau todo o desígnio do coração do homem (Gênesis 6:5). Por essa razão, a Bíblia apresenta diversos episódios nos quais homens maus conspiraram contra o povo da aliança:
"Quanto aos mais atos de Zinri e à conspiração que fez, porventura, não estão inscritos no Livro da História dos Reis de Israel?" (1 Reis 16:20).
O mesmo é dito a respeito de um homem chamado Salum:
"Quanto aos mais atos de Salum e a conspiração que fez, eis que estão escritos no Livro da História dos Reis de Israel" (2 Rs 15:15).
Antes disso, em Gênesis 37:18, a Escritura afirma que os irmãos de José
"...de longe o viram e, antes que chegasse, conspiraram contra ele para o matar".
O termo hebraico transmite a ideia de que eles planejaram de maneira a não transparecer nada para José.
Houve um planejamento, um conchavo para dar fim à vida de José. Houve uma deliberação nas sombras. Não há dúvidas de que o Senhor Deus tinha determinado todos os eventos da vida de José (45:8; 50:20). Mas também não pode existir dúvidas de que os seus irmãos foram responsáveis por todos os seus planos feitos nas sombras e por suas más ações.
Em algumas ocasiões o salmista Davi orou ao Deus, pedindo por livramento de conspirações:
"Esconde-me da conspiração dos malfeitores" (Salmo 64:2).
Ele se queixou diante do Senhor:
"Pois tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida" (31:13).
Os termos hebraicos nessas passagens designam reuniões, conselhos privados, assembleias (64:2), bem como homens se assentando juntos planejando uma forma de tirar a vida do salmista (31:13).
Um dos exemplos mais notáveis das conspirações arquitetadas contra Davi é a do seu filho, Absalão, em 2 Samuel 15. Seu plano envolveu conseguir um grupo de cinquenta homens que o apoiavam e estavam dispostos a lutar pela sua causa (v. 1). Além disso, Absalão não se levantou explicitamente contra o seu pai. Ele não invadiu de imediato o palácio com seus homens, para prender e matar Davi.
Sua conspiração envolveu sentar-se à entrada da porta e furtar o coração dos homens de Israel, demonstrando preocupação genuína pelo bem-estar do povo (vv. 2-6). Isso durou cerca de quatro anos, ao final dos quais, finalmente, Absalão executou seus maus desígnios e se proclamou rei em Hebrom (vv. 7-10). O texto nos diz ainda que duzentos homens que o acompanharam a Hebrom,
"...iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio..." (v. 11).
É certo que o texto não usa o termo "conspiração" para falar das ações de Absalão. No entanto, tomando por base a definição dada pelo teólogo Joe Carter, de que uma teoria da conspiração
"explica um evento ou um conjunto de circunstâncias como o resultado de uma trama secreta",
podemos estar certos de que Absalão conspirou. Isto posto, continuemos.
Pode escolher a sua
"Plandemia", o filme
- O vídeo "Plandemia" ganhou grande atenção com suas falsas alegações sobre a pandemia de COVID-19. O filme é estrelado por Judy Mikovits, que já foi uma pesquisadora médica legítima, mas desde então caiu em descrédito com o establishment científico. Ela promove a visão de que as vacinas são prejudiciais e que o novo coronavírus foi manipulado por engenheiros genéticos. O vídeo foi removido do YouTube (o que para alguns apenas fornece evidências de quão profunda é a conspiração!). E não demora muito para descobrir que o trabalho de Mikovits foi devidamente desacreditado.
Funcionários do Walmart e da Amazon, são imunes ao vírus?
- Recentemente, houve uma imagem viral circulando pelo Facebook alegando que nenhum funcionário do Walmart, Amazon, Target, Costco ou Kroger [grandes lojas de departamento norte-americanas] testou positivo para COVID-19, por isso é ridículo que as pequenas empresas tenham que permanecer fechadas. É tão fácil fazer ou compartilhar tal gráfico, e "parece correto" para as pessoas que estão frustradas que as empresas estejam sob restrição. Mas uma rápida verificação de fatos mostrou várias agências de notícias reportando que muitos Walmarts se tornaram epicentros da COVID e tiveram que ser fechados. Só que, claro, a maioria de nós não tem o saudável e recomendável hábito de checar as fontes.
Eu desejaria muito que esse tipo de conspiração e a disseminação de informações falsas e perigosas se limitassem a amigos do Face e grupos marginais do Zap. Mas, infelizmente, este não é o caso — líderes cristãos (não poucos deles) também estão alimentando as chamas da desinformação, do desserviço e, pior, manipulando textos bíblicos no engendramento de suas patacoadas paranoicas.
Síndrome do "profeta velho"
Cuidado: Quando não somos usados por Deus, somos usados pelo diabo
A Bíblia relata um fato bem interessante ocorrido entre um homem de Deus e um profeta velho. O homem de Deus havia recebido do Altíssimo uma missão em que deveria seguir à risca as instruções dadas por Ele:
"Porque assim me ordenou o SENHOR pela Sua palavra, dizendo: Não comerás pão nem beberás água; e não voltarás pelo caminho por onde vieste. Assim foi por outro caminho; e não voltou pelo caminho, por onde viera a Betel" (1 Rs 13:9).
Depois de cumprir a missão a ele designada, retornando por outro caminho, conforme Deus havia ordenado, o homem de Deus se deparou com o profeta velho, que o convenceu a voltar com ele e comer pão em sua casa:
"E ele lhe disse: 'Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem do SENHOR, dizendo: Faze-o voltar contigo à tua casa, para que coma pão e beba água (porém mentiu-lhe)'" (13:18).
Deixando-se levar pelas palavras daquele profeta velho, o homem de Deus desobedeceu a ordem Divina e voltou. E assim decretou a sua própria ruína, pois descumpriu a determinação do Senhor.
Interessante observar que a Bíblia não menciona o profeta velho como homem de Deus, ou simplesmente profeta, mas como profeta velho. Ou seja, embora ele fosse profeta, o Senhor já não falava com ele. Ele havia deixado de ser um homem de Deus, havia envelhecido, se acomodado espiritualmente, e por isso Deus não podia mais usá-lo.
Do contrário, por que o Altíssimo enviaria outro homem de Deus àquela cidade, se existia um lá?
Dadas as devidas proporções, distinções contextuais e circunstanciais, é exatamente o que vemos atualmente, principalmente nesse cenário de pandemia.
Muitos líderes de proeminentes organizações cristãs, têm vaticinado suas "mensagens proféticas urgentes" sobre a pandemia. Suas falas e/ou textos são cheios de avisos, advertências, julgamentos e sentenças, com muitos gestos, gritos, caras, bocas e, quando escritos, são em caixa alta (escrita em MAIÚSCULAS) com afirmações enfáticas sobre conspirações, sobre "pessoas muito más". Esses ilustres vão empurrando sua "ciência, medicina e teologia falsas" na multidão que lhes doam os ouvidos e a mente como reservatórios fecais.
Em suas muitas versões, o principal argumento que fomentam é que governantes e autoridades científicas (e outros) estão envolvidos em uma "farsa globalista" demoníaca para enganar e controlar a humanidade para estabelecer as bases para uma "nova ordem mundial".
Adicione a isso alguns links como uma palestra sobre os Illuminati, ("isso não é teoria da conspiração, mas fato de conspiração") e uma revelação auto-filmada sob um banner QAnon, [teoria da conspiração relacionada a extrema-direita americana] e… bem, você tem um "estudo e tanto".
Tais conteúdos absurdos em sua essência, mas, sim, até atrativos em seus contornos, contém conselhos que contradizem diretamente o consenso esmagador de cientistas e especialistas em saúde pública, mas também pede orações para que "as pessoas se levantem em desobediência civil pacífica" contra tais diretrizes.
Quando os líderes cristãos insistem em rejeição de medidas de saúde pública, precisamos ser francos sobre o impacto que suas palavras podem ter. Um modelo influente da Universidade de Washington citado pela Casa Branca recentemente dobrou a estimativa de mortes por coronavírus até agosto para surpreendentes 137.000 (com a estimativa pessimista se aproximando de 250 mil!), em grande parte devido à diminuição do distanciamento social e ao aumento do total de mortes. Isso é sério e ameaça várias vidas.
"O vírus é chinês, foi produzido em laboratório"
Eu fui o único que já leu vários textos e recebeu vários vídeos contendo tal afirmação (eles são sucessos absolutos em grupos de famílias e segmentados no WhatApp)? Acredito que não. No compêndio dessa conspiração, as motivações primazes, de acordo com os seus defensores, é o desejo da China em se tornar uma potência mundial e colocar todas as demais nações como suas escravas. Também afirmam que o país asiático quer ser o importador de insumos (vacinas, máscaras...), com intuito de obter o domínio econômico da Terra.
Chegam ao cúmulo de afirmar sem aceitar qualquer contestação uma série de falsidades há muito desmascaradas sobre vacinas, desde a alegação de que vacinas não são testadas com segurança ou com placebo (são), até alegações de que as vacinas envenenam crianças e causam autismo (não causam). Mas, contudo, não falta quem acredite piamente em tudo isso.
"Fé" subjetiva X Ciência objetiva
Josh Axe, um quiropraxista e naturopata que vende suplementos nutricionais on-line, destacou os poderes curativos de vários remédios "naturais", que ele vende como reforços imunológicos biblicamente obrigatórios.
"Deus criou seu corpo para ser capaz de combater vírus",
disse Axe.
"Você só tem que seguir sua Palavra e seguir os princípios da Bíblia..."
— princípios que, segundo Axe, incluem o uso de óleos, suplementos de ervas e pensamentos felizes. Ao seguir esta receita, mostraremos que temos fé em Deus, em vez de
"fé em uma pílula ou em uma injeção"
— uma tradução perturbadora da velha dicotomia fé-versus-ciência para o campo da medicina. Obviamente, não falta quem dê apoio entusiasmado a essas falas, com discursos tipo
"nós temos outra opção para combater vírus do que apenas depender da medicina"
e defendem a divulgação dessas ideias (para que qualquer um possa decidir se "achamos que é verdade ou achamos que não é verdade").
Falso ouro também brilha
Não é difícil ver como teorias conspiratórias podem ser atraentes em épocas como a que vivemos. Um mundo complexo inevitavelmente deixa lacunas em nosso entendimento finito. Mas uma "boa" teoria da conspiração pode preencher todas as lacunas, todas as incógnitas, conjurando forças invisíveis, motivos secretos e agentes duplos.
(Você já viu um teórico da conspiração do 11 de setembro dizendo que ainda existem algumas contradições e lacunas explicativas que ele não foi capaz de descobrir?)
Há um apelo implícito ao nosso orgulho humano, também — quem não iria gostar de ter o ego massageado por "saber" o que a maioria não sabe, de vislumbrar por detrás da cortina, de ser mais inteligente — ou pelo menos mais perspicaz — do que os melhores cientistas do mundo?
Mente brilhante também produz m...da
Também não podemos dizer que os defensores de ideias marginais não são inteligentes. O químico Linus Pauling foi um dos maiores cientistas de todos os tempos, mas passou os últimos anos de sua vida defendendo que grandes doses de vitamina C intravenosa eram um tratamento eficaz para o câncer — uma ideia que ele defendeu até sua própria morte (ironicamente, embora tragicamente, de câncer).
Pauling era um verdadeiro gênio e construiu argumentos apaixonados que nós, não especialistas, dificilmente poderíamos refutar. E, no entanto, de modo crucial, ele foi incapaz de reunir evidências científicas para convencer a comunidade científica mais ampla da qual ele fazia parte.
Conclusão
Respondendo com Fé, sem subestimar a razão
Confiar na expertise pode soar elitista, mas está fundamentado no princípio bíblico de que temos dons diferentes. 1 Coríntios 12:14-26 nos lembra que todas as partes do "corpo", das mais proeminentes às mais negligenciadas, servem a um papel essencial como parte do todo maior.
Não há espaço no cristianismo para desdém frente ao humilde e muitas vezes ingrato trabalho de profissionais do saneamento, produtores rurais e caminhoneiros. Mas também não há espaço para descartar o papel essencial de cientistas, médicos e especialistas em saúde pública. Todos nós temos um papel a desempenhar:
"O olho não pode dizer à mão: 'Não preciso de você!' Nem a cabeça pode dizer aos pés: 'Não preciso de vocês!'... Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta, a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele."
Não há uma cosmovisão científica, mas distintas cosmovisões. Não há um conhecimento científico, mas conhecimentos. Há conflitos na ciência. Há conclusões distintas a respeito de um mesmo experimento. Há leituras diferentes das mesmas evidências. Há interesses em jogo quando pesquisas e estudos são encomendados.
Se, de um lado, precisamos ser cuidadosos para não atribuirmos o mal à ciência, não podemos simplesmente assumir que a ciência não pode ser usada com fins gananciosos em vista.
A ciência é uma dádiva divina, sem sombra de dúvidas.
"Aquele em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento" (Colossenses 2:3),
é Quem dota os homens de conhecimento. A ciência é algo extremamente valioso. Cientistas devem trabalhar com a consciência de que são servos de Deus, ainda que muitos se rebelem contra isso.
Em nosso presente momento de pandemia, a ciência é imensamente importante, como já o foi em muitas outras epidemias e pandemias. Porém, a ciência não é algo homogêneo e conduzido com objetividade e imparcialidade. Há corações humanos por trás. E o onde o coração humano se faz presente… bem, já conhecemos a história.
Como mordomos do poder de nossa influência em cada post no Facebook, em cada retweet e compartilhamento, devemos lembrar que não estamos seguindo o comando de Jesus para sermos
"...prudentes como as serpentes..." (Mt 10:16b).
se formos influenciados pela manipulação emocional de uma teoria da conspiração ou de um vídeo bem produzido. E não somos
"...inofensivos como as pombas..." (10:16c)
se espalharmos desinformação ou semearmos confusão no meio de uma emergência global de saúde.
[Fonte: Ministério Fiel; ABC² — Associação Brasileira Cristãos na Ciência]
[Fonte: Ministério Fiel; ABC² — Associação Brasileira Cristãos na Ciência]
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não é opcional, é obrigatório!
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações.
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