sábado, 16 de novembro de 2019

FILMES QUE EU VI - 53: "ERA UMA VEZ NO OESTE"


Talvez você não goste do clássico gênero faroeste (palavra que tem origem no termo "far west", oeste longíquo), talvez você nunca tenha assistido a um filme desse gênero, que já foi um dos mais aclamados na indústria cinematográfica e que eternizou nomes de astros como: Kirk Douglas, Charles Bronson (1921/2003), John Wayne (1907/1979), Clint Eastwood, Terence Hill, James Stewart (1908/1997), Lee Van Cleef (1925/1989), Bud Spencer (1929/2016), Franco Nero, Henry Fonda (1905/1982), Giuliano Gemma (1939/2013), Gary Cooper (1901/1961), Burt Lancaster (1913/1994), Jack Palance (1919/2006), Lee Marvin (1924/1987)... dentre outros, que ficaram conhecidos como cowboys

O gênero, inclusive, começou lá no século 20, quando os "westerns" eram consideradas formas de arte que representassem, de forma romanceada, o oeste norte-americano. Ao lado do jazz, os "filmes de cowboy" protagonizam a cultura nascida no país. 

Se eu não estiver enganado, o filme mais recente deste gênero foi o premiado "Django Livre" (2013), de Quentin Tarantino - que, inclusive, já se declarou fã dos "filmes de cowboy" –, uma releitura de "Django", de 1966, estrelado por Franco Nero. 

Mas o filme do qual eu vou falar neste artigo é, na minha opinião, um dos 10 melhores no gênero e eu já o assisti várias vezes e sei que ainda voltarei a assistir outras tantas (graças, aliás, à internet):

"Era Uma Vez no Oeste"


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"Era Uma Vez no Oeste" é muito mais do que um dos maiores faroestes já feitos. Essa obra de Sergio Leone (✰1929/✟1989) transcende qualquer categorização por gêneros ou subgêneros e alcança facilmente o panteão dos melhores filmes que já sagraram as telonas.

É, talvez, o ponto alto da carreira do diretor, que demonstra uma impressionante maturidade de temas, fotografia, cenografia, montagem, trilha sonora e um controle absoluto de seu elenco, para alcançar um resultado de se aplaudir de pé.

E olha que Leone nem mesmo precisou se distanciar muito da estrutura que lhe deu todo o renome que tinha quando ele, tentando fugir das ofertas da United Artists e outros estúdios para dirigir mais westerns, não conseguiu recusar o orçamento generoso da Paramount, que vinha encabeçado pela oferta dele trabalhar com Henry Fonda, seu ator preferido e que era sua escolha original para o papel que consagrou Clint Eastwood na Trilogia dos Dólares.

Valeu a pena insistir



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Novamente preso ao gênero do qual queria fugir, Leone não se fez de rogado e arregimentou a ajuda de Dario Argento e Bernardo Bertolucci ([1941/2018] ambos, à época, críticos de cinema e roteiristas ainda em começo de carreira, com Bertolucci já tendo dirigido, mas nada relevante) para criar a linha narrativa de "Era Uma Vez no Oeste".

Essa trinca colaborativa foi extremamente importante para o sucesso que o filme alcançaria e, também, para a atemporalidade dessa fantástica obra (sim, essa fita é merecedora de hipérboles!), pois Leone, Argento e Bertolucci extraíram a essência dos faroestes americanos de grande sucesso à época e trabalharam na inserção desses elementos representativos ao longo de toda a narrativa, mas sem esquecer dos elementos característicos do faroeste característico do próprio Leone, como o misterioso personagem sem nome (no caso Harmonica – ou “Gaita” – vivido magistralmente por Charles Bronson) e o passo desacelerado, que ganhou contornos próprios em "Era Uma Vez no Oeste" que, logo em sua longa abertura, nos apresenta às aventuras de uma mosca sobrevoando pistoleiros sujos e suados.

Roteiro, enredo e narrativa fantásticos


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Com a narrativa pronta e uma versão do roteiro já escrita, Leone chamou Sergio Donati, que trabalhara com ele, sem receber créditos, em "Por um Punhado de Dólares" e outros, para fazer a sintonia fina do brainstorming que durara um ano. Donati, então, focou em destilar "Era Uma Vez no Oeste" para sua essência, com o objetivo de tornar o filme o mais hollywoodiano possível, mas ao mesmo sem perder a alma do spaghetti.

São de Donati os diálogos marcantes da projeção, além de ter sido ele o responsável por impedir que o filme, depois, fosse muito mutilado para lançamentos em mercados diferentes, ainda que as versões feitas tivessem oscilado entre 145 e 175 minutos, mas
nenhuma delas realmente se sobrepondo de maneira relevante sobre a outra. Uma grande vitória, sem dúvida.

Sinopse

O spoiler não diminuirá o interesse pela obra


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Trabalhando duas narrativas a princípio separadas, uma típica union pacific story, sobre o conflito gerado com a chegada dos trens e outra uma típica revenge story, ou uma história de vingança, que se misturam com as mais clássicas ainda outlaw stories (histórias de bandidos) e ranch stories (histórias envolvendo ameaças às terras de alguém), Leone constrói, sempre com seu passo preciso, detalhista e lento de um western spaghetti, uma rede de tramas envolvendo Harmonica, o herói silencioso que caça o pistoleiro Frank (Henry Fonda) que, por sua vez, assassina a família McBain para abrir espaço para a chegada da ferrovia e coloca a culpa em Cheyenne (Jason Robards), que se une à Harmonica para salvar Jill McBain (a estonteante Claudia Cardinale), ex-prostituta e herdeira da fazenda dos McBain da sana assassina de Frank. Reparem na circularidade do roteiro, que não deixa pontas soltas e encaixa uma narrativa aparentemente solta à outra, demonstrando o excelente trabalho na confecção da história e o cuidado na redação do roteiro.

E Leone não tem pressa em fazer revelações. Não sabemos bem quem é o misterioso homem que toca gaita e que é perseguido por três assassinos no começo, não entendemos exatamente as intenções de Frank ainda que sintamos um certo temor ao ver aquela figura de olhos azuis penetrantes e demoramos a perceber o exato papel de Cheyenne e de Jill na trama.

Tudo é mostrado e pouco é dito, mas o desenrolar e a convergência das linhas narrativas é cadenciado à perfeição de forma que diálogos se tornam supérfluos. Os olhares, com os famosos planos detalhe de Leone, contrastados com tomadas em plano geral, dizem tudo. Somos tragados para a história naturalmente e a longa duração do filme parece passar em alguns instantes, tamanha é nossa
fixação na tela.

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A trilha do silêncio


E, permeando o embate, há, mais uma vez, a trilha sonora de Ennio Morricone, um de seus mais impressionantes trabalhos. Desde a gaita diegética coroando o leit motif de Harmonica, passando pela música mais forte que caracteriza Frank, até o belo vocal de Edda Dell’Orso, que empresta nobreza e força à Jill McBain. 

Talvez não tão memorável quanto a trilha de "Três Homens em Conflito", a composição de Morricone para "Era Uma Vez no Oeste" parece, por outro lado, ainda mais integrada à narrativa que no filme com Clint Eastwood e isso talvez se deva ao fato que Leone, em um movimento raro, pediu para Morricone compor a trilha antes das filmagens começarem, de maneira que o diretor pudesse tocá-la durante a fotografia principal, em atitude, hoje em dia, mimetizada por Quentin Tarantino, com suas músicas pop que escolhe pessoalmente e toca nas filmagens. 

Com isso, talvez, a música de "Era Uma Vez no Oeste" tenha influenciado as atuações e não o contrário como é o usual, resultando em uma mescla que pouco se vê por aí. Fantástico!

Ainda falando em som, o trabalho do espectro sonoro em "Era Uma Vez no Oeste" é perfeito, desde a edição de som até sua mixagem, com o uso de sons inspirados pelos westerns usados como referência aliado à um orçamento mais alto, que permitiu um trabalho melhor na finalização, especialmente se comparado com a "Trilogia dos Dólares". A união da trilha sonora com os sons do filme e, em vários momentos, com a substituição da trilha pelos sons, aumenta a sensação de imersão que a fita proporciona, envolvendo-nos ainda mais profundamente na história da trinca principal de personagens.

Conclusão


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Era uma Vez no Oeste é um grande triunfo cinematográfico, merecendo figurar em todas as listas dos melhores filmes já feitos. Leone merece todos os nossos agradecimentos profundos e uma eterna salva de palmas e de pé.

Curiosidades

  • Premiado como Melhor Produção no David di Donatello;
  • Primeiro filme da trilogia de Sergio Leone sobre a América;
  • Mais da metade do orçamento do filme foi gasto com os salários dos atores.

Ficha Técnica

  • Nome Original: C'Era una Volta il West
  • País de Origem: Itália, EUA, Espanha
  • Gênero: Faroeste
  • Duração: 175 min
  • Ano: 1968
  • Direção: Sergio Leone
  • Roteiro: Sergio Leone, Sergio Donati
  • Edição: Nino Baragli
  • Fotograria: Tonino Delli Colli
  • Música: Ennio Morricone
  • Direção de Arte: Carlo Simi
  • Figurino: Carlo Simi, Antonella Pompei
  • Produção: Bino Cicogna, Fulvio Morsella
  • Estúdio: Finanzia San Marco, Rafran Cinematografica, Paramount Pictures
  • Elenco: Claudia Cardinale, Henry Fonda, Jason Robards, Charles Bronson, Gabriele Ferzetti, Paolo Stoppa, Woody Strode, Jack Elam, Keenan Wynn, Frank Wolff, Lionel Stander
  • Duração: 145 min. (versão americana), 166 min. (versão original europeia), 175 min. (versão do diretor), 165 min. (versão de 2003 em DVD)
[Fonte: Plano Crítico]

A Deus, toda glória. 
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