De um lado, pessoas reclamando do alto índice de desemprego e dos ainda sensíveis efeitos da famigerada crise econômica que desde 2014 assola o Brasil. De outro lado, pessoas contando os minutos para que chegue logo a tal da "Black Friday" e os empresários e varejistas já de olho em um esperado e já anunciado crescimento no índice de consumo, que, de acordo com as previsões dos especialistas em economia, promete ser bem superior aos dos anos anteriores. E no meio de tudo isso, fico eu aqui, na minha, só observando o andar da carruagem.
O "efeito Black Friday" X a vida real
Você, com certeza, já ouviu falar em "Black Friday" e já percebeu que em uma determinada época do ano sua caixa de e-mail, as lojas físicas e online - as do segmento de e-commerce - ficam cheios de promoções com esse nome, não é mesmo?
No bom e velho português, "Black Friday" quer dizer "sexta-feira negra" - e, curiosamente, mesmo em tempos de discussão sobre discriminação racial, nesse ponto, não tem nenhuma polêmica - e se trata de um dia inteiro de descontos generosos organizados pelo varejo.
Onde nasceu?
Criada nos Estados Unidos, essa grande liquidação acontece um dia depois do feriado americano de Ação de Graças, um dos mais importantes do país.
É nessa data, que sempre cai na última sexta-feira de novembro, que as pessoas saem desesperadas pelas lojas atrás de produtos com 50% e, às vezes, até mais de 70% de descontos.
E, na correria para conseguir comprar, é que as pessoas na terra do Tio Sam protagonizam aquelas cenas "maravilhosas" que a TV e a internet divulga de pessoas se batendo, caindo e dando cotoveladas para tentar comprar alguma coisa.
Black Friday no Brasil
No Brasil, a Black Friday só chegou mesmo em 2010 e só envolveu varejistas online. A primeira da grande liquidação por aqui foi organizada pelo site Busca Descontos, especializado em cupons de descontos e que atua nas principais lojas virtuais do país.
No ano seguinte, o Extra adotou a Black Friday também para os preços de suas lojas físicas e o evento começou a chamar atenção de comerciantes grandes e pequenos, dentro e fora da internet.
Especialistas acreditam que o que impediu o evento de virar tradição por aqui mais cedo foi a resistência dos brasileiros que vivem do comércio. Os varejistas tinham medo de promover grandes descontos antes do Natal, já que os saldões sempre aconteceram no Brasil depois do Ano Novo.
Claro que as primeiras vezes da Black Friday em terras brasileiras não foram toda essa maravilha que a gente costuma ver acontecendo nos Estados Unidos (até hoje não é bem assim). A maioria dos descontos divulgados não eram reais e muitas outras tramoias foram praticadas, até o Procon tomar partido dos consumidores.
Por que "Black Friday"?
Embora o nome tenha uma sonoridade legal em inglês (pelo menos para nós, brasileiros), no português a "sexta-feira negra" não parece ter uma boa conotação. E, se você tem essa impressão, não está de todo errado. Calma, eu explico, não tem nada a ver com questões étnicas afrodescendentes.
No início, o termo foi usado com referência a uma grande queda na Bolsa de Nova York, em 1869. Segundo a BBC, naquele ano, dois especuladores tentaram tomar o mercado de outro da Bolsa e o governo americano precisou intervir, elevando a oferta da matéria-prima. O resultado foi que os preços do ouro caíram demais e muitos investidores quebraram.
O termo "Black Friday" como usamos hoje só surgiu anos depois dessa grande catástrofe econômica, na Flórida. Dizem que alguns policiais começaram a se referir a essa grande liquidação após o Dia de Ação de Graças devido ao trânsito caótico que o evento acabava gerando.
Só em meados dos anos 1990 que o termo realmente saiu da Flórida e se tornou popular nos Estados Unidos. O mais interessante de tudo é que, mesmo depois desse nome, a Black Friday só tomou a proporção que tem hoje, como o principal dia de vendas em território americano, em 2001.
O cristão e a Black Friday
"Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre" (1 João 2: 16-17, grifo meu).
Se existem datas "tipicamente" americanas que foram importadas para o Brasil sem ainda muito êxito elas são o Thanksgiving Day (Dia de Ações de Graças) e o Black Friday. Digo isto porque as aspirações brasileiras em torno destas datas não chegam perto da realização dos seus criadores.
Porém, devido ao "esforço" do marketing, especialmente em cima da segunda delas, gostaria de refletir sobre o antagonismo que percebo entre elas, principalmente no contexto cristão protestante. Como vimos acima, O Black Friday é puro merchandising, é marketing, é a sexta-feira da quarta semana de novembro em todos os anos e que vem crescendo ano após ano.
O Dia de Ação de Graças
Grandemente celebrado nos Estados Unidos e Canadá, o Thanksgiving Day ou o Dia de Ação de Graças é um feriado cristão em gratidão a Deus pelos acontecimentos durante o ano. A história do costume permeia o século XVII, com a imigração de puritanos (protestantes ingleses) para o Novo Mundo.
O "Mayflower" levava a bordo muitas famílias que fugiam da perseguição religiosa em busca de liberdade. Os protestantes das 13 colônias fundadas, apesar das adversidades, mantiveram sua fé em Deus; e o Senhor os abençoou.
No outono de 1621, tiveram uma colheita tão abençoada quanto abundante. Emocionados e sinceramente agradecidos, reuniram os melhores frutos, e convidaram os índios, para juntos celebrarem uma grande festa de louvor e gratidão a Deus. Nascia o "Thanksgiving Day".
No Brasil, inspirados pelo dia norte-americano, desde o Presidente Dutra e a Lei 781, passando pelo Marechal Castelo Branco (1966), o Dia Nacional de Ação de Graças está instituído na quarta quinta-feira de novembro em todos os anos, apesar de uma intensidade diferente.
Definido os termos, reflito: as datas de ambos acontecimentos são próximas:
- sendo que uma precede a outra;
- uma fala de consumo, a outra de produção; uma denota desconto a outra profusão;
- uma estabelece a compra exagerada e a outra a simplicidade da gratidão.
Calma! Não sou contra nem uma, nem outra... Só reflito no antagonismo destas realidades. A oposição de ideias e propósito é clara.
Isto porque
Brigas, multidão, surtos e até prisões. Parece que esta é a cena de uma marcha de protesto apaixonado, ou um jogo de futebol, ou até mesmo a guerra civil. Mas não é. É o departamento de tecnologia do seu supermercado local.
Hoje há milhares de pessoas literalmente lutando uns com os outros para obter pechinchas. Supermercados de todo o país [Estados Unidos] tiveram que chamar a polícia e até mesmo fechar as loja depois de serem confrontados por clientes enfurecidos, porque não havia um número suficiente de bons negócios em oferta.
Isto é "Black Friday": A mais recente exportação indesejável da América do Norte. De alguma forma, a nova tendência já criou mais que um frenesi.
A luta em centros comerciais poderia ser mais compreensível, se houvesse escassez de alimentos e de pessoas com fome. Mas não, os itens em disputa são máquinas de café e outras bugigangas tecnológicas que nós realmente não precisamos.
Um dos meus versos favoritos da Bíblia vem do Eclesiastes:
"Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente" (05:10).
que vai em consonância linear com a orientação apostólica de Paulo ao jovem pastor Timóteo, na igreja do primeiro século (1 Tm 6:10).
Isto pode ser facilmente aplicado a qualquer uma das coisas que o dinheiro pode comprar para nós: roupas, eletroeletrônicos e carros velozes. Assim que pisamos na esteira do consumismo, é muito difícil de sair. Temos de continuar a correr para manter-nos. É um vício - uma substância perigosa que promete euforia e não oferece nada além de frustração e angústia.
Conclusão
Gostaria apenas que os leitores refletissem sobre os perigos do consumismo desenfreado (ênfase), tão proeminente que é celebrado após o Dia de Ação de Graças. Marketing perigoso. Reflitam sobre a insignificância da comemoração de gratidão em nosso país cristão... Omissão perigosa.
O versículo da Bíblia no Eclesiastes continua:
"Quão insensato é pensar que a riqueza traz a verdadeira felicidade. Quanto mais você tem, mais as pessoas vêm para lhe ajudar a gastá-lo. Assim que bom é a riqueza, exceto, talvez, por vê-la escorregar por entre os dedos!"
As pessoas que estão nos ajudando a gastar o nosso dinheiro são os chefes de supermercados e os profissionais de marketing inteligente que ajudaram a nos convencer de que as coisas nos farão felizes. É claro que elas não fazem - tudo o que acontece é que queremos mais delas. Não é de se admirar que Jesus passou muito tempo nos advertindo sobre os perigos do dinheiro.
Não há maneira mais fácil de perder a sua riqueza do que comprar na armadilha do consumismo. Ele pode verdadeiramente nos consumir.
Enfim, a grande verdade é que, para muitos (incluindo cristãos protestantes) o sincero Thanksgiving Day é seu Black Friday bem sucedido. Neste ponto, não há antagonismo, é mero consumismo.
[Fonte: Segredos do Mundo; Guia-me; Ultimato]
A Deus, toda glória.
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