"Ensina-me a contar os meus dias para que o meu coração alcance sabedoria" (Salmo 90:12).
Hoje, ao completar 52 anos me sinto como um peregrino, obrigado a retomar ao tempo com paciência e buscar todos aqueles fatos e experiências que me fizeram construir ser o que sou, mas que ainda não me completei.
Das saudades, tenho a dizer que...
Sinto saudades de todos os amigos que perdi, sem precisar explicar como, porém reconhecendo que nos arroubos de minha vida, muitos, muitos se foram por minhas indelicadas reações.
Sinto saudades dos que ainda não pude construir como amigos, por tantos motivos que sei que não são motivos, são desculpas de minhas ausências refugiadas em alguém que ainda nada contra a corrente, pois sou como o salmão, penosamente nadando e nadando mesmo sem saber o motivo, apenas, talvez, para sentir-se vivo.
Sinto saudades dos que já me esqueceram, pois somente na memória dos outros é que o nosso eu está completamente pronto para se reconhecer no processo contínuo de fragmentação que é uma história.
Das satisfações, tenho a dizer que...
Mas sinto uma certa satisfação por saber que sou amado por Deus e que Ele não priva do privilégio de ter Sua presença constante em minha trajetória rumo à eternidade.
Sinto satisfação e alegria de poder compartilhar minha vida com uma Ele, que reconhece minhas contradições, minhas limitações, minhas debilidades, minhas imperfeições, meus conflitos e meus tormentos sem deixar de me admirar e me enaltecer em minhas virtudes.
Sinto felicidade pela família que ela me concedeu, hoje, porto seguro das solidões que sempre insistem em nos acompanhar e que há tantos atormentam.
São 52 anos, 25 deles como ministro do Evangelho, mestre por chamado ministerial, ao qual descubro diariamente que pouco ensinei, mais muito aprendi, pois vivenciar o outro é construir-se em si, na mais completa dor, alegria, solidão, abandono e reconhecimento.
Hoje, com meio século, dois anos e algumas horas de vida me dou conta da alegoria do tempo, da metáfora da vida e do fato de que ao final, sou de mim a própria (in)compreensão que me faz ser o que sou, mas pronto para ainda viver mais, sonhar mais, acreditar mais, esperar mais, sofrer mais, decepcionar mais, enfim, surpreender-me com esta maravilhosa contingência da existência.
Pertenço a raça dos seres humanos, nunca passíveis de compreensão, porém, sempre capazes de uma incrível benção: a surpresa inesperada do novo, do querer e de ser o ser no tempo sem jamais alcançar a verdade, apenas um dia após o outro! Para viver basta viver, com coragem e certa dose de irresponsabilidade. O resto é apenas sobrevivência!
Sobre a felicidade, tenho a dizer que...
Felicidade pelas cidades em que atravessas, num mergulho num mundo as avessas.
A idade vai chegando ao tempo em que a beleza interior não cessa.
Felicidade é algo que significa presença viva, gente querida em tua lida.
Na medida em que te preenches de entusiasmo com a própria vida.
Felicidade crescendo além da tua idade e as pessoas encantadas, sentindo-se por ela imensamente contagiadas.
Felicidade alicerçando lentamente através da idade a majestosa maturidade.
Felicidade estruturando suavemente a encantadora e sóbria serenidade.
Felicidade na felicidade do outro.
Felicidade contribuindo para nós outros.
Felicidade que nos coloca em unidade com um Deus único de grandiosa bondade.
Felicidade que nos coloca além da singularidade de qualquer idade.
Sobre a idade, tenho a dizer que...
Não se ressinta com sua nova idade, os anos passam para todos, e os únicos que não envelhecem são aqueles que não tem essa oportunidade: os que morrem cedo demais.
Aceitemos a realidade: os dias, meses e anos sempre correrão cada dia mais céleres, mas a idade é mera ilusão da mente, o envelhecimento e a maturidade são dádivas de Deus. Eles nos permitem evoluir e ter uma nova oportunidade de reconstruir, fazer diferente a cada dia e refazer nossa história a cada amanhecer, ser mais e melhor sempre.
Por que se entristecer pelo que já foi, sonhou ou desejou e não pôde ter? O segredo da realização é aprender com o passado e se felicitar por sua trajetória vencedora, rir de seus erros e quedas de 5, 20 ou 40... anos atrás.
A maior preocupação deveria ser transformarmo-nos no adulto que a criança ingênua e sonhadora de ontem, que via o mundo em cor de rosa e com simplicidade, teria orgulho de se tornar e se espelhar. Independente das rugas, cicatrizes ou cabelos brancos que isso custe.
Nosso corpo nos conta a nossa história escrita no livro da vida, as linhas e vincos no rosto provam que sorrimos e fomos felizes, os quilos a mais que ganhamos, dizem que tivemos comida em fartura e boas bebidas, os olhos cansados nas falam que adquirimos conhecimento, lemos lindas palavras e vimos a beleza da vida. O corpo que cada dia se mostra menos rijo e forte, ensina a aproveitar melhor suas energias, canalizando-a para o que realmente é importante e prazeroso.
Os fios brancos são a prova das dificuldades encaradas e superadas, dos dias difíceis aos quais sobrevivemos, a dor, o pranto, a mágoa e o desgosto que não nos mataram e nem matarão, ecoam as vitórias e derrotas, que ambas nos ensinam valiosas lições.
Conclusão
Os anos nada mais são que relatos verossímeis do que fomos, somos e quiçá seremos receptáculo da vida e testemunhas de um milagre da natureza.
Sonho acima de tudo com o dia em que teremos direito de envelhecer felizes, sem pesares e sem cobranças.
Sonho com um mundo em que as crianças possam e queiram ser crianças. Vivo por um mundo onde a violenta ditadura da beleza não faça tantas vítimas, e não cause tanto sofrimento com padrões inalcançáveis de perfeição absurda.
Luto para que o passado não seja um fantasma agourento na vida, e que eu aprenda a me perdoar e aceitar como sou, na certeza de que amanhã tenho condições de ser melhor do que hoje.
"Paciência (A Vida é Tão Rara)" - Lenine
A Deus toda glória e agradecimento.
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E nem 1% religioso.
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