"Honre o Senhor com todos os seus recursos e com os primeiros frutos de todas as suas plantações; os seus celeiros ficarão plenamente cheios, e os seus barris transbordarão de vinho" (Provérbios 3:9,10).
"Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias entre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois, da mesma forma que em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem" (1 Coríntios 15:20-23).
"Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos como os primeiros frutos de tudo o que ele criou" (Tiago 1:18).
Amados o assunto em pauta neste artigo é de grande relevância, mas tem sido esquecido ao longo dos anos, por isso quero ser cauteloso com o meu ponto de vista para não polinizar. Aliás, tudo o que não quero é me envolver em polêmicas. Eu não fui chamado para isto. Qual o conceito que temos de primícias? São importantes? Vale para a igreja atual?
Entendendo o princípio da primícia
O assunto das primícias tem sido resgatado e restaurado recentemente (apesar de ser encontrado na "Didaquê" – um dos documentos mais antigos da História da Igreja, uma espécie de catecismo da Igreja do Primeiro Século). Eu mesmo nunca havia sido exposto a nenhum ensino sobre o assunto, apesar de eu ter mais de duas décadas como seguidor de Cristo, mas achei salutar fazer um estudo sobre o tema. Portanto, creio que ainda precisamos amadurecer na compreensão e aplicação prática deste princípio. Em função disto, eu gostaria de apresentar alguns conselhos (e não dogmas) sobre como podemos proceder para honrarmos ao Senhor com as primícias da nossa renda.
Conceitos de Primícias
Vamos aprender o que são primícias. Segundo definição do dicionário Aurélio, primícias são: Primeiros frutos, primeiras produções, primeiros efeitos, primeiros lucros, primeiros sentimentos, primeiros gozos, começos, prelúdios.
Na definição bíblica não é diferente. Por trás de toda uma doutrina fundamentada em ensinos explícitos e figuras implícitas, as Escrituras nos mostram a importância que Deus dá ao nosso ato de entregarmos a Ele as nossas primícias, cuja definição é: a primeira parte de algo.
Portanto primícia é mais que oferta, mais que bens, mais que dinheiro, não é apenas ofertar valores, primícia tem que ser o primeiro.
No Antigo Testamento
Em Êxodo 13:13 Deus disse que se o primogênito (considerado o primeiro fruto do ventre) da jumenta não fosse resgatado, o seu pescoço deveria ser quebrado. Semelhante os primogênitos dos animais deveriam ser consagrados ao Senhor. Como também os primeiros frutos de toda a plantação, também eram consagrados os primogênitos do casal, esse deveria ser resgatado, se a primeira cria dos animais fosse inválida deveria ser resgatada.
A importância da lei das primícias não estava no que seria feito com a oferta, mas no princípio de que ela não seria utilizada em benefício próprio. Em Ezequiel 44:30 tem uma promessa para o propiciador no que tange a oferta, mas como disse temos mais do que dinheiro para oferta, o dinheiro é apenas uma parte, mas como forma de desapego Deus pediu aos hebreus para que lhes entregassem as primícias de toda renda (ou seja, o primeiro resultado de todo trabalho).
As ofertas de Caim e Abel
O diferencial encontrado nas ofertas de Caim e Abel está diretamente ligado à entrega das primícias. Muitas pessoas acreditam que o erro de Caim foi trazer uma oferta dos frutos da terra, ao invés de ofertar um cordeiro (uma tipologia do sacrifício de Cristo), mas eu não penso que este seja o verdadeiro problema.
A Lei das Primícias fazia com que cada um trouxesse os primeiros frutos do seu trabalho, e a Bíblia nos revela qual era o trabalho de cada um deles: Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador (Gênesis 4:2). Logo, as primícias de Caim teriam que ser do fruto da terra!
A Bíblia diz que Deus atentou na oferta de Abel, a oferta correta. E a primeira menção das primícias nas Escrituras é encontrada justamente nesta oferta:
"Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou" (Gn 4:3-5a; grifo meu).
Por outro lado, note quando foi que Caim trouxe a sua oferta ao Senhor: "...no fim de uns tempos..." Independentemente do que sejam estes tempos a que a Bíblia se refere (tempo de colheita, de ofertas, etc.), o fato é que Caim não honrou a Deus com os seus primeiros frutos.
A entrega das primícias é uma forma de se reconhecer a Deus em primeiro lugar. Por outro lado, deixá-lO para o fim significa não dar a Ele o primeiro lugar. E o Senhor não aceitou isto de Caim, assim como Ele não aceita isto de nós hoje.
Se Caim não soubesse a forma correta de se oferecer algo ao Senhor, ele não poderia ser culpado, mas ele sabia a forma correta de se ofertar. Vemos isto na conversa que Deus teve com ele, depois de rejeitar a sua oferta:
"Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. Então, lhe disse o Senhor: 'Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo'" (4:5b,7).
O Senhor falou que Caim sabia que, se ele procedesse bem, seria aceito, e que se ele procedesse mal, o pecado estaria à sua porta. Abel procedeu bem, ao fazer de Deus o Primeiro e ao trazer as suas primícias, enquanto que Caim procedeu mal, ao deixar Deus por último, para o fim. Mas isto não foi algo que cada um deles houvesse feito acidentalmente, e sim por conhecerem o que Deus esperava deles. Isto diz alguma coisa a você?
Primícias no Novo Testamento
Alguns crentes têm dificuldades com qualquer menção de princípios ligados ao Antigo Testamento, e, antes de aceitarem qualquer doutrina, já começam indagando: "Qual é a base disto no Novo Testamento?"
Pois bem! Na Igreja Neo-Testamentária não se guardava mais a Lei de Moisés com o peso das ordenanças que ela tinha no Antigo Testamento. O Concílio de Jerusalém deixou claro que não havia encargo algum a ser imposto aos gentios, além daquelas quatro áreas mencionadas: abstinência da carne sufocada, do sangue, do sacrifício aos ídolos, e da prostituição.
Isto não quer dizer que, depois do Concílio, a Igreja Gentílica não precisasse de mais nenhuma instrução ou doutrina. Caso contrário, o Novo Testamento não teria sido escrito. Aquilo limitava, naquele momento, a herança mosaica a ser passada aos gentios.
Contudo, posteriormente, ao ensinarem os princípios divinos à Igreja Neo-Testamentária, os apóstolos ainda apresentavam figuras poderosas para fortalecerem doutrinas da Nova Aliança prefiguradas no que se fazia anteriormente nos dias do Antigo Testamento. Isto não significava que eles estavam tentando retroceder, e sim que queriam esclarecer as figuras que Deus havia projetado por intermédio dos princípios praticados na Antiga Aliança.
"Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem" (Hebreus 10:1 – Tradução Brasileira).
A sombra é diferente do objeto real que a projeta. Assim também, o que se via nas ordenanças da Antiga Aliança eram características similares às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança. As observâncias materiais eram figuras das práticas espirituais.
O cordeiro sacrificado na Lei Mosaica foi apontado como uma figura (ou sombra) de Jesus, que veio para morrer em nosso lugar (João 1:29). A oferta de incenso do Tabernáculo passou a ser reconhecida como uma figura da oração dos santos (Apocalipse 5:8). A Ceia da Páscoa deixou de ser praticada, e esta festa passou a ser uma aplicação espiritual dos princípios que ela figurava (1 Co 5:7,8). Assim também, outros detalhes da Lei que envolviam comida, bebida, e dias de festa, começaram a ser vistos, não como ordenanças materiais pelas quais quem não as praticasse poderia ser julgado, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:
"Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo" (Colossenses 2:16,17).
Foi com esta mentalidade (de se aplicar as sombras e figuras), e não tentando retroceder a uma prática material da Lei Mosaica, que o apóstolo Paulo nos revelou a aplicação espiritual da Lei das Primícias no Novo Testamento:
"Mas se as primícias são santas, também a massa o é; e se a raiz é santa, também os ramos o são" (Romanos 11:16 – Tradução Brasileira).
Os israelitas receberam do próprio Deus a ordem de consagrarem a Ele os primeiros frutos do ventre de suas mulheres, do ventre de seus animais, e também dos frutos da terra. Na hora da colheita, o primeiro feixe pertencia a Deus e deveria ser apresentado pelo sacerdote perante o Senhor, numa oferta de movimento. Destes primeiros frutos, também era feita uma oferta de cereais.
Portanto, Paulo estava ensinando que, ao santificar a primeira parte (a mais importante), você santifica também o restante, que vem depois dela. Quando alguém santificava as primícias (primeiros frutos), santificava também tudo o que depois seria feito com a colheita, incluindo a massa da oferta de cereais e dos pães que eles comeriam depois.
Uma outra ilustração também é apresentada para fortalecer o entendimento deste princípio: se a raiz (que é a parte mais importante, que surgiu primeiramente na formação da planta - no nosso caso, significa a motivação e o entendimento das nossas ações) for santificada, então os ramos e tudo o que surgir dela também serão santificados. Este era o entendimento que os judeus receberam da Lei de Moisés. Se santificassem ao Senhor as primícias de sua renda, estariam santificando o restante da renda que ficava em suas mãos. Por isso Deus poderia fazer com que se enchessem fartamente os seus celeiros e transbordassem de vinho os seus lagares!
Isto não apenas explica o que são as primícias, mas também nos mostra o poder que elas têm de santificar o restante daquilo de onde foram tiradas.
Porque devo ser um primiciador? Gn 4:3,4,5a; Êx 34:26
Porque estou horando a Deus. Entregar ao Senhor as nossas primícias é dar-lhE honra, é distingui-lO e demostrar o lugar especial que Ele ocupa em nossas vidas. Deus quer ser o primeiro em nossas vidas antes de qualquer outra coisa ou ser.
A rebelião de satanás foi a tentativa de usurpação desta posição divina, e ainda hoje ele tenta tomar o trono de Deus em nossos corações. Devemos manter o Senhor em seu devido lugar, dando a Ele a honra de ser o primeiro (Mt 6:33). A Bíblia está repleta de histórias de pessoas que mantiveram Deus em suas vidas, a despeito do preço a ser pago. Vejamos alguns exemplos:
- Abraão que preferiu sacrificar Isaque e manter Deus em primeiro lugar em sua vida.
- José preferiu a cadeia. Misael, Hananias e Azarias preferiram a fornalha de fogo do que negarem a Deus.
- Daniel preferiu a cova dos leões do que negar ao Senhor.
- Os Apóstolos a perseguição, a prisão e a morte, tudo isso para dar a Deus a honra de ser o primeiro em suas vidas.
E você? Fazendo uma análise de sua vida, Deus realmente tem estado em primeiro lugar?
Semente de bênçãos
Na verdade, a entrega das primícias é uma semente que dá acesso às bênçãos de Deus. O Senhor fez uma promessa a Abraão e à sua descendência. Mas, como Paulo escreveu aos romanos, a forma de santificarmos o restante de alguma coisa, é santificando ao Senhor as suas primícias.
Portanto, Deus, que Se move por Seus princípios, pediu a Abraão as primícias de sua descendência: Isaque. Depois, Ele passou a defender toda a descendência de Abraão como se todos fossem aquele primogênito entregue. Veja a mensagem que Deus deu para Moisés entregar ao Faraó egípcio:
"Dirás a Faraó: 'Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito. Digo-te, pois: deixa ir meu filho, para que me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que eu matarei teu filho, teu primogênito'" (Êx 4:22,23).
Deus mandou Moisés dizer que Israel era Seu primogênito (fruto da consagração das primícias de Abraão), e que, se Faraó não o libertasse, então os primogênitos do Egito é que sofreriam. E foi o que aconteceu. Mas, num registro posterior, no Livro de Salmos, observe como é descrito o juízo divino sobre os primogênitos egípcios:
"Feriu todos os primogênitos no Egito, primícias da força deles nas tendas de Cão" (78:51 – Tradução Brasileira).
"Também feriu de morte a todos os primogênitos da sua terra, as primícias do seu vigor" (105:36).
Em ambos os casos eles são chamados de "as primícias" dos egípcios. Isto faz com que entendamos a mensagem de Moisés a Faraó em Êxodo 4:22,23 da seguinte maneira:
"Assim diz o Senhor: 'Israel é o Meu primogênito, as primícias consagradas de Meu servo Abraão. Liberta-o para que Me sirva, senão Eu julgarei os teus primogênitos, primícias da tua força'".
A prática da Lei das Primícias (ou a falta dela) sempre traz consequências espirituais. Honrar ao Senhor com a entrega das primícias traz bênçãos, mas brincar com Deus no tocante a isto gera juízo!
CONCLUSÃO
Ao mencionar a necessidade de darmos honra ao Senhor em nossas finanças, a Palavra do Senhor fala sobre os nossos bens e também sobre as primícias da nossa renda. Não se trata apenas de honrá-lO com os nossos bens, nem tampouco de honrá-lO apenas com a nossa renda, e sim com as primícias desta renda.
Portanto, aprender a importância das primícias fará com que o nossa trajetória cristã seja um caminho de sucesso se tivermos a coragem que os nossos antepassados citados acima tiveram de manter Deus em primeiro lugar em nossas vidas. Que cada um de nós possamos fazer o mesmo a despeito do preço a ser pago.
Jesus esta voltando, os campos estão brancos para a ceifa, santifiquemo-nos, pois o Senhor fará maravilhas em nosso meio, sem dúvida o propósito dEle é que os primiciadores façam e vivam a diferença. Vamos entrar neste campo e fazer uma grande colheita, primiciar é honra a Deus (Pv 3:9, é santificar as finanças e os bens (Rm 11:16), é abençoar e ser abençoado (Ez 44:30).
A Deus, o Pai, toda glória.
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E nem 1% religioso.
Que comentário cirúrgico preciso e muito enriquecedor, foi na alma sem deixar nenhuma dúvida a respeito do assunto. Glória a Deus.
ResponderExcluirQue o Eterno te abençoe.
Muito esclarecedor.
ResponderExcluirobrigada
sou cristã essecelente.
Muito bom esse texto.
ResponderExcluirGostei muito do estudo
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