segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

PAPO RETO - 5: O CRISTÃO E AS SUPERSTIÇÕES DA VIRADA

Comer lentilha, pular sete ondinhas, usar roupa branca (nova, obviamente), chupar uvas, comer romã (e/ou guardar suas sementes), não comer carne de aves. Com a virada tem gente (inclusive muitos evangélicos) achando que fazer essas coisas vai tornar o ano novo um ano melhor. Para quem é cristão, acreditar nisso tem um nome muito claro: superstição e, em última instância, idolatria, isto é, pôr a confiança não no Deus verdadeiro, mas em qualquer objeto ou prática.

Evidentemente, há muitos irmãos que estão alertas quanto a isso e reconhecem que atribuir algum tipo de poder à ingestão de lentilha contraria frontalmente a fé em Deus. É preciso, porém, estar consciente não somente das superstições que cercam datas como a virada do ano, mas do risco que a postura supersticiosa traz para o próprio âmbito da fé cristã. O desfile de roupas brancas nos tradicionais cultos da virada, principalmente nos realizados nas denominações neopentecostais (mas não necessariamente apenas nas denominações dessa vertente) é muito comum (quem tiver dúvida, pode assistir às transmissões dos cultos pela televisão ou internet)

Na vertente católica também é comum e tradicional a prática de tais ritos supersticiosos. Entretanto, é interessante observar que é sobretudo com esse âmbito que o Catecismo da Igreja Católica se preocupa no parágrafo em que aborda a superstição. Vejamos: 
"A superstição é um desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Também pode afetar o culto que prestamos ao verdadeiro Deus: por exemplo, quando atribuímos uma importância de algum modo mágica a certas práticas, aliás legítimas ou necessárias. 
Atribuir só à materialidade das orações ou aos sinais sacramentais a respectiva eficácia, independentemente das disposições interiores que exigem, é cair na superstição" (n. 2111, grifo meu).
Como deixa claro o texto do dogma católico, não se trata de apontar uma ou outra prática do cristianismo que especialmente incorre em risco de se tornar superstição. A postura supersticiosa e idolátrica pode recair sobre qualquer coisa. 

É cômico como existem segmentos evangélicos que acusam o catolicismo de idolatria por causa dos santos ou da eucaristia, mas tratam de maneira idolátrica as palavras da Bíblia (como os Salmos 23 e 91, por exemplo), além da escrachada prática de sincretismos.

A superstição é um mal que foi se entretecendo no Cristianismo como uma teia invisível


Este veneno foi se espalhando desde a época em que o Cristianismo se tornou uma religião apoiada pelo Estado, a partir do momento em que o imperador romano Constantino abraçou-a como a sua religião, no ano aproximado de 312 a.C.. Naquela época, Constantino fez com que o povo, sob seu domínio, se convertesse ao Cristianismo, sem se preocupar com as práticas religiosas dos "novos convertidos". 

Esta atitude fez com que o Cristianismo, aos poucos, se transformasse em uma "religião sincrética", totalmente destituída dos fundamentos doutrinários iniciais. Este sincretismo trouxe consigo a superstição, que fez com que os cristãos passassem a utilizar objetos, símbolos e frutos da natureza como amuletos protetores. Até a Bíblia Sagrada passou a ser utilizada, por muitos, como objeto de proteção em seus lares.

Russell Norman Champlin¹, ao tratar sobre a superstição, disse que 
"[...] Esse termo deriva-se do latim, supersto, 'pairar por cima', 'ameaçar', dando a entender algum tipo de temor ou receio religioso, em face do desconhecido, ou de forças naturais potencialmente negativas, como os deuses, a sorte, o destino, etc"
Sendo assim, superstição é todo o temor por coisas sobrenaturais, que leva o ser humano a práticas diversas em busca de proteção.

A superstição teve seu maior desenvolvimento no Cristianismo no período da idade média, onde ocorreu uma crescente comercialização de relíquias, como por exemplo: lascas e pregos da cruz do Cristo; ossos, cabelos, unhas e pedaços de roupas dos apóstolos; etc. O Papa Leão X fomentou a venda de relíquias e indulgências para promover a reconstrução da Basílica de São Pedro. Este fato causou muita indignação no coração de muitos religiosos sinceros, o qual fez resultar na grande Reforma Protestante.

A Reforma, embora não tivesse purificado totalmente o Cristianismo do sincretismo pagão, trouxe muita contribuição, especialmente no desenvolvimento econômico e cultural da Europa ocidental. Infelizmente, o sincretismo teve seu maior desenvolvimento, após a Reforma, com o advento do "evangelicalismo", que resultou nos movimentos pentecostal, carismático e neopentecostal. 

Este último movimento tem incentivado, de forma extraordinária, o crescimento da superstição religiosa, através da desvirtuação do Evangelho. Como exemplo, pode-se ver o aumento constante da dependência dos objetos e frutos da natureza, tais como: lenços ungidos, óleos de unção, objetos utilizados em campanhas, novenas,  "atos e declarações proféticas", etc.

Infelizmente o evangelicalismo neopentecostal carrega consigo uma filosofia de discipulado, através da qual a Bíblia Sagrada esta sendo afastada dos fiéis propositadamente (pois o conhecimento conduz ao questionamento, e isto é inadmissível na teologia neopentecostal), sendo substituída por manuais de discipulado contendo ensinamentos que conduzem as pessoas a uma obediência cega, amedrontados pela mentirosa ideia de maldição. Isto permite que as pessoas sejam amarradas pelo temor e pela ignorância, impedindo-as de se desvencilharem deste nefasto movimento escravizador. O incentivo à ignorância (desconhecimento das coisas) sempre foi um instrumento utilizado pelos dominantes opressores.

Ter isso em mente é um bom critério para discernir se estamos caindo na superstição ou não. Pode parecer que eu tenho muita fé se frequento infalivelmente uma campanha em busca de um favor divino. Mas se o meu pedido está fora do contexto de uma vida em que a experiência do amor ao próximo é o centro e é fonte de uma resposta de amor a Deus, então já não se trata de fé cristã, mas de uma forma de idolatria. 

Não é mais ao Deus revelado por Cristo que estou me dirigindo. A oração fundamental do cristianismo nos dá a direção de um relacionamento verdadeiro com Deus: é Aquele a quem peço que venha o seu reino, que seja feita a sua vontade e que me perdoe na medida em que perdoo o próximo.

Conclusão


O resultado terrível do crescimento da superstição cristã nos nossos dias, que nada mais é do que o ressurgimento do paganismo cristão da idade média com um formato moderno, é o desenvolvimento de uma "falsa fé", baseada em coisas visíveis e palpáveis, completamente diferente da fé bíblica, definida em Hebreus 11:1² como sendo 
"[...] o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem".
O cristão pode comer lentilha, usar roupa branca e deixar de comer ave na virada do ano ou em qualquer outro dia do ano que bem entender. Mas porque lentilha é gostoso, roupa branca pega bem com esse calor tropical e o frango e o peru já deram o que tinham que dar no natal (afinal, variar o cardápio de vez em quando é sempre bom). Mas sem acreditar que tudo vai dar errado se ele não fizer isso ou mesmo usar a Bíblia como "horóscopo gospel".

[Fonte: ¹CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, 8.ª Edição, Volume 6, São Paulo, SP: Editora Hagnos, 2006, p. 299. ²BÍBLIA SAGRADA, traduzida em português por João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida, São Paulo, SP: Editora Vida, 1981, p. 318.]

A Deus toda glória.
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sábado, 29 de dezembro de 2018

ENTENDENDO ATOS 16:23-34 - O CARCEREIRO DE FILIPO E O EVANGELISMO COM O MÉTODO DE DEUS


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"E havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança, o qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou os pés no tronco. E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam. De repente, sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas e foram soltas as prisões de todos. 
Acordando o carcereiro, e vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada e quis matar-se, imaginando que os presos já teriam fugido. Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo: 'Não te faças nenhum mal, que todos estamos aqui.' E pedindo luz, saltou dentro e todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas. Tirando-os para fora, disse: 'Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?' E eles disseram: 'Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.'" 
E lhes pregaram a Palavra de Deus, e a todos os que estavam em sua casa. Tomando-os consigo, naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seus. Levando-os à sua casa, lhes pôs à mesa; e na sua crença em Deus, alegrou-se com toda a sua casa" (Atos 16:23-34, grifos meus).
O quadro mostra uma exposição muito forte e impactante. Apesar de percebermos alguma incontinência, intempestividades, e até precipitações, o Espírito Santo registra claramente grandes doses de dignidade e honestidade nas atitudes desse homem do mundo.

Esse homem, apesar de não convertido a Deus, até o momento de sua aparição na Bíblia, nos passa uma série de coisas positivas e negativas. Ele não era uma pessoa cheia do Espírito Santo, mas sua postura, atitudes e reações manifestam um comportamento ético e moral, muitas vezes ausente em pessoas chamadas cristãs, acostumadas a frequentar igrejas.

Selecionei certas atitudes anormais desse incrédulo, juntamente com outras boas, filtrando aquilo que não é bom e destacando as que sobram como tremendamente edificantes, como num trabalho de Raio-X. Ele entra em anonimamente em cena, exatamente no momento em que Paulo e Silas foram presos, pelo simples fato de pregarem o Evangelho de Jesus Cristo.

Cumprindo Ordens Superiores


A primeira boa atitude dele a ser imitada, seria a maneira responsável com que ele recebe e executa ordens, coisas que muitas vezes passa despercebida aos olhos - inclusive de muitos crentes pendentes à rebeldia e desobediência. É uma atitude muito importante para nós, cristãos, e seu valor cresce quando é praticada por alguém que não conhece a Jesus, como é o caso do nosso personagem anônimo.

Parábola


Feito o trabalho de limpeza geral, o "mutirão da faxina" no templo, me maravilhei com a brancura que os irmãos deixaram nas paredes, o chão, os banheiros, as cadeiras, a salinha, a cozinha, o altar. Porém, de toda a sujeira removida, sobrou uma manchinha em uma parede, atrás do púlpito, que já havia sido notada pelos irmãos que estava trabalhando.

Comecei a meditar naquela imagem: quando o salão estava todo sujo, a sujeirinha era irrelevante, não chamava a atenção, mas agora, em meio à transformação pela limpeza, ela se agigantava, ganhava destaque. E logo ponderei: "Assim é a vida do crente, ao ser atingido por Jesus, tendo seus pecados perdoados. Todas as manchas do pecado foram limpas no seu coração, mas se ficar algum vestígio da velha natureza, mesmo que sendo algo insignificante, toma proporções que chama a atenção de quem está por perto." 

O que pode representar uma pequena falta na vida de uma pessoa que rouba, mente, corrompe, trai, se prostitui, faz intriga...? Nada! A pessoa já está tão suja, moralmente, que outras coisas menores nem serão percebidas. Porém, quando Jesus nos liberta de nossos delitos e pecados, e fica alguma coisa pendente, essa coisinha que sobra será percebida facilmente. É o que acontece com os crentes, no seu ambiente social, de trabalho, ou de estudo: qualquer deslize é motivo de crítica pelos "incrédulos". Todos estão de olho, espreitando, esperando que algo aconteça de falha.

É por isso que o crente tem que ser muito responsável, muito atento às próprias atitudes, buscando ao Senhor, para que sempre esteja limpo de todos os pecados, de todas as coisas que possam denegrir sua imagem.

Nós, cristãos, que conhecemos a Bíblia, que temos os dons do Espírito Santo, e que andamos há algum tempo com Deus, deveríamos sentir-nos desafiados a imitar esses valores éticos e morais que aparecem em incrédulos, como o carcereiro de Filipo. 

Os versículos 23 e 24 do nosso texto-base, diz: 
"(...) e havendo-lhes dados muitos açoites, os lançou na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança, o qual tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, segurando-lhes os pés no tronco" (grifo meu).
Temos aqui a base bíblica para a afirmação que temos feito, de que ele recebia ordens e as obedecia de modo cabal. 

Qual teria sido o motivo da Bíblia ter registrado a expressão "cárcere interior" e não apenas "cárcere"? Assim descrevendo a cena, o Espírito Santo nos mostra a fidelidade do carcereiro em cumprir o que lhe fora ordenado! Cárcere interior era uma prisão especial do sistema romano, localizada no subsolo, que atualmente poderia ser chamada de prisão de segurança máxima. Não satisfeito, ele ainda prendeu-lhes os pés, para completar a segurança ordenada pelos seus superiores, ou seja, fez até além do que lhe cabia.

O carcereiro não tinha compromisso com Deus, não tinha o Espírito Santo dentro de si, estes são fatos inquestionáveis, mas era uma pessoa responsável. E nós, que temos tudo isso, e algumas vezes somos irresponsáveis, desatentos e negligentes? Muitos de nós não sabemos receber ordens e muito menos cumpri-las! Precisamos aprender, humildemente, essas coisas. O carcereiro mostra qualidades superiores a muitos crentes rebeldes e insubmissos, que não sabem receber ordens, nem cumpri-las. 

Nós, o Povo de Deus, temos a obrigação de sermos disciplinados, pois temos a Jesus, conhecemos a verdade e temos o nosso nome escrito no Livro da vida. Jesus nos lavou com Seu sangue precioso e nos livrou de toda obra maligna. É muita responsabilidade! Precisamos enobrecer o nosso caráter com atitudes que dignifiquem o nome de Jesus, pelo qual temos responsabilidade.

Quando alguém nos pedir algo na Igreja, temos a obrigação de fazê-lo! Precisamos aprender com esse carcereiro, que não era crente, mas sabia cumprir ordens superiores.

Capacidade de Decidir


Na continuidade do nosso texto, no versículo 25, vemos um quadro impressionante: Paulo e Silas, apesar de açoitados e presos pelos pés num calabouço, cantavam hinos de louvor e oravam a Deus, espantando a todos aqueles que presenciavam tal cena. As circunstâncias eram favoráveis a tudo: reclamações, murmurações, cobranças ("Deus, é isso que ganhamos por servi-lO?"); menos para adoração. Entretanto, Paulo e Silas não perderam tempo e transformaram aquela masmorra em um ambiente de culto ao Deus todo poderoso. Observe que lá não era e nem tinha um ambiente de ou para culto. O ambiente foi transformado por quem tinha a essência do culto dentro de si. A seguir, os versículos 26 e 27 registram: 
"(...) De repente, sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões de todos. E, acordando-se o carcereiro, vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada, e quis matar-se, imaginando que os presos já tinham fugido."
Deus respondeu "violentamente" às orações de Paulo e Silas, porém pela importância do acontecido, faz-se necessário comentar que o normal numa situação dessas, seria que os presos se evadissem pelas portas derrubadas, provocando o que se chama hoje de uma fuga em massa. Entretanto, nada disso aconteceu: todos permaneceram dentro da prisão, apesar de suas correntes estarem arrebentadas. 

O mesmo poder que arrebentou as correntes, manteve os prisioneiros em sujeição, pois nada do que Deus promove ocasiona desordem. É como a Bíblia diz em 1 Coríntios 14:33: 
"O nosso Deus não é Deus de confusão".
Deus não quebra princípios "para se promover", Ele não precisa disso, Ele é superior a isso.

Aqui podemos ver outra marca na personalidade desse carcereiro: estava passando por um sono, quando foi despertado pelos tremores. Perplexo, atônito, seu primeiro pensamento ao ver as portas abertas, foi que falhara no seu trabalho, e diante do fracasso, só via o suicídio como solução, uma vez que sentia-se responsável pelos presos.

Como fizemos no primeiro caso, filtremos as coisas ruins das boas. Precisamos então, desconsiderar essa tentativa de suicídio, pelo fato do carcereiro não ser crente. Essa tentativa revela o seu medo de fracassar. Se usarmos uma expressão do nordeste brasileiro, diríamos que esse homem tinha "vergonha na cara". Em seu entendimento sem confiaram nele e ele falhou. Só o suicídio o livraria da situação em que se metera. Assim, negativamente, a tentativa de suicídio revela o quanto ele levava a sério aquilo que lhe confiavam, o quando ele era dedicado.

Nesse momento trágico, narrado pelo versículo 28, Paulo grita para o homem, rogando-lhe que não fizesse tal coisa, uma vez que todos os prisioneiros ainda estavam ali. Não havia motivo para uma atitude tão extremada. Diante de tudo isso que acontecera, ele saltou para dentro do cárcere e prostrou-se ante Silas e Paulo, tirando-os dali em seguida.

Fora da prisão, ele pergunta: 
"Senhores, o que é necessário que eu faça para me salvar?"
E Paulo lhe responde: 
"Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa."
A Palavra nos mostra que onde houver valor, Deus fará de tudo para que haja salvação. O carcereiro se viu perdido, e foi humilde ao perguntar o que deveria fazer para se salvar. Outra coisa, Paulo não impôs ao carcereiro nenhum tipo de "fórmula mirabolante", apenas disse a ele que cresce em Jesus.
  • Situações extremas
segundos antes, ele queria se matar; a seguir, acredita que poderia ser salvo. Ele não conhecia a Deus, não era crente, mas ao constatar a permanência de todos os prisioneiros ainda ali, e que assim não seria cobrado pela fuga de ninguém, cai sobre ele a vontade de salvar-se.

Senso de Decisão


Além de saber receber e cumprir ordens, o carcereiro possuía também um apurado senso de decisão, coisa que muitos crentes não têm. Tanto mostrou-se decidido em se matar, como em se salvar! Aí, nos vem aquela passagem de Eclesiastes 11:4 que diz: 
"Aquele que fica olhando a direção do vento, corre o risco de passar o período do plantio e consequentemente ficará sem a colheita."
Quando precisarmos de um favor, não devemos pedir para uma pessoa reconhecidamente ociosa, mas para uma que costuma estar sempre ocupada. O ocioso fica procurando a direção do vento (as desculpas para nada fazer), não aproveitando o tempo; já o ocupado, no entanto, procura logo fazer a sua tarefa.

A reflexão que estou levantando agora é oposta àquela da manchinha da parede, no contexto do exercício ministerial da igreja local: Quem está acostumado a uma vida ocupada, um trabalhinho a mais não lhe fará diferença. Porém, para quem não faz nada, fica atrapalhado diante da menor responsabilidade, uma vez que a capacidade de decidir é facilitada pela de fazer. Ele estará sempre pronto para fazer, para executar.

Nós, que somos crentes, devemos estar sempre prontos para obedecer, executar, ter iniciativa própria. Jesus disse que, se fizermos somente o que Ele disser, seremos servos inúteis (Lucas 17:10). Devemos sim, exceder, agradar-lhE além daquilo que nos pede, para que possamos servi-lO com excelência espiritual. 

Reparando os erros do passado


Veremos agora, o terceiro valor do carcereiro, só percebido após a sua conversão. Paulo e Silas garantiram a ele, que se cresse no Senhor Jesus Cristo, seriam salvos ele e a sua família. A Bíblia não registra a resposta óbvia, mas ele deve ter dito: "Eu creio! Eu quero conhecer esse Deus que tem todo o poder, esse Deus que faz prodígios, que socorre aos Seus, que dá conforto espiritual para vocês orarem e cantarem a Ele, mesmo depois de chicotadas e maus tratos."

O carcereiro se converteu instantaneamente. Sua decisão foi rápida. A partir do versículo 32, a Bíblia relata que na mesma noite eles foram evangelizados, recebendo a alegria em Deus, transformando suas vidas a partir dali.

O versículo 33 mostra o homem tratando dos ferimentos de Paulo e Silas, resultado das chicotadas que ele mesmo tivera que dar. Ele começava assim, a reparar o seu passado, exatamente como ensina o texto bíblico: 
"As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Coríntios 5:17).
Recebeu-os em sua casa, deu-lhes de comer, e foi batizado em seguida, juntamente com sua família.

Quantas pessoas você ofendeu, machucou e dilacerou antes  (e até mesmo depois) de sua conversão? E com quantas delas você se reparou? Para que isso aconteça, é preciso que você tenha muita humildade, fé e amor a Deus.

Há duas coisas que devemos ver na história da conversão do carcereiro (Atos 16:16-40). Primeiro, precisamos ver o método de Deus e, depois, precisamos ver a salvação de Deus.

O método de Deus para alcançar uma alma perdida deve nos maravilhar. Paulo e Silas estavam em viagem para pregar o evangelho no coração do mundo romano. De Trôade eles tiveram uma visão de um homem da Macedônia, chamando-os para virem auxiliá-los. Na sua chegada a Filipos, a principal cidade da Macedônia, eles encontraram somente um grupo de mulheres reunidas para orar. Não havia sinagoga de judeus, e até onde percebemos, nenhum homem era temente a Deus. De fato, não foi senão enquanto Paulo e Silas foram espancados com varas e metidos na prisão, que os próprios homens que os mantinham cruelmente presos em troncos e correntes se converteram ao Senhor.

O evangelismo pelo método de Deus


Há duas coisas que devemos ver no método de Deus:

Deus repetidamente abriu a porta do evangelho para as pessoas mais improváveis. Muito frequentemente estamos esperando que os "justos" sejam salvos, quando é o pecador que necessita mais do médico. Paulo e Silas estavam cumprindo a ordem de Jesus para pregar o evangelho a toda criatura (Marcos 16:15). Fosse o César em Roma, um rabi judeu, ou um carcereiro em Filipo, todos eles mereciam ouvir o evangelho da salvação. Quantos de nós teria visto uma tal oportunidade em circunstâncias semelhantes?

O método de Deus é visto na atitude de seus servos. Depois de serem espancados e amarrados, Paulo e Silas poderiam justamente estar resmungando contra a injustiça de sua condição. Mas, em vez disso, sua resposta foi cantar e orar. Não, eles não cantaram e oraram quietamente, mas o fizeram para que os prisioneiros estivessem ouvindo-os. Paulo mais tarde se chamaria "um prisioneiro de Jesus Cristo". Os romanos não o tinham amarrado, ele era um prisioneiro de Jesus. Somente com esta atitude o mundo será conquistado para Cristo.

Agora chegamos à salvação de Deus. Há três frases que devemos considerar:
"Senhores, que devo fazer para ser salvo?" 
Este é o grito de uma alma que esteve face a face com a eternidade e não gostou do que viu. É a pergunta que o Senhor gostaria que cada homem fizesse. Como nós, que somos cristãos, ansiamos para que alguém nos faça esta pergunta! Mas isso não acontecerá até que tenhamos a ousadia de Paulo e Silas. Quanto mais fizermos ser conhecido quem somos, maior será a oportunidade desta pergunta ser feita.
"Crê no Senhor Jesus e serás salvo..." 
Precisamos destacar que este mandamento é um chamado ao compromisso. Paulo está dizendo ao carcereiro que sua salvação depende de sua completa confiança em Jesus Cristo como o Mestre de sua vida. Enquanto este passo não for dado, nada mais importa. Alguns diriam que o que Paulo exigiu do carcereiro foi uma declaração verbal de sua crença em Jesus. 

Quem quer que tivesse lido o livro de Atos até este ponto, saberia que isto não é verdade. Nenhuma conversão envolveu uma simples confissão de Jesus como Senhor. De fato, quando o Senhor estava na terra, demônios repetidamente confessaram-no como Filho de Deus, contudo demônios não são salvos (Tiago 2:19). E mais, lendo Atos 16:32-34, ficamos sabendo que Paulo não disse somente "Crê no Senhor Jesus". Ele continuou falando da palavra do Senhor e naquela mesma hora da noite o carcereiro e toda sua casa foram batizados. 

Há somente uma conclusão que pode ser tirada daquela declaração: dizer a uma pessoa que creia no Senhor e então ensinar-lhe a palavra de Deus inclui ensinar-lhe a ser batizada. Se o batismo não é uma parte importante da salvação, então por que eles foram batizados 
"naquela mesma hora da noite"? 
De fato, afinal por que foram batizados?
"...manifestava grande alegria, por terem crido em Deus..." 
Agora observe isto cuidadosamente. Paulo disse ao carcereiro para crer. Paulo então ensinou-lhe a palavra do Senhor, resultando no batismo do carcereiro e de toda sua casa. Ele então, regozijou-se, tendo crido; porém não se regozijou nem considerou-se como tendo crido senão depois do seu compromisso com o Senhor e do seu batismo. Isto é exatamente o que o Senhor ensinou em Marcos 16:16 quando disse: 
"Quem crer e for batizado será salvo". 
Somente um falso mestre poderia pegar este texto e declarar que uma pessoa somente precisa declarar sua crença em Jesus para ser salvo. O batismo não é um mero ritual, é um mandamento!

Conclusão


A igreja filipense iniciou-se com uma mulher e sua casa e um carcereiro e sua casa. Examine novamente o método de Deus. Não deveremos pensar que isto seja um grande início. Mas daquelas duas famílias veio uma igreja que defenderia a Verdade e liberalmente sustentaria a pregação do evangelho através de todo o mundo romano.

Há muita gente que não evolui, não progride na vida espiritual, pois não obedece às palavras da Bíblia. Lê que precisa se humilhar, mas continua arrogante; lê que precisa se arrepender, mas continua errando. Não consegue pôr em prática o que aprende com a Palavra de Deus. É por esse motivo que essas pessoas não são transformadas, permanecendo anos e anos no estágio inicial, sem apresentar um crescimento espiritual. A cada dia precisamos perdoar mais, obedecer mais, amar mais, servir mais.

Observe que tão logo o carcereiro tratou das feridas de Paulo e Silas, recebeu o batismo. Não houve retrocesso, não houve parada. No início, queria matar-se; depois, ao perceber que ninguém fugiu, humilhou-se, creu em Jesus, acolheu a Paulo e Silas na sua casa, lavou-lhes as feridas e foi batizado. 

É crescimento! É progresso! É caminhada para a frente!

Existe muita coisa a ser considerada, a ser obtida na vida espiritual. Precisamos fazer tudo aquilo que o Espírito diz, que a Palavra diz, para que aconteça o nosso crescimento espiritual.

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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

NOVO ANO, NOVA VIDA(?)

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Este é o último final de semana de 2018. É tempo de avaliação. Olhamos para o passado com profunda gratidão, para o presente com súplicas aos céus e para o futuro com renovada esperança. Precisamos fazer um check-up da nossa alma para diagnosticarmos os males que nos enfraquecem. 

Precisamos cuidar preventivamente da saúde da nossa alma, adotando uma rica dieta da Palavra e exercitando regulamente a nossa fé, através de uma obediência alegre e sem tardança. Precisamos ser fortalecidos com poder, mediante o Espírito, a fim de vivermos os dias que nos restam neste mundo para a glória de Deus. Que o ano de 2019 seja um tempo ainda mais venturoso para semearmos com fartura a fim de fazermos uma colheita ainda mais abundante.

Nosso check-up pode ser, entretanto, deficiente. Mas, o check-up divino é preciso e confiável. Diz a Escritura: 
"O crisol prova a prata, e o forno, o ouro; mas aos corações prova o Senhor" (Provérbios 17:3). 
O coração do homem é um país distante, povoado por muitos, compreendido por poucos. Alcançamos as alturas excelsas das conquistas mais esplêndidas. Dominamos o espaço sideral. Chegamos à lua e fazemos pesquisas interplanetárias. Mergulhamos nos segredos da ciência e agilizamos de forma exponencial o processo da comunicação. Viramos o universo pelo avesso diagnosticando suas entranhas, mas não conseguimos entender profundamente o nosso próprio coração. 

Não conhecemos plenamente a nós mesmos. Não sondamos suficientemente a nós mesmos. Não administramos completamente as cogitações que brotam do nosso próprio interior. Nosso coração, não raro, nos engana. Jesus disse que é do coração que procedem os maus desígnios, como a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba e a loucura (Mateus 15:19). 

Só Deus pode nos examinar e nos conhecer exaustivamente. Assim como o crisol prova a prata e o forno o ouro, assim, só Deus pode provar quem realmente somos. O salmista depois de falar da onisciência, onipresença e onipotência de Deus, orou, e disse: 
"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno" (Salmo 139:23).

Reflexões para um novo ano de uma nova vida


Certa vez, quando o povo de Deus se tornou descuidado em seu relacionamento com Ele, o Senhor os advertiu por meio do profeta Ageu. 
"Vejam aonde os seus caminhos os levaram!..." (1:3-6), 
Ele disse, levando-os a refletir sobre algumas coisas que aconteciam com eles e avaliar sua espiritualidade descuidada à luz do que Deus os ensinara.

Mesmo aqueles mais fiéis a Deus às vezes precisam dar uma pausa e pensar sobre o sentido de suas vidas. É muito fácil passar de uma semana muito corrida para outra sem sequer parar e ponderar para onde estamos indo e para onde deveríamos estar indo.

O começo de um novo ano é o tempo ideal de parar, refletir, e pensar sobre nossa vida. Para isso, aqui estão algumas questões para se perguntar em oração na presença de Deus.
  1. O que você poderia fazer esse ano para aumentar seu prazer em Deus?
  2. Qual é a coisa mais humanamente impossível que você vai pedir a Deus nesse ano?
  3. Qual é a coisa mais importante que você pode fazer para melhorar a qualidade de vida da sua família nesse ano?
  4. Em qual aspecto espiritual em especial você quer melhorar nesse ano, e como você irá fazê-lo?
  5. Qual é o maior desperdício de tempo em sua vida, e o que você vai fazer a respeito nesse ano?
  6. Qual é a melhor forma que você pode ajudar a fortalecer sua igreja?
  7. Pela salvação de quem você vai orar mais fervorosamente nesse ano?
  8. De que forma você vai tentar, pela graça de Deus, fazer esse ser diferente do ano anterior?
  9. O que você pode fazer para melhorar sua vida de oração nesse ano?
  10. O que você pretende fazer nesse ano que vai fazer diferença nos próximos 10 anos? E na eternidade?

Além dessas 10 perguntas, aqui estão outras vinte e uma para te ajudar a "ver aonde seus caminhos o levaram". Pense um tempo sobre toda essa lista, ou responda uma questão por dia ao longo de um mês.
  1. Qual é a decisão mais importante que você precisa tomar nesse ano?
  2. Que área da sua vida precisa mais de simplicidade, e de que forma você poderia simplificá-la?
  3. Qual necessidade você se sente mais levado a suprir nesse ano?
  4. Qual hábito você mais gostaria de criar nesse ano?
  5. Quem você mais deseja encorajar nesse ano?
  6. Qual é o seu alvo financeiro mais importante desse ano, e qual é o passo mais importante que você pode tomar nessa direção?
  7. Qual é a coisa mais importante que você pode fazer para melhorar a qualidade da sua vida laboral nesse ano?
  8. De que forma você poderia ser uma bênção para o seu pastor (ou para outra pessoa que te pastoreie) nesse ano?
  9. O que você poderia fazer nesse ano para enriquecer o legado espiritual que você deixará para seus filhos e netos?
  10. Qual livro, além da Bíblia, você mais quer ler nesse ano?
  11. Do que você mais se arrepende no ano anterior, o que você vai fazer a respeito nesse ano?
  12. Qual bênção de Deus você mais deseja buscar nesse ano?
  13. Em que área da sua vida você mais necessita de crescimento, e o que você fará a respeito disso nesse ano?
  14. Qual viagem você mais gostaria de fazer nesse ano?
  15. Que habilidade você gostaria de aprender ou melhorar nesse ano?
  16. Para qual ministério ou trabalho você pretende ofertar mais (tempo e dinheiro) nesse ano?
  17. Qual é a coisa mais importante que você pode fazer para melhorar a qualidade da sua comunhão nesse ano?
  18. Qual doutrina bíblica você quer entender melhor nesse ano, e o que você vai fazer a respeito?
  19. Se aqueles que te conhecem melhor fossem te dar algum conselho, o que você acha que eles falariam? O que você pode fazer sobre isso?
  20. Qual é a coisa mais importante que você pretende comprar nesse ano?
  21. Em qual área da sua vida você pretende mudar mais, e como você pretende fazê-lo?

Conclusão


O valor de muitas dessas questões não está em sua profundidade, mas no simples fato de que elas focam alguma questão ou compromisso. Por exemplo, só por pensar em alguém que você deseja encorajar nesse ano, provavelmente você vai se lembrar mais de encorajar essa pessoa do que se você não tivesse pensado a respeito.

Se você acha que essas questões podem te ajudar, talvez seja bom guardá-las em algum lugar – na agenda, calendário, celular, etc – onde você pode revê-las com mais frequência que uma vez por ano.

Pensemos em nossas vidas, e façamos planos e tracemos metas, e vivamos esse novo ano com diligência bíblica, nos lembrando que 
"Os planos bem elaborados levam à fartura" (Pv 21:5). 
Mas em todas as coisas, lembremos também de nossa dependência de Deus, que disse que 
"...sem mim vocês não podem fazer coisa alguma... (João 15:5).
Que Deus nos conceda graça para deixarmos para trás atitudes indignas. Que Deus nos ajude a sermos homens e mulheres cheios do Espírito Santo. Que nossas palavras sejam fontes de vida para os aflitos. Que nossas ações sejam cheias da bondade de Deus. Que nossas orações subam aos céus como aroma suave diante do Pai. Que nossos pés sejam céleres para anunciarmos ao mundo o evangelho de Cristo! E que venha 2019, o Ano da Renovação.

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog
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E nem 1% religioso.

ACONTECIMENTOS - CASO EUGENIO CHIPKEVITCH: O PEDIATRA PEDÓFILO


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Nos últimos dias o Brasil e o mundo assiste estarrecido as atrocidades cometidas pelo famoso médium João Teixeira de Faria, no Brasil conhecido como João de Deus ou João de Abadiânia e em outros países como John of God, acusado de abuso sexual contra mulheres. Este caso chocante trouxe à memória um outro semelhante envolvendo o também famoso médico Roger Abdelmassih. 

Assim como no caso do médium, o do ex-médico também foi um fato amplamente divulgado pela imprensa, o Ministério Público paulista acusou – e a Justiça acatou – denúncias de crimes sexuais, manipulação genética e evasão fiscal contra o então médico especialista em reprodução humana.

Abdelmassih foi condenado a 181 anos de prisão por 48 estupros de 37 pacientes e hoje cumpre prisão domiciliar. Mas este não é o único caso registrado na história policial brasileira de escândalo sexual envolvendo homens de importância midiática. No texto deste artigo vamos relembrar mais um desses que chocaram por sua sordidez.

O médico

Um currículo exemplar


Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - considerada a melhor universidade do Brasil e uma das melhores do mundo - em 1978, fez residência em pediatria no Hospital das Clínicas. Obteve título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira e em Hebiatria (medicina do adolescente), pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
 
Eugenio Chipkevitch foi chefe do serviço de adolescentes do Hospital Infantil Darcy Vargas, foi membro de organizações internacionais como a SAM - Society for Adolescent Medicine, SRA - Society for Research on Adolescence, IAAH - International Association for Adolescent Health, ASHA - American School Health Association, AAP -American Academy of Pediatrics.
 
O médico também foi condecorado com a medalha Comenda XV de Novembro, e teve o cargo de diretor do Instituto Paulista de Adolescência (IPA). Ele ainda é autor de mais de 50 artigos e capítulos, publicados em livros e revistas nacionais e internacionais.
 
Editor da revista Pais & Teens, autor do livro "Puberdade & Adolescência - Aspectos Biológicos, Clínicos e Psicossociais", co-autor e organizador do livro "Adolescência: Os segredos que seus filhos não contam" e autor do livros "Inimigo Íntimo". 

O Monstro

Um criminoso hediondo e contumaz

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No dia 20 de março de 2002, um programa da TV aberta divulgou imagens do renomado pediatra Eugenio Chipkevitch, que, à época, constava com 47 anos de idade, abusando sexualmente de seus pacientes durante consultas médicas de praxe. O médico sedava os pacientes para cometer os abusos, e, com o auxílio de uma câmera, filmava todo o ato para posteriormente assisti-lo.

Eugenio Chipkevitch atendia crianças e adolescentes com idades entre 8 e 16 anos, meninos e meninas, no bairro do Brooklyn, em uma área nobre de São Paulo (na mesma onde residia). Como era muito conhecido em seu ramo profissional de atuação, dada autoria em obras famosas, atendia o público da classe média alta, onde cobrava em torno de R$ 240,00 por consulta, o que equivale, aproximadamente, a R$ 900,00 nos dias de hoje.

A polícia não recebeu nenhuma denúncia acerca dos abusos sexuais cometidos pelo médico, pois tomou conhecimento a partir da entrega das fitas, pelo cidadão que as achou, as quais revelavam os atos e identificavam explicitamente Eugenio Chipkevitch.

Isso porque, um cidadão que trabalhava fazendo reparos em redes telefônicas, em seu horário de trabalho, avistou, do alto da torre em que estava, uma grande sacola de lixo preta, cujo formato parecia com um quadrado, o que lhe chamou atenção.

Ao descer da torre, abriu a sacola e achou diversas fitas de vídeo, aparentemente novas, sem qualquer título (na época as fitas continham um espaço para descrever o seu conteúdo, por ex. "festa de aniversário", "viagem" etc) jogadas na rua. Assim, deduzindo que as tinham jogado fora, resolveu levá-las consigo para que pudesse apagar o conteúdo que eventualmente achasse e gravar novos momentos nas aludidas fitas achadas.

Ocorre que ao chegar em casa, resolveu testá-las em seu videocassete, momento em que se deparou com mais de 15 horas de gravação de atos libidinosos praticados pelo pediatra Eugenio Chipkevitch contra seus pacientes, crianças e adolescentes do sexo masculino, totalizando aproximadamente 35 vítimas diferentes.

Horrorizado com o teor da gravação, esse cidadão encaminhou algumas gravações para a polícia civil e outras para o Programa do Ratinho (SBT), o qual, no dia seguinte, divulgou, em rede nacional, o médico satisfazendo sua lascívia com os menores de idade sedados.

A Prisão


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Chipkevitch sendo preso

A partir dessa exposição, fora possível identificar que o médico criminoso era Eugenio Chipkevitch, razão pela qual houve a decretação de sua prisão provisória no dia 21 de março de 2002, sendo acusado de cometer o crime de atentado violento ao pudor com violência presumida.

Ao longo das investigações, fora possível identificar como o médico realizava essas condutas criminosas sem levantar nenhuma suspeita. Ficou constatado que as consultas demoravam em torno de uma a duas horas, onde as mães (ou responsáveis pelos menores) só poderiam participar da mesma até certo momento, onde o médico fazia perguntas sobre alergias, vacinas, medicamentos.

Respondido o questionário pelo responsável do menor, o médico pedia que este se retirasse da sala, para que pudesse examinar o paciente, justificando que como era uma consulta íntima e que nem sempre crianças/adolescentes contam toda sua vida sexual aos pais, ele precisaria fazer outras perguntas exclusivamente ao paciente.

Desta forma, os responsáveis ficavam aguardando a consulta ser finalizada na sala de espera. Ao passo que, nesse instante, o médico sedava os pacientes, preparava sua câmera de vídeo, e, iniciava os abusos contra os menores. Posteriormente ficou constatado que as filmagens serviam para que o médico as assistisse depois, inclusive em encontros homossexuais com garotos de programa, aos quais contratava os serviços sexuais na região do Parque Trianon, na Avenida Paulista, centro de São Paulo, conhecido ponto tradicional de prostituição masculina.

Eugenio Chipkevitch está preso desde 2002, já foi devidamente processado e julgado, atualmente está cumprindo pena no presídio de Sorocaba (SP).

As vítimas


Como se trata de crime cometido contra meninos que na época eram menores de idade e que tiveram sua dignidade sexual violada, em respeito às vítimas, não posso revelar seus nomes.

Ademais, a própria Polícia Civil, baseando-se nessa justificativa, limitou-se a informar apenas a quantidade de vítimas, não expondo seus nomes, bem como que pertenciam ao sexo masculino, de modo que, apesar do médico atender pacientes do sexo feminino, essas não sofreram qualquer tipo de abuso. Isso, obviamente, aponta para a tendência homossexual do criminoso.

O julgamento


O médico foi denunciado pelos crimes de atentado violento ao pudor e corrupção de menores

A tese defensiva foi de que o médico não estava molestando os pacientes, mas sim realizando os devidos procedimentos clínicos que poderiam ser, equivocadamente, interpretados como abuso sexual.

Ocorre que, ainda sim, em 2004, findado o processo penal, o juiz de primeira instância sentenciou o médico em 128 anos de prisão, em regime fechado e multa, pelo crime de atentado violento ao pudor com violência presumida, vez que as vítimas se encontravam em estado que dificultava/impossibilitava sua defesa.

A defesa recorreu e o Tribunal de Justiça reduziu a pena para 114 anos de prisão em regime fechado.

Em 2007, a defesa impetrou Habeas Corpus ao Supremo Tribunal Federal requerendo a nulidade do processo. Contudo, em 2013, a corte entendeu ser desnecessária.

Conclusão


Atualmente Eugenio Chipkevitch se encontra cumprindo pena no mesmo presídio que foi preso em 2002, em Sorocaba (SP), vez que lá é específico para os autores de crimes dessa natureza, ou seja, que violam a dignidade sexual de outrem.
Documentário completo sobre o Caso Eugenio Chipkevitch, exibido no programa Anatomia do Crime (Netflix)


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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

ATUALIDADE - O AVANÇO DA TECNOLOGIA: ATÉ ONDE PODEREMOS CHEGAR?


"Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus" (Filipenses 1:9-11).
Mudar é preciso, sendo imprescindível estarmos preparados para lidar com a velocidade em que ocorrem as transformações na sociedade. É algo surpreendente e sem precedentes o quanto mudamos na forma de comunicar, relacionar, produzir, consumir e se informar... Podemos perceber isso no mundo do trabalho, no consumo e nos hábitos da população, como exemplo pedir uma refeição, um transporte, fazer uma compra, uma transferência bancária e realizar uma reunião pelo celular.

Geração Y


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Você lembra como era sua rotina sem algumas tecnologias que hoje estão incorporadas ao dia a dia, como cloud computing, Netflix, Spotify, WhatsApp ou Google Chrome? Esses serviços e produtos têm em comum seu surgimento ou popularização ter acontecido na última década. Acredite, o lançamento do smartphone da marca da maçã completou 10 anos em 2017. O avanço da tecnologia tem trazido mudanças significativas para a sociedade e o hoje em dia, a frase "não posso mais viver sem internet" é um fato inquestionável.

Independente da classe social, praticamente todos nós estamos reféns da WWW (World Wide Wed - Rede Mundial de Computadores em tradução livre ou simplesmente nossa amiga internet). Em um 
trocadilho nada infame podemos dizer que estamos todos presos nessa teia (web pode ser uma teia de aranha ou um tecido e também se utiliza para designar uma trama ou intriga).

Estamos conectados 24 horas por dia e podemos acompanhar em tempo real tudo que ocorre do outro lado do mundo. A tecnologia e a inovação são dois itens que proporcionam evolução e revolução. Quem não acompanhar esse ritmo de transformação fica desatualizado e fora do contexto social.

Há um tempo falava-se em globalização, que era a quebra de barreiras entre países. Chegamos na era digital, em que as informações transitam em velocidade instantânea e há comunicação direta entre as pessoas, sem limites de tempo e espaço, estamos falando na quarta revolução industrial e na indústria 4.0 (ou 4G) e a China e os EUA, as duas potências econômicas mundias, já estão em guerra para exploração da tecnologia 5G, que fará com que o trânsito de dados no universo digital se torne ainda mais rápido.

De volta para o futuro


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Quando voltamos uma década no tempo, é fácil perceber como as coisas estão mudando rápido. Há dez anos, por exemplo, as empresas estavam principalmente focadas em mineração de dados, tecnologia de busca e colaboração virtual. Hoje, os executivos estão direcionando sua energia para a inteligência artificial, machine learning, computação cognitiva e a Internet das Coisas.

Segundo artigo da Harvard Business Review (publicação da Harvard Business Publishing que tem como principal objetivo a reflexão inteligente sobre as melhores práticas na gestão de negócios), até mesmo a palavra "digital" ganhou novo significado. Se antes era sinônimo de TI (Tecnologia da Informação), hoje em dia "digital" é algo muito mais amplo e, no meio corporativo, costuma estar relacionado aos objetivos e funções de diversas áreas (antes ditas "offline", ou desconectadas), como marketing, vendas RH.

Por muito tempo temia-se o avanço tecnológico e não tínhamos a noção de onde poderíamos chegar. Falava-se em substituir o homem pela máquina, mas o que podemos perceber é que houve uma integração entre eles. O maior patrimônio das empresas é seu capital intelectual e de seus colaboradores. O ser humano, principalmente dotado de conhecimento, será sempre necessário na concepção de produtos, serviços e na interface com a máquina.

O artigo, no entanto, traz um contraponto: uma pesquisa da PwC, que consultou mais de dois mil executivos em empresas com receita anual de mais de US$ 500 milhões, descobriu que a confiança dos CEOs (sigla em inglês para Chief Executive Officer ou Diretor Executivo em português, que é o maior cargo hierárquico no organograma de uma corporação) nas habilidades digitais de suas organizações em 2017 é, na verdade, a menor desde 2007. Apenas 52% dos executivos classificaram seu QI Digital como forte, abaixo de 15% em relação ao ano anterior. Talvez estejamos mais exigentes com a maturidade do avanço da tecnologia?

Outro dado apontado é que o investimento médio em tecnologias emergentes (dentro do gasto total em tecnologia) cresceu apenas 1% ao longo do período de 10 anos. Os executivos dizem buscar iniciativas digitais principalmente para aumentar as receitas e reduzir os custos. Fica claro que ainda não é prioridade inovar e implementar tecnologias de ponta. Por enquanto.

Além de lutar pela sobrevivência em mercado acirrado e de elevados custos, as empresas precisam intensificar essa cultura de inovação para se tornarem competitivas. O grande diferencial é criar meios inteligentes de gerar informações, integrar sistemas e oferecer soluções. São necessárias políticas de incentivo à pesquisa e à ciência. Essa é uma realidade em vários países, que ao longo dos anos têm investido em avanços tecnológicos e na inovação, como: Alemanha, Estados Unidos, Japão, Coreia. São nações que valorizam e têm orgulho de suas empresas.

O avanço tecnológico e a saúde


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O avanço da tecnologia no setor da saúde vem provocando uma discussão sobre quais os caminhos ideais para a incorporação de novos equipamentos e produtos médico-hospitalares no País. No meio desse debate estão questões espinhosas: 
  • O governo deve gastar com a importação de equipamentos de última geração, que ajudam a salvar algumas vidas, ou investir na melhoria da saúde pública com os tratamentos tradicionais? 
  • E como fica o equipamento que ajuda na prevenção e, mais adiante, evita custos com internações e exames?
O mesmo dilema, em maior ou menor proporção, enfrentam os hospitais particulares que atendem por meio de planos de saúde e os centros de diagnósticos.

O processo de incorporação de novas tecnologias está em fase inicial, mas se trata de um processo irreversível. Os setores público e privado estão desenvolvendo iniciativas para melhorar a entrada desses novos equipamentos e produtos para a saúde. Mas esbarram, na maioria das vezes, na política adotada pelas autoridades do setor e no impacto econômico desse processo.

O custo é um dos principais fatores que o governo utiliza para barrar as novas tecnologias. O problema, nesse caso, deve ser avaliado com muito cuidado e em longo prazo. Logicamente, ao trazer um equipamento de última geração, o impacto econômico em curto prazo será alto. Mas é preciso ressaltar que este mesmo equipamento pode representar uma diminuição de custos em médio ou longo prazo. Uma nova tecnologia que previne doenças pode efetivamente reduzir o número de internações e intervenções cirúrgicas lá na frente.

A restrição política é outro fator intrigante. Hoje, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão criando mecanismos para assegurar maior controle na entrada de novas tecnologias que, para o setor de importação, poderá significar barreiras não alfandegárias.

Apesar do governo ter criado a Comissão para Incorporação de Tecnologias em Saúde (CITEC), para avaliar tecnicamente e economicamente o impacto das novas tecnologias, a indústria ainda encontrará dificuldades. Ainda falta uma metodologia adequada para essas avaliações. Faltam ainda profissionais com a correta capacitação tanto por parte do governo como das indústrias. Existem oportunidades de melhorias no sistema de avaliação e aprovação das novas tecnologias. Por exemplo, a comissão ainda não estabeleceu prazos para as avaliações nem critérios de priorização das mesmas, o que dificulta a indústria e prejudica toda a cadeia envolvida.

A não introdução de novas tecnologias no sistema, principalmente quando não há critérios bem definidos, tem como principal prejudicado o paciente, e o consequente sistema de saúde que poderá com o tempo, se tornar defasado em relação ao mundo. A exemplo do Japão, que em dois anos, entre 2004 e 2006, decidiu fechar suas portas às novas tecnologias.
 
Em 2004, o país havia introduzido 192 novas tecnologias. Entretanto, em 2006 permitiu a introdução de somente oito inovações no setor de saúde. O resultado desse processo gerou uma defasagem tecnológica prejudicial ao sistema. Pois hoje há gerações de produtos e procedimentos em cardiologia, disponíveis na Índia e China que ainda não estão incorporadas no Japão. Os profissionais da saúde que buscam treinamento e novos conhecimentos fora de seu país retornam frustrados, pois sabem que não encontrarão estas tecnologias disponíveis em sua pátria mãe.

Esse quadro apresentado no Japão indica que é essencial a existência de critérios bem definidos na avaliação de novas tecnologias na saúde. E o Brasil precisa caminhar para uma metodologia eficiente, pois corre o risco de deixar de tratar seus pacientes adequadamente, caso adotem critérios unicamente baseado em custos e sem análises metodológicas, com vistas a resultados e de longo prazo para o sistema. Um dos papéis da indústria, além de proporcionar todo o conhecimento tecnológico, é o de alertar o governo para esse horizonte perigoso.

A indústria de equipamentos médico-hospitalares está aberta ao debate com toda cadeia envolvida com a saúde, com o objetivo de melhorar a estrutura de informações e a metodologia utilizada na aprovação das novas tecnologias. O diálogo, o planejamento e a implementação de novos métodos são fundamentais para um progresso nos tratamentos de saúde tanto no setor privado, como no público.

Conclusão


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Não temos noção de onde chegaremos com o avanço da tecnologia, mas precisamos estar preparados. Que cada um esteja envolvido neste contexto, pois o momento é propício para avaliarmos as oportunidades de mudanças, e como devemos nos preparar para fazermos gestão da própria vida, mudarmos hábitos, pensamentos, posturas e enfrentarmos o futuro.
"Os que têm o entendimento e são sábios resplandecerão com o fulgor do firmamento; e todos quantos se dedicam a conduzir muitas pessoas à verdade e à prática da justiça, serão como as estrelas: brilharão para sempre, por toda a eternidade! [...] Muitos farão de tudo e correrão de uma parte a outra em busca do maior saber; e o conhecimento se multiplicará muitas e muitas vezes!" (Daniel 12:3,4b - ênfase acrescentada).

[Fonte: Agência CNI de Notícias; Gestão Estratégica e Inovação por Runrun.it; Saúde Business]

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A ESPERANÇA CRISTÃ NO ABSURDO REALIZÁVEL DA RESSURREIÇÃO

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A esperança cristã é muito superior à capacidade humana de sonhar com um mundo melhor. Estamos em período de final/virada de ano. É comum nessa época, que façamos nossos balanços (falei sobre isso em outro artigo) e que também renovemos ou criemos outras expectativas para o novo ano. Em muitos círculos religiosos, é comum que se façam listas relacionando o que se espera alcançar no ano que nasce. As tais listas, são então levadas às celebrações dos cultos e apresentadas nos altares dos respectivos deuses.

Mas, na quase totalidade das vezes, ninguém consegue atingir todos os objetivos relacionados. O problema está no fato de que muitas dessas expectativas transcendem os limites do razoável e revelam verdadeiras utopias. O que é uma utopia? Qual sua diferença com a esperança? Há uma linha tênue, imperceptível entre o entendimento desses dois conceitos. Mas o fato é que essa linha existe e, identificá-la é fundamental para que possamos pautar nossas expectativas no âmbito da razoabilidade.

Diferença entre utopia e esperança


  • Utopia - substantivo: vem a ser o que se imagina como sendo perfeito, ideal, porem imaginário não se sabendo ao certo se é possível alcançar ou realizar, é almejado mas apenas quimérico.
  • Esperança - verbo ou substantivo: 1) Sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que se deseja, confiança em coisa boa, fé. 2) A segunda das três virtudes teologais, ao lado da fé, e do amor (representada pela âncora).
Como a fé cristã não se baseia em algo que se vê, mas sim em algo que se espera, o cristão tem como um de seus tantos desafios o de não se curvar às incertezas utópicas. Há uns versos de Eduardo Galeano (☆1940/✟2015), jornalista e escritor uruguaio que explicam muito bem isso e mostram os limites da utopia:
"Para que serve a Utopia? Ela está diante do horizonte Me aproximo dois passos E ela se afasta dois passos. Caminho dez passos E o horizonte corre Dez passos mais à frente. Por muito que eu caminhe Nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para caminhar."
Com o exercício da utopia fica-se apenas com os sonhos. É bom sonhar com aquilo que 
"...olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou..." (1 Coríntios 2:9). 
Mas o exercício da esperança é incomparavelmente melhor. 

No bojo da utopia encontramos "imaginação" fértil e otimista. No bojo da esperança encontramos "certeza" fértil e otimista. Enquanto a utopia se distancia cada vez que nos aproximamos dela, a esperança não foge e cada vez estamos mais perto dela. 

Sob a ótica da utopia, a frase "um outro mundo 'talvez seja possível'" está correta. Sob a ótica da esperança cristã, a declaração está errada. Com o óculo da esperança fundamentada na pessoa de Jesus Cristo, não haveria margem para a dúvida. Então diríamos "um outro mundo 'é possível'". A incômoda palavra "talvez" cairia por terra definitivamente. 

Há benefícios na utopia?


Para o cristão, sim. Afinal,
"...sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Romanos 8:28).
A utopia precisa se transformar em esperança. Ela até pode ser um degrau para se chegar à esperança. A caminhada do sonho é bem mais curta que a caminhada da certeza. A utopia produz uma alegria forçada, mas não enganosa, pois todos conhecem sua natureza: ela não promete nada. Comporta-se como um comprimido para afugentar a dor e não a doença. Já a esperança produz uma alegria gerada pela fé, que abraça algo que de fato virá a seu tempo. 

O compromisso com a esperança e não com a utopia usa termos mais absolutos. Não diz "sociedade menos injusta" nem se contenta com o pouco. Mas garante que a justiça fará habitação na nova ordem, nos "...novos céus e nova terra" (2 Pedro 3:13). 

A ponta inicial da corda da esperança foi colocada nas mãos dos homens quando a harmonia do gênero humano e da natureza com o Criador foi quebrada (Gênesis 3:15). A outra ponta está na consumação do século, no fim da história, na plenitude da salvação. Nossa caminhada não é indefinida nem eterna, como se nada acontecesse em algum ponto do enredo, como se a glória por vir não estivesse na agenda de Deus. 

Quem usa a corda que liga o paraíso perdido ao paraíso recuperado como guia de corrimão não precisa da utopia. Ele está absolutamente certo de que o pecado, a injustiça e a morte ("os céus e a terra que agora existem") serão realmente banidos para dar lugar àquilo que "olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou" ("novos céus e nova terra"). Graças à soberania e ao amor de Deus, que nos enviou Jesus Cristo para remover o pecado do mundo (João 1:29) e fazer novas todas as coisas (Apocalipse 21:5).

A verdadeira esperança do cristão


Qual é o sentido da esperança cristã? É com essa pergunta que se deve procurar entender o significado escatológico que a "crença na ressurreição do crucificado" (páscoa cristã) proporciona à "teologia da história". Ao invés de cíclica, a perspectiva histórica para abordar a esperança deve ser linear e finalizadora (teleológica). Deste modo, a "realidade vivida" (cosmo-antropológica), em sua globalidade, ganha um sentido transcendente. A esperança cristã emerge como uma negação à tendência materializante de uma concepção cosmológica pessimista que tende limitar a transcendentalidade da vida aos ditames de um tempo pensado cronologicamente (início, meio e fim). O mundo da vida se nomotiza (ganha sentido) por meio dela (esperança cristã).

Assim, os acontecimentos perdem seu casuísmo, e seus movimentos passam a compor um enredo providente no qual "passado e futuro" se unem em importância e sentido histórico. O presente deixa de ser compreendido apenas como um "simples instante vivido", pois nele, uma "inteligência teleológica" sagra, cada evento histórico, a um conjunto maior de simbolismo escatológico, através do qual cada indivíduo, atento aos seus movimentos, passa a entender que "o vazio ou a morte" não deve ser afirmado como a "finalidade da vida". A "razão histórica" ganha o poder sobre os fatos concretos da vida, e aos indivíduos é assegurada a garantia de que todo acontecimento que se dá na esfera do presente não se perde no absurdo dos eventos históricos contraditórios.

Desta forma, a sincronia de cada etapa histórica vem, não da "ausência de contradições" (as quais se encontram amalgamadas no contexto do mundo da vida), mas como afirmação do "triunfo da Providência" (Hegel), mesmo quando ou apesar da permanência delas (contradições) no processo da vida humana na história. Ao dizer "eu sou a ressurreição e a vida", Jesus de Nazaré possibilitou ao ser humano um olhar desdramatizado para um futuro, sem a chancela do medo; olhar que interpreta "o presente sem pânico". Por essa razão, o cenário ontológico, em que se percebe a história acontecer, passa a ser então a habitação da vida, e não a perpetuação eco-antropológica do caos. Se a morte fosse uma realidade invencível, insuperável ou a palavra final sobre tudo, então, sim, a ressurreição, compreendida como fato histórico com a capacidade de reorientar o "telos" da própria história deixaria de ter qualquer relevância antropológica, bem como qualquer poder diretivo sobre os eventos que transcorrem no mundo da vida humana.

A esperança cristã entende que a morte, como possibilidade do devir histórico, foi vencida não só pela "negação do negativo", mas também pela supressão do "medo ontológico". Esse é o sentido ontológico do "εγω ειμι η ζωη" ('eu sou a vida'). Quem existe possuído pela crença de que o ser humano não precisa caminhar mais no mundo dominado pela "ansiedade da vacuidade" (Tillich), percorre cada etapa da vida munido da confiança irredutível de que somente Deus é "senhor do futuro" (Pannenberg). Deste modo, a esperança que se reclama no horizonte discursivo da fé cristã (Evangelho) não anula o fato da contradição ontológica (morte ou sofrimento) que se viceja no palco da história. No entanto, uma inversão acontece: a vida passa a ser uma promessa de auto superação para história cheia de contradições. Da precariedade do "ser-aí" num mundo caótico nasce uma luz candente e inapagável, que grita por uma "justiça ontológica", a qual sentencia à vida um processo de morte-sofrimento do qual não se esperava mais nenhum sentido redentivo.

Conclusão


Da possibilidade insuperável do "não-ser", como acreditavam Heidegger e Sartre, configura-se, então, um outro cenário de confiança da fé: "a vida vai triunfar sobre a morte" (razão da esperança). Disto se deduz eventos psíquicos acontecendo e invertendo uma lógica de previsão pessimista do futuro: a certeza não será sempre vencida pela dúvida, nem a confiança pelo medo, nem a saúde pela doença, ou a alegria pelo choro intermitente. Viver em paz, mesmo num mundo feito de guerras ou por guerras, deve ser encarado como uma oferta irrecusável da esperança que, ao invés de anular a contradição ontológica, vislumbra sua metamorfose acontecendo lentamente, num percurso histórico-antropológico em que os eventos fáticos nem sempre devem ser entendidos a partir da "lógica da aparência". Não! 

A esperança fundada a partir do fato da ressurreição do crucificado não mascara a "negativa dos eventos", mas atribui a eles um sentido outro, abscôndito, transcendente, supra histórico, em cujo percurso cronológico/kairológico a vida passa a ser "o destino da morte", e não o contrário (tese anti-freudiana e anti-heideggeriana). Esse é o sentido da páscoa cristã. Esse é significado da sua esperança.

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