segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

PASTORES SOLITÁRIOS: SERÁ QUE ALGUÉM SE LEMBRA QUE ELES TAMBÉM PRECISAM DE AJUDA?

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Muitas vezes tidos como "super-heróis", o(a)s pastore(a)s, afinal, também podem ser considerados como ovelhas? Sim, o(a)s líderes ministeriais estão sob o cajado do Senhor. E mais, ele(a)s têm fragilidades, dificuldades, medos, precisam de ajuda, da igreja, da família e de compartilhar suas experiências a fim de desenvolver com plenitude seu trabalho.

Pastorado é o chamado para uma caminhada, muitas vezes, solitária. Não se trata de uma declaração nova e nem surpreendente, mas, vindo de uma pessoa muito experimentada e que sempre conviveu na realidade das igrejas, expressa a realidade. Tenho experimentado isso por diversas ocasiões, em muitos anos de andanças servindo ao Reino de Deus como obreiro e agora como pastor.

Fé e solidão


Solidão é o caminho que nos isola. É trilha inversa ao que chamamos de solitude, que é a decisão intencional de estar a sós para orar, refletir, meditar – trata-se de uma disciplina espiritual, inclusive recomendada na construção de uma espiritualidade cristã. Disciplina esta, porém, que nos chama, depois de experimentada, à experiência comunitária, à integração e à doação mútua, diferentemente da solidão.

Muitos modelos contemporâneos de pastorado, construídos dentro de estruturas organizacionais e corporativas e baseados no crescimento da obra, têm alimentado esse caminho de solidão. Quando líderes ou pastores têm de apresentar resultados para merecerem reconhecimento, dificilmente serão construídas amizades sinceras e duradouras. 

A solidão, então, torna-se um caminho de proteção, uma espécie de blindagem contra traumas e decepções. Solidão leva ao medo, à desconfiança, ao desencanto e ao desencorajamento para o exercício do ministério e a participação na obra de Deus. Solidão é também uma realidade vivida por muitos obreiros no contexto onde foram servir e trabalhar; é consequência natural de circunstâncias que não desejaram, mas que encontraram no campo no qual se instalaram.

O jornalista Marcelo Brasileiro publicou uma matéria na revista Cristianismo Hoje na qual falou sobre a quantidade crescente de pastores que abandonam o ministério pastoral por não suportarem as cobranças que esse sacerdócio exige.

A reportagem aponta pesquisas como a realizada pelo ministério LifeWay, que pontua que apesar de se sentirem privilegiados pelo cargo que ocupavam (item expresso por 98% dos entrevistados), mais da metade dos pastores entrevistados, ou 55%, afirmaram que se sentiam solitários em seus ministérios e concordavam com a afirmação "acho que é fácil ficar desanimado".

Outra pesquisa sobre o tema é a do Instituto Francis Schaeffer, que revelou que, no último ano (2017), cerca de 1,5 mil pastores têm abandonado seus ministérios todos os meses por conta de desvios morais, esgotamento espiritual ou algum tipo de desavença na igreja.
Não se trata de pessoas que abandonam ou se apostatam da fé cristã, mas de líderes que deixam o púlpito por não suportarem os rigores, as cobranças e as exigências do cargo.

Eram 100 ovelhas... e 1 pastor


Há os que afirmam que a experiência solitária mostra que é possível servir ao ministério pastoral sem estar dirigindo uma igreja. Não acreditam mais que um ministério pastoral só possa ser exercido dentro da igreja, que o chamado se aplica apenas dentro do templo. É uma ruptura com essa visão clerical. Muitos dizem entrar num processo de morte. Adoecem e têm que procurar ajuda médica para se restabelecer depois de anos enfrentando problemas.

Solidariedade, porém, é um caminho que se contrapõe ao caminho da solidão. O evangelista John Wesley dizia que fomos chamados para viver uma fé solidária e não solitária. A solidariedade é opção promissora para não sermos ministros solitários; é também motivação para que o ministério pastoral influencie cada ovelha a olhar com outros olhos a realidade na qual está inserida e cada comunidade cristã a praticar a justiça e a agir na sociedade com obras de amor, socorro e misericórdia. A solidariedade deve rechear nossa agenda espiritual, de modo que andemos na direção do Deus Trinitário e do próximo, em comunhão e edificação.

A solidariedade vai sendo construída e exercitada quando abrimos espaço para irmãos chegarem mais perto de nossos corações e famílias. É solidariedade que encoraja e incentiva os outros nascidos da fé a construírem relacionamentos sinceros conosco, acolhendo nossa humanidade e autenticando a verdade e sinceridade de nosso chamado. Assim serviremos juntos enfrentando o desafio de sermos igrejas que sinalizem o reino, e também o poder do Evangelho transformador de Jesus Cristo. 

Solidariedade é encorajada por Tiago, quando escreve que a nossa adoração horizontal deve nos encorajar a sermos praticantes da Palavra, e não somente ouvintes. Viver apaixonadamente a implantação do Reino de Deus é anunciar a salvação em Cristo através de obras de amor, socorro e misericórdia, cuidando da causa dos órfãos, das viúvas, dos que estão sem voz e esperança, numa vida de santidade, conforme Tiago 1:27. Solidariedade é um caminho desejável para todo ser humano, e fundamental para pastores e líderes.

A primeira passagem é em Atos 20:28, que diz: 
"Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a Igreja de Deus, que Ele comprou com o Seu próprio sangue" (grifo meu). 
Perceba que é um mandamento sequencial, cuide de si e do rebanho. A segunda passagem é 1 Timóteo 4:16 - uma das cartas pastorais: 
"Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes".
O fato é que o pastor "é obrigado" a cuidar de todo mundo, mas geralmente ninguém cuida do pastor. Acredito que todo sacerdote precisa ser cuidado e pastoreado para não adoecer emocional, espiritual e ministerialmente. A queda de muitos líderes e o abandono ministerial mostram que não podemos andar solitários. Somos um grupo de risco e precisamos buscar ajuda enquanto há tempo. A troca de experiência é saudável e necessária. Mas muitos pastores acabam tendo uma visão errônea sobre seus colegas.

Eles acabam vendo os outros pastores como concorrentes e não como companheiros de jornada. Temos muito que aprender uns com os outros, e o pastor que perde a capacidade de aprender vai parar de crescer. Para que essa troca de experiência possa acontecer de forma aberta e transparente, é preciso que se desenvolva um relacionamento comprometido e pessoal. Só assim os pastores terão coragem para trocar experiências vividas.

Há muitas vidas e lares destruídos em virtude da corrida solitária dos sacerdotes. Eles nem imaginam os perigos que correm por optar em caminhar sozinho. O trabalho de convencer e encorajar o pastor a prover cuidado para si, sua família e liderança é muito difícil. Ainda existe muita desconfiança e medo. Quanto mais pudermos fazer para esclarecer e conscientizar, mais pastores serão saudáveis e firmes, e mais ovelhas serão salvas direta e indiretamente.

Conclusão


A missão do Evangelho é para todos os que confessam a Jesus como Senhor e Salvador, com seus dons, talentos e profissões, e não somente para pastores e obreiros. E a solidariedade é o caminho que nos faz aproximar de outros, facilitando nossa jornada e ajudando o ministro e a Igreja ser menos solitária e mais solidária, propiciando inclusive oportunidades enquanto servimos de construirmos excelentes amizades, amigos mais chegados que irmãos, conforme diz a própria Escritura. A solidariedade facilita e propicia que a compaixão se instale em nossas emoções, e faça parte de nosso estilo de vida. Solidariedade faz parte do coração pastoral de um Deus Triuno que é comunidade, comunitário e solidário, e que veio ao nosso encontro!

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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