Acredito que muitos de nós, em várias fases de nossa trajetória de vida, já passamos por momentos em que tivemos vontade de desistir de continuar. Desistir de tudo, até mesmo de viver. Nesse período de virada de ano, quando os tradicionais balanços são feitos, é muito comum que sejamos acometidos pelo desejo quase incontrolável de desistir. Principalmente quando os resultados desse balanço não são muito favoráveis no que tange ao que esperávamos, sobre o que criamos algum tipo de expectativa.
Sentir-se triste no final de ano é mais comum do que se pensa. Em serviços públicos de saúde e clínicas particulares, é comum haver um aumento do número de casos de pessoas em elevado grau de sofrimento, depressivas e até mesmo com ideações suicidas.
No Centro de Valorização da Vida (CVV), organização não governamental que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio 24 horas por dia, o número de ligações recebidas costuma aumentar em média 15% no mês de dezembro.
Cá e acolá
E se engana quem pense que esse fenômeno é comum só aqui no Brasil, país que há anos se encontra mergulhado em uma crise econômica que, fatos versus dados, está ainda distante de terminar. Segundo pesquisas do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, o número de registro de suicídios e tentativas também aumenta no país norte-americano. Nesse período, muitas pessoas experimentam melancolia e até depressão. Hospitais e forças policiais registram aumento de suicídios e tentativas. Psicólogos e psiquiatras também observam aumento da procura de pessoas com queixa de depressão em seus consultórios.
O "espírito de Natal"
Em nossa cultura, o Natal está associado a coisas boas como presentes, confraternizações entre amigos e mais tempo em família. Somos bombardeados por campanhas natalinas que, embora sejam de cunho puro, único e meramente comercial, nos colocam em contato com essa festividade.
Aquela pessoa da família que nos magoou e somos obrigados a reencontrar e fingir não haver ressentimentos em nome do tal "espírito natalino"; aquele familiar ou amigo querido que se afastou e não nos procura mais; a lembrança de um tempo passado, onde as coisas pareciam melhores. Enfim, esse período nos coloca diante de encontros físicos e/ou emocionais indesejados, os quais ainda não nos sentimos preparados para encarar.
Você se depara a todo momento com votos de felicidades, paz, amor, união, quando na verdade o que sente é desânimo, tristeza, desesperança. Muitas vezes esses votos acabam exercendo uma pressão ainda maior sobre você, que acaba se culpando por se sentir dessa forma quando na verdade deveria estar alegre, animado. Para não "estragar" o clima, você acaba abafando esses sentimentos, dá um sorriso amarelo e repete mecanicamente os mesmos votos àqueles que estão à sua volta, na esperança de que todo esse enfadonho e, em muitos casos (quiçá na maioria deles), hipócrita ritual acabe logo e a rotina volte ao normal.
O Ano Novo: balanço e expectativas para o futuro
A implacabilidade do tempo
Temos um calendário que nos dá a noção de ciclos; um ano tem começo, meio e fim. O fim de um ciclo geralmente nos faz refletir sobre ele, fazendo um balanço do que vivemos de bom e ruim. No fim do ano geralmente tiramos alguns dias de folga, diminuindo os afazeres do dia a dia. Essa pausa abre espaço para uma reflexão sobre o que fizemos de janeiro a dezembro, do que mudou em nossas vidas. Aí também entra uma reflexão sobre o que desejamos que seja diferente daqui para frente.
É no fim do ano que muitas pessoas costumam parar e refletir sobre o que realizaram durante o ano que passou. Muitos, apesar de terem vivido coisas boas, sentem-se desmotivados porque não conquistaram tudo que gostariam, ou têm a sensação de que poderiam ter conquistado muito mais.
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, destaca três imperativos vitais para a vida cristã. Que imperativos são esses? Vejamos:
"Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração perseverantes" (12:12).
Receber, sentir e obedecer o chamado de Deus, reconhecer-se vocacionado e colocar o exercício ministerial no projeto pessoal de vida é algo pelo que passa todo cristão. A partir daí esta missão se torna fonte de realização para o crente fiel. Contudo, os desafios do exercício ministerial, nestes tempos de pós-modernidade, fazem essa missão cada vez mais exigente. E a primeira dificuldade é dizer sim.
"A Palavra do Senhor quando chegou, desinstalou meu coração.
Ao chegar desafiou-me, a exigir uma resposta de sim ou não.
É fácil dizer sim, é fácil dizer não, mas dói depois do sim e dói depois do não".
Este é um trecho de uma canção do Pe. Zezinho e que retrata bem como, em dado momento, fomos provocados pela Palavra de Deus. Assim como alguns personagens bíblicos (por exemplo, Moisés e Jeremias), questionamos: "seremos capazes de tão importante missão?" De vencer o desafio de conciliar família, trabalho, estudo, lazer? De persistir quando, em alguns casos, o trabalho cristão não agrada à família? Neste caso o diálogo e a persistência impulsionam ao exercício ministerial.
Na realidade de caminhada cristã vamos percebendo que, com o sim, vêm exigências essenciais para bem servir: compromisso, altruísmo, fidelidade, pontualidade, assiduidade, maturidade humana, engajamento com a comunidade, planejamento, testemunho de fé e formação humana, teológica e metodológica. Surgem também desafios na convivência com o grupo de irmãos e a comunidade cristã (entrosamento, diálogo, trabalho em equipe), principalmente quando os pontos de vista são discordantes.
Outro problema é a falta de um projeto ministerial. Não há planejamento, o grupo de ministros não possui objetivos claros, nem projetos que a curto, médio e longo prazo, ajudam a melhorar os problemas da igreja local. Muitas vezes a comunidade e a liderança entregam os cargos ministeriais e não apoiam e nem percebem que todos são responsáveis pelo desenvolvimento do processo. Pensar em estruturas adequadas, recursos, formações e, principalmente, a acolhida dos cristãos e suas famílias na vida comunitária, é tarefa de todos. Talvez por isso muitos obreiros se sintam desamparados e desmotivados depois de um tempo no ministério.
Outro grande desafio, hoje, são as famílias. A realidade em que elas se apresentam a nós é muito heterogênea. A estrutura familiar, a formação cultural, o modo de educar os filhos, as condições socioeconômicas, as influências da mídia, positiva ou negativamente, e as vivências plurais e, por vezes nenhuma, da fé compõem um mosaico muito complexo das famílias hoje. Exige-se cada vez mais que o cristão dialogue comunitariamente sobre essas questões, busque boa formação e tenha muita criatividade.
O que fazer quando tudo o que queremos é desistir
- Em primeiro lugar, precisamos ter uma esperança cheia de alegria (Rm 12:12a)
A esperança é o combustível que nos alimenta em nossa jornada rumo ao futuro. Sem esperança, tombaremos vencidos nas estradas na vida. Sem esperança nossa alma murcha no calor tórrido da existência, nosso sorriso apaga-se em nossos lábios e o choro amargo embaça nossa visão. Sem esperança a vida torna-se um fardo pesado, um grito de dor, uma sinfonia de gemidos.
A esperança é o óleo que unge nossa cabeça, a força que tonifica a nossa alma, a motivação que impulsiona a nossa caminhada. Muitas pessoas já naufragaram nas tempestades da vida e perderam a esperança de livramento. Outras, só esperam aquilo que lhes traz desesperança.
Nós, todavia, somos daqueles que esperam até mesmo contra a esperança. Nossa esperança não é uma expectativa vaga, mas uma certeza experimental. Não se confunde, porque o amor de Deus é derramado em nossos corações. Por isso, é tempo de avançarmos rumo ao futuro com um cântico nos lábios e desfraldando o pendão da vitória, regozijando-nos na esperança.
- Em segundo lugar, precisamos ter uma paciência triunfadora na tribulação (Rm 12:12b)
A vida não é um parque de diversões nem uma colônia de férias. Não vivemos numa estufa espiritual nem estamos blindados contra as vicissitudes da vida. Estamos sujeitos às borrascas perigosas e às crises mais avassaladoras. Muitas vezes, somos assolados por circunstâncias amargas. É uma doença grave, um divórcio doloroso, um luto traumático. Muitas vezes, somos atacados com armas de grosso calibre e nosso inimigo conspira contra nós para nos destruir.
Somos vítimas de calúnias injuriosas, de acusações levianas e de mentiras destrutivas. Não raro, ao passarmos por esse vale de prova, por esse deserto causticante, ficamos impacientes e até revoltados. A ordem da palavra de Deus, porém, nos leva para outra direção. Devemos ser pacientes na tribulação. A paciência aqui não é uma atitude estoica de suportar a dor com os dentes trincados, mas é lidar com a tribulação com um otimismo inabalável.
A tribulação é uma prensa que nos esmaga, o rolo compressor que passa sobre nós como um descascador de cereais que separa a palha do grão. As tribulações não vêm para nos destruir, mas para nos purificar, para nos tornar mais parecidos com Jesus, que aprendeu pelas coisas que sofreu. Se você está sendo provado, acalme seu coração. Tenha paciência, pois Deus está trabalhando.
- Em terceiro lugar, precisamos ter uma firme perseverança na oração (Rm 12.12c)
A oração é a usina de poder que mantém nossa vida em movimento. Sem oração não há força para caminharmos vitoriosamente. A oração une a fraqueza humana à onipotência divina e conecta o altar com o trono. A oração liga a terra ao céu. Quando oramos, movemos a mão dAquele que move o mundo. O Deus soberano escolheu agir na história por intermédio da oração de seu povo. Tornamo-nos parceiros de Deus no governo do mundo por meio da oração.
Mas, não basta orar; precisamos perseverar na oração. Muitos têm entusiasmo para começar uma reunião de oração, mas perdem o vigor no meio do caminho e retrocedem. O fogo no altar da oração não pode apagar. Precisamos orar sem cessar (1 Tessalonicenses 5:17). Precisamos orar sempre sem esmorecer. Essa é uma batalha sem trégua, um luta sem pausa. Se a igreja parar de orar, ela perde o poder.
A oração, porém, abre o caminho para a plenitude do Espirito e a plenitude do Espírito produz santidade e poder. Os grandes avivamentos da história (principalmente os da Bíblia) foram precedidos por perseverantes reuniões de oração. Os grandes problemas do mundo foram vencidos quando a igreja de Deus se pôs de joelhos. Não cesse de orar, pois coisas grandes da parte de Deus estão a caminho.
Conclusão
"Não Desista" - Gisele Nascimento
Vários são os aspectos que contribuem para que uma pessoa se sinta triste ou depressiva no fim do ano. Se você tem sentido esse período como algo pesado ou difícil, se deseja fugir para um lugar bem longe ou dormir e acordar apenas no ano que vem, se você tem se sentido desanimado, sem vontade de enfrentar as situações, e acredita que a morte seria uma opção para acabar com seu sofrimento de uma vez por todas, procure ajuda.
Fale sobre isso com alguém próximo, converse sobre esse sentimento de desamparo com alguém. Mas escolha uma pessoa que você acredita que não irá tentar te convencer que isso é uma bobagem e procure ajuda profissional.
Talvez você não se sinta assim, mas essa pode ser a realidade de um familiar ou amigo. Neste caso, esteja atento, ofereça apoio e ajude-o a buscar o tratamento adequado. Ao contrário do que se pensa, falar sobre o assunto ajuda a superar o problema e não piora a condição da pessoa em depressão.
- Busque ajuda:
- 193 – Bombeiros;
- 141 – CVV atendimento gratuito 24 horas por dia;
- http://www.cvv.org.br – atendimento online CVV via chat ou Skype.
Cada tempo trará novas barreiras a ultrapassar. E é a partir do núcleo de nossa fé, crer no Deus Trino encarnado e libertador, que poderemos ajudar na missão pela qual Jesus viveu e morreu: fazer presente o Reinado de Deus aqui e agora. Confiar e entregar-se a um Deus que nos chama, nos ajudará a enfrentar o maior desafio de ser cristão hoje: a perseverança.
"Não Pare, Não Desista!" - Michelle Nascimento
[Fonte: POSFG - O Portal da Pós Graduação]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
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