"Eu tenho um sonho: Que um dia esta nação se porá de pé e viverá o verdadeiro significado de sua crença: Nós conservamos esta verdade para ser auto-declarada, que todos os homens foram criados iguais. Eu tenho um sonho, e nele, meus quatro filhos pequenos viverão em uma nação em que não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo de seus caráteres" (Martin Luther King Jr.).
"Então, falou Pedro, dizendo: 'Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável. Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos'" (Atos 10:34-36, grifos meus).
"O que me define não é a cor da minha pele são minhas atitudes refletoras do meu caráter e colunas de sustentação da minha consciência, que revelam o tom incolor da minha alma" (Leonardo Sérgio da Silva).
20 de novembro - o Dia da Consciência Negra - consta como feriado no Calendário do nosso país. Se hoje, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a causa está nas manchetes e conquistou sua importância em calendários oficiais de algumas cidades como São Paulo, ainda fica a pergunta: e no meio evangélico, há algum movimento consistente e organizado contra o racismo?
A realidade talvez mostre fraquezas no processo de formação de um possível movimento evangélico nacional que aborde a importância da história dos negros na formação da nossa sociedade (aliás, em muitos círculos evangélicos, quiçá na maioria deles, essa data passa incólume). Fraquezas porque, de fato, ainda é tímido em termos de abrangência e de articulação. Mas, graças a Deus também há forças. Forças porque, a despeito disso, há produção acadêmica, paixão, coragem e olhar bem informado sobre os caminhos democráticos que podem beneficiar a bandeira, que inspirada no Evangelho, luta contra o racismo.
Origem da data
A data homenageia Zumbi, um escravo que foi líder do Quilombo dos Palmares. Zumbi morreu em 20 de novembro de 1695. A data foi criada com o objetivo de fazer uma reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana, assim como, o impacto que tiveram no desenvolvimento da identidade da Cultura Brasileira. A Sociologia, a Política, a Religião e a Gastronomia, entre várias outras áreas, foram profundamente influenciadas pela Cultura Negra. Este é um dia de comemorar e mostrar profundo apreço e respeito pela Cultura Afro-brasileira, mas não é algo celebrado por todos!
Como cristão e negro penso que podemos sim celebrar, mas não adianta fechar os olhos quanto a uma questão muitíssimo séria - O racismo existe e está presente em toda a sociedade, inclusive no meio cristão. Como a Igreja Cristã de hoje pode abordar e combater tamanho mal que é frontalmente contra o grande mandamento (resumo de todos os demais) do Mestre Jesus:
"E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: 'Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças'; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'. Não há outro mandamento maior do que estes.
E o escriba lhe disse: 'Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios'.
E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: 'Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada'" (Marcos 12:29-34, grifo meu).
Confundidos com ladrões, comparados a macacos, insultados simplesmente pela cor da pele. Mesmo em pleno século XXI, não são raros os casos de racismo no mundo, que vão desde uma piada contada numa roda de amigos até registros de injustiças, crimes e mortes.
Há algum tempo atrás, os campos de futebol viraram cenários de lamentáveis manifestações desse tipo. Quem não se lembra da triste cena de um torcedor espanhol jogando uma banana em direção ao jogador brasileiro Daniel Alves durante uma partida? E de toda uma torcida no Peru imitando o som de macaco nas vezes em que, o também brasileiro, Tinga pegava na bola?
Fora do esporte, as cenas de preconceito são ainda mais frequente (faltaria tempo e espaço para descrever as constantes manifestações de racismo nas redes sociais) e dentro da própria Igreja, não escapamos disso... São inúmeras as ocorrências de discriminação e constrangimento no dia a dia, que normalmente acontecem em lojas, restaurantes, empresas e agências de seleção de pessoal. E muitas vezes, a agressão não é só verbal ou psicológica, é física também, e pode acabar em morte.
O racismo no Brasil
As estatísticas comprovam que no Brasil, a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior do que a de um branco, segundo um levantamento divulgado em 2013 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No estudo, o Espírito Santo aparece como o segundo estado, numa lista de 10, que oferece mais perigo para o jovem negro, perdendo só para Alagoas.
Combatido na Bíblia
A Bíblia é clara no combate à discriminação de qualquer espécie. Em Tiago 2:1, há o alerta:
"Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade" (grifo meu).
No texto de Atos dos Apóstolos, a Igreja de Antioquia – uma Comunidade de fé majoritariamente helenista –, nos dá uma bela lição sobre a igualdade racial e o empoderamento das etnias na comunidade nascente (Atos 13).
O Pentecostes posto em prática, diferentemente da Igreja de Jerusalém, liderada por hebreus (Atos 15). Podemos destacar dois escritos de Paulo, o Apóstolo das etnias. Ele escreveu uma linda Carta a Filemon, Áfia e Arquipo onde propõe a superação da lógica escravista. Ainda, na Carta aos Gálatas (3:24-29), Paulo chega a ir mais adiante ao romper com a estrutura hierárquica greco-romana, e de qualquer outra sociedade, que fundamenta o seu descaso pelo outro por motivações raciais (judeu ou grego), social (escravo ou livre) e de sexo (homem ou mulher) ...
Chamados para lutar
Apesar dos diversos casos envolvendo racismo nas igrejas, muitos líderes cristãos se envolveram nessa causa. O inglês Willian Wilberforce, no século XIX, dedicou sua vida na luta abolicionista na Inglaterra. Foram 40 anos até que uma lei pondo fim ao tráfico de escravos fosse aprovada. Com sua experiência política e sua fé firme no Senhor, ele pôde ver seu país extinguir o comércio de escravos e influenciar todas as outras nações que ainda se beneficiavam desse mal.
O batista Martin Luther King também. Combateu a segregação racial nos Estados Unidos e batalhou pelos direitos civis dos negros. Mesmo enfrentando ameaças, agressões, prisões, maus-tratos à sua família, ele não desistiu. Um atentado tirou a vida do pastor negro norte-americano, mas sua luta não foi em vão.
O líder sul-africano Nelson Mandela, que era metodista, levantou-se contra o sistema de segregação social. Ele passou 27 anos preso por resistir ao regime, mas sua luta resultou no fim do Apartheid, tornando-se o primeiro negro presidente da África do Sul (1994-1999).
O exemplo dos metodistas
Existem materiais em nossas igreja disponibilizados de Combate ao Racismo? Alguém já viu em alguma Igreja a Campanha de Combate ao Racismo (nas Redes Sociais) e material para Escola Dominical que abordam esse assunto auxiliando na formação dos cristãos? Que eu saiba, apenas a Igreja Metodista tem um intenso e relevante trabalho nessa ordem, merecendo, portanto, de minha parte, uma menção honrosa por sua exceção. A partir daí precisamos levantar a discussão, estimular e contribuir para a reflexão e também promover ações proativas para a superação do preconceito.
Nesse tempo de recente comemoração dos 500 Anos da Reforma Protestante e 150 Anos do Metodismo no Brasil, pesquisei e conclui que está no DNA dos Metodistas o combate ao racismo e às desigualdades. John Wesley pregava nas praças, e muitos que eram tidos como excluídos da sociedade abraçaram o Evangelho. Os Metodistas nasceram, então, com o cunho social muito elevado – nós, cristãos inter-denominacionais, precisamos dar continuidade à esta importante missão.
Conclusão
Longe de ser uma questão resolvida ou enterrada no passado, o racismo ainda está presente na sociedade (há o equivocado e paradoxal racismo até mesmo de negro contra negros e, sim, de negros contra outras etnias e, racismo, seja ele como for, é desprezível, nocivo e deve ser combatido). E a Igreja tem um papel fundamental nesta questão: ela precisa se levantar como Coluna da Verdade (1 Timóteo 3:15.16) e ser Sal e Luz (Mateus 5:13-16), ensinando que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, nesse grande Campo Missionário.
A verdade que há na Palavra nos revela como o Senhor nos vê, não pela cor, pela raça, pela religião, pela nacionalidade e tantos outros pré-conceitos, mas pela sua misericórdia, pela sua multiforme graça e favor. Ele nos vê não como somos, mas como podemos nos tornar: modificados pelas suas mãos transformadoras e santificadoras.
O mesmo pecado que há mais de dois mil anos habitava o homem negro, habitava o branco, o mulato, pardo, amarelo... e a todos os homens, com exceção de Jesus, que nos redimiu do nosso pecado e foi oferecido como Cordeiro sem mácula na cruz do calvário. Esse é o preço que foi pago para que nos tornássemos um só, para que nos tornássemos iguais e para que o sangue que circula em nossas veias, sejamos branco ou negro..., fosse o sangue de Cristo.
O entendimento e convicção da veracidade do que está escrito nas Escrituras mostrando que Deus "é o Senhor de todos", quebra as cadeias do preconceito, do radicalismo, da violência, da soberba, da depressão, do espírito de rejeição, do medo e da ignorância. Quando compreendemos que temos o mesmo Senhor, podemos olhar para as pessoas e contemplarmos não apenas indivíduos, mas servos do mesmo Reino, irmãos filhos do mesmo Pai.
Buscar promover a paz é a urgência do nosso tempo, amar as pessoas como elas são e desejarmos sermos semelhantes com Cristo é como o ponteiro do relógio da eternidade. Se ele existisse não contaria o tempo, mas a medida do nosso amor.
Oremos para que Deus prolongue o nosso tempo na Terra para que alcancemos um coração sábio, puro, reto e santo, disposto a amar sem fazer acepção a ninguém, somente ao pecado. A Palavra de Deus sendo inculcada na nossa mente deve ser a consciência que permeia as ações de negros, brancos, pardos, mulatos... e de todos. Ele não veio para as cores que vemos naturalmente na pele das pessoas, Cristo veio para salvar o que está dentro de nós!
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
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