quarta-feira, 1 de agosto de 2018

LIVROS QUE EU LI - "AS BRUMAS DE AVALON", MARION ZIMMER BRADLEY

Este livro, um dos maiores clássicos da literatura está prestes a completar seus 40 anos. Lançado nos Estados Unidos em 1979, a obra de contexto medieval, aborda o universo feminino de maneira lúdica e com fortes doses de misticismo.

Outro tema polêmico para a época em que se passa a história, o Império Romano do século V, no momento em que o paganismo estava começando a perder terreno para o cristianismo, como a homossexualidade, tanto a feminina quanto a masculina, também é superficialmente abordada na obra. Lancelote declara explicitamente seu amor e desejo por Arthur e, em algumas passagens do livro, é feita uma insinuação de que Morgana mantém relações com a sacerdotisa Raven.

Mera ficção ou realidade?


A história do Rei Arthur é envolta em mistério: ninguém sabe se ele existiu de verdade ou se é puro folclore da História da Grã-Bretanha. O ator Clive Owen interpretou o Rei Arthur na versão cinematográfica, que, pra variar, deixou muito a dever da versão literária.

Marion Zimmer Bradley apresenta a história do Rei Arthur sob um viés diferente: das mulheres que de uma forma ou de outra impactaram sua vida. O primeiro volume, A Senhora da magia, já traz o contexto em que a Bretanha se encontrava: dividida entre cristãos, romanos, deuses diferentes e estruturas de poder que não se conversavam. Uma medida drástica precisava ser tomada para unificar e pacificar o país.

"As Brumas de Avalon" é um livro de ficção, mas Marion Zimmer Bradley mergulhou nas várias lendas do Rei Arthur, de Sidney Lanier, e em outras obras sobre druidas e a religião celta – há uma forte relação com a bruxaria e a religião Gardnerian Wicca, uma das tradições neopagãs. Foi com base nessas pesquisas históricas e contatos com praticantes da magia, que sua obra vai além da fantasia e acaba servindo como um material de estudo para quem deseja conhecer melhor a religião da "deusa", suas tradições e costumes, aliás, esse foi um dos motivos pelos quais me interessei em ler a obra.

O universo wicca


Desde o prólogo, o leitor conhece Morgana - já observaram que geralmente esse é o nome dado às personagens bruxas? -, a qual faz uma bela introdução sobre si mesma e sobre a ilha sagrada de Avalon. Ela conta os nomes pelos quais foi chamada "irmã", "amante", "sacerdotisa", "maga", "rainha" e de forma breve relata o que considerou ser o preconceito que a chamada "religião da Grande Deusa" sofria por parte dos cristãos.

Ao longo do livro, o leitor viaja pela terra - segundo o livro, Avalon se localiza ao sul da Bretanha, atual Inglaterra, que era uma província do Império Romano (Vários autores citam a atual cidade de Glastonbury [Somerset]) como sendo a ilha sagrada. Avalon era conhecida também como o País do Verão) - em que há disputas de poderes entre nações, crenças e perspectivas – um lugar em que as intrigas políticas e a magia andam lado a lado, separados por uma bruma que só pode ser vista por aqueles que conheciam os mistérios da noite.

Ele por elas


Esta obra que se tornou um grande clássico da literatura mundial retrata a mítica história do rei Artur a partir da perspectiva de mulheres mágicas e poderosas. Por séculos, as lendas arturianas povoaram o imaginário de leitores de todo o mundo. As Brumas de Avalon é considerado por muitos a versão literária definitiva do mito e muitas gerações de mulheres se deixaram arrebatar pela escrita envolvente de Marion Zimmer Bradley.

Pelos olhos de mulheres complexas e poderosas como Morgana das Fadas, Viviane, a Senhora do Lago, Igraine, Morgause e Gwenhwyfar, os reinos de Camelot e de Avalon são revisitados neste clássico, repleto de magia, sensibilidade e intrigas.

Uma releitura monumental das lendas arturianas… Ler As Brumas de Avalon é uma experiência profundamente tocante, e muitas vezes fantástica. Um resultado impressionante.

O enredo elaborado com maestria e a escrita maravilhosa da obra jogam nova luz a antigos personagens, em especial Morgana das Fadas, Merlim, Lancelote e Gwenhwyfar. Um romance épico, com violência, ambição, lealdades dolorosas e feitiços assombrosos.

Há poder nas palavras. Através delas histórias são contadas por gerações não deixando que o passado seja esquecido. Por gerações lendas e mitos são criados por aqueles que não se calaram e ousaram contar o que viram e viveram. De pai para filho. De general para soldado. De vencedores para derrotados. Poucas vidas são tão lendárias e seus feitos tão fascinantes como do rei Artur.

A sombra de sua vida se estende ao longo dos séculos. Todos conhecem sua história… ou pensam conhecer. É tempo de descobrir a história real deste regente encoberta, até então, por tão densas brumas.

Inevitável spoiler


A Grã-Bretanha está destruída. Guerras e invasões assolam sua terra desde que os romanos se foram. Deixaram costumes e a imposição da fé Cristã em detrimento dos antigos cultos locais perpetuados pelos celtas e druidas que amavam a grande Deusa. Mas o Senhor dos cristãos é exclusivista, não há espaço para outros deuses e costumes, e as poucas tribos que ainda se apegam aos velhos hábitos e credos estão alarmados.

Preocupados com a opressão dos cristãos e com as invasões nórdicas enquanto não há união e consenso entre os reis locais. Tudo está desmoronando. Mas existe uma profecia vindo da misteriosa Avalon, um refúgio e resquício das sacerdotisas da grande Deusa que prometeu não abandonar seu povo. A profecia do nascimento de um lendário rei que uniria todas as tribos e credos debaixo de seu estandarte trazendo a paz e a expulsão das nações estrangeiras. A profecia do nascimento de Artur.

Profecias dependem de homens para ocorrerem. Personagens muitas vezes esquecidos pelo tempo ou relegados a segundo plano que a história tende a apagar. Mas não aqui. Pela primeira vez ouviremos a voz dos esquecidos. Igraine, mãe de Artur, e como ela foi "obrigada" por Viviane (a Senhora do Lago) e Merlin a cumprir sua profecia: que ela, ainda casada com outro homem, daria um filho (Artur) a Uther Pendragon um bravo guerreiro respeitado por todos os reis e generais. 

Conheceremos a fundo sua filha, Morgana das Fadas, e como sua vida foi forçada a trilhar um místico caminho não antes desejado. Porém entre deuses não há espaço para os desejos e devaneios dos humanos. Todos acabam cumprindo seu papel na intrincada teia chamada destino. A profecia vai se cumprir, e um rei possuidor de uma lendária e mágica espada, Excalibur, salvará e condenará muitos. Guerras, traições, sangue, heresias e uma responsabilidade esmagadora recairá sobre os largos ombros deste guerreiro, assim como sobre as vestes de sua poderosa irmã, amiga e amante, a bruxa Morgana.

Sobre a autora


Marion Zimmer Bradley nasceu em Albany, Nova Iorque, no dia 03 de junho de 1930, e se casou com Robert Alden Bradley em 1949. Em sua adolescência, Marion foi uma fã de ficção científica e fantasia e escreveu desde que se lembra, mas apenas para revistas de colégio e fanzines até 1952, quando ela vendeu seu primeiro conto para a Vortex Science Fiction. Ela escreveu desde ficção científica até narrativas góticas, mas é mais conhecida pela série Darkover e pela série As Brumas de Avalon sobre as lendas do Rei Arthur.

Além dos seus livros publicados, Marion Zimmer Bradley editou revistas, amadoras e profissionais, incluindo a Marion Zimmer Bradley’s Fantasy Magzine, a qual ela começou em 1988. Ela também editou uma antologia anual chamada Sword and Sorceress. Marion morreu em Berkeley, Califórnia, no dia 25 de setembro de 1999, quatro dias após sofrer um ataque cardíaco grave.

Polêmicas


Mas nem tudo foram flores na história de Marion. Ela foi acusada pela própria filha, Moyra Greyland, de ser lésbica e de, juntamente com o próprio pai, Walter Breen, violentá-la sexualmente desde que era ainda criança. Quem quiser ler o relato completo de Moyra clique ➫ aqui.

Conclusão


Marion Zimmer Bradley consegue prender o leitor com suas personagens femininas de maneira que o próprio Arthur acaba ficando um pouco ofuscado. O final do primeiro livro, A Senhora da Magia, deixa o leitor curioso para saber os próximos desafios que serão enfrentados por Morgana, Arthur, Igraine, Viviane, Merlin, Lancelot, bem como dos personagens que aparecem menos e outros que terão mais destaque nos outros livros da série.

A edição em um volume único especial reunindo as quatro obras em uma só com suas quase mil páginas, torna extremamente difícil resenha-lo sem dar spoiler e se alongar demais. Enfim, essa saga é um grande drama envolvendo as mulheres que fizeram parte, e acontecer a lenda do rei Artur, mas o foco não são suas vidas e feitos. 

Escrito de uma forma sensível você observa o nascimento, vida e morte de uma lenda e como sua vida foi proporcionada, e afetada, por tantos outros até então coadjuvantes. Vemos de perto todo o silêncio opressor de uma época sendo rompido pelos atos e palavras de uma mulher a frente do seu tempo, a "bruxa" Morgana. Não há batalhas ou cenas de ação, apenas o intrincado "jogo de peças" formado pelos reis e generais, assim como o embate constante entre a fé, e filosofia, dos celtas e dos cristãos, bem distorcida por sinal. 

Há uma maestria na escrita de Marion Zimmer Bradley, mas por vezes achei cansativa, desinteressante e um pouco repetitiva no que tange certos dramas pessoais. Ao término entendi porque há tanta reverência por esta saga devido a sua inquestionável qualidade. Sem dúvida "o clássico que encantou gerações" ganhou o meu respeito como obra literária, mas, cuidado, não é um livro indicado para cristãos que sejam bitolados com questões místicas e que não conseguem fazer distinção entre questões de fé genuína e ficção artística.

Detalhes da obra

  • Livro 1 - "A Senhora da Magia"
  • Livro 2 - "A Grande Rainha"
  • Livro 3 - "O Gamo-Rei"
  • Livro 4 - "O Prisioneiro da Árvore"
  • Capa dura: 968 páginas
  • Editora: Planeta; Edição: 1ª (25 de outubro de 2017)
  • Idioma: Português
  • Avaliação média:
  • 6 de 5 estrelas

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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