sábado, 11 de agosto de 2018

A VÓS, PAIS!


Do latim pater, a palavra pai designava originalmente toda pessoa que dava origem a outro ser. O Direito Romano, base de nosso ordenamento civil, conferia ao pai o título de paterfamiliae, o cidadão romano chefe de família. Já definiam os romanos que "is est pater quem justae nuptiae demonstrant" (o pai legítimo é aquele que o matrimônio como tal indica). E nesta condição, todos os seus descendentes a ele se vinculavam sem poder de oposição, onde se incluía a própria esposa. Da mesma raiz latina encontramos a palavra paternitas, mostrando a qualidade ou o fato de ser pai, designando o liame jurídico que une pai e filho.

O Pátrio Poder


Durante todo o século XX convivemos no Brasil com o pátrio poder onde todas as decisões da família eram tomadas apenas pelo homem da casa, tendo a esposa apenas participação colaborativa, mas não decisiva. Apenas com o novo Código Civil, em vigor desde 11 de janeiro de 2003, substituiu-se esta expressão (diga-se ultrapassada) para poder familiar, onde marido e mulher, juntos, deliberam consensualmente sobre os destinos de uma família.

Em sentido jurídico, pai é o ascendente masculino de primeiro grau. Eis, portanto, a definição legal. Mas a palavra pai não se limita a letra da Lei e surge de formas variadas em nosso dia a dia. O Dicionário Houaiss aponta com precisão um sem número de variáveis. É o "pai da pátria" (defensor de um país), "pai da criança" (autor de uma ideia), "pai das queixas" (delegado de polícia), "pai Gonçalo" (marido sem iniciativa, dominado pela mulher), "pai mané" (indivíduo ingênuo), "pai dos burros" (dicionário) e assim por diante. Eis aqui a definição popular.

A origem do Dia do Pais


Ao que tudo indica, o Dia dos Pais tem uma origem bem semelhante ao Dia das Mães, e em ambas as datas a ideia inicial foi praticamente a mesma: criar datas para fortalecer os laços familiares e o respeito por aqueles que nos deram a vida.

Conta a história que em 1909, em Washington, Estados Unidos, Sonora Louise Smart Dodd, filha do veterano da guerra civil, John Bruce Dodd, ao ouvir um sermão dedicado às mães, teve a ideia de celebrar o Dia dos Pais. Ela queria homenagear seu próprio pai, que viu sua esposa falecer em 1898 ao dar a luz ao sexto filho, e que teve de criar o recém-nascido e seus outros cinco filhos sozinho. Algumas fontes de pesquisa dizem que o nome do pai de Sonora era William Jackson Smart, ao invés de John Bruce Dodd.

Já adulta, Sonora sentia-se orgulhosa de seu pai ao vê-lo superar todas as dificuldades sem a ajuda de ninguém. Então, em 1910, Sonora enviou uma petição à Associação Ministerial de Spokane, cidade localizada em Washigton, Estados Unidos. E também pediu auxílio para uma Entidade de Jovens Cristãos da cidade. O primeiro Dia dos Pais norte-americano foi comemorado em 19 de junho daquele ano, aniversário do pai de Sonora. A rosa foi escolhida como símbolo do evento, sendo que as vermelhas eram dedicadas aos pais vivos e as brancas, aos falecidos.

A partir daí a comemoração difundiu-se da cidade de Spokane para todo o estado de Washington. Por fim, em 1924 o presidente Calvin Coolidge, apoiou a ideia de um Dia dos Pais nacional e, finalmente, em 1966, o presidente Lyndon Johnson assinou uma proclamação presidencial declarando o terceiro domingo de junho como o Dia dos Pais (alguns dizem que foi oficializada pelo presidente Richard Nixon em 1972).

No Brasil, a ideia de comemorar esta data partiu do publicitário Sylvio Bhering e foi festejada pela primeira vez no dia 14 de Agosto de 1953, dia de São Joaquim, patriarca da família.

Sua data foi alterada para o 2º domingo de agosto por motivos comerciais, ficando diferente da americana e européia.

O pai na concepção cristã


Na religião cristã, a Oração do Pai Nosso em Mateus 6:9-13, mais especificamente no versículo 11, contribuiu, de certo modo, para determinar o pensamento de que cabe aos pais a tarefa tão somente de ser o provedor do "pão de cada dia". Isso continua muito presente, ainda que, em muitas situações, a mulher enquanto mãe coopera também com as obrigações financeiras na família atuando profissionalmente no mercado de trabalho. 

É verdade que ser provedor é uma tarefa de grande responsabilidade, principalmente na maioria das famílias brasileiras, quando os recursos financeiros são poucos para suprir tantos compromissos. Como solução o que se vê são pessoas acumulando cargas excessivas de trabalho prejudicando em muito o convívio familiar ideal.

Não basta ser provedor, tem de ser pai


Mais do que ser provedor do "pão de cada dia" e das demais necessidades básicas na manutenção da casa, o pai tem a obrigação de ser amigo, e isso exige estar mais próximo dos(as) filhos(as), desenvolvendo neles(as) a confiança e a devida segurança em todos os momentos da vida. A ausência do pai e também da mãe, quase sempre justificadas em decorrência dos compromissos profissionais que lhes possibilite dar maior conforto aos(às) filhos(as), tem contribuído muito mais para a sua instabilidade emocional, gerando neles(as) inseguranças e comportamentos agressivos, nem sempre compreendidos pelos pais.

Devido a essas questões, no meu entender, três situações são relevantes e carecem de maior atenção por parte principalmente dos pais no relacionamento com os(as) filhos(as), são elas:
  • Processo Educativo: Ação que permite ao pai perceber que seu(a) filho(a) será pai/mãe dos(as) seus(as) netos(as). Mais do que a intuição divina que recebemos de Deus, o estar presente nas várias fases da formação dos(as) filhos(as) é uma obrigação fundamental que o(a) ajudará a compreender o cuidado especial que deverá ter quando tiver que assumir o mesmo papel. 
  • Processo Afetivo: Ação imprescindível que permite ao pai perceber que seu(a) filho(a) é um ser que precisa ser amado, respeitado e protegido. A visão equivocada do processo educativo que apenas pune, geralmente muito praticada, precisa ser revista. Quanto mais presente na vida do(a) filho(a), menor será a necessidade de castigá-lo(a). 
  • Processo Familiar: Ação que permite ao pai perceber que seu(sua) filho(a) é parte de si mesmo. Precisamos ensiná-lo(a) a valorizar e respeitar a seus pais e irmãos(ãs). Mostrar a ele(a) que sozinhos(as), seremos sempre fracos(as) e incapazes, mas quando unidos(as) com pessoas merecedoras da nossa confiança, seremos fortes para superar todas as adversidades.
Constatar a existência de crianças, adolescentes e jovens com transtornos psicológicos por causa de comportamentos irregulares na família, tem sido a grande preocupação das instituições sociais, principalmente da Igreja e da Escola. Que essa missão de ser pai, desperte em todos a consciência de que ser provedor é muito mais do que suprir de bens materiais, mas dar condições ideais aos(às) nossos(as) filhos(as) no sentido de que recebam da nossa parte todas as condições para terem uma vida emocional equilibrada e sensata, contribuindo assim, com o maior projeto de Deus que é a família. 

Conclusão


Com as definições bíblica, jurídica, popular e familiar, concluo que pai tem, sobretudo, forte conotação de hierarquia, de poder, de gestão. Neste Dia dos Pais, em que o ego masculino fica ainda mais comprometido, uma autocrítica é sempre bem vinda, a começar pela readequação da expressão poder familiar. O Código Civil, que em seu artigo 1.630 substituiu a expressão pátrio poder por poder familiar, deveria ter disposto, em substituição, a expressão pátrio dever ou, sendo fiel ao novo texto legal, dever familiar. A paternidade não institui direitos sobre os filhos, mas sim deveres para com os mesmos.

O artigo 1.634 do Código Civil é preciso ao determinar aos pais a garantia da criação e educação de seus filhos. E isto não se dá apenas no sustento material ou alimentar, mas também e especialmente no exemplo moral, de forma que a geração vindoura tenha corretamente moldado seu caráter. E ao contrário das obrigações conceituais, onde a contraprestação deste dever familiar se dá de forma pecuniária (custeio da educação, alimentação, vestuário, etc.), o exemplo espiritual e moral requer comprometimento, renúncia e vocação. Não se pode exigir de outras pessoas atitudes que nós mesmos não adotamos, regra esta que seguramente se aplica de pai para filho.

Neste dia 12 de agosto (2018) festejamos o Dia dos Pais. Não se pode defini-lo como uma data do calendário civil. Estas têm dia certo e um caráter público institucional, como 21 de abril ou 07 de setembro. O Dia dos Pais também não é uma data religiosa, o que dispensa maiores justificativas. Portanto, deveríamos concluir ser um dia meramente comercial cujo ápice ocorre na entrega dos tradicionais presentes. E assim será apenas se o paterfamiliae deixar ser.

Mas esta data poderá ser vista de outra forma. Porque da palavra paternidade vem a raiz do adjetivo "paterno" que, outra vez recorrendo ao Mestre Houaiss, significa "que lembra o amor de pai; carinhoso, afetuoso, paternal". Ou seja, a maior gratificação do Dia dos Pais não é receber um presente do filho, mas em oferecer um carinho para ele.


A Deus, o Pai, toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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