sexta-feira, 6 de julho de 2018

ESPECIAL - A SETE IGREJAS DO APOCALIPSE - 2) ESMIRNA








A Carta à Igreja em Esmirna


Durante o período em que Paulo ficou em Éfeso, na sua terceira viagem evangelística, 
"todos os habitantes da Ásia" 
ouviram o evangelho de Jesus (Atos 19:10). Pedro incluiu os eleitos e forasteiros da Ásia entre os destinatários de sua primeira carta (1 Pedro 1:1). É bem possível que a igreja em Esmirna, uma cidade situada aproximadamente 65 km ao norte de Éfeso, esteja incluída nestas citações. 

Mas, a primeira vez que ela é identificada por nome é nas citações no Apocalipse. Por isso, não temos informações específicas sobre esta igreja, além dos quatro versículos desta carta ao anjo da igreja em Esmirna. O pouco que sabemos é positivo. Esta carta elogia e encoraja, sem oferecer nenhuma crítica dos cristãos em Esmirna. 

Uma igreja perseguida

"Sê fiel até a morte..." 


A palavra "Esmirna" vem de mirra, um suave aroma adocicado. É possível que essa igreja tenha sido fundada pelo apóstolo Paulo. A igreja de Esmirna era pobre em riquezas deste mundo, mas ativa no trabalho. Sofreu muitas perseguições. Policarpo, que foi consagrado bispo nesta igreja pelo próprio João, sofreu martírio em 168 a. D. 

Milhares de cristãos foram aprisionados e mortos, mas outros surgiam para ocupar seus lugares. Os sofrimentos que suportavam, levavam os membros de Esmirna para mais perto uns dos outros e de seu Redentor. Seu exemplo dado em vida e diante da morte era um constante atestado à verdade. Onde menos se esperava, muitos perseguidores eram convertidos e alistavam-se no exército de Cristo. 

Período profético (100-313 a. D.) 


Esmirna representa o período que vai desde a morte de João, por volta do ano 100 a.D., até 313 a.D. Na carta está escrito: 
"… Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias…" (Apocalipse 2:10). 
Conforme o princípio dia/ano de interpretação profética, estes dez dias se aplicam ao período de 303 a.D., quando fortes perseguições foram movidas contra os cristãos pelo imperador romano Diocleciano, até 313 a.D., quando Constantino, agora imperador, assina o Edito de Tolerância de Milão, dando liberdade de culto aos cristãos e restituindo a posse de seus bens antes confiscados. 

"Ao Anjo da Igreja em Esmirna" (2:8-11

A igreja em Esmirna (8): 


Hoje conhecida com Izmir, a terceira maior cidade da Turquia e o segundo mais importante porto do país, Esmirna era uma cidade antiga de uma região habitada durante milhares de anos antes de Cristo. A antiga cidade foi destruída pelos lídios em 600 a.C. e reconstruída pelos gregos no final do 4º século a.C. A cidade ganhou nova vida, e pode ser descrita como uma cidade que morreu e tornou a viver. 

Durante o domínio romano, Esmirna se tornou um centro de idolatria oficial, conhecida como Guardião do Templo (grego, neokoros). Foi a primeira cidade da Ásia a construir um templo para a adoração da cidade (deusa) de Roma (195 a.C.). Em 26 d.C., foi escolhida como local do templo ao imperador Tibério. Foram descobertas imagens, na praça principal da cidade, de Posêidon (deus grego do mar) e de Deméter (deusa grega da ceifa e da terra). 

Na época do Novo Testamento, Esmirna provavelmente tinha uma população de aproximadamente 100.000. Por ser um porto excelente, facilitando o comércio entre a Ásia e a Europa, era uma cidade próspera. 
"...Estas coisas diz o primeiro e o último..." (8): 
Jesus começa esta carta com as palavras de 1:17, frisando a sua eternidade. 
"...Que esteve morto e tornou a viver..." (8): 
Quase igual a afirmação de 1:18, esta frase destaca a vitória sobre a morte na ressurreição. Na situação dos discípulos de Esmirna, encarando perseguições difíceis, seria especialmente importante lembrar da ressurreição de Jesus. O Senhor deles não fracassou diante da morte; Ele a venceu! Eles, sendo fiéis, teriam a mesma esperança. 
"...Conheço a tua tribulação..." (9):
Jesus, no meio dos candeeiros, viu o sofrimento de seus seguidores. Da mesma maneira que Ele se compadeceu dos angustiados na terra durante o seu ministério (veja Marcos 1:41), Ele olhou com compaixão para aqueles que sofriam em Esmirna. Mesmo assim, Ele não os poupou de toda a dor, como veremos no versículo 10. A palavra "tribulação", aqui, significa pressão que vem de fora. 
"...A tua pobreza (mas tu és rico)..." (9): 
Apesar de morarem numa cidade próspera, os cristãos em Esmirna eram pobres. Provavelmente sofriam discriminação por causa da fé, e assim se tornaram pobres. É bem possível, também, que tivessem sacrificado seus recursos em prol do evangelho, como os macedônios fizeram para ajudar os irmãos necessitados alguns anos antes (veja 2 Coríntios 8:1-9). Mas a pobreza material não tem importância quando há riqueza espiritual (veja 3 João 2). A situação dos discípulos em Esmirna era muito melhor do que a da igreja em Laodicéia, que se achava rica apesar de sua pobreza espiritual (3:17).

A blasfêmia dos falsos judeus (9) 


Blasfemar é falar mal. Frequentemente, refere-se a blasfêmia contra Deus. Aqui, porém, a blasfêmia é um aspecto do sofrimento dos crentes em Esmirna. Esta difamação veio de pessoas que se chamavam judeus mas, de fato, não eram verdadeiros judeus. Os judeus, que tiveram uma sinagoga em Esmirna, perseguiam os cristãos. Ao invés de serem verdadeiros judeus e descendentes espirituais de Abraão (veja João 8:39-47; Romanos 2:28,29), eram servos de Satanás, o principal mentiroso e acusador dos fiéis (Ap 12:9,10; Jo 8:44). 
"...Não temas as coisas que tens de sofrer..." (10) 
O conforto oferecido por Jesus não é o livramento do sofrimento. Ele anima os discípulos em Esmirna a não desistirem diante das tribulações que viriam logo. Covardes não têm esperança em Cristo (Ap 21:8). Pessoas que fogem da sua responsabilidade diante de Jesus por medo de sofrer não são dignas da comunhão com Ele. Pessoas que ensinam que o servo fiel será próspero e livre de sofrimento nesta vida não acreditam nas palavras que Jesus mandou à igreja em Esmirna! 
"...O diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós..." (10): 
O diabo é visto como a fonte da perseguição. Alguns seriam presos, provavelmente aguardando julgamento e possível morte. 
"...Para seres postos à prova, e tereis tribulação de dez dias ..." (10): 
O efeito da tribulação seria o de provar a fé desses cristãos. A sua lealdade a Cristo seria testada sob ameaças de morte. Mas a perseguição não continuaria para sempre. Dez dias sugere um tempo curto mas completo. Seria uma provação completa, mas teria um fim. 

Por ter vínculos tão fortes com a idolatria oficial de Roma, Esmirna se tornou uma cidade perigosa para os cristãos. Esta carta fala sobre perseguições que viriam. Até décadas depois do Apocalipse, perseguições atingiram seguidores de Cristo na cidade. 
"...Sê fiel até à morte..." (10): 
O fim desta perseguição, para alguns, poderia ser a própria morte. Mesmo assim, deveriam ser fiéis. Às vezes, arrumamos qualquer desculpa para não fazer algo que Deus pede. Mas nada, nem a nossa própria vida, deve ser mais importante do que a nossa fidelidade a Deus. 
"...E dar-te-ei a coroa da vida..." (10): 
A palavra "coroa" (grego, stephanos) refere-se à coroa de vitória. A coroa da vida vem de Deus, o Único que pode dar a vida (veja Jo 5:26; 14:6; 1 Jo 1:1,2). Aqueles que amam a vinda de Jesus receberão a coroa da justiça (2 Timóteo 4:8). 
"...Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas..." (11): 
Como em todas as cartas às igrejas, Jesus chama os destinatários a ouvirem a sua mensagem. 
"...O vencedor..." (11): 
Aqueles que permanecem fiéis diante das perseguições são vencedores com Cristo. 
"...De nenhum modo sofrerá dano da segunda morte." (11): 
Não sofreria o castigo eterno (20:6,14; 21:8). Os perseguidores poderiam até causar a primeira morte, mas os fiéis não sofrerão a segunda morte (veja Mt 10:28). 

Perseguição: a marca de Cristo no verdadeiro cristão


Morar em Esmirna no primeiro século não seria fácil para o discípulo de Jesus. Além das perseguições pelos judeus, eles enfrentavam uma ameaça mais organizada e mais poderosa. A idolatria oficial, juntando a religião à força do governo, prometia uma perseguição perigosa aos cristãos da cidade, tentando-os a abandonarem a sua fé para melhorar as suas circunstâncias ou até para evitar a morte violenta. 

Para vencer esta tentação, teriam que acreditar no poder dAquele que já venceu a morte. Mesmo se morressem, as suas vidas eternas seriam garantidas somente se mantivessem sua confiança no eterno Senhor, 
"o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver". 
Quão maravilhoso seria se a nossa igreja recebesse uma carta encorajadora de Jesus, especialmente se ela não tivesse nenhuma crítica! Jesus não tinha qualquer repreensão à igreja em Esmirna, mas revela sua profunda compaixão por um povo que é fiel ao Senhor e que sofre perseguição como consequência. 

É difícil para muitos de nós imaginar o que de fato é sofrer pelo Senhor. Contudo, essa carta indica que todos os cristãos devem estar dispostos a sofrer por Cristo. O sofrimento pode assumir várias formas. 

Ao longo dos séculos, quando as pessoas defenderam claramente a verdade de Jesus Cristo e se recusaram a fazer concessões a outras ideias religiosas, algum tipo de perseguição irrompeu.

No período do Novo Testamento, a perseguição geralmente vinha dos pagãos (At 19:26-41) ou das autoridades romanas (2 Timóteo 4:16-18). Para Esmirna, ela também procedeu de alguns da comunidade judaica a qual, por isso, foi chamada de "sinagoga de satanás" (Ap 2:9; ver também 3:9). Essas duras palavras são semelhantes às palavras de Jesus em João 8:44: 
"Vós sois do diabo, que é vosso pai, [o qual] jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade". 
A rejeição de Jesus enquanto Messias e Senhor aponta para o fato de que tais pessoas seguem um falso senhor – satanás. Satanás sempre está por trás da rejeição ao único e verdadeiro Senhor. 

Aqui Jesus diz conhecer a "tribulação" e a "pobreza" daquela igreja em Esmirna (2:9). A sua pobreza pode estar ligada à sua perseguição. Talvez eles tenham se recusado a participar das cerimônias religiosas das corporações de ofício da época e, assim, tenham sofrido economicamente. A palavra tribulação ou aflição carrega a ideia da perseguição aos cristãos nos últimos dias. Jesus usou a mesma palavra em Mateus 24:9 para se referir à perseguição e morte que os cristãos enfrentariam por sua causa. Em Esmirna, isso estava começando a acontecer, e o Senhor os prepara para o pior que estava por vir. 

Todavia, desde o primeiro versículo o Senhor traz encorajamento. Ele escreve ser aquele 
"que esteve morto e tornou a viver" (2:8). 
A decisiva verdade que eles precisam compreender é que, uma vez que Cristo morreu e ressuscitou, eles podem estar certos de que, se morrerem, também hão de ressuscitar dentre os mortos. É isso que significa Jesus dizer-lhes que eles não sofrerão a "segunda morte" (v. 11). A primeira morte pode estar nas mãos dos perseguidores, mas eles serão ressuscitados por Deus e nunca enfrentarão o juízo final, a segunda morte. Com efeito, eles receberão a "coroa da vida" (v. 10). 

Esmirna era famosa por seus jogos atléticos, então isso teria lembrado os cristãos da "coroa de louros" dada aos melhores cidadãos e atletas. Os seus perseguidores os consideravam os menores dos menores, mas, em breve, o Senhor proclamaria a vitória deles ao dar-lhes a vida eterna. 

Mas há mais encorajamento. Jesus diz que eles são, de fato, "ricos" (v. 9). Isso porque, a despeito das aparências em contrário, eles têm os tesouros da graça e da salvação de Deus (Colossenses 2:3). Há também um encorajamento mais obscuro aqui. A perseguição será limitada a "dez dias" (Ap 2:10). A imagem é extraída de Daniel 1

Daniel e seus amigos estavam buscando servir ao rei Nabucodonosor sem, contudo, fazer concessões ao mundo pagão. Eles se recusam a comer a carne servida pela corte. Eles estão estabelecem um período de "dez dias" durante os quais se testaria se eles sobreviveriam tão bem sem carne. 

Sob a proteção soberana de Deus, eles sobreviveram ao teste. 

Embora a perseguição em Esmirna provavelmente tenha durado mais de dez dias (algumas perseguições duraram anos), Daniel e seus amigos permanecem como um conforto a todos os cristãos que sofrem. Se, enquanto buscam viver sem negar ao Senhor, eles forem alvo de perseguição, eles hão de descobrir que o Senhor é soberano e impôs um limite de tempo. Com efeito, a própria perseguição passará a ser vista como uma "prova" do Senhor (Ap 2:10), pois o seu povo permanecerá fiel e o Senhor os defenderá. 

Conclusão 


O que o texto bíblico informa sobre a igreja de Esmirna? Apocalipse 2:8-11. 
  • a) Apresentação (2:8); 
  • b) Elogio (2:9); 
  • c) Reprovação (Não há); 
  • d) Conselho (2:10); 
  • e) Promessa (2:11).
O fato de que muitos de nós não sofremos muito certamente indica que estamos fazendo concessões demais ao nosso mundo. Nós separamos o nosso mundo na parte espiritual e na parte secular. Cristo é Senhor do domingo e de quando nós oramos, mas não do resto da semana. Isso leva às concessões que tantas vezes fazemos. 

Mas, quanto mais as pessoas integram sua fé a todas as áreas da vida, mais elas começam a enfrentar antagonismo. Estou convencido de que, se nós verdadeiramente vivêssemos como Cristo nos ordenou a viver, então os cristãos em todos os lugares experimentariam os ataques de satanás.

Essa carta fala a todos nós e nos exorta a permanecermos fiéis, a não temermos "as coisas que temos de sofrer" e, se Deus nos chamar a isso, a sermos "fiéis até a morte". Que possamos compreender o custo envolvido e pedir ao Senhor que nos ajude a permanecer firmes por ele. 

Que a igreja de Esmirna e os cristãos perseguidos ao redor do mundo sejam exemplos que nos ajudem a romper com nossa complacência e nossas concessões, de modo que possamos buscar a coroa da vida em vez do conforto e da aceitação deste mundo.

Enquanto escrevo este artigo, sei que há muitos cristãos fiéis sofrendo terríveis perseguições ao redor do mundo. E isso me traz um sentimento de muito tristeza, pesar, vergonha e constrangimento e me remete a uma reflexão: o que eu ando fazendo em prol do Reino de Deus, vivendo no conforto e no comodismo de um país onde tenho total liberdade de expressar a minha fé?

[Fonte: Estudo Bíblico, por Allan Dennis; Ministério Fiel, por Paul D. Gardner] 

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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