quarta-feira, 16 de maio de 2018

FILMES QUE EU VI - 41: "O ADVOGADO DO DIABO"

Bom, primeiro eu devo confessar que não gosto do Keanu Reeves, um dos protagonistas do filme, como ator. Eu o considero um péssimo ator. Inexpressivo e "plástico" demais. Parece um boneco de cera em cena. Considero que o Keanu está para o cinema, como o Fiuk está para a televisão. Esse fato foi um dos que inicialmente me fez resistir em ir até o cinema assistir "O Advogado do Diabo". 

Por outro lado, a presença do fenomenal Al Pacino, um ator que dispensa comentários e apresentações, além de toda a polêmica que o filme causou quando foi lançado - teve pastor proibindo suas ovelhas de assisti-lo -, me impulsionaram a ir assisti-lo. Não me arrependi. Keanu, apesar de tudo, se esforçou e até conseguiu segurar bem o seu personagem, e o Pacino... Ah, o Pacino deu vida a um irresistível e sedutor diabo.

Mensagem nada subliminar


Apesar de flertar com temas místicos e espirituais não ortodoxos, Hollywood ainda precisa manter as convenções dos gêneros cinematográficos.

Um dos exemplos dessa dualidade vivida pelo cinema comercial é o filme "O Advogado do Diabo" (Devil’s Advocate, 1997) onde o diretor Taylor Hackford tenta inserir uma visão mais matizada e ambígua da figura do diabo em meio aos tradicionais clichês satânicos reforçados por efeitos de computação gráfica.

Através da inesquecível performance de Al Pacino, o filme nos apresenta uma sutil visão do diabo como uma figura prometeica, um anjo caído e condenado pelo Criador por ter apresentado ao homem o fruto do conhecimento.

O ano é 1997


Na segunda metade dessa década Hollywood vive uma espécie de guinada metafísica. Desde "Dead Man" (1995) do diretor Jim Jarmusch, um western místico onde as religiões institucionalizadas são ridicularizadas, roteiristas e produtores começam a flertar com temas e abordagens místicas ou espirituais não ortodoxas, tal como o gnosticismo. Nesse ano estão em produção "Show de Truman" e "Cidade das Sombras" (que foram lançados no ano seguinte) e o filme "Matrix" está sendo gestado pelos irmãos Waschowski. Esses filmes fazem parte de uma tendência cinematográfica da época repleta de temas, arquétipos e simbolismos religiosos, mas com uma abordagem mística e gnóstica.

Também, nesse ano é lançado o filme "O Advogado do Diabo" dirigido por Taylor Hackford, adaptação do livro de Andrew Neiderman. Se no livro há uma ambiguidade fundamental em relação ao personagem principal (não sabemos se ele é um louco ou a própria encarnação do diabo, ambiguidade resolvida no monólogo final), no filme percebe-se uma ambiguidade de outra natureza: o conflito entre as convenções do gênero terror/suspense imposta pelos produtores em apresentar o diabo na tradicional visão judaico-cristã e a adaptação ao livro que procura apresentar esse personagem de uma forma mais matizada – uma visão alternativa do diabo, própria da literatura do Romantismo que o via como uma figura prometeica, um anjo caído e condenado pelo Criador por ter apresentado ao homem o fruto do conhecimento.

O filme passa uma mensagem muito clara, se você não lutar com seus demônios, você não conseguirá lutar com os demônios do mundo. Milton (Al Pacino) para mim é o personagem mais importante do filme, mesmo sendo o diabo ele não manipula necessariamente com a mentira, mas sim com a verdade, o que deixa claro que o mal está em todos e se as pessoas não estiverem preparadas, ele pode dominar suas vontades e ações. O filme é bem dirigido, incrivelmente bem atuado e possui uma história que facilmente prende o telespectador, sendo um dos filmes mais importantes do cinema moderno.

Spoiler


A história de "O Advogado do Diabo" gira em torno de Kevin (Reeves), um advogado jovem e bem sucedido, morador de Gainsville. Seu trabalho chamou a atenção de John Milton, dono de um escritório de advocacia em NY, Milton chega em Kevin após ele ter sucesso em um caso onde defendeu um professor acusado de assediar sexualmente suas alunas, Milton oferece emprego a Kevin e faz promessa de alto salário.

O Kevin Lomax (Keanu Reeves), um advogado em plena ascensão e bastante conhecido pela sociedade por nunca ter perdido nenhuma causa, também ganhou notoriedade por saber escolher bem seu corpo de jurados, no decorrer do filme percebemos que isso é como se fosse um dom desenvolvido pela experiência nas centenas de tribunais do júri a qual havia enfrentado no decorrer de sua carreira, o advogado mora em uma pequena cidade na Flórida com sua esposa Mary Ann (Charlize Theron, deslumbrante e em impecável atuação). Lomax, então é encontrado por John Milton, que é o proprietário do maior escritório de advocacia de Nova York.

Fogueira das vaidades


"Vaidade...  Definitivamente meu pecado favorito."
Esta é uma das célebres frases ditas pelo diabo em uma de suas cenas no filme. 

No inicio do filme ocorre o julgamento de um professor acusado de assediar uma se suas alunas, logo de inicio percebemos pela atitude de Lomax que ele desaprova a conduta de seu cliente, isso fica explicito quando ele presencia seu cliente fazendo movimentos em baixo da mesa que remetem aos movimentos que ele fez na estudante, o advogado então pede um recesso da audiência e procura se acalmar indo ao banheiro, não demora muito para que o repórter Larry (Neal Jones) o encontre e comece a fazer uma serie de provocações a fim de tirar o advogado do sério.

Ao ganhar a causa dando vitória ao professor que assediou suas alunas, indo contra seus princípios Lomax procura conforto na bebida, como forma de fugir de seus problemas e em meio a tanta confusão um empregado do escritório de advocacia de Milton lhe faz uma proposta de emprego, prometendo um salário alto e varias regalias, levando o jovem advogado a aceitar a proposta deslumbrado com o salto que sua carreira ia ganhar, mesmo indo contra a vontade de sua mãe.

Qualquer semelhança com fatos reais não é mera coincidência


Logo que chega em Nova York sua vaidade o faz dedicar todo o seu tempo ao trabalho e deixar de lado sua esposa e sua mãe tudo em nome do sucesso. John Milton o novo chefe de Lomax é carismático e muito brilhante, e tem uma facilidade incrível em contornar até as piores das situações, mais nada disso parece ter importância para Lomax que mesmo entrando em conflito com sua própria consciência sempre dizia a si mesmo 
"Eu sou pago para vencer!" 
se tornando esta outra frase marcante na trama; no meio de toda essa confusão Kevin descobre que é fruto de um caso que sua mãe teve com Milton, quando trabalhava em uma lanchonete na juventude, então Lomax percebe que ele o influenciou o tempo todo.

Nesse ponto da trama percebe-se que é abordado o principio do livre arbítrio, mostrando que nem sempre as nossas decisões são isentas da coesão que o meio exige, entretanto as pessoas que estavam próximos ao advogado fizeram toda a diferença na tomada se duas decisões.

O filme retrata a natureza humana de que as pessoas se deixam levar pelos benefícios que podem tirar de algumas situações, mesmo que isso signifique esquecer de seus valores, crenças e costumes, agindo de forma contrária aquela que usaria de costume, usando de artifícios maliciosos para conseguir aquilo que almeja como usando os pontos fracos das pessoas, deixando-se levar pela vaidade e pela ganância.

Em sua sequência final, o filme mostra vários acontecimentos trágicos, como a morte de um dos colegas de escritório de Kevin e o suicídio de sua esposa Mary Ann - que sofria pela perturbação mental e psicológica do diabo Milton -, que o leva a uma crise nervosa.

Conclusão


Em um momento de lucides de Lomax este percebe que estava sendo manipulado por seu pai e vê que a única solução para que os planos maléficos se tornem realidade e ele tirando sua própria vida, e assim o faz.

Entretanto no final de todos esses acontecimentos o telespectador percebe que tudo isso não aconteceu realmente, que tudo não passava do pensamento do advogado no momento em que o mesmo foi ao banheiro e se olhou no espelho; ao voltar para a sala de audiências Lomax surpreende a todos quando diz ao juiz que desiste do caso.

O filme nos mostra várias vezes cenas do cotidiano profissional como quando o advogado percebe que o professor acusado de assedio realmente é culpado, pois viu que no momento do depoimento da vítima o autor fazia movimentos similares aos que tinha feito na vítima sob a mesa, nesse momento percebemos a angústia de um advogado ao acreditar que seu cliente era inocente sem o ser.

Identificamos vários aspectos que acontecem na vida profissional dos juristas que acreditam em seus clientes até que estes demostrem de alguma forma que na verdade são culpados, vemos um advogado ambicioso que não mede esforços para ganhar suas causas mesmo que tenha que passar por cima das pessoas e de seus próprios princípios, isso não e raro em nosso cotidiano sendo presenciado nas diversas audiências que ocorrem.

Kevin finalmente descobre que Milton na realidade é o diabo e que ainda por cima é seu pai, fato que é confirmado pela sua mãe e dá sentido ao título do filme, nesse ponto Mary já é internada em um hospício e acaba cometendo suicídio, Kevin acaba indo tirar satisfações com seu pai que lhe revela que a mulher pela qual ele tinha interesse é na verdade sua irmã e que os dois deveriam gerar um filho capaz de herdar todo o império construído por Milton, Kevin acaba se suicidando por não querer se submeter a vontade do diabo, seu pai.

O diabo e o romantismo


O caráter satânico é interpretado por Pacino com prazer e alegria. Reeves, em contraste, é sóbrio e sério - o homem reto, porém dividido entre a ambição e vaidade e a necessidade em se dedicar à sua esposa e a vida conjugal.

Com o desenrolar do filme, logo saberemos que o diabo/Milton tem um sério plano de natureza cósmica que envolve a sua batalha contra Deus, e Kevin Lomax tem um papel chave nesses sinistros planos. 
"Adoro as paixões e os defeitos humanos. Eu sou talvez o último humanista. O século XX foi inteiramente meu. E estou apenas esquentando!", 
diz Milton entre suas melhores linhas de diálogo.

Assistindo ao "O Advogado do Diabo", fica claro a oposição entre os clichês hollywoodianos sobre o demônio (reforçado com muitos efeitos de computação gráfica) e uma visão ambígua e mais matizada, ao estilo da literatura do Romantismo do século XVIII-XIX.

Figuras como Lord Byron, Baudelaire, Goethe, Giosuè Carducci entre outros ofereceram a visão do Diabo como uma figura romântica do pensamento independente, do prazer e defensor do progresso e do desenvolvimento do potencial humano. 

Essa caracterização do Romantismo é extraída de uma interpretação alternativa da mitologia judaico-cristã: Satanás é um anjo caído que foi expulso do céu por seu orgulho e por ter dado o dom do conhecimento para o homem. Dessa maneira a figura bíblica de Satanás aproxima-se bastante da figura mitológica de Prometheus - que foi punido por Zeus por dar ao homem o dom de fogo.

Enfim, dá pra ver que a trama é intensa e que todas as polêmicas que causou são, até certo ponto, compreensíveis, embora em hipótese alguma justificáveis. É um filme que deve ser vistos por todos, crentes e descrentes, pois revela a maneira como o diabo age no mundo. O fato de o diabo do filme ser um homem sedutor, também afasta a folclórica imagem do diabo com chifres, rabo pontiagudo, soltando fogo pelas ventas e segurando um tridente.

Ficha Técnica


  • Data de lançamento: 1 de janeiro de 1998 (2h 20min)
  • Direção: Taylor Hackford
  • Elenco: Al Pacino, Keanu Reeves, Charlize Theron... 
  • Gênero: Fantasia
  • Nacionalidade: EUA
  • Produção: Warner Bros.




A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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