sexta-feira, 16 de março de 2018

ESPECIAL DISCIPLINA: 3) FINAL - OS QUATRO NÍVEIS DA DISCIPLINA NA IGREJA

Não podemos perder de vista que ninguém vive espiritualmente isolado; somos membros uns dos outros e constituímos um só corpo. Quando alguém passa a viver no pecado fere não só a si mesmo, mas também ao corpo de Cristo!

O Velho Testamento nos revela como o pecado de um só homem, Acã, prejudicou todo Israel e como foi necessário que ele fosse julgado (Josué 7:11-26). O Novo Testamento enfatiza muito a ideia do corpo; quando Jesus envia sua mensagem a cada uma das sete igrejas da Ásia (Apocalipse 2 e 3), Ele as trata como um todo tanto ao falar de suas virtudes como também de seus erros.

Os quatro níveis da Disciplina na Igreja


Jesus foi quem primeiro falou de disciplina no Novo Testamento:
"Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só. Se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas se não te ouvir, leva contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada. E se não ouvir, dize-o à igreja; e, se também não ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano" (Mateus 18:15-17).
Há quatro níveis distintos no processo de disciplina que o Senhor ensinou:
  1. Repreensão pessoal;
  2. Repreensão com testemunhas;
  3. Repreensão pública;
  4. Exclusão.
Não praticamos a disciplina quando a pessoa se arrepende, mas sim quando ela se recusa a arrepender-se. E neste caso, dentro de uma progressividade; 
  • com a repreensão pessoal primeiro, 
  • a com testemunhas em segundo, 
  • a diante da igreja em terceiro e 
  • só então a exclusão em quarto lugar.
Não podemos excluir alguém sem ter dado antes estes passos. Porém, alguém pode não querer receber os primeiros níveis da repreensão fugindo deles; neste caso, constatada a indiferença e relutância da pessoa, passamos então ao quarto nível, subentendendo terem sido os outros insuficientes ou impraticáveis.

Quando a repreensão se torna pública, ainda que seguida de arrependimento, e a pessoa em questão é um líder, a disciplina se manifestará afastando a pessoa de sua posição de liderança até comprovada restauração.

Repreensão pessoal


Vários textos bíblicos falam sobre a necessidade de repreensão. E não são necessariamente ligados ao presbitério, pois no corpo de Cristo ministramos uns aos outros. Neste nível se enquadram os líderes de célula e todos que exercem cuidado por outras pessoas no Corpo. Veja alguns deles:
"Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos…" (1 Tessalonicenses 5:14, grifo meu) 
"Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais vedes que aquele dia se aproxima" (Hebreus 10:25, grifo meu). 
"Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e, sim, deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente; disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade" (2 Timóteo 2:24,25, grifo meu).
Note que corrigir não significa contender, mas demonstrar cuidado com mansidão. Quando porém, a situação se agrava, é necessário que o governo da Igreja (os líderes) assuma a situação, que pode ser delicada e necessitar que a autoridade espiritual seja imposta, como Paulo fez com os coríntios (2 Coríntios 13:2 e 10).

Repreensão com testemunhas


Além da instrução do Senhor Jesus, não encontramos outro texto que fale com clareza sobre este nível de disciplina, mas ele é muito eficaz por tirar a situação do aspecto pessoal e colocá-la num patamar de formalidade. E se as pessoas escolhidas para acompanharem a repreensão forem pacificadoras, serão de grande proveito para promoverem o arrependimento com argumentação mansa e amorosa.

Em caso de resistência da pessoa que está sendo repreendida, ela deve ser avisada que assim como o segundo nível de repreensão não foi aceito, será necessário o terceiro num culto público, e que permanecendo ainda inflexível ela chegará ao quarto nível: a exclusão.

Repreensão pública


Ao dizer que levasse a repreensão para o terceiro nível, à Igreja, Jesus não se referia a tratar a questão na Igreja (templo) ou com os líderes da Igreja, como alguns gostariam que fosse. Na verdade, Ele se referia a tratar a questão em público.

Paulo também falou sobre este princípio ao escrever para seu discípulo Timóteo:
"Quanto aos que vivem no pecado, reprende-os na presença de todos, para que também os demais temam" (1 Timóteo 5:20).
E a razão para isto é clara: 
"Para que outros tenham temor". 
Toda a Igreja precisa ser ensinada sobre a disciplina cristã e vê-la funcionando quando necessário. Somos um corpo no Senhor; o pecado contínuo de alguém prejudicará a todos. O único meio de evitar isto é cortando a raiz do pecado com arrependimento ou cortando a pessoa (quando ela não quer se arrepender) da comunhão do corpo. Diante da Igreja ela será obrigada a optar entre um ou outro.

A exclusão


Na Igreja de Corinto, alguém chegou ao ponto de se envolver sexualmente com a madrasta (1 Co 5:1). Tão logo isto chegou ao conhecimento do apóstolo Paulo, ele ordenou: 
"Tirai do meio de vós a esse iníquo". 
Antes, contudo, deixou claro em que condições isto deve acontecer:
"Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me com isto não propriamente aos impuros deste mundo, ou avarentos, ou roubadores, ou idólatras, pois neste caso teríeis que sair do mundo. 
Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem ainda comais. 
Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. EXPULSAI, pois, de entre vós o malfeitor" (1 Co 5:9-13, grifos meus).
Observe o detalhe que Paulo inseriu ao falar do pecador: 
"dizendo-se irmão". 
Isto se refere a quem quer se parecer irmão sem o ser; não fala de uma queda ou tropeço espiritual, mas de uma prática continuada nestes pecados.

Excluir não significa proibir a pessoa de colocar o pé na Igreja, mas sim deixar de reconhecê-la como parte do corpo, e isto envolve deixar de se relacionar (Tito 3:10,11), de ter comunhão com a pessoa. Isto fica claro quando o apóstolo diz: 
"...com o tal nem ainda comais" [ou seja, "não tenha comunhão"]. 
Paulo explica melhor esta distinção na sua carta aos tessalonicenses:
"Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão" (2 Ts 3:14,15).
Este princípio já havia sido estabelecido desde o Velho Testamento, onde havia vários motivos pré-estabelecidos para exclusão. O motivo é poupar o corpo de prejuízos espirituais, e não tentar manter um controle sobre as pessoas. Os casos não manifestos não chegam a ser tratados na Igreja, só os que chegam a ser conhecidos.

Conclusão

Por que uma igreja deveria praticar a disciplina eclesiástica?


À medida que uma igreja começa a praticar a disciplina eclesiástica, ela frequentemente se verá diante de situações da vida real que são complexas e não têm um "estudo de caso" exato na Escritura para ajudá-la a examinar as diversas facetas das circunstâncias. Nem sempre estará claro se a disciplina eclesiástica formal é necessária, ou quanto tempo o processo deve durar, ou se a parte culpada está verdadeiramente arrependida, e assim por diante.

À medida que uma congregação e os seus líderes lidam com essas questões complexas, eles devem se lembrar de que a igreja é chamada, acima de tudo o mais, a guardar o nome e a glória de Cristo. Fundamentalmente, a disciplina eclesiástica diz respeito à reputação de Cristo e se uma igreja pode ou não continuar a confirmar a profissão verbal feita por alguém cuja vida odiosamente representa Cristo de modo enganoso. Os pecados e as circunstâncias do pecado variarão em grande medida, mas esta questão sempre deve encabeçar os pensamentos de nossas igrejas: "Como o pecado deste pecador e a nossa resposta a ele irão refletir o santo amor de Cristo?".

No fim das contas, preocupar-se com a reputação de Cristo é preocupar-se com o bem dos não-cristãos. Quando as igrejas falham em praticar a disciplina eclesiástica, elas começam a se parecer como o mundo. Elas se tornam como o sal que perdeu o seu sabor, o qual serve apenas para ser pisado pelos homens (Mt 5:13). Quando isso acontece, não há qualquer testemunho a ser dado a um mundo perdido em trevas.

Do mesmo modo, preocupar-se com a reputação de Cristo é preocupar-se com os outros membros da igreja. Os cristãos deveriam desejar parecer-se com Jesus, e a disciplina eclesiástica ajuda a manter clara essa santa imagem. Os membros são lembrados de tomar ainda mais cuidado com suas próprias vidas sempre que um ato formal de disciplina acontece. 

As vantagens da disciplina


As vantagens da disciplina são óbvias. Ela recupera os desviados, detecta os hipócritas, faz circular um temor saudável pela igreja, fornece um incentivo adicional para a vigilância e a oração, demonstra cabalmente o fato e as consequências da fragilidade humana e, além disso, testifica publicamente contra a impiedade. 

Por fim, preocupar-se com a reputação de Cristo é preocupar-se com o indivíduo pego em pecado. Em 1 Coríntios 5, Paulo sabia que o curso de ação mais amoroso era excluir o homem da congregação 
"...a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor" (v. 5).
Por que uma igreja deveria praticar a disciplina? Pelo bem do indivíduo, o bem dos não-cristãos, o bem da igreja e a glória de Cristo. Ter esses alvos em mente ajudará as igrejas e os presbíteros a avançarem de um caso difícil para outro, sabendo que a sabedoria e o amor de Deus prevalecerão mesmo quando a nossa sabedoria e o nosso amor falharem.


A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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