sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES : "WOMAN IN CHAINS" - TEARS FOR FEARS

O inglês de origem catalã, Roland Orzabal, é talentoso pra caramba. Tem uma voz marcante e maravilhosa. A música "Woman in Chains" (1989, do álbum "Seeds of Love"), claro, tem como tema a violência contra a mulher.

Orzabal compôs a canção baseado na história de vida de sua mãe, uma dançarina inglesa que se casou com um músico descendente de espanhóis (catalães) e argentinos, nascido em Paris, que, ao que parece, sofria constantes agressões do pai de Orzabal. Mas, antes de contar a história da música, vamos conhecer um pouco sobre a banda, um dos fenômenos da inesquecível safra musical da minha década de ouro: os eternos anos 80.

Tears For Fears


Curt Smith e Roland Orzabal, em 1983, no auge da carreira

Formado em 1981 por Curt Smith e Roland Orzabal (vocal e guitarra), o Tears For Fears ficou mundialmente conhecido em 1985, com o disco "Songs from the Big Chair" e os sucessos 'Shout' e 'Everybody Wants To Rule The World'. Em 1989, lançou o álbum "The Seeds of Love", com os hits 'Woman In Chains' e 'Sowing The Seeds Of Love'.

Em sua carreira, a banda emplacou ainda outros hits como 'Pale Shelter' (1983), 'Mother Talks' (1985, que ganhou 3 versões), 'Head Over Heels' (1985), 'Advice For The Young At Heart' (1989), 'Laid Sow Low (Tears Roll Down)' (1992, música do repertório do TFF, mas que foi gravada apenas por solo de Orzabal) e 'Break It Down Again' (1995, da fase sem o Smith), dentre outros.
No auge do sucesso do Tears For Fears, com Orzabal gozando de grande prestígio na cena musical da Inglaterra, a imprensa inglesa dedicou inúmeras reportagens para falar da relação conturbada entre ele e seu pai.

Em 1991, Orzabal e Smith se separaram, mas Orzabal manteve o nome Tears for Fears. A dupla só se reuniu novamente em 2004, quando lançaram o disco "Everybody Loves a Happy Ending". Agora, voltemos à canção.

Mulher acorrentada


Apresentação ao vivo da banda 

"Woman In Chains" conta com a participação da grande cantora Oleta Adams, então desconhecida, que tem sua origem na música gospel norte americana, e, ao que parece, na gravação original de estúdio, com a participação do genial Phil Collins na bateria. 


A letra

Woman In Chains


You better love lovin' and you'd better behave
You better love lovin' and you'd better behave
Woman in chains... Woman in chains
Calls her man: 'the great white hope',
Says she's fine say's she'll always cope
Ohh, woman in chains... Woman in chains

Well, I feel lying and waiting is a poor man's deal,
(a poor man's deal)
And I feel hopelessly weighed down by your eyes of steel
(your eyes of steel)
Well it's a world gone crazy keeps a woman in chains,
Woman in chains, woman in chains,

Trades her soul as skin an bones
You'd better love lovin' and you'r better behave
Sells the only thing she owns.
You'd better love lovin' and you'd better behave
Woman in chains... Woman in chains

Made of stone, made of stone
Ah, la la la
La la la la la la, ohhh

Well, I feel deep in your heart there are words time can't heal, (that time can't heal)
And I feel, somebody somewhere is trying to breath,
Well you know what I mean
It's a world gone crazy keeps a woman in chains

It's under my skin but out of my hands
I'll tear it apart but i won't understand
Will not except the greatness of man
World gone crazy keeps a woman in chains,
Gone crazy, keeps a woman in chains

So free her, so free her, so free her, 
So free her, so free her...
The sun and the moon
Will never end
So free her, so free her, so free her, so free her…
The sun and the moon
Will never end


Tradução

"Mulher Acorrentada"


É melhor você gostar de amar e é melhor você se comportar
É melhor você gostar de amar e é melhor você se comportar
Mulher acorrentada, mulher acorrentada

Chame seu homem: "A grande esperança branca'
Disse que ela está bem, ela sempre lutará
Mulher acorrentada, mulher acorrentada

Bem eu sinto que mentir e esperar 
É uma atitude pobre de um homem
E eu me sinto sem esperança e oprimido, pelos seus olhos de aço
É um mundo que enlouqueceu, mantendo a mulher acorrentada
Mulher acorrentada, Mulher acorrentada

Negocia sua alma como pele e osso
(É melhor você gostar de amar e é melhor você se comportar)
Vende a única coisa que ela tem
(É melhor você gostar de amar e é melhor você se comportar)

Mulher acorrentada, mulher acorrentada

Homens de pedra, homens de pedra
Bem, eu sinto no fundo do seu coração, que há feridas que o tempo não pode curar
E eu sinto que alguém em algum lugar, está tentando respirar

Bem, você sabe o que eu quero dizer, é um mundo que enlouqueceu
Mantendo a mulher acorrentada

Está sob minha pele mas fora das minhas mãos
Vou destruí-lo mas eu não entenderei
Eu não aceitarei a grandeza do homem

É um mundo que enlouqueceu, mantendo a mulher acorrentada
Enlouquecido, mantém a mulher acorrentada

Então liberte-a…


A história da música, a história da vida


Música que trata como tema a "violência contra as mulheres" (muito antes de existir a tal Lei Maria da Penha – afinal de contas, preconceito, violência e discriminação contra mulheres é mais antigo que... que... que "posição de cagar" – perdoem a expressão – mas é como minha mãe sempre falava).

Na verdade essa coisa de mulheres serem "consideradas gente", terem direitos, desejo, respeito, carinho e consideração, em relação ao tempo de existência da humanidade podemos dizer que começou ontem… basicamente a reforma mental começou lá pelos anos 60, ganhou força mesmo nos 70, onde as mulheres foram pras ruas e começaram a lutar por igualdade – não igualdade de serem como os homens – mas igualdade de exigir respeito, tal qual os homens. 

Todo ser humano merece ser respeitado e valorizado e reconhecido por aquilo que é, que faz, que produz… e não ser definido pelo seu sexo, sua cor de pele, ou sua etnia, sua orientação sexual, etc. As pessoas merecem, devem ser avaliadas pelos seus atos, pelas suas atitudes, pelas suas ações. E mulheres, só por serem mulheres já eram discriminadas. Mas isso também é só minha opinião pessoal.

Agora vamos a parte que reza a lenda, que o vocalista da banda Roland Orzabal, que era filho de músico, músico esse bem filho de Jezabel, violentava a mãe de Roland (porrada mesmo) que era uma dançarina (O que era ser "dançarina" naquela época, eu confesso que não sei, há margens para várias interpretações, mas se o cara se submete a casar com uma pessoa, seja ela o que for, bicho, tem que segurar a onda. 

Não estou dizendo que a mãe do cara fosse prostituta nem nada, mas na época, com certeza era assim que viam as mulheres que se diziam dançarinas. O fato é que nada justifica a violência doméstica. Pois como diz na própria letra: Então bicho, deixa a mulher seguir o caminho dela, separa, vai cada um pro seu lado – "So free her") e então ele compôs esse grande hit, que já é lindo pela própria natureza, mas sabendo a história a música fica mais bacana ainda.

A gravação original é de 1989, conta com Phill Collins na Bateria (Phill que antes de seguir carreira solo, foi componente da incrível banda chamada Genesis) e de Oleta Adams (a voz feminina da canção)… simplesmente lindo de se ouvir… apesar de triste, ainda assim: linda canção!


Eterna porquê...


"Woman In Chains" tem tudo pelo qual o Tears For Fears é famoso. A canção é uma viagem que mistura um quê de suavidade com um tom mais sombrio e misterioso, próprio de bandas do pós-punk e new wave como The Cure e Depeche Mode. Em "Woman In Chains" somos apresentados à um tom sério que começa com a bateria marcando forte presença, afinal ela é tocada por ninguém menos que Phill Collins. 

O baixo de Curt Smith também tem um tom acentuado, o que contribui com o clima de suspense. Entretanto, um ritmo tranquilo logo se desdobra conduzindo-nos por meio dos sintetizadores e teclados como aquela mão feita de aroma de comida boa levava o Pica-Pau pelos ares nos desenhos animados. 

Rolland Orzabal então inicia a poesia, colocando o peso grave de sua voz à favor do ritmo num começo emocionante, para dizer o mínimo. Ele diz: "É melhor você gostar de amar e é melhor você se comportar, mulher acorrentada". Como se o cantor não tivesse poder suficiente em suas cordas vocais, há ainda a participação especial de Oleta Adams que canta na sequência com voz tão afiada quanto Orzabal. 

Ela canta em tom alto já desde a primeira letra. O dueto serve não só para deixar a música em um alto nível, mas também como ilustração para a poesia que fala justamente da relação entre homem e mulher. Tratamos aqui de uma relação opressora, na qual uma mulher sofre pela possessividade e ciúme doentio do marido. 

O nome da obra resume bem a sensação triste e desesperadora na qual essas personagens tão reais vivem. O clipe da canção é ainda mais impactante, sendo o homem representado por um lutador de boxe. As pancadas no saco casando com a bateria marcante nos fazem quase sentir na pele cada soco. É a mulher sofrendo cada golpe. Somos nós também. 

Enquanto a cantora apresenta mais versos reflexivos, Orzabal aparece em uma linha daquelas que dá arrepio no último fio de cabelo da nuca, dizendo: "E eu sinto que mentir e esperar é uma atitude pobre de um homem. Me sinto oprimido pelos seus olhos de aço. É um mundo louco que mantem a mulher acorrentada"

É realmente um mundo louco esse no qual as pessoas acreditam mesmo ter o poder de domínio sobre outras pessoas. Se isso já era inaceitável na idade da pedra, o que dizer de hoje? Depois de tantos anos de evolução, milhares de revoluções e conquistas para que chegássemos ao século XXI nos considerando "o ápice da humanidade", sinceramente me pergunto se valeu a pena. 

Quando vejo alguém agredindo física ou emocionalmente outra pessoa - principalmente um homem agredindo uma mulher - me pergunto onde foi parar tudo o que aprendemos em todos esses longos anos que nos separam do homem das cavernas. 

Já no final da peça, eles dizem: "Eu não aceitarei a grandeza do homem". Eles têm razão. Se grandeza é sinal de opressão e violência, é preferível ser pequeno, e como todas as pequenas coisas, ser completo em sua simplicidade. E com simplicidade e leveza os dois vocalistas se misturam e se alternam no verso que encerra a obra com maestria: "Então liberte-a"

Enquanto eles repetem a aclamação - quase uma súplica ao universo - o tom tão forte e ao mesmo tempo pacificador nos faz viajar mundo afora, visitando todos os casais, lavando todo ódio e colocando no lugar apenas aquilo que os uniu: o amor. 

Liberte qualquer coisa que você tenha presa consigo. Liberte qualquer pessoa. Somos todos livres, todos iguais nessa grande família que habita o mundo. Não deixe a possessividade ou o ciúme doentio encontrarem lugar na sua mente. Só permita espaço para o amor. Amor e liberdade. E então liberte-a, liberte-se.


Conclusão


Essa belíssima canção é um dos clássicos do finalzinho da década de 1980. Conhecer a história dela, torna-a ainda mais linda e, para os dias atuais, quando o número de feminicídio aumenta diariamente em todas as regiões aqui do Brasil, a canção se torna uma trilha sonora perfeita perfeita para muitas mulheres acorrentadas em relacionamentos doentios com homens possessivos que deixam de ser seus amantes e se transformam em seus predadores. 

Orzabal e Smith atualmente, dois respeitáveis
senhores pais de famílias
A banda Tears For Fears acabou de passar pelo Brasil ano passado, no Rock In Rio e por lá fez um dos grandes shows do festival. Em 10 de novembro passado os caras lançaram luma coletânea de sucessos chamada Tears For Fears Rule The World e nela aparecem duas músicas inéditas, 'Stay' e 'I Love You But I’m Lost'. São as primeiras novas canções da banda desde o disco "Everybody Loves A Happy Ending", de 2004. Vida longa aos "Tias Fofinhas".

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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