terça-feira, 12 de dezembro de 2017

ACONTECIMENTOS - O CASO JOÃO HÉLIO

Pela primeira vez em 22 anos de serviço a voz faltou. O sargento Sérgio Navega, então com 41 anos, estava de frente para o Corsa da comerciante Rosa Cristina Fernandes Vieites. Via a lateral esquerda respingada de sangue e o que sobrou do menino João Hélio ainda preso ao cinto de segurança. 
"Era um pedaço de carne, já sem roupa, destruído. Mas eu sabia que era uma criança. Peguei o rádio, mas não conseguia me expressar." 
A voz embargou, no relato chocante ao conceder entrevista naquela fatídica e inesquecível sexta-feira em entrevista jornal Estadão, assim que chegou em casa, depois de dois dias consecutivos de trabalho. 

Pai de duas meninas que à época tinham 11 e 2 anos, Navega passava perto do Largo de Cascadura quando foi abordado por pedestres que gritavam e gesticulavam. 
"Diziam que uma pessoa estava sendo arrastada pelo carro. Não achei que fosse verdade." 
A cada rua, mais gritos. As pessoas apontavam o caminho. No local, teve a confirmação do que considerou o crime mais bárbaro da sua carreira. 
"Nunca vou esquecer o que vi ali. Por que eu não passei na hora do assalto? Talvez tivesse conseguido evitar." 
Ele não entendeu como os assassinos dirigiram por tanto tempo com o menino sendo arrastado. 
"Era só deixar o menino descer. Eles não têm Deus no coração", 
lamentou. 

Neste capítulo da nossa série especial Acontecimentos, vamos relembrar um dos casos que mais chocaram o Brasil e ainda hoje, quase onze anos depois, ainda nos deixa estupefatos. É a criminalidade mostrando sua face mais grotesca, mas hedionda, mais cruel. 


O caso 


O Caso João Hélio foi o crime ocorrido na noite de 7 de fevereiro de 2007, quando João Hélio Fernandes Vieites (☆Rio de Janeiro, 18 de março de 2000 — ✞Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 2007) foi assassinado após um assalto. 

João Hélio era um lindo e alegre garoto e tinha seis anos de idade quando foi vítima da violência na cidade do Rio de Janeiro. 

Ele era estudante da pré-escola particular Crianças & Cia, onde cursava o primeiro ano do Ensino Fundamental. Eram os pais: Rosa Cristina Fernandes Vieites e Elson Lopes Vieites. O garoto ficou conhecido em todo o Brasil no dia 8 de fevereiro, após sua morte traumática na noite do dia anterior, quando o carro em que ele estava com a mãe foi assaltado. Os assaltantes arrastaram o menino preso ao cinto de segurança pelo lado de fora do veículo. 

O crime 


O que seria mais um assalto a carro no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, transformou-se em uma tragédia que abalou o país. Naquela noite do dia 7 de fevereiro, por volta das 21h30 de uma quarta-feira, Rosa Cristina Fernandes voltava para casa com os filhos Aline Fernandes (então com 13 anos) e João Hélio (de 6 anos). Eventualmente ela parou no semáforo, quando três homens, fazendo uso de duas armas, a abordaram dando ordem para que ela e os filhos saíssem do veículo. 

O assalto ocorreu na rua João Vicente, próximo à Praça do Patriarca, em Oswaldo Cruz, Zona Norte. A mãe do menino, Rosa Fernandes, foi rendida ao volante do Corsa Sedan, placa KUN 6481. No interior do veículo estavam uma amiga da família e o filho João Hélio no banco traseiro e a filha adolescente viajava ao lado da mãe no banco dianteiro direito, que no momento do assalto conseguiram abandonar o carro, porém, Rosa havia avisado aos assaltantes que João Hélio não havia conseguido se soltar do cinto de segurança. 

Presa ao cinto de segurança, a criança não conseguiu sair. Um dos assaltantes bateu a porta e os bandidos arrancaram com o veículo em alta velocidade. Com o menino preso pelo lado de fora do veículo, os assaltantes o arrastaram por sete quilômetros, passando pelos bairros de Oswaldo Cruz, Madureira, Campinho e Cascadura. 

Motoristas e um motoqueiro que passavam no momento sinalizaram com os faróis. Pessoas que estavam nas ruas por onde os assaltantes fugiram gritavam horrorizadas, motoristas e motociclistas sinalizavam e buzinavam na tentativa de fazer o motorista parar o carro. Os bandidos seguiram por 7 km, passaram por 14 ruas e cruzaram 4 bairros arrastando o menino. Chegaram a dirigir em ziguezague na tentativa de desprender seu corpo. Pararam após 10 minutos, abandonaram o veículo e fugiram a pé. 

Um dos ladrões ironizou dizendo que "o que estava sendo arrastado não era uma criança, mas um mero boneco de Judas", e continuaram a fuga arrastando o corpo do menino pelo asfalto. 

Barbárie e crueldade 


Segundo testemunhas, moradores gritavam desesperados ao ver a criança sendo arrastada pelas ruas. Os criminosos abandonaram o carro com o corpo do menino pendurado do lado de fora, com o crânio esfacelado, na rua Caiari, uma via sem saída, no bairro de Cascadura, Zona Norte, e fugiram. O corpo do garoto ficou totalmente irreconhecível. Durante o trajeto, ele perdeu vários dedos e as pontas dos mesmos, além da cabeça, que não foi totalmente localizada. 

A falta de policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) nas ruas facilitou a fuga. Nesse percurso, os bandidos trafegaram pelas ruas João Vicente, Agostinho Barbalho, Dona Klara, Domingos Lopes, avenida Ernani Cardoso, Cerqueira Daltro, Florentina, entre outras. No trajeto, passaram em frente ao Quartel de Bombeiros de Campinho, por um quartel do Exército e pelo Fórum de Cascadura, mas não cruzaram com nenhuma viatura da polícia. 

Os criminosos passaram também, diante a dois bares, um na esquina das ruas Cândido Bastos com a Silva Gomes e outro na rua Barbosa com a Florentina. As pessoas que ali estavam apavoraram-se com a cena e começaram a gritar. 

Um bacharel em Direito, Diógenes Alexandre, à época com 24 anos, morador das proximidades, estava no bar da esquina das ruas Cândido Bastos com a Silva Gomes, e viu quando os bandidos passaram arrastando o corpo do menino. Segundo ele, os bandidos chegaram a parar o carro. Neste momento, a princípio, algumas pessoas pensaram que eles arrastavam um boneco. 

Mas ele e o dono do bar, viram que era uma criança, pois perceberam o sangue na lataria do carro. 
"Eram três homens que estavam no carro, tinha um sentado no banco traseiro, que ainda olhou para trás quando nós gritamos, mas eles aceleraram e passaram por um quebra-mola em alta velocidade e o corpo foi batendo no asfalto", 
contou. 

Demonstrando serem conhecedores da área, os assaltantes abandonaram o carro ao final da rua Caiari, próximo à escadaria que dá acesso à Praça Três Lagoas. Certos de que não seriam presos, estacionaram e fecharam o carro antes da fuga. Segundo testemunhas, os bandidos desceram as escadas calmamente. 

O bacharel em Direito disse que, ao se aproximar do carro, teve certeza de que era o corpo de uma criança. Ele e dois amigos seguiram o carro. 
"O barulho parecia ser de um papelão sendo arrastado", 
afirmou. Após assistir a cena, Diógenes ficou 10 minutos em estado de choque. 
"Não tive nenhuma ação, só depois é que lembrei de ligar para a polícia e já era 21h40. Aí ouvi as pessoas falando que havia partes do crânio do menino na rua Cerqueira Daltro e que eles pararam em um sinal, pouco antes do viaduto de Cascadura, onde várias pessoas correram para avisar, chegaram a bater no carro, mas eles continuaram o trajeto, piscando os faróis", 
disse. Pelo celular avisou à polícia. Pouco depois, a rua foi tomada por policiais. 

Durante parte do trajeto, os bandidos foram seguidos por um motociclista que presenciou o momento do roubo. Ele levou os policiais até a rua Cerqueira Daltro, próximo a um supermercado. Ali estavam parte da cabeça da vítima e massa encefálica, que foram recolhidas e colocadas em um saco plástico. 

Repercussão 


O crime mobilizou policiais de três delegacias e do 9º Batalhão da PM (Rocha Miranda, no subúrbio). O então delegado do 30º DP (Marechal Hermes) Hércules Pires do Nascimento pediu ajuda à população para localizar os bandidos. O Disque-Denúncia começou a receber telefonemas e ofereceu, de início, uma recompensa de 2 mil reais, que posteriormente subiu para 4 mil reais, por informações que identificassem os envolvidos. 

Dezoito horas após o assalto, e diante da forte repercussão nos noticiários que o caso teve na opinião pública, a Polícia Militar começou as prisões dos envolvidos, prendendo o primeiro: Diego. Este reconhecido pelo pai, o porteiro Kuelginaldo, que foi localizado por meio de denúncia anônima e se comprometeu a colaborar indo à delegacia e um menor com a idade de 16 anos. 

Eles confessaram o crime, segundo a polícia. De acordo com as investigações, Diego Nascimento da Silva, de 18 anos, ocupou o banco do carona na fuga; Carlos Eduardo Toledo Lima, de 23 anos, foi o condutor do automóvel; e o menor de 16 anos, que foi o responsável por render a mãe de João Hélio e ocupar o banco de trás do veículo Corsa. Um outro homem, Tiago, chegou a ser preso, mas foi liberado em seguida por não ter sido comprovada a sua ligação com o caso. 

No dia seguinte, a polícia pediu a prisão de mais dois suspeitos da morte do menino arrastado. Um dos suspeitos, o condutor do veículo, Carlos Eduardo, é irmão do menor de idade, que já havia sido detido. À noite, a polícia prendeu novamente Tiago de Abreu Mattos, de 19 anos, o quarto suspeito de ter participado da tentativa de assalto. 

Segundo a polícia, ele juntamente com mais um quinto elemento, Carlos Roberto da Silva, de 21 anos, levaram os bandidos até o local do assalto, ambos estariam no táxi, que pertencia ao pai de Tiago, utilizado para levar a quadrilha até o local e dar cobertura à fuga. Carlos Eduardo Toledo Lima ainda estava foragido, mas foi preso horas depois. Os cinco acusados tiveram a prisão temporária decretada até 10 de março de 2007. 

Testemunhas afirmaram que o carro trafegava em ziguezague e passava perto dos postes na tentativa de se livrar do corpo do menino, informou o delegado. O menor envolvido, confessou ter utilizado revólver de plástico (falso) para realizar o assalto, versão esta, discordada por Rosa Fernandes ao relatar que os bandidos, ao baterem no vidro do automóvel com as armas, produziu um ruído característico de metal em vidro. 

Diego Nascimento da Silva, Carlos Eduardo Toledo Lima, Carlos Roberto da Silva e Tiago de Abreu Mattos foram ouvidos na 1ª Vara Criminal de Madureira, no subúrbio do Rio. 

O então comandante-geral da PM, coronel Ubiratan Ângelo, confirmou, em entrevista à Rádio CBN, que não havia policiais no local do assalto. Ele reconheceu a necessidade de reforço do policiamento. Ubiratan classificou o crime Toledo Lima ainda estava foragido, mas foi preso horas depois. Os cinco acusados tiveram a prisão temporária decretada até 10 de março de 2007. Ubiratan classificou o crime como trágico e contou que o agente que foi ao local começou a chorar e não conseguiu passar a ocorrência. 

Conclusão 


A extrema crueldade do caso teve repercussão internacional. A juíza responsável pelo caso conta que a morte de João Hélio a chocou profundamente. 
"Sentenciar um processo como esse é bem difícil. De um lado estão quatro réus que merecem a isenção do Estado e, do outro, uma família destruída e uma criança de 6 anos morta barbaramente. Foi complicado, foi muito difícil.  
Eu lembro que quando eu acabei de redigir a sentença eu tive uma crise de choro que eu chorei por duas horas. Essa é uma coisa me assusta e me choca muito.  
Hoje eu sou mãe e cada vez que olho para o meu filho penso que, se eu já fosse mãe quando dei aquela sentença, seria infinitamente mais difícil do que foi," 
destacou a juíza Marcela Assad Caram.

Com a prisão do menor de idade envolvido no crime, retomou o debate sobre a maioridade penal. Vários atos foram realizados em solidariedades e centenas de pessoas compareceram a passeatas pela paz. Em 2008, quatro dos cinco acusados da morte de João Hélio foram condenados a penas que variavam de 39 a 45 anos de prisão. 

O crime foi solucionado rapidamente e os quatro criminosos foram julgados em menos de um ano. Eles foram sentenciados com penas de 39 a 45 anos de reclusão. Carlos Eduardo Toledo Lima foi condenado a 45 anos de prisão. De acordo com as investigações, ele era o motorista do veículo. 

Diego Nascimento da Silva foi sentenciado a 44 anos e três meses e estava no banco do carona. Gilberto da Silva e Tiago Abreu Matos, que estavam no táxi que abordou o carro da mãe do menino, receberam a pena de 39 anos de reclusão. Segundo informações do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, eles tiveram progressão de pena para o regime semiaberto em 2015, mas o órgão não soube informar se eles estão efetivamente trabalhando. 

O menor que também participou do crime cumpriu medida socioeducativa de três anos e depois foi liberado. Em 2012, Ezequiel Toledo da Silva voltou a ser preso por porte ilegal de arma, tráfico de drogas e associação ao tráfico. 

Infelizmente, muitos brasileiros têm a memória muito curta e uma forte tendência a se esquecerem rapidamente dos fatos, ainda que seja algo tão terrível quanto o bárbaro assassinato desse garoto, que se estivesse tido o seu direito de viver respeitado, estaria completando 16 anos e gozando o auge de sua adolescência. Mas o blog Circuito Geral está aqui para refrescar sua memória e te incentivar a não perder sua sensibilidade e indignação diante da proliferação da maldade humana, ao mesmo tempo que te leva a acreditar na promessa de que dias melhores ainda virão. 

[Fonte: Acervo do jornal O Estado de São Paulo, G1 - por Globo News] 

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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