sábado, 25 de novembro de 2017

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES - "TRAVESSIA", MILTON NASCIMENTO


Em 2017, essa canção completa 50 anos e o Circuito Geral, em nossa série especial Canções Eternas Canções, te convida para um passeio entre os caminhos de pedra de Milton, que resultaram na canção. Era 1967, Maracanãzinho lotado no Rio de Janeiro, quando a música conquistou o segundo lugar no Festival Internacional da Canção, exibido pela TV Globo, com abertura do maestro Erlon Chaves, acompanhada por um coro de 25 mil espectadores.

Confira a letra


"Travessia" 

  • Intérprete – Milton Nascimento 
  • Compositores – Milton Nascimento e Fernando Brant 
  • Ano de divulgação – 1967 
  • Álbum – Travessia 
Quando você foi embora
Fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha
E nem é meu este lugar
Estou só e não resisto
Muito tenho pra falar  
Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar  
Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver  
Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar  
Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver
Esta belíssima música foi quem trouxe o reconhecimento nacional para Milton Nascimento, em 1967, quando ficou em 2º lugar no Festival Internacional da Canção, Travessia é uma das canções mais românticas das criadas por compositores brasileiros. 

A música fala de amor, sofrimento, morte, vida, angústia, sonho e tentativa de superação, sem deixar de usar alguns versos que criticassem a ditadura militar da época.

A canção traz um homem que sofre por uma separação e chega até a pensar na morte. Entretanto, ele é consciente, sabe que pode amar de novo e que tem muito a viver ainda. A separação foi dura, mas isso não quer dizer que tudo acabou. 

A crítica à ditadura acontece nos versos "minha casa não é minha e nem é meu esse lugar". A impressão que se tem, ouvindo a música em seu contexto, é a de que o homem não consegue viver sem sua amada, nem na sua casa, mas, se levarmos em conta que na ditadura a liberdade era praticamente nula, os versos trazem um duplo sentido. 

É terna, eterna 

"Não existia na música brasileira nada parecido, no vasto cancioneiro brasileiro, não existia algo como Travessia. Não era bossa-nova, não era samba-canção, era uma canção super original, sem precedentes, de um cara chamado Milton Nascimento.", 
relembra o compositor e músico Lô Borges sobre a canção que mudou a carreira de Bituca, como é conhecido Milton, e o cenário da música brasileira. 

Depois disso, Milton passou de um simples compositor a uma das grandes vozes da música popular brasileira. Lô Borges lembra a euforia de ver o amigo se apresentando nas emissoras: 
"Pô olha lá o Bituca e não sei o que. Eu lembro dele na televisão, cantando travessia, a família inteira reunida, igual fosse um jogo de futebol", 
recorda. 

A letra da música foi composta pelo jornalista mineiro Fernando Brant (☆1946-✞2015), com melodia e voz do Bituca. Além do marco na carreira de Milton Nascimento, "Travessia" foi a primeira das mais de 150 canções que eles viriam fazer juntos.

Da parceria, outras relíquias como o álbum Clube da Esquina nasceram. Lô Borges conta como foi a criação da música que deu nome ao disco.
"Sempre que ele voltava pra Belo Horizonte, ele perguntava: 'cadê o Lô?'. E minha mãe falava: 'o Lô tá la na esquina, num lugar que eles chamam de Clube da Esquina. O Lô fica o dia inteiro tocando violão lá'.  
Então, ele chegou na esquina, me chamou e fomos pra dentro da casa da minha mãe, eu estava começando a compor a melodia, os acordes, a harmonia, de uma música que a gente batizou de Clube da Esquina, para homenagear aquela esquina, que eu ficava tocando violão ali, com meus amigos de bairro.  
Aí nós fomos pra dentro da casa da minha mãe, eu fiquei tocando a música, ele pegou o violão dele e aí ficamos dois violões e ele foi lindamente começando a fazer a melodia da música que se tornou o Clube da Esquina", 
conta. 

Com a música "Travessia" também foi assim, bastou Bituca pegar o violão para a melodia nascer. Inspiração divina, segundo Lô Borges. 
"Várias canções geniais, o cara inspirado, iluminado por Deus, que pega um violão e começa a criar coisas geniais. É inspiração, pegar o violão e começar a harmonia, melodia, vem tudo junto. É uma inspiração divina, que ele traz com ele desde garoto, desde que ele começou a compor, até antes dele compor, ele já era um cara genial", 
diz. 

Uma vida, uma música, uma história 


A música "Travessia" é parte do primeiro álbum homônimo de Bituca, lançado em 1967. Cinco décadas depois, a canção ainda carrega a mesma vivacidade que só Milton Nascimento poderia criar. 
"O que importa mais profundamente à voz é que a palavra da qual ela é veículo se enuncie como uma lembrança; que esta palavra, enquanto traz um certo sentido, na materialidade das palavras e das frases, evoque (talvez muito confusamente) no inconsciente daquele que a escuta um contato inicial, que se produziu na aurora de toda vida, cuja marca se apagou em nós, mas que, assim reanimada, constitui a figura de uma promessa para além não sei de que fissura" (ZUMTHOR, 2005, p.64). 
Não é novidade que Milton Nascimento seja considerado uma unanimidade. Discursos divulgadores e legitimadores de seu canto não faltam nos meios midiáticos, desde sua primeira aparição, no festival da TV Excelsior do ano de 1965. 

No entanto, entender sua trajetória artística a partir desse lugar, em certa medida, mitificado no cenário musical brasileiro significa, de antemão, movimentarmo-nos por algumas canções em sua voz, tentando identificar quais mecanismos sócio-culturais levaram-no, através da voz, a ocupar essa posição especial, que o fez ser referendado por tantos nomes no Brasil e do mundo. 

O gosto que se irrompera pelo seu diferente modo de cantar a partir de 1967 resultaria, não somente de forças intrínsecas à canção em sua voz, mas da tensão entre sua forma de apropriação das mesmas e o contexto cultural da época. 

Milton trazia à cena musical a capacidade de síntese entre a épica vontade de cantar a mudança por meio de acordes e melodias e o lírico canto mavioso. Do interior de Minas Gerais colocava-se no mundo através do seu percurso musical acompanhando e remodelando-se a partir da transição de um país em tempos ditatoriais à abertura democrática dos anos 80. 

Conclusão 


"Travessia" tem uma importância impar e incondicional na história da música brasileira. Em tempos onde a música tornou-se um artigo barato e descartável, comemorar o meio século dessa canção torna-se algo obrigatório. Ela trouxe um grande intérprete e compositor, o romantismo de volta e a prova de que, mesmo nas separações mais difíceis, a superação pode e deve acontecer.
Com louvor e honras ao mérito!

[Fonte: ZUMTHOR, Paul. Escritura e Nomadismo – entrevistas e ensaios. Trad. Jerusa Pires Ferreira & Sônia Queiroz. SP. Ateliê Editorial.2005; DOLORES, Maria. Travessia: a vida de Milton Nascimento. RJ/SP.Ed. Record. 2009] 

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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