sábado, 8 de abril de 2017

PAIS E FILHOS: GERAÇÃO "MIMIMI"

Inicio aqui uma série especial de artigos sobre uma questão tem sido postulada por especialistas comportamentais, sociólogos e que é um grande desafio no âmbito eclesiástico: a relação entre pais e filhos. A abordagem que farei do tema é hipotética e sob um viés espiritual, cristão, entretanto não me furtarei do uso de informações técnicas e científicas sobre o assunto, principalmente pelo fato de eu não ser pai (e de não pretender sê-lo, diga-se). Não espero que todos concordem com o que irei escrever na série, mas se eu conseguir fazer os que lerem refletirem, questionarem, já terei atingido meu objetivo.

Vou abrir essa série de artigos com uma parábola bem interessante sobre a relação dos pais com os filhos. É só uma parábola, mas certamente nos levará muito a pensar sobre o posicionamento que os pais devem ter na criação de seus filhos. Eu gosto muito das parábolas e tive Quem me ensinasse a gostar delas. 

O que é parábola no contexto linguístico 


Parábola é uma pequena narrativa que usa alegorias para transmitir uma lição moral. As parábolas são muito comuns na literatura oriental e consistem em histórias que pretendem trazer algum ensinamento de vida. Possuem simbolismo, onde cada elemento da história tem um significado específico. 

Algumas das parábolas mais famosas são as parábolas bíblicas, especificamente as parábolas de Jesus, que eram histórias com elementos comuns da cultura daquele tempo que tinham como objetivo ensinar coisas sobre o Reino de Deus. Entre as parábolas de Jesus, algumas das mais conhecidas são a parábola do filho pródigo, parábola dos talentos, parábola do semeador, parábola do trigo e do joio, etc. 

Pois bem, entendido o que é uma parábola, vamos a ela. 

"Quando Deus criou os Pais 

Conta-se que, quando Deus se dispôs a criar os pais, Ele se esmerou a tal ponto que atraiu a atenção de um anjo, que ficou a observá-Lo.

Deus começou fazendo um homem de estatura muito alta. O anjo vacilou um pouco, mas resolveu falar com o Criador: 'Senhor, que tipo de pai é este? Se as crianças são baixinhas, por que um pai tão alto? Ele terá dificuldades para jogar bolinhas de gude sem se ajoelhar. Não poderá colocar uma criança na cama, nem beijá-la, sem ter que se curvar muito.'

Deus sorriu e explicou que o pai precisava ser alto, para a criança ter alguém para enxergar, quando olhasse para cima.

Aí, Ele partiu para colocar mãos grandes e vigorosas no modelo. O anjo criou coragem e falou outra vez: 'Senhor, desculpe-me. Mas mãos grandes são desajeitadas. Elas não vão conseguir abotoar botões pequenos, nem prender elásticos nos cabelos e nem retirar cisco do olho de uma criança. E como irão trocar fraldas num bebezinho?'

'Pensei nisso', respondeu Deus, com toda Sua paciência. 'Eu as fiz grandes o suficiente para segurar tudo o que um menino tira do bolso no fim do dia. E você verá, são pequenas o suficiente para segurar e acariciar o rosto de uma criança.'

Depois, Deus começou a modelar as pernas. E as fez longas, esguias. E colocou ombros largos no protótipo de pai que estava criando.

'O Senhor percebeu que fez um pai sem colo? Quando ele segurar uma criança, ela vai cair pelo vão das suas pernas!' – tornou a censurar o anjo.
Deus continuou a modelar, com todo o cuidado e esclareceu:

'Mães necessitam de colo. O pai necessita de ombros fortes para equilibrar um menino na bicicleta ou segurar uma cabeça sonolenta no caminho de casa, depois das brincadeiras do circo ou da ida ao parque.'

E Deus colocou pés grandes. Os maiores pés que o anjo já tinha visto. Ele não se conteve: 'Senhor, acha justo isso? Honestamente, o Senhor acha que esses dois pés vão conseguir saltar rápido da cama quando o bebê chorar?

E quando tiver que atravessar um salão de festas de aniversário de uma criança, então! No mínimo, com esses pés enormes vai esmagar umas três delas, até chegar do outro lado.'

'Eles vão ser úteis', foi explicando o bom Deus. 'Você verá. Vão ter força para sustentar uma criança que deseje ver o mundo, do alto do pescoço do pai. Ou que deseje brincar de cavalinho.

Vão dar passadas firmes e quando a criança as ouvir, subindo as escadas, em direção ao seu quarto, se sentirá segura, por saber que o pai logo mais estará ali, para abençoá-la, antes de se entregar ao sono.'

Deus continuou a trabalhar noite adentro. Deu ao pai poucas palavras, porém uma voz firme, cheia de autoridade. Deu-lhe também olhos que enxergavam tudo, mas que continuavam calmos e tolerantes.

Contemplando sua obra de arte, Deus resolveu acrescentar um último detalhe. Tocou com Seus dedos os olhos do pai e colocou lágrimas que ele pudesse acionar, quando tivesse necessidade. Aí, virou-se para o anjo e perguntou: 'Agora, você está satisfeito em ver que ele pode amar tanto quanto uma mãe?'

O anjo nada mais tinha a argumentar. Permaneceu em silêncio."

[Autor desconhecido] 
* * * 

Geração "mimimi" 


Se observamos há algum tempo uma geração criada à base de leite e pera, cercada de mimos, já era de se esperar que estes homens mimados uma hora se tornassem pais. 

Frutos de uma classe média zelosa e protetora, estes pais (e aqui me refiro também às mães) agora exercem suas facetas mimadas no cuidado com os filhos. Este comportamento egoísta e mesquinho passa a ser exacerbado e levado ao extremo quando envolve crianças ditas inocentes, doces, meigas e suaves. 

Para os pais mimados que mimam será parte de sua missão aqui na terra livrar seu filho de qualquer empecilho e obstáculo natural e necessário, tal qual como tédio, bagunça, tio chato, normas da sociedade, rituais da nossa cultura etc. Para um pai mimado, a vontade do filho não precisa ter limites. 

A seguir alguns dos principais comportamentos na relação que os pais mimados estabelecem com seus filhos. 

Eles fazem da criança o centro da casa


Até a Veja já cantou a bola, mas a gente demora para mudar. 

Talvez uma das principais características dos pais que mimam seja o fato de a rotina da casa ser adequada de acordo com as vontades da criança. Cadeirão da comida na frente da televisão, horários não determinados, cadeira distrativa para entreter o bebê, produtos, acessórios, engenhocas específicas, tudo essencialmente voltado para ele. E para a loucura da casa. 

Especialistas franceses contam o que fazem das crianças francesas mais comportadas. Entre pesquisas, entrevistas e exemplos, eles mostram que o fato dos pais franceses não tratarem as crianças como centro da casa é essencial para que elas entendam que se adequarão a um modelo já existente - e não o contrário! Tratar a criança como o centro da rotina de toda a casa é a base de uma educação de mimados para mimados. 
"Para a geração de meus avós e de meus pais, a vida dos adultos não devia ser decidida em função do interesse das crianças, até porque o principal interesse das crianças era sua transformação em adulto" - Contardo Calligaris [Escritor, psicanalista e dramaturgo italiano radicado no Brasil. É colunista da Folha de S. Paulo.]

Eles acreditam que criança só come bife e batata frita 


Com certeza ele já tem idade para saber o que é mais saudável e com certeza o que é mais saudável estará nesse cardápio. 

Por terem suas vontades tomadas como verdade absoluta, é claro que estas crianças não comeriam o que os pais comem. Ou porque é temperado demais, ou porque tem vegetais e uma vez ele recusou ou porque, veja só, Pedrinho só come macarrão com manteiga, não aceita outra coisa. 

Cada vez mais comum nos restaurantes, o cardápio kids fica sempre entre opções não muito criativas: macarrão, bife, batata frita. E se mesmo assim a criança recusa o almoço, existe um leque de industrializados que será oferecido em pouco tempo para que o pimpolho não passe fome: bolacha, salgadinho, achocolatado, sucos açucarados, refrigerantes, sanduíches... 

Além de nada saudável, isto é um alerta de mimo: criança come o que você ensina a comer. É muito mais simples achar sabor num macarrão do que, de cara, numa couve-flor. 

Lição de casa para os pais que tendem a mimar: ler os escritos de Pat Feldman a respeito dos pequenos e entender que o gosto pela comida é construído. Conjuntamente, na mesa de refeição, estimulando que experimentem, entendendo o apetite da criança e respeitando seu gosto. Sempre ensinando que parte importante da refeição é o convívio com os outros e demonstrando respeito pela comida que foi feita em casa e que será a base da refeição de todos que por ali moram. 

Eles não conversam, distraem 


Filha do Louie 

Louie: "'Estou entediado' é algo inútil a se dizer. Você vive em um mundo enorme, vasto, do qual você viu 0%. E mesmo o interior de sua mente é sem fim. Segue para sempre por dentro. Você entende? O fato de que você está viva é incrível, então você não tem o direito de se entediar." 
É comum olhar para o lado no restaurante e encontrar uma criança hipnotizada por um iPad. Ou no carro com iPod e fones, alheia às interações do ambiente ou à ausência delas.  

Aliados dos pais mimados, as engenhocas tecnológicas ajudam a criança a não se frustrar, não lidar com o tédio de um restaurante repleto de adultos, de um carro sem atrativos, de uma vida inteira que às vezes não tem grandes aventuras mesmo. 

Mas, ora, por mais que pais se esforcem para preencher este vazio intrínseco aos filhos, ele não será preenchido. Proteger um filho é uma missão fadada ao fracasso, já atestam em unanimidade os especialistas. 

Eles não confiam na escola 


Os fatos revelam - e contra fatos não há argumentos - que os educadores destes tempos modernos, nada mais são do que babás. Esta realidade é o resultado de pais que não querem saber das relações, dos aprendizados, do ensino, das evoluções de suas crianças. Exigem em primeiro lugar que sua cria seja mimada pela escola, aplaudida a todo momento, nunca confrontada. 

Não confiar em quem se confiou a educação dos filhos é uma grande insegurança, certamente um sinal de pais mimados. Nota baixa é culpa do professor, comportamento ruim é culpa da escola e a comunidade é cruel e não ideal para ensinar seu filho a lidar com a vida. 

Antes a criança respondia à escola, agora é a escola que responde à criança. 

Eles elogiam muito a cria 


Prática comum entre os pais zelosos, elogiar a criança faz bem, aumenta sua autoestima, favorece o desenvolvimento da criança, dá segurança, correto? Errado. 

No livro Filhos: novas ideias sobre educação, Po Bronson e Ashley Merryman contam de recentes pesquisas que mostram, entre outras coisas, o poder inverso do elogio. 

A explicação é muito simples: assegurar a todo momento que seu filho é inteligente faz com que a criança se torne insegura desta sua condição. E, por medo de errar e perder o título da inteligência, a criança passa a arriscar menos e a se esconder atrás desta máscara. Cheia de inseguranças e com um batalhão de elogios vazios (que recebeu sem perceber seus esforços), está aí um bom início de frustração para o pimpolho. 

Conclusão 


Em comum, o que todos estes tópicos têm é que tratam a criança como um frágil cristal. Delicada, fruto de uma imaginação romântica de pureza, incapaz de lidar com qualquer obstáculo. Sabemos que frustração é algo que ninguém quer para sua cria. Mas é só o que a vida garante. 

Que tal começar a criar seu filho para o mundo [e antes que os "pais espirituais" me repreendam, "mundo" aqui é no sentido de "Kósmos", uma tradução do termo grego costumeiramente usado na tradução em todas as ocorrências nas Escrituras Gregas Cristãs (exceto em 1 Pedro 3:3, onde significa "adorno"). "Mundo" neste contexto significa a humanidade como um todo, à parte da sua condição moral ou modo de vida.]?
"Ouça, meu filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe. Eles serão um enfeite para a sua cabeça, um adorno para o seu pescoço" [Provérbios 1:8,9]. 
A Deus toda a glória.
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