O combate à corrupção tem aparecido como uma das principais bandeiras nesta novíssima história da República que os brasileiros começam a escrever. Se, por um lado, o pedido por honestidade toma as ruas desde a pressão pela aprovação da Lei da Ficha Limpa, em 2010, e, mais intensamente, a partir dos protestos de junho de 2013, por outro, cidadãos ainda encontram dificuldade em superar os próprios vícios.
É raro encontrar alguém que nunca tenha cometido pequenos desvios de conduta no cotidiano, como os listados no quadro acima. Esses comportamentos não deslegitimam o grito contra a corrupção e estão longe de ser a origem dos roubos aos cofres públicos, mas também atropelam o interesse público e mostram que o problema vai além dos Três Poderes.
O que é a corrupção
Corrupção é um crime bem interessante pois ele pode existir em três "sabores": corrupção ativa, corrupção passiva, e corrupção ativa e passiva. Vamos entender cada um deles:
- A corrupção passiva ocorre quando o agente público pede uma propina ou qualquer outra coisa para fazer ou deixar de fazer algo. Por exemplo, o juiz que pede um "cafezinho" para julgar um processo mais rapidamente ou o senador que pede uma ajuda para a campanha em troca de seu voto. Não importa que a outra parte dê o que é pedido pelo corrupto: o corrupto comete o crime a partir do momento que pede a coisa ou vantagem. A outra parte, inclusive, pode/deve chamar a polícia para prender o criminoso.
- Já a corrupção ativa ocorre quando alguém oferece alguma coisa (normalmente, mas não necessariamente, dinheiro ou um bem) para que um agente público faça ou deixe de fazer algo que não deveria. Por exemplo, o motorista que, parado por excesso de velocidade, oferece uma "ajuda para o leitinho das crianças" ao policial. Reparem que, nesse caso, o criminoso é quem oferece a propina e não o agente público – que provavelmente irá prender o criminoso. Para que o crime esteja configurado, não importa que o agente aceite a propina: o crime se consuma no momento em que o motorista tenta corromper o policial, ou seja, no momento em que ele ofereceu a propina.
- Corrupção ativa e passiva. Mas é possível também que ambas as partes cometam o crime. Se o motorista oferece e o policial aceita, ambos cometeram crimes. O policial cometeu o crime de corrupção passiva, e o motorista de corrupção ativa. Mas reparem que os crimes foram cometidos em momentos distintos: o motorista cometeu a corrupção ativa quando ofereceu, mas o policial só cometeu a corrupção passiva quando aceitou. Se não tivesse aceito, não teria cometido o crime.
A corrupção tem dois significados: algo que se quebra e se degrada. Ela quebra o princípio da confiança, que permite a cada um de nós nos associar para podermos viver em sociedade. Também degrada o que é público. Quando você para em fila dupla, está degradando o sentido do público. Esses desvios de conduta são uma reiteração desse fenômeno complexo da corrupção.
São pequenas corrupções em que o privado se sobrepõe ao público. A corrupção não se dá só na relação com o Estado, mas também com a sociedade. Mas, entendamos, a pequena corrupção não é a causa da grande corrupção. Não é porque a pessoa não aprendeu a ser honesta que ela rouba a Petrobras. É porque é bandida mesmo.
"Corrupção careca"?
Existem alguns assuntos que estão sempre presentes em conversas pelo Brasil afora. Um deles, com certeza, é a corrupção. Não é de hoje que os jornais estampam em suas capas manchetes sobre operações para prender corruptos e cessar de vez com essa prática.
Muitos diriam que ela já está tão entranhada em nossa sociedade que é cometida até mesmo em pequenas ações do dia a dia. E isso não ocorre apenas no Brasil, mas em todo o mundo. É o que mostra um estudo holandês realizado para investigar como um cidadão inicialmente honesto se transforma em corrupto.
Os especialistas do Departamento de Psicologia Experimental e Aplicada da Universidade Livre de Amsterdã queriam saber se, para cometer um ato de corrupção, seria preciso passar por uma fase de preparação, agindo de forma aparentemente mais suave antes de dar um grande golpe.
Para ilustrar quando uma pequena brecha no comportamento – algo considerado moralmente aceitável – é vista como desculpa para coisas cada vez mais questionáveis, os estudiosos utilizaram a expressão "Slippery slope", algo como ladeira escorregadia, que levaria o "corrupto em fase inicial" a pensar que não está fazendo nada de mais. Dessa forma, ele continua a ter uma autoimagem positiva, sem perceber que ultrapassou uma linha perigosa quando faz algo mais sério.
De acordo com os responsáveis pela pesquisa, os resultados indicam que a transformação pode acontecer repentinamente e que, se houver oportunidade, qualquer um está sujeito a cometer um ato de corrupção.
Testando a honestidade
Para chegar a essa conclusão e testar a validade da hipótese, os pesquisadores organizaram uma espécie de leilão, em que dois participantes recebiam uma quantia fixa de créditos virtuais e tinham que dar lances para ver quem ganhava o prêmio da brincadeira. Cada jogador desempenhava o papel de dono de uma construtora, enquanto outro fazia o papel de funcionário público responsável por administrar o leilão.
A estratégia honesta era fazer a oferta máxima, de modo que o funcionário público dividisse a licitação igualmente entre as duas empresas. Assim, ambas tinham lucro. Contudo, era possível oferecer suborno ao funcionário público, o que dava aos donos da empresa uma vantagem injusta em relação a seu concorrente.
"Quando havia a oportunidade de oferecer a superpropina, as pessoas tendiam a agarrá-la. O comportamento antiético nem sempre surge gradualmente, mas, às vezes, ocorre de forma abrupta, espontânea e inesperada. As pessoas podem querer obter as vantagens ligadas a formas marcantes de corrupção em uma única ação",
concluíram os responsáveis pela pesquisa.
Trazendo para nossas vidas, vemos exemplos de corrupção todos os dias. Furar a fila do banco ou do ônibus, ocupar os acentos preferenciais no trasporte público, guardar o lugar quando há pessoas esperando na sua frente, sentar no banco preferencial enquanto aquele idoso ou grávida está em pé no transporte público, trafegar com o carro pelo acostamento durante um congestionamento, inventar álibis para recorrer de multas de trânsito, usar o sinal da TV a cabo ou a luz elétrica furtados (os famosos "gatos"), entre outros exemplos. São pequenos absurdos que mostram como algumas pessoas podem tirar vantagens indevidas de outras pessoas ou situações.
Conclusão
É muito fácil criticar quem é corrupto. Difícil é olhar para o próprio umbigo e enxergar as ações corruptas cometidas, por menores que sejam. A corrupção só acabará quando escolhermos não praticá-la. Agindo assim, nossa consciência nos alertará para atitudes equivocadas que possam prejudicar poucas ou muitas pessoas, independentemente da situação.
A Deus toda a glória.
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