ASSUNTOS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - GEAZI FOI CURADO DA LEPRA?

A Bíblia conta, em 2 Reis 5, a história de como Naamã, chefe do exército da Síria, foi curado da lepra pela palavra do profeta Eliseu. Naamã oferece presentes a Eliseu que os rejeita. Aqui Geazi, o servo do profeta, ganha destaque como um exemplo negativo.

Entendendo a história

Em 2 Reis 5 temos o registro de uma história a respeito da cura da lepra de Naamã, que era comandante do exército do rei da Síria, pelo profeta Eliseu. Naamã, seguindo a ordem de Eliseu, lavou-se sete vezes no rio Jordão onde ficou completamente limpo da sua enfermidade (14).

Muito bem. Depois de ter sido curado, Naamã insistiu com Eliseu para que ele aceitasse um presente em troca da sua cura. Contudo, Eliseu recusou o presente (15,16).

Então, após Naamã ter-se afastado da presença de Eliseu, Geazi, que era o "moço de Eliseu" (um tipo de discípulo do profeta), ou seja, ele era "um ajudante do profeta", movido pela ganância e pela cobiça, correu atrás de Naamã a fim de receber algum dinheiro, uma vez que Eliseu não quis (20–24).

Segundo o texto bíblico, Naamã deu, então, a Geazi dois talentos de prata e duas vestes festivais e, este, foi e levou para sua casa. 

Muito bem. Pouco tempo depois deste fato, o profeta Eliseu perguntou a Geazi: "Donde vens, Geazi?" Ele respondeu: "Teu servo não foi a parte alguma" (25). Todavia, Eliseu disse a Geazi: "Porventura, não fui contigo em espírito quando aquele homem voltou do seu carro, a encontrar-te?Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então, saiu de diante dele leproso, branco como a neve" (26,27).

Lições a aprender

Muito bem. A lição que aprendemos desta história é que, na verdade, a lepra está no coração do homem, aguardando a ocasião para se manifestar. Outra lição importante é que não devemos servir ao Senhor por avareza ou visando qualquer benefício próprio. Não podemos servir a Deus almejando o reconhecimento das pessoas, ou para obter qualquer vantagem, e até mesmo visando ganho pessoal. 

Na verdade, nosso coração deve estar limpo quando servimos ao Senhor. Devemos cuidar para que o mal que está potencialmente no nosso interior não venha a se manifestar, como aconteceu com Geazi. A verdade é que Geazi não sabia que ele também era leproso, como Naamã. Geazi também precisava ser purificado. 

Vamos rever a sentença de Eliseu contra Geazi que a chave para o entendimento da passagem:

"Eliseu porém, lhe disse: 'Porventura não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou do seu carro ao teu encontro? Era esta ocasião para receberes prata e roupa, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e servas? Portanto a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então Geazi saiu da presença dele leproso, branco como a neve" (26,27 – grifos meus).

Geazi requereu uma recompensa natural para uma obra sobrenatural/espiritual. Não podemos medir o impacto negativo dessa ação na Síria. Já pensou se Naamã chegasse em seu país e dissesse: "Sim, foi de graça!"? No entanto, pouco tempo depois a Síria entrou novamente em guerra contra Israel.

Há quem afirme – erroneamente – que Geazi foi curado da lepra. Eles associam Geazi com um dos quatro leprosos, descrito em 2 Reis 7:3, que estavam à entrada da porta da cidade de Samaria a qual tinha sido cercada pelos sírios. Aqueles leprosos e Geazi anunciaram as boas novas da retirada dos sírios e Geazi teria sido perdoado recebendo a cura.

Sobre a questão do leproso Números 5:2 diz: 

"Ordena aos filhos de Israel que lancem fora do arraial a todo o leproso, e a todo o que padece fluxo, e a todos os imundos por causa de contato com algum morto"  (grifo meu).

Os leprosos declarados imundos deveriam ficar fora da cidade.

Agora vamos à Lei sobre a lepra, em alguns casos os leprosos eram considerados imundos e em outros limpos. No caso de Geazi a lepra o deixou completamente branco igual a neve. Em Levítico 13:12,13 diz que:

"E, se a lepra se espalhar de todo na pele, e a lepra cobrir toda a pele do que tem a praga, desde a sua cabeça até aos seus pés, quanto podem ver os olhos do sacerdote, então o sacerdote examinará, e eis que, se a lepra tem coberto toda a sua carne, então declarará o que tem a praga por limpo; todo se tornou branco; limpo está" (grifo meu).

Entendo que Geazi estava leproso, mas foi declarado limpo. Portanto, poderia morar dentro da cidade, poderia conviver com as pessoas, formar família, se apresentar diante do rei, como fez mais tarde ao prestar informações ao rei sobre a propriedade da sunamita (2 Reis 8). O próprio Jesus afirmou:

"Também havia muitos leprosos em Israel no tempo de Eliseu, o profeta; todavia, nenhum deles foi purificado: somente Naamã, o sírio" (Lucas 4:27 – grifo meu).

A fala de Jesus deixa claro que Geazi não foi curado. A punição de Geazi foi permanente e se estendeu à sua descendência. A severidade da maldição aponta também à gravidade de se transpassar a palavra do seu senhor Eliseu. Em Números 12 Miriam fica leprosa por 7 dias – a lepra era diferente da lepra de Geazi, mas os motivos de terem ficado leprosos semelhantes: em ambos casos eles se rebelam ao líder instituído por Deus.

Algumas pessoas consideram um profeta como alguém superior ou mais digno que outrem, por isso sentem-se no dever de prestar honrarias. E há profetas que aceitam as honrarias porque não conseguem entender o elevado pensamento de Deus e permanecem alienados na ideologia distorcida do sistema. Incautos, chamaria o ilustre Pr. Leonard Ravenhill às pessoas que se submetem a essa perigosa escolha. 

Um profeta ou um porta-voz de Deus deve estar completamente isento de avareza e frivolidades que chamem atenção para si mesmo. Antes, deve presentear ao Rei a pureza de um coração disposto a suportar tudo, então pode ser considerado apto para transmitir a Palavra de Deus.

Em I Samuel 12 podemos ler o discurso do profeta e líder Samuel declarando que ele não aceitava presentes. O ato de ganhar um boi, defraudar, oprimir e subornar estão inclusos na mesma categoria de pecado. Ele havia acabado de apresentar o rei que o povo pedira, e ao rei – sim – ofereceram presentes.

O profeta fiel recebe seu salário do próprio Deus, é pela graça e segundo a medida da fé (Romanos 12:6). Chamo de verdadeiro tesouro aquilo que o dinheiro não compra e somente Deus pode dar:

• A presença de Deus;
• A sensibilidade de ouvir Sua voz;
• O entendimento de Seus propósitos;
• A paz de espírito ao seguir o Caminho, contrário ao sistema;
• Almas salvas da destruição;
• E o maior presente de todos: a preservação e salvação de sua própria alma.

Contudo, sua visão não está no que pode receber, ele ama as pessoas assim como Deus e quer levá-las a Ele. Agradar a Deus é seu maior contentamento. E mesmo que passe por testes difíceis e a caminhada seja dura ele sabe que toda tribulação é leve e momentânea e que um dia verá a Deus sentado no majestoso trono de glória, iluminando a todos com sua luz.

Conclusão

Depois de tamanha tragédia, seria natural que Geazi desaparecesse da narrativa bíblica. No entanto, não é o que ocorre. Em 2 Reis 8, as Escrituras registram que, seguindo conselho de Eliseu, a sunamita com a sua família foi peregrinar por sete anos na terra dos filisteus, para escapar de uma fome de sete anos que o profeta anunciou que haveria em Israel, o que, segundo a Bíblia de ordem cronológica de Edward Reese e Frank Klassen, aconteceu logo após a ressurreição do menino por Eliseu. 

Enfim, a cura ou não de Geazi é tema recorrente de debates teológicos, onde cada linha defende sua crença. À despeito dos debates teológicos que não mudam nada e não levam ninguém a lugar nenhum, eu fico com a fala de Jesus que, ao citar o episódio da cura de Naamã é categórico em dizer que ele, Naamã, fora o único de sua época a ser curado da lepra. Além do mais, se Geazi tivesse sido curado, porque a Bíblia não registraria? E, ainda, Eliseu disse que Geazi ficaria leproso para sempre, não só ele como sua descendência. Sobre 2 Reis 8 eu entendo que:

• Se Geazi realmente foi restaurado, o foi em termos de salvação, não de ministério, pois jamais voltou a ser moço do profeta ou um dos filhos dos profetas. No entanto, em sua conversa com o rei, foi um instrumento para que a sunamita tivesse a restituição de seus bens, a indicar que Geazi, pelo menos, pôde, uma vez mais, ser usado para trazer bem ao próximo, depois de ter fracassado por causa da avareza e do egoísmo.

Em dias de apostasia espiritual, não deixemos que nossa visão espiritual, que a visão do reino de Deus que tivemos ao nascer de novo venha a ser diminuída com o desejo de fama e de exaltação, nem tampouco que venha a ser perdida pelo amor do dinheiro e pela mentira, para que, a exemplo de Geazi, venhamos a fracassar em nossa jornada espiritual e venhamos a ter uma duvidosa e limitada restauração espiritual. Que Deus nos guarde!

A Deus toda glória.

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