quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A SÃ DOUTRINA - A UNÇÃO COM ÓLEO, 3ª PARTE

Considerações Atuais Sobre a Unção Com Óleo


Como consequência da situação pela qual vem passando o povo brasileiro, devido às conjunturas políticas, sociais e econômicas, muitos têm encontrado grande dificuldade de acesso à medicina pública, ou nela não têm confiança, recorrendo a uma medicina popular, principalmente através de curandeiros, benzedeiras, e/ou concepções mágico-religiosas. 

Alguns líderes carismáticos são muitas vezes solicitados a realizar curas divinas através de rituais, e afirmam estar em contato com o Espírito Santo, com anjos, demônios e com o espírito da própria enfermidade. E através de seus "poderes", tentam realizar a "cura", e quando esta não vem, alistam variadas razões, entre elas, e principalmente, o fato de o enfermo, ou seus familiares, terem falta de fé. 

Assim, todo o procedimento de unção assumiu um papel fundamental dentro do simbolismo religioso que se formou nestes dias, sendo este procedimento utilizado para combater doenças tanto do corpo quanto da alma. E só obtêm a "graça" aqueles que são ungidos com óleo consagrado; para estes haverá saúde, emprego, riqueza, e a cura de diversas moléstias e males demoníacos. 

Logo tudo passa a ser ungido, a rosa, o barbante, o sal, as fotos, as roupas, a água, o manto, a madeira, a toalha... e finalmente a própria pessoa é ungida, e caso esteja possuída por demônios estes se manifestam e podem então ser expulsos, através do óleo do exorcismo e da "oração forte". 

Saindo da Confusão 


Como pudemos perceber perfeitamente através da exposição da história deste procedimento vale aqui de modo especial o que nos é dito pelo texto do salmo 42: 
"Um abismo chama outro abismo...". 
E é desta confusão teológica que precisamos sair. E a única forma de fazê-lo é através de uma análise exegética da palavra de Deus, à luz de todo o ensino apresentado pela própria palavra de Deus, conforme já vimos anteriormente neste estudo. Vamos seguir então analisando o verso que é usado por base de toda esta "teologia". 

Mas, tenhamos em mente tudo o que já estudamos, e em especial a conclusão a que chegamos através da análise sincera e dedicada da palavra de Deus: 
"Resta então apenas um tipo de unção a ser analisado em termos de uso nos dias atuais: a unção de enfermos com fins medicamentosos. Não restou nenhum tipo de unção, com finalidades espirituais, a ser utilizada pelos crentes em Jesus Cristo após o estabelecimento da Nova Aliança." 

Exposição de Tiago 5:14 


Analisemos o texto em si, dentro do seu contexto: 
"Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:13-16 - ACF - grifo e destaque acrescentados). 
É fundamental entendermos que o texto nos fala de oração. Tiago está tratando, por praticamente toda a sua carta, deste tema. Não podemos entender que ele tenha criado um novo ritual místico-mágico, ou que tenha sido criada uma nova teologia, o que invalidaria esta carta como texto bíblico. 

Como exemplo, analisemos o que houve recentemente em uma pequena cidade americana próxima de Los Angeles. Lá ocorreu uma enorme tragédia, quando um pai, jogou fora a insulina que seu pequeno filho diabético necessitava tomar, após pedir ao pastor que realizasse em seu filho a "unção com óleo" e a "oração forte de poder". Como resultado desta ação irresponsável, seu filhinho morreu. 

Devemos entender que nem todos os crentes que ficam doentes, recebem cura! Muitas vezes Deus os quer assim, doentes mesmo, de modo que testemunhem de Sua graça mesmo em meio ao sofrimento, ou então para que seja aprendida alguma lição que Deus queira ensinar. O fato é que se todos os crentes recebessem cura, nenhum morreria, pois, a cada doença se seguiria a cura divina! E a história testemunha que não é assim. 

Eu mesmo sou diabético e faço uso diário de insulina e outros medicamentos complementares ao tratamento. E aí daquele que ousar questionar o nível, a profundida e a extensão de minha fé. Boto o infeliz pra correr! Minha fé é de cunho particular, pessoal e individual em meu relacionamento com Deus e não está em absoluto sujeita à opinião de outros. 

Bom, com isto em mente sigamos analisando o texto. A palavra "ungir" em português significa: 
untar(-se) ou friccionar(-se) com óleo, ungüento ou qualquer substância gorda; fomentar; untar ou friccionar com perfumes ou substâncias aromáticas; investir de autoridade por meio de unção ou sagração; sagrar. 
Em grego os dois primeiros sentidos apresentados da palavra "ungir" são entendidos da palavra "aleifw" (aleipho). Já o terceiro sentido, é entendido pela palavra "xriw" (chrio) da qual se deriva a palavra "xristov" (christos), cristo, de onde temos a designação de Jesus como "O Ungido de Deus", "O Cristo". 

Neste sentido, a primeira (aleipho) é uma palavra que denota uma ação corriqueira e desprovida de qualquer conotação religiosa ou espiritual. Enquanto a segunda (chrio) indica uma ação espiritual, uma consagração divina. E neste verso encontramos a palavra [aleipho] e não a palavra [chrio]! 

Considerando, portanto, o significado da palavra e do texto em seu contexto, entendemos que somente o que pode operar qualquer cura é o poder do Senhor, muitas vezes em resposta à oração de um justo. O uso do azeite neste texto se refere então à sua aplicação com vistas a uma ação medicamentosa. 

Dando-nos instrução que não devemos, como fez aquele infeliz pai americano, deixar de aplicar o medicamento pelo fato de estarmos em oração pela cura, mas, inversamente, devemos aplicar o medicamento e orar confiantemente ao Senhor, clamando pela cura, tanto física, quanto espiritual, em caso de haver pecado envolvido. E o Senhor dentro dos Seus propósitos, irá agir. O poder é do Senhor, e não de uma mandinga qualquer ou de qualquer objeto que supostamente tenha quaisquer poderes curativos. 

Conclusão 


Diante de tudo o que foi exposto, podemos então afirmar: 
  • A unção de enfermos não é um sacramento, já que não há nenhum sacramento, pois para tal exigir-se-ia um sacerdote para intermediar sua aplicação. E na Nova Aliança, cada crente em Jesus Cristo tem acesso direto ao Pai através dEle, sendo portanto, seu próprio sacerdote, dispensando qualquer tipo de intermediação humana. Além deste fato, não há como se complementar a obra do Senhor Jesus Cristo, ou tomar-se qualquer ação que resulte em graça. A obra de Cristo é completa e perfeita, e a obtenção de graça se dá através do poder do Senhor mediante oração e fé. 
  • Os pais da Igreja não praticaram a unção com fins espirituais na Igreja, entendendo que esta ação não deveria ocorrer no cerne da Nova Aliança. 
  • A instituição da unção dos enfermos durante a Idade Média, (que veio posteriormente a se tornar a extrema-unção católica, e que após o concílio Vaticano II voltou a ser, para os católicos romanos, a unção de enfermos) foi obra de "cristãos" que não tinham uma teologia séria, embasada na Palavra de Deus, mas, ao contrário, desejavam apenas mais um meio de controle sobre as massas.
Conforme pudemos ver da exposição de Tiago 5:14, o óleo não tem em si nenhum poder curativo sobrenatural, além de seu próprio poder como medicamento. O verdadeiro poder está no Senhor, e pode vir a ser derramado sobre o enfermo, em atendimento às orações de verdadeiros crentes no Senhor Jesus Cristo, aqueles que foram justificados pelo Seu sangue. 

O azeite em Tiago 5:14, não é expressão do Espírito Santo, nem de Sua ação, pois, este fato viria de encontro a todas as doutrinas apostólicas. A unção que se relaciona com o Espírito Santo é obtida na conversão, quando o crente é Nele batizado e selado para o dia da redenção. 

Qualquer pensamento quanto a um valor semi-mágico da unção com óleo, fere os princípios do Novo Testamento, especialmente no que diz respeito ao objeto da fé, que não pode em nenhuma hipótese ser algo material sob pena de idolatria e paganismo: 
"E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra" (Mateus 28:18). 
Em nada devemos por a nossa fé, a não ser nAquele que verdadeiramente nos pode salvar! 

No processo evolutivo da revelação de Deus, o óleo da unção apontava para o vindouro ministério do Espírito Santo, que é Aquele que unge, ou seja, Aquele que separa, capacita, credencia o Cristão a fazer a obra de Deus. Os que são ungidos com o Espírito Santo não necessitam de nenhum outro tipo de unção espiritual, em nenhum outro momento de suas vidas! 

E que Deus nos abençoe e nos permita permanecer sendo fiéis à Sua palavra e à Sua vontade em cada momento de nossas vidas, deixando e abandonando tudo quanto não provém de Deus! Amém! 

[Fonte Bibliográfica consultada: A BÍBLIA SAGRADA, Versão Revista e Corrigida Fiel ao Texto Original, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, São Paulo, 1995. ARLES, Cesário de - Sermones Sancti Caesarii Arelatensis - Pars Prima, studio D. Germani Morin O.S.B., ed. altera, Turnholti, Brepols, 1953. CNBB, Observações sobre o Ministro da Unção dos Enfermos. 35ª Assembléia Geral da CNBB. COELHO FILHO, Isaltino Gomes - Tiago Nosso Contemporâneo: Um Estudo Contextualizado da Epístola de Tiago, 2ª edição, Rio de Janeiro, JUERP, 1990. ECCLESIA, Patrística e Fontes Cristãs Primitivas: Tradição Apostólica de Hipólito de Roma. FALCÃO Sobrinho, João - A Túnica Inconsútil: Um estudo sobre a doutrina da igreja, 2a edição revisada, Rio de Janeiro, JUERP, 2002.  HOUAISS, Antonio - Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, versão eletrônica. LAUAND, Jean - Um Sermão de S. Cesário de Arles. RÉDUA, Ashbell Simonton - Unção com óleo]

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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