"Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (João 4:23).
Hoje tem se discutido muito sobre o papel da música na Igreja. O músico profissional cristão deve tocar ou cantar somente nos templos ou eventos cristãos, ou pode exercer sua profissão fora do ambiente eclesiástico? Como se chama a forma de remuneração do músico cristão? É salário? Cachê? Oferta? O músico cristão deve ser independente ou deve ser membro de alguma congregação, denominação ou comunidade? Como devem ser chamados os eventos musicais onde os músicos cristãos se apresentam? É um culto? Um show? Uma programação? Um evento? O músico cristão pode ser chamado de artista?
Entendendo os conceitos
A música é uma arte com muitas extensões, como músico um ministro de louvor pode ser cantor, arranjador, maestro, instrumentista... etc e como a música está em todos os lugares, os músicos profissionais competentes sempre serão chamados para trabalhar em algum lugar, e como profissional que estuda e se aperfeiçoa durante muitos anos, o músico cristão pode exercer sua profissão fora dos templos sim, desde que ele observe quais tipos de trabalhos estão a sua disposição. Ele pedir ao Espírito Santo que sonde o seu coração e veja quais são suas motivações e permita que Ele lhe oriente no exercício do seu trabalho.
Temos um assunto realmente complexo para trata, mas embora eu não seja músico, tenho conhecimento e experiência cristã suficientes que me habilitam a propor uma reflexão acerca do assunto.
Caro leitor a música cristã deve ser analisada sob dois aspectos,
- o aspecto ministerial, ou serviço específico para Deus
- e sob o aspecto profissional.
Um cristão advogado deve somente advogar para a igreja?Um médico cristão somente deve medicar para os membros da igreja? Um engenheiro cristão somente projetará a construção de templos? A resposta claramente é não, um profissional exerce sua profissão para todas as pessoas e em todos os lugares, independente da cor, credo e religião de seu contratante. Com o músico cristão pode não ser diferente.
Existem ministérios de música cristã que podem pagar para que seus músicos fiquem exclusivamente para ministrar nos templos e eventos cristãos, mas nem todos podem fazer isto, e se uma pessoa tem como profissão a música, ele ou ela tem o direito de trabalhar onde o pagam, a vida cristã dele jamais será abalada pelo trabalho que ele exerce . Quando o músico profissional cristão trabalha fora da igreja, a sua remuneração é o cachê, estipulado pelas organizações musicais de cada lugar , quando este mesmo músico está a serviço da obra de Deus, ele deve ser abençoado por ofertas dadas pelos organizadores dos eventos, jamais um músico que se diz cristão deve exigir cachês.
Lembramos que quem tem o chamado para o ministério de música deve servir a Deus, com o objetivo de ganhar vidas, adorar e exaltar ao Senhor. O músico cristão deve fazer parte de alguma organização [evangélica] cristã, pois sendo parte de alguma comunidade cristã ele receberá orientação e apoio espiritual.
Ministro ou Artista?
O músico cristão é um artista pois ele nasceu com [e/ou recebeu] um dom, uma arte: a arte de fazer música, portanto, quando ele se apresenta mostrando sua arte para honrar e adorar a Deus, ele não está fazendo um show.
O artista em geral e no caso, o músico, tem uma realidade muito complexa, tanto dentro ou fora da igreja. Infelizmente durante muitos anos foram incompreendidos e marginalizados em sua atuação. Esta realidade foi um pouco atenuada fora do país, por causa de uma mentalidade mais aberta e por se valorizar a arte como base de uma educação de um povo. Nem todo músico é boêmio (ideia arraigada, infelizmente) e tem uma possibilidade enorme de adorar a Deus através de sua vida profissional.
As barreiras são muitas para que trilhe este caminho:
- barreira familiar - quando os pais se assustam com a opção de seus filhos se tornarem profissionais, já que em nossa cultura isto não é valorizado;
- barreira educacional - já que o ensino de música não é obrigatório nas escolas municipais e estaduais, levando o aspirante a músico a brigar por algumas vagas oferecidas por escolas do governo ou migrará para o ensino particular ou em escolas superiores particulares;
- e a própria barreira profissional - com poucas oportunidades oferecidas em seu mercado de trabalho.
Em nosso mundo evangélico brasileiro ainda se questiona se o músico ou artista pode exercer seu dom e capacidade de forma profissional e não só de forma amadora. Há muita ignorância teológica sobre o uso das artes, parecendo inclusive que esta dimensão está excluída de uma vida cristã saudável.
Parece que o músico, ou o artista em geral, vive num planeta à parte, muito mais sujeito às tentações e lutas do que os outros profissionais. Para quem trabalha pastoralmente como eu e está envolvido com aconselhamento, sabe que isto não é verdade, pois estamos sujeitos a toda a sorte de provações e tentações em qualquer área e ambiente em que se vive.
A ideia em nosso meio é a seguinte: o músico ou artista que se converte precisa "abandonar" o mundo e a "velha" vida, diferenciando-o de outros profissionais (médico, dentista, professor, bancário, etc.) que passam pela mesma experiência de conversão, como se estas profissões fossem "santas" e a dele não. O fazer tudo para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31) continua valendo para todos, e todos os profissionais cristãos terão áreas de tensão e que terão que se posicionar por causa do cristianismo, considerando a ética e a moral cristã, além dos valores do reino de dignidade e justiça.
Graças a Deus temos a experiência de Lutero e dos irmãos Wesley, por exemplo, que além de teólogos, eram músicos. Deus é o Supremo Artista, e Sua capacidade de criação se vê em todo o universo. Precisamos resgatar em nossa teologia, a teologia das artes.
Existe uma confusão entre os evangélicos sobre a diferença entre cantor evangélico e ministro de louvor. Há realmente uma linha muito tênue, contudo o mais importante a saber é que alguns nasceram para ser músicos profissionais e outros chamados e escolhidos por Deusas apenas para o ministério de louvor.
O que é Música Gospel?
O termo Gospel significa evangelho, em português. Gospel é o diminutivo de "God Spell", ou seja, palavras de Deus, que significa também boas notícias, boas novas, e etc. O termo surgiu nos Estados Unidos, com os cultos que eram realizados.
Gospel surgiu como um tipo de canto das comunidades negras nos Estados Unidos, e era um ritmo dos cultos. O gospel possui uma melodia simples, e é mesclado com músicas folclóricas e um pouco de blues. Na verdade, não existe "música gospel", e sim "letras (composições) gospel", ou seja, que tragam a mensagem bíblica e com um propósito especificamente espiritual.
Por causa da comercialização, a hoje chamada música gospel, tornou-se uma definição de cunho muito mais comercial, um grande e rentável mercado fonográfico. Existem diversos cantores e bandas de música gospel que se tornaram famosos profissionais da música, inclusive muitas pessoas famosas, que se tornaram verdadeiros astros e estrelas desse segmento, cujas apresentações são megashows com super produções. Esses "ilustres", inclusive, apesar de em seus discursos sempre afirmarem que fazem "tudo para a honra e glória do Senhor" e em "prol do reino de Deus", cobram verdadeiros absurdos para se apresentarem e não costumam dar o ar dar graça em igrejas pequenas e humildes.
Esses super astros da música gospel em absolutamente nada se diferem dos quais chamam de "cantores seculares". Estes profissionais, que além se apresentarem exigindo altos cachês, em suas listas de exigências incluem hotéis cinco estrelas, camarins perfumados e cheios de badulaques. O maior declínio dessa triste realidade é quando transformam os altares das igrejas em palcos para suas apresentações, lotadas por seus fãs com direito a todas as deploráveis cenas de tietagens: gritos, faixas, choros e até desmaios! Nenhum estilo musical vende mais ou tem mais shows do que o gospel. E tome escândalos!
[Continuamos com o assunto na 2ª. Parte]
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