terça-feira, 3 de janeiro de 2017

HILLSONG NA GLOBO, ALGUÉM VIU?!

A Rede Globo de Televisão é um dos canais de TV aberta dos mais "resistidos" pelos grupos evangélicos. Não é novidade a ninguém as explícitas apologias que a emissora carioca faz a temas polêmicos, religiosos e outros tidos como não muito ortodoxos à parcela da sociedade mais, como diria conhecido parlamentar, "fundamentalista". 

Fundada em 26 de abril de 1965, pelo jornalista Roberto Marinho (✰1904-✟2003), a Rede Globo é uma rede de televisão comercial aberta brasileira com sede na cidade do Rio de Janeiro. É assistida por mais de 200 milhões de pessoas diariamente, sejam elas no Brasil ou no exterior, por meio da TV Globo Internacional. 

Guerra [nada] santa


Apesar de virar e mexer haver sempre um quiproquó entre a Globo e os crentes (há muitos que afirmam já ter "banido" a emissora de seus aparelhos e há muitos pastores que proíbem de púlpito que suas ovelhas a assistam), por causa de sua programação que é considerada perniciosa por grande número de evangélicos - a lembrar: o polêmico e tão alardeado beijo gay, exibido no último capítulo da novela "Amor à Vida" (2013/14); as várias novelas de cunho espírita, em destaque o sucesso "A Viagem" (1994); a polêmica minissérie "Decadência" (1995), que contou a história de um pastor corrupto e foi exibida no ápice da guerra travada com o Bispo Edir Macedo, líder da Iurd. 

Mais recentemente, as novelas "Babilônia" (2015), que além de ter vários personagens gays e enfocar pesadamente temas espinhosos como prostituição, adultério e racismo, a trama já apresentava em seu primeiro capítulo um beijo entre duas mulheres idosas, as personagens vividas pelas veteranas atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Tifmberg e que mesmo contando um elenco considerado de peso foi rejeitada pela parcela mais conservadora do público, especialmente entre os seguidores do evangelicalismo. 

Alguns deputados da bancada evangélica chegaram inclusive a promover boicotes à produção que teve sua audiência solapada pelo estrondoso sucesso da novela "bíblica" "Os Dez Mandamentos", exibida no mesmo período e horário por sua principal concorrente, a Record TV (do bispo Macedo). E a exibição da primeira cena de sexo gay, protagonizada pelos atores Caio Blat e Ricardo Pereira na novela "Liberdade, Liberdade" (2016). 

"Flerte" fatal(?) 


A emissora já ensaiou alguns "flertes" com o público evangélico - a saber: a criação do núcleo gospel no selo da gravadora Som Livre (braços fonográfico do Grupo Globo), que conta em seu cast com nomes famosos entre o público evangélico como a banda Diante do Trono, o cantor André Valadão e muitos outros; a emissora chegou a patrocinar um festival de música gospel, o "Festival Promessas", que começou em 2011 e teve sua última edição em 2014.

Mas se engana quem pensou que esse flerte viraria "namoro". Houve quem considerasse a investida como um "assédio". Isso porque, durante a transmissão na televisão, da abertura do tal festival, que contou com nomes conhecidos da música gospel, em um show ocorrido no dia 10 de janeiro de 2011, no Aterro do Flamengo (RJ) a emissora ficou isolada na liderança de audiência com 13 pontos (cada ponto equivale a cinquenta e oito mil casas). Aliás, a própria banda da Hillsong, já foi atração em uma das edições do Festival Promessas (foto).

Não deu outra, a realização do evento dividiu opiniões: uns se alegravam com o evento, outros criticavam, acreditando que os cantores se venderam para a emissora. Além disso, teve ainda a inclusão de uma música da cantora gospel Aline Barros na trilha sonora da novela "Duas Caras" (2007/08) - esta, aliás, há tempos já tinha "passe livre" na seara global -, a participação do pastor Silas Malafaia e de outros cantores evangélicos em programas da emissora.

Hillsong na Globo?!


Numa escolha no mínimo fora dos padrões, a TV Globo exibiu na madrugada do dia 2 (2017), o documentário "Hillsong: Uma Canção de Fé". O filme, lançado poucos meses atrás, conta a história da Hillsong, igreja nascida na Austrália nos anos 80 e que acaba de criar sua primeira unidade no Brasil (São Paulo).

A exibição causou surpresa e certo furor nas redes sociais, e chegou a ser o assunto mais comentado do twitter. O mais incrível, porém, era que praticamente todos os tweets eram de profusos elogios à Globo e sua escolha. 
"Você começa a perceber que 2017 vai ser incrível quando a Globo começa a transmitir um documentário da Hillsong", 
postou a internauta Lizandra Monteiro com a hashtag #HillsonNaGlobo 

Segundo dados prévios de audiência, o filme marcou 5,8 pontos de média na Grande SP (cada ponto equivale agora a 70,5 mil domicílios sintonizados). 
"Que lindo é ver a palavra de Deus sendo falada na Globo!! Globooo!! 2017 já me parece um ano melhor só por isso", 
escreveu Laís Valente, outra "profética" internauta. 

De queixas contra a emissora, só mesmo a edição: 
"Pena que teve cortes! Aí, @RedeGlobo exibe completo da próxima vez", 
protestou Gabriel Souza. 

O filme 


"Let Hope Rise" (nome original) foi exibido na Sessão de Gala da Globo. Lançado no ano passado, produzido por norte-americanos, o documentário conta como uma pequena igreja que decidiu montar uma banda autoral de música gospel e contemporânea alcançou o mundo. 

Com o tempo, a igreja passou a criar e gerir novas bandas, enquanto se espalhava pelos continentes. Acabou virando também um fenômeno fonográfico que já vendeu dezenas de milhões de CDs e DVDs. Inclusive, muito do que se houve e se canta nos púlpitos de muitas igrejas evangélicas aqui no Brasil, são versões (e/ou) traduções das músicas da Hillsong United. O Diante do Trono, ministério de louvor da Igreja Batista da Lagoinha, com sede aqui em Belo Horizonte, por exemplo, tem como "inspiração" a Hillsong, cujo trabalho ficou mais conhecido quando tinha como líder a famosa cantora gospel Darlene Zschech. 

Com um grande trabalho social realizado nos países em que se instala, a Hillsong Church hoje é considerada uma das igrejas mais influentes do mundo, com grande atração de fiéis jovens. Entre as celebridades que frequentam seus templos está Justin Bieber (Ele mesmo!). O cantor diz ter se convertido após um período turbulento na vida pessoal. 

A primeira congregação no Brasil foi aberta no ano passado. A Hillsong São Paulo se reúne aos domingos no espaço Áudio, na Barra Funda. 

Polêmica, polêmica! 



Mas nem tudo são flores. Em 2015, estourou na imprensa internacional a notícia que um homossexual liderava o louvor da igreja Hillsong New York, sendo diretor do coro. Ele tem um relacionamento gay público e declarou à revista Playbill que a igreja os aceitava numa posição de liderança. 
Obviamente a notícia gerou grande polêmica no meio evangélico. O portal Gospel Prime foi um dos sites a divulgar as informações em português

A bombástica notícia, levou a sede da igreja na Austrália a publicar uma nota oficial (link) sobre o assunto, assinada pelo pastor sênior Brian Houston. 

Houston afirmou que a posição da igreja sobre a homossexualidade não mudou e que é consistente com a Bíblia. Também confirmou que um dos líderes do coro fez uma declaração pública assumindo um relacionamento gay com um homem que também cantava no coro. Mas afirma que isso foi "uma completa surpresa" para a igreja. 

Esclareceu que o casal não exerce mais, "segundo seu conhecimento", nenhuma posição de liderança ou ministério desde então. 

Antes do pastor Houston se manifestar, o perfil do Instagram do cantor Joel Houston, líder do ministério de louvor em Nova York, foi questionado por seguidores a respeito da notícia e ele respondeu dizendo que tinha ideia do que estava sendo comentado pelos portais de notícia, mas que acredita que viver o Evangelho é amar a todos independente do seu pecado. 
"Eu sou pastor da igreja e não tenho ideia do que você está falando […]. Veja os outros com a mesma graça que Deus vê você e ame a todos independentemente do seu pecado. Este é o evangelho.  
Como cristãos nossa posição é pautada pelas Escrituras. A possibilidade de uma igreja nos Estados Unidos ter homossexuais na liderança não causa estranheza, pois existem vários casos conhecidos. Obviamente, isso não desqualificaria o trabalho de denominação como um todo, especialmente no seu conhecido ministério de louvor." 

Contudo, o casal gay (foto) que colocou a Igreja Hillsong no olho do furacão recentemente voltou a afirmar que os líderes da denominação sabiam sobre sua homossexualidade e relacionamento de longa data. Josh Canfield e Reed Kelly, que participavam do ministério de louvor da filial da igreja em Nova York, ressaltaram que sempre foram sinceros sobre seu relacionamento com os líderes da congregação: 
"Temos sido abertos e francos sobre o nosso relacionamento desde o início", 
disse a dupla, em um texto publicado nas redes sociais, contradizendo a postura da denominação. 

Canfield e Kelly se tornaram celebridades instantâneas após participarem de um reality show chamado Survivor San Juan del Sur, onde falavam abertamente sobre sua relação. Antes, porém, já haviam construído carreira como atores em musicais da Broadway. 

Com a repercussão do caso, Canfield e Kelly disseram que se manterão frequentadores da igreja como representantes dos "cristãos gays", e como interlocutores da comunidade LGBT junto à liderança da denominação. 

Para eles, seu afastamento das atividades foi "frustrante e um pouco agressivo", já que a notícia sobre eles terminou "interferindo tão facilmente com o diálogo saudável e estável" que vinham mantendo com a Hillsong a respeito da homossexualidade e do relacionamento deles. 

De acordo com o Huffington Post, o casal reafirmou que Canfield trabalhou com a Hillsong por oito anos como "diretor do coro, diretor vocal, e parte da equipe de adoração", que Reed também era membro do coral, e que o pastor Carl Lentz, que dirige a igreja em Nova York, sabia que eles haviam noivado, assim como Brian Houston. 

Conclusão 


Não sou fã do trabalho musical da Hillsong, nunca fui, que isso fique bem claro. Sobre a igreja em si, ao que me consta, ela segue de vento em popa na divulgação do Evangelho e tem forte envolvimento na obra missionária. Seus CDs e DVDs continuam vendendo mais do que banana em liquidação e seus eventos continuam lotando estádios e atraindo as multidões. 

Se a exibição do tal documentário pela Rede Globo (que eu, aliás, não assisti, diga-se) é um "sinal profético" de mudanças minha pouca fé não permite acreditar, portanto cabe quem àqueles que têm mais fé do que eu continuar por aí "trocando montes de lugar".

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