quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O QUE É VOCÊ, UM CRENTE... OU UM CRISTÃO?

"Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem e tremem!" - Tiago 2:19
Já fui do tipo que estufava o peito para dizer: "sou crente!" Depois de um tempo comecei a perceber a grande diferença entre crente e cristão. São duas palavras que são muito utilizadas para expressar uma coisa parecida, mas na verdade, essencialmente, são palavras totalmente diferentes.
  • Crente = que crê em alguma coisa. Um satanista, é um crente.
  • Cristão = crê em Cristo; segue a Cristo; imita a Cristo.
Usava muito o termo, e sempre deixei as pessoas me denominarem "crente". E o sou também, claro. Mas a grande verdade é: Não basta ser um crente. Preciso ser um cristão! Meu relacionamento com Deus vai além de crer nEle. Ser cristão é ser imitador do caráter de Cristo e é assim que devemos ser denominados!

No livro de Tiago, capítulo 2 (acima), está uma das melhores provas de que, ser crente, não significa nada; não salva.


Análise etimológica dos termos


                                                            
Se perguntarmos a uma pessoa que frequenta nossas igrejas se ela é cristã, crente, protestante ou evangélica, ela ficará momentaneamente confusa. Na tentativa de responder, algumas enfatizarão diferenças entre os termos, outras dirão que se trata da mesma coisa, porém há muita confusão.

Segundo os exímios pesquisadores do protestantismo e especificamente do protestantismo brasileiro, enquanto na Europa e nos Estados Unidos os cristãos católicos e não católicos se auto-identificam como cristãos, sendo secundária a identificação pelo ramo a que pertencem, no Brasil, assim como em toda a América Latina, a auto identificação protestante e denominacional tem sido fundamental. Este fato tem uma história.

Julgo esta parte interessante e curiosa antes de entrarmos no âmago da questão abordada neste artigo. Vejamos  sobre quais circunstâncias surgiram os termos e seus significados naquele momento.

  • Cristão 

Esta expressão já é citada na Bíblia (Atos 11:26; 26:28; 1 Pedro 4:16). Segundo alguns estudiosos do Novo Testamento este termo já era usado desde 44 d.C. quando ocorreu os eventos narrados no texto de At 11:26. Outro texto que demonstra a utilização do termo no primeiro século é At 26:28, quando o Rei Herodes Agripa II, a maior autoridade do local, disse a Paulo: “Por pouco me persuades a me fazer cristão”. Portanto, desde Antioquia da Síria (44 d.C.) aqueles que seguem a Cristo podem ser chamados de cristãos.

  • Protestante

Este termo vem do alemão e significa declaração pública de protesto, foi utilizado pelos príncipes luteranos contra a decisão da Dieta de Speyer de 1529, que reafirmou o Édito de Worms de 1521, banindo as 95 teses de Lutero. Ele não foi aplicado aos reformadores propriamente ditos, mas ao movimento que foi crescendo e protestando contra a Igreja oficial. Este termo foi ganhando um forte acento pejorativo e preconceituoso por parte do catolicismo.

  • Evangélico 

Termo cunhado pelo movimento evangelical. Este movimento surgiu no início do século XIX na Europa e depois se expandiu para os Estados Unidos. Ele foi uma reação frente expansionismo ultramontanista católico. Diante dessa força católica os protestantes se uniram através de ligas e alianças no propósito de fortalecer alguns princípios doutrinários comuns que os ajudasse a combater esse movimento. Pode-se chamar de uma "frente unida" evangélica. A auto-identificação de "evangélico" era individual e significava o compromisso da pessoa com esse conjunto de princípios doutrinários. Antes do indivíduo pertencer a uma denominação, ele era "evangélico".

  • Crente

Diferentemente do que muitos possam imaginar que esta expressão signifique aquele que crê, no contexto do protestantismo brasileiro ela tem um significado sectarista e preconceituoso. Foi introduzida pelos missionários norte-americanos (protestantismo de missão) que para identificar as pessoas que iam aderindo às suas denominações, diziam "este agora é verdadeiramente crente". Ou seja, era aquele que, abandonando suas antigas crenças e práticas religiosas (catolicismo), "convertiam-se" verdadeiramente às novas doutrinas.

Ainda que estes termos tenham seus significados específicos e um momento histórico definido, parece haver uma interpretação que movimenta o interior de nossas comunidades e alimenta o senso comum. Atrevo-me a dizer que muitos definem assim as expressões:
  • Cristãos:
Conceito – os que seguem a Cristo.
  • Protestante:
Conceito – São as igrejas mais históricas (antigas);
Preconceito – São aqueles que protestam contra Deus.
  • Evangélico:
Conceito – Aqueles que seguem o evangelho;
Preconceito – São os crentes da classe média.
  • Crente:
Conceito – Aqueles que creem;
Preconceito – Evangélicos pobres.

Os termos precisam ser entendidos a partir de seu contexto (sitz in leben) e valorizado. Por isso, a pessoa pode-se se considerar um cristão, protestante, evangélico, crente e (metodista, presbiteriano, assembleiano, etc). A pessoa trás em si a tradição de muitos movimentos. Portanto, se bem entendidos e utilizados, estes conceitos muito podem nos ajudar. Entendido isso, passemos para o âmago da questão.

Ser crente não basta


Crer apenas que Deus existe não é suficiente, é preciso viver de acordo com a Sua palavra! E se cremos, e vivemos de acordo com Sua vontade, somos cristãos! Seguidores de Cristo!

Um fato que me fez parar pra pensar sobre o significado sobre essas palavras, foi o seguinte versículo: 
"Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? (...) Que há de comum entre o crente e o descrente" – (2 Coríntios 6:14,15).
Na tradução acima, da NVI da Bíblia, há um problema. O termo usado é "crente". Nesse versículo, creio que Paulo queria dizer que, não há nada de comum entre aquele que não tem os mesmos princípios que você. Essa palavra deixa a desejar, pois no caso de relacionamentos, pensamos "mas então o que há de errado em namorar com alguém de outra religião, se ele crê no mesmo Deus do que eu. Ou seja, não há descrença". Mas é aquilo que está escrito em Tiago, até os demônios creem em Deus! Isso não significa que o fato de que você crer em Deus, mostre que você segue a Ele e vive de acordo com sua vontade, ou que não há males em você! Portanto, prefiro a tradução que diz:
"Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?" (Grifos meus)  – 2 Co 6:14,15
Esta tradução da Almeida Corrigida Fiel (ACF) é que se aproxima mais com o contexto da fala do apóstolo.

Paulo por sua vez, escreve que em Antioquia os discípulos foram chamados de CRISTÃOS pela primeira vez (Atos 11). Uma palavra já complementa a outra: Cristãos e discípulos. Podemos associar que todo Cristão é discípulo de Jesus , pois busca viver como imitador de Cristo. Mas será que todo crente pode ser chamado de discípulo? Existem pessoas que apenas acreditam que Deus existe, mas não o seguem. Podem essas pessoas serem chamadas de discípulos ou até mesmo de cristãos?

Não se engane! O fato de uma pessoa crer em Deus não significa nada! Deus poderia em qualquer momento fazer uma obra divina e provar que Ele existe, e de fato, já fez muitas. Mas nem por isso todas as pessoas passaram a seguir a Deus, passaram somente a crer.

Gosto muito do livro de Tiago, pois ele complementa exatamente isso, não adianta somente crer, a fé é completada por obras! E as obras no caso, seria viver de acordo com a vontade de Deus. 
"Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus" (Filipenses 2:5).

Ser crente (religioso) ou ser cristão, é tudo uma questão de escolha


Definitivamente o ser humano é muito complexo mesmo, principalmente os religiosos, uma minoria é claro, que como fruta podre contamina todo o cesto.

Podem estar me perguntando o porquê dessa comparação tão radical, mas analisando a diversos testemunhos e desabafos de pessoas próximas a mim, pude chegar a essa conclusão fatídica.

Para entender melhor vou tentar definir um pouco o que faz uma pessoa ser religiosa:

  • Religioso


Conhece a Bíblia (palavra escrita que para os cristãos é regra de fé e conduta) de ponta a cabeça, do Gênesis ao Apocalipse, até aí isso não seria mais do que a obrigação de todo e qualquer um que aceitasse aderir a esse mesmo estilo de vida, mas a diferença entre conhecer e aplicar é infinitamente enorme.

O religioso não aprende para fazer dessa palavra uma regra na sua vida, ele simplesmente pega um ou outro versículo que lhe apraz, que normalmente se encaixa em algum pensamento ou ideia própria e a partir dali, usa esse texto sem contexto para subjugar, com pretexto de ensinamento, impondo a terceiros um jugo que nem ele mesmo se fosse aplicar não conseguiria suportar.

Não vive a sua própria vida, normalmente o religioso tem como ocupação a preocupação com a espiritualidade dos outros, ou seja, ao invés de se preocupar em trabalhar, estudar, cuidar do seu cônjuge, filhos... Da sua vida mesmo (vai ter com a formiga, oh preguiçoso, tira a trave do seus olhos) ele vive 24 horas caçando, literalmente, o erro e o pseudo pecado cometido por aqueles que o cercam. Isso tudo achando que está prestando um serviço a Deus.

Para ele o mais importante não é a compaixão, e sim a necessidade abusiva de demonstrar a sua "suprema" espiritualidade. Assim como todo hipócrita, ele não analisa a história de vida e situações individualmente, antes mesmo de procurar saber a causa (o motivo do porquê daquela ação) ele julga a atitude alheia e como se tivesse algum poder para isso, condena e exclui do seu meio que aparentemente é o certo.

Vive de aparência, faz questão de parecer justo, impecável, puro, mas no seu interior esconde coisas terríveis. Deseja sempre o mal daquele que não se enquadra ou aceita sua opinião, e isso sempre com a desculpa de que "Deus irá pesar a mão em cima" do que e/ou de quem ele julga errado. Inveja, calúnia, contenda, disputas, fofoca, fazem parte do seu dia a dia e nem se dá conta disso.

Adora elogios, faz tudo para receber aplausos e tapinhas nas costas, ele mesmo se projeta e se exalta a si mesmo. Vive atrás de holofotes e ama se destacar não em meio à uma multidão, mas para uma multidão.

Da sua boca só sai palavras de confrontamento, se outro fala está errado, se não concordam com o que fala não sabem de nada, mas quando fala está coberto de razão. Ignora completamente a opinião alheia, se achando no centro da vontade de Deus e acima do bem e do mal.

Não almeja cargo eclesiástico no intuito de servir, mas como lobo devorador, anseia pela hora de conseguir dominar através da sua autoridade todo aquele se deixa enganar.

Enfim... São tantos os argumentos que seu fosse aqui detalhar mesmo, não pararia mais de escrever. Resumindo a diferença toda está na INTENÇÃO DO CORAÇÃO. O cristão não está preocupado com status e sim com mudança de vida, ao contrário, o religioso vive em função da sua aparência, da constante busca pela aprovação dos homens e não de Deus.

Infelizmente, esses são os que perturbam a paz e tiram o sossego do mais fraco, do menor, do humilde, do que busca com sinceridade conhecer e entender os verdadeiros ensinamentos (a sã doutrina bíblica e não doutrina de homens) criando ambientes de discórdia, brigas e discussões sem fim. Nunca estão satisfeitos. Estão sempre criticando tudo e a todos. São murmuradores, reclamadores.

Para finalizar, o religioso quando lê um texto como esse, não julga o conteúdo, procura por erros gramaticais, erros teológicos  – afinal, ele precisa ter do que reclamar ou ao que criticar levianamente, gratuitamente  –, procura versículos para contradizer, e principalmente julga um texto desses como porta aberta para libertinagem. Fala do que não conhece, julga sem conhecimento de causa, odeia sem motivo, nunca está em paz consigo mesmo e muito menos com o próximo.

Partindo do princípio de que cada um dará conta de si mesmo no tribunal de Cristo e de que a salvação é individual, sugiro ao religioso que pare de se meter na vida do outro e vá buscar a Deus enquanto é tempo.

Esse é um apelo simbólico a atenção de todos os que foram perseguidos e maltratados por esses religiosos. Não aceite jugo algum de condenação, perto está o Senhor e esse sim virá para julgar toda a humanidade com justiça, precisão, retidão e equidade. Ele é o único que tem poder e autoridade para isso. Só Ele tem conhecimento profundo da sua vida e realmente sonda os seus pensamentos, antes mesmo de sair uma palavra da sua boca (Salmo 139), Ele já sabe (Hebreus 4:12,13). 

Independente de qualquer coisa, aquilo que estiver fora da doutrina bíblica, deve ser confessado a Ele, dessa forma, com um simples gesto de arrependimento seu (deixando, largando o que realmente for errado), Ele se apresentará de mãos estendidas para te acolher com o seu perdão, derramando sobre sua vida, a única paz que excede todo entendimento, a paz que só Ele pode dar. A benignidade do Senhor dura para sempre.

Aqui estão 10 diferenças básicas e práticas entre um crente e cristão:


  • 1. Um crente crê em Jesus. Um cristão segue os seus comandos.
  • 2. Um crente vai à igreja religiosamente. O cristão sabe que a comunidade da igreja é paradigma a sua fé.
  • 3. Um crente lê a Bíblia, quando as coisas ficam difíceis. Um cristão lê a Bíblia regularmente.
  • 4. Um crente ora quando as coisas ficam difíceis. Um cristão dá graças, não importa as circunstâncias.
  • 5. Um crente torce a Bíblia para se adequar ao seu estilo de vida. Um cristão trabalha para tornar seu estilo de vida parecido com os ensinamentos da Bíblia.
  • 6. Um crente vai sacrificar quando é conveniente. Um cristão acredita no potencial e abrangente sacrifício de Cristo.
  • 7. Um crente dizima por baganha, medo e/ou obrigação. Um cristão dizima voluntariamente, por fé, por amor e sem importar com os riscos.
  • 8. Um crente está em conformidade com a pressão ou a cultura. Um cristão se mantém firme contra a tentação e não negocia seus princípios, suas convicções tendo-as firmada na inequívoca e inviolável Palavra de Deus.
  • 9. Um crente irá compartilhar sua fé quando é confortável. Um cristão irá partilhar a sua fé, independentemente do cenário.
  • 10. Um crente sabe sobre Jesus, conhece sua história. O cristão conhece Jesus como seu Senhor e Salvador, se relaciona com Ele.

Conclusão


Nada sei sobre a veracidade do fato narrado abaixo, mas, contudo, ele serve como uma excelente lição acerca da diferença entre a religiosidade e o ser (verbo) cristão no sentido prático da palavra (tratado no texto como espiritualidade).

O texto mais lúcido que li sobre o episódio envolvendo os jogadores do Santos numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de crianças com deficiência cerebral para entregar ovos de Páscoa. Uma parte dos atletas recusaram-se a entrar na entidade e preferiram ficar dentro do ônibus do clube, sob a alegação de que são evangélicos.
"Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço de que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.  
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualidade, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.  
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com 'd' minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.  
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero e, inclusive, religião. 
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental."  –  Ed Rene Kivitz [Teólogo, escritor e mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, Ed René Kivitz é pastor presidente da Igreja Batista de Água Branca (IBAB), situada na capital paulistana.]



Acho que já até aqui já deu para você se identificar. Afinal, você é um crente ou um cristão? Lembrando que um cristão pode até ser crente, mas um crente nunca será essencialmente um cristão.

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