domingo, 20 de novembro de 2016

NÃO TENHO DO QUE ME ENVERGONHAR

Em Gênesis 3:7, vemos o episódio em que Adão e Eva após terem desobedecido a palavra de Deus, coseram folhas de figueira para esconderem a nudez. Porque não foram fiéis, a consciência foi despertada em relação ao pecado e consequentemente sentiram vergonha de si mesmos e medo de Deus, por isto, tentaram esconder de si próprios (usando folhas) como de Deus (correndo para trás das árvores do Jardim, 3:8). Mas, o que aprendemos com essa enigmática e, dependendo da interpretação, controversa passagem?

O ponto de vista da humanidade


A natureza da humanidade tende não revelar sua verdadeira identidade, no fundo o que se sente é vergonha de um relacionamento com Deus aquém da expectativa que a Palavra orienta, é quase que inaceitável permitir que as pessoas em nossa volta percebam que somos mentirosos, insensíveis, descompromissados, invejosos, cobiçosos, inseguros, preguiçosos, infiéis ao nosso cônjuge e etc. Como escape usamos muitas vezes as "folhas da figueira" na tentativa de cobrir nosso pecado ao invés de revelar as virtudes de Deus.

As "folhas da figueira" representam a força do homem contra a verdade sobre si mesmo. Humildade não é ser pobre, cegamente submisso, nem tampouco omisso e passivo a tudo, mas é revelar quem verdadeiramente somos, independente do desconforto próprio ou a outros. Revelar nossas fraquezas tem sentido à restauração, uma vez que desejamos isto como um propósito.

No texto de Gênesis 3:7 fala que os pais da humanidade, Adão e Eva "...coseram folhas de figueira, e fizeram cintas para si"; porém se você ler o versículo 10, ao ser procurado por Deus, Adão diz: "...porque estava nu, tive medo e me escondi". Ou seja, já não estava com as tais cintas porque possivelmente secaram com a luz do sol.

Toda força do homem chega ao seu fim e quando menos ele espera, terá que se apresentar a Deus nu, despedido da vergonha externa, coberto com a vergonha interna. Mas Deus não os deixou, Ele deu segurança que precisavam: peles de animais, o derramamento de sangue; um apontamento profético ao sacrifício de Jesus, representando a salvação de todos os eleitos. Jesus se despiu de sua glória e se vestiu com a vergonha do pecado da humanidade. Isto é maravilhoso!


Sem ter do que se envergonhar


Tantos cristãos vivem suas vidas atormentados com a culpa e a vergonha. Eles se lembram de coisas que fizeram, os pecados que cometeram, quer dois dias atrás, quer há dois anos; e vivem sob uma nuvem de vergonha. Essa vergonha machuca, queima, incapacita. Isso levanta esta questão: Qual é o lugar da culpa, qual é o lugar da vergonha na vida de um cristão? Quero tentar responder essa questão hoje.

Precisamos começar distinguindo a culpa e a vergonha. Eis como eu as diferencio: 
  • Culpa é a realidade objetiva de que eu cometi uma ofensa ou crime; 
  • Vergonha é a experiência subjetiva de sentir humilhação ou angústia por causa do que eu fiz. 
Deus nos fez de tal forma que o pecado incorre na culpa e a culpa gera a vergonha. No entanto, existe um porém e uma advertência: Culpa e vergonha vêm em formas úteis e em formas paralisantes que não proporcionam ajuda. Culpa e vergonha podem ser um dom de Deus ou uma maldição de Satanás. Entendo isso na fala do apóstolo Paulo ao escrever sua epístola aos romanos:
"...Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego... (1:16)"
A expressão "Não me envergonho do evangelho" quer dizer que Paulo se gloriava no evangelho e considerava alta honra proclamá-lo. Ao levar em conta, porém, todos os fatores que circundavam o apóstolo, poderíamos perguntar: Por que Paulo seria tentado a envergonhar-se do evangelho ao planejar sua viagem para Roma?
  • a) Porque o evangelho era identificado com um carpinteiro judeu que fora vergonhosamente crucificado. 
Os romanos não cultivavam nenhuma apreciação especial pelos judeus, e a crucificação era a forma de execução mais abjeta, reservada aos criminosos. Além do mais, Roma era uma cidade altiva, e os cristãos não faziam parte da elite da sociedade. Eram pessoas comuns e, até mesmo, escravos. Por isso, para os orgulhosos romanos, a ideia de um judeu fabricador de tendas planejar uma viagem a Roma para pregar o evangelho parecia cômica.
  • b) Porque naquela época os sábios do mundo nutriam desprezo pelo evangelho. 
"Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus... Mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (1 Coríntios 1:18,23-25)." 
Naquela época, Roma, a capital do império romano, era a sede do poder mundial. Roma era uma cidade orgulhosa. Os romanos pensavam que tinham tudo. Agora, Paulo deseja ir a Roma para compartilhar o evangelho. Alguns podiam objetar que não havia nada a receber de um pregador cristão. Eles tinham muitos deuses. Tinham o poder político. Tinham riquezas e glórias humanas. E nesse contexto que Paulo diz: "Eu não me envergonho do evangelho".
  • c. Porque pelo evangelho Paulo já havia enfrentado muitas dificuldades. 
Por causa do evangelho Paulo já havia sido perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém, apedrejado em Listra, açoitado em Filipo, enxotado de Tessalônica e Bereia, chamado de tagarela em Atenas e tachado de impostor em Corinto. 

Por causa do evangelho, Paulo enfrentava lutas que estavam além de suas forças. Por causa desse evangelho, ainda enfrentaria prisões e o próprio martírio. Porém, ele diz com insólita galhardia: "Eu não me envergonho do evangelho".

Da vergonha ao arrependimento


Quando peco contra Deus posso verificar que minha consciência me acusa, ela convence-me de que eu errei. Minha culpa, a compreensão de que eu pequei, traz um sentimento de vergonha. Essa culpa e vergonha é um dom de Deus quando me motiva a arrepender-me do meu pecado, a olhar novamente para a cruz de Cristo. Nada de desculpas, nada de justificavas pessoais. O sangue do Cordeiro já foi derramado.

Quando me arrependo do pecado, sou assegurado por Deus de que o próprio Cristo já lidou com a culpa desse pecado. Na cruz, a culpa dessa ofensa foi transferida para Cristo. Ele levou esse pecado – a culpa completa, objetiva e legal do pecado – sobre si de tal forma que o meu pecado tornou-se o Seu pecado. Jesus Cristo tomou todo pensamento abominável, olhar adúltero, palavras maldosas e todos outros pecados sobre si mesmo. Ele levou esse pecado até a cruz e sofreu a ira de Deus contra isso ao ponto que a justiça foi satisfeita. Isso significa que a ofensa foi verdadeira e completamente paga. Eu já não sou culpado diante de Deus!

No entanto, Cristo fez mais que isso. Ele não somente levou a minha culpa, como também me deu sua justiça: Essa é a grande "troca" do evangelho; que meu pecado foi transferido a Ele e Sua justiça foi transferida a mim. Agora, eu sou não somente não pecador
  ou seja, eu estou mais sob o domínio do pecado  , mas na verdade sou justo. Como a culpa da ofensa se foi, a vergonha se foi também. Como o pecado já não é meu, a vergonha já não é minha.

Pense sobre isso. O pecado não é mais meu, o que significa que a culpa não é mais minha, que significa que a vergonha não é mais minha. A culpa e a vergonha daquele pecado pertencem agora a Cristo. Se há alguém que deve sentir vergonha daquele pecado, não sou eu, mas Cristo! Você acha que Cristo está ao lado do Pai hoje, atormentado com a vergonha por cauda do adultério, assassinato e inveja que ele levou sobre si? Claro que não! Cristo sabe que esses pecados já foram tratados, que eles foram perdoados, que eles foram removidos tão longe quanto o leste é do oeste. Não foi deixada nenhuma vergonha pra Ele sentir.

Assim, por que, então, eu sinto vergonha pelos pecados que cometi há tanto tempo atrás? Por que fico tão envolto em culpa e vergonha? Porque Satanás quer que eu fique incapacitado pela vergonha, que eu duvide que ela foi tratada, quer convencer-me de que eu ainda preciso carregar o peso dela. Ele quer destruir minha alegria, paralisar minha utilidade para a igreja e ele consegue fazê-lo envolvendo-me em culpa e vergonha.

O belíssimo e clássico hino, do século XIX, "Before the Throne of God Above" ["Perante o Trono"] fala poderosamente sobre perdão para a culpa e a vergonha. Vejamos a tradução:
'Quando me lembra, o tentador,De minha culpa e meu pecar...
Aqui está Satanás, ativamente trazendo pecados antigos à mente e convencendo-me de que eu ainda carrego a culpa e a vergonha de cada um deles. Mas…
...Elevo os olhos ao SenhorQue pôs um fim ao meu pesarSendo inocente, Ele morreu,Tomando a Si a minha vez,De Deus a ira satisfez,Olhando a cruz me perdoou.'


A culpa do meu pecado, a vergonha dele, não pode suportar aquele olhar para a cruz, pois lá vejo a morte de Cristo e, com isso, a morte do pecado, culpa e vergonha.

Conclusão


Ser humilde em primeiro lugar não é apresentar quem você não é/ou o que não pode realizar, é deixar que as pessoas vejam quem é de fato. Ser humilde não é esconder das pessoas e de Deus o que há no coração. A Bíblia diz: 
"Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus ?" - Malaquias 6:8
Humildade é uma ordem para mim e para nós.

Cristão, quando você cometer pecado e sentir vergonha, abrace isso como uma oportunidade para olhar novamente para o Senhor, se arrepender desse pecado, pregar o evangelho assim mesmo, sem qualquer vergonha e assegurar-se novamente da graça do Senhor sobre si àqueles que colocam sua fé em Cristo. Então, abracemos a liberdade do perdão e não sigamos em frente na segurança de que Jesus já sentiu toda a vergonha por nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário