segunda-feira, 7 de novembro de 2016

FILMES QUE EU VI - 23: "EDWARD, MÃOS DE TESOURA"

Os filmes do cineasta Tim Burton são uma verdadeira viagem. Ele usa uma incrível linguagem visual inusitada que virou sua marca registrada e inconfundível. Burton imprimiu sua marca até quando ficou responsável pela direção de um dos Batmans (1989). Mas não é da versão de Burton do homem morcego que eu vou falar aqui e sim de um outro filme seu que virou um dos clássicos do cinema: o maravilhoso

Edward, Mãos de Tesoura


Edward, Mãos de Tesoura foi o primeiro exemplar da longa parceria de Burton com o também cultuado ator Johnny Depp (o capitão Jack Sparrow da franquia Piratas do Caribe). Foi um projeto pessoal escrito, produzido e dirigido pelo talentoso diretor em uma época de frescor criativo, quando ele não se limitava a fazer refilmagens personalizadas de outros filmes (e séries) clássicos. 

Edward, Mãos de Tesoura ("Edward Scissorhands") é um filme de 1990, dos gêneros romance e fantasia que me faz chorar todas as vezes que assisto. Sim, já assisti várias vezes e não me canso de assistir. A trilha sonora é ótima, o enredo é bom e como sempre a atuação do Johnny é perfeita! Ele não fala muito no filme, mas suas expressões já falam por si só.

Tim Burton, mãos de sucessos


Tim Burton
Beetlejuice, Lydia, Batman, Coringa, Mulher-Gato e principalmente o Pinguim, Ed Wood, Edward Bloom (Peixe Grande), Willy Wonka, Ichabod Crane, Sweeney Todd e tantos outros. O que esses personagens têm em comum? São excluídos, de alguma forma, da complexa teia de relações sociais. E são os outsiders, a matéria-prima inspiradora de toda a carreira do fantástico diretor.

A criatura gótica Edward da película em questão não é diferente. Podemos entender as "mãos" de tesoura do personagem como uma grande metáfora para retratar um ser completamente inadaptado ao convívio social ou como uma forma lúdica e fantasiosa de contar o drama de um freak, aberração, de uma pessoa deformada.

Vicent Price (✰1911/✞1993)
Edward Mãos de Tesoura foi o último filme do ícone do terror Vincent Price (aquele que fez participação com voz aterrorizante no final do hit Thriller, do Michael Jackson), que veio a falecer pouco depois. Ironicamente, sua última cena foi a morte de seu personagem, o cientista que criou o dócil Edward, mas o deixou inacabado. Vincent Price trabalhou em dezenas de filmes de terror desde os anos 40 e era um dos maiores representantes do gênero junto com Christopher Lee (✰1922/✞2015) e Peter Cushing (✰1913/✞1971).

A história


Após a morte de seu criador, Edward fica em completo isolamento em uma casa no alto de uma colina, até ser encontrado por uma amigável vendedora de cosméticos. Ela decide levá-lo para o mundo civilizado e hospedá-lo em sua casa. Em um primeiro momento, todos ficam espantados e curiosos com a presença de uma estranha figura como Edward. Logo, ele se sobressai criando estilosos cortes de cabelo nas mulheres da vizinhança e fazendo esculturas nos jardins das casas padronizadas do subúrbio multicolorido.

No entanto, a tal sociedade "normal" retratada nos filmes de Burton é geralmente esquisita, idiota, caricata e alienada. Povoada por personagens hipócritas de valores deturpados. Exageradamente coloridos e essencialmente mais monstruosos do que os injustiçados protagonistas dos filmes. Não demora para que Edward seja transformado em persona non grata e perseguido violentamente pelos moradores da vizinhança.

Mesmo diferente do padrão estético "aceitável", Edward é talentoso e possui sentimentos. É uma criatura capaz de sentir afeição, carinho e amor. E de ser amado. Essa mensagem é bastante clara e básica no filme. O problema humano é que a curiosidade se torna repulsa, o amor vira ódio, a admiração se deforma em inveja e no final, se destrói o que não se compreende.

Kim (Wynona Ryder, que à época era namorada de Deep na vida real) se apaixona por Edward e este é hostilizado pelo agressivo e ciumento namorado dela. Além deste, outra personagem sintetiza bem a feiura dessa sociedade: a dondoca suburbana Joyce (muito bem interpretada por Kathy Baker), que tenta transar com Edward e diante da assustada rejeição, passa a demonizá-lo e incentivar que os outros moradores o rejeitem.

Crítica social contra a intolerância


Deep e Wynona
A sociedade assustadoramente comum, ironizada e atacada pelo diretor está presente em praticamente todos os seus filmes, mas seu deboche encontra-se mais explícito nos filmes Edward, Mãos de Tesoura, Marte Ataca! (1996), e em suas versões de Planeta dos Macacos (2001) e A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005).

Trilha sonora


Kate Baker, impagável como a vilã Joyce
Danny Elfman, ex-líder do Oingo Boingo (que por aqui fez sucesso em 1989, com o hit Stay - uma das melhores e mais criativas bandas estadunidenses) compôs as trilhas-sonoras de quase todos os filmes de Tim Burton. 

A de Edward Mãos de Tesoura é uma das mais emotivas e está entre seus melhores trabalhos junto do diretor. A doce música-tema capta toda a aura de pureza, tristeza e solidão do personagem. 

Conclusão


O filme é uma fábula moderna com uma trama aparentemente simples, mas talvez as mensagens mais honestas e profundas possam ser encontradas nas manifestações mais singelas. O filme recebeu alguns prêmios:

  • Oscar 1991 (EUA) – Recebeu uma indicação, categoria de melhor maquiagem. Não ganhou. Foi marmelada, sim senhor.
  • Globo de Ouro 1991 (EUA) Recebeu uma indicação, na categoria de melhor ator – comédia/musical (Johnny Depp). Mais marmelada! Humpft!!!
  • Prêmio Saturno 1991 (EUA) – Venceu na categoria de melhor filme de fantasia. Indicado ainda na categoria de melhor atriz (Winona Ryder), melhor ator coadjuvante (Alan Arkin), melhor atriz coadjuvante (Dianne Wiest), melhor figurino e melhor música. Tomei nojo de marmelada.
  • BAFTA 1992 (Reino Unido) – Venceu na categoria de melhor produção de arte. Indicado nas categorias de melhor figurino, melhor maquiagem e melhores efeitos especiais. Se eu ver marmelada na minha frente eu vomito.
  • Premios Sant Jordi 1992 (Espanha) – Venceu nas categorias de melhor atriz estrangeira (Winona Ryder) e melhor filme estrangeiro.
Todo romance, ou até mesmo contos de fadas tem um final feliz onde o "viveram felizes para sempre" ,SEMPRE acontece, porém, apesar deste filme ser classificado como um romance e conto de fadas moderno, ele tem um final meio que inesperado. Bom, eu não contarei como é o final, pois se você ainda não assistiu ao filme, não darei spoilers! (Apesar de achar isso um pouco difícil, mas tudo bem). Enfim, super recomendo que assistam o filme e depois você irá entender o meu ódio por marmelada.

Ficha técnica


Filme dirigido por Tim Burton, com roteiro baseado em história do mesmo e de Caroline Thompson. Foi estrelado por Johnny Depp e Winona Ryder. O filme foi produzido pela 20th Century Fox. A música é de Danny Elfman, a direção de fotografia de Stefan Czapsky, o desenho de produção de Bo Welch, a direção de arte de Tom Duffield, o figurino de Colleen Atwood, a edição de Richard Halsey e os efeitos especiais de Dreamstate Effects e Stan Winston Studio.

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