quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A SÃ DOUTRINA - OS LIVROS APÓCRIFOS

Dando continuidade à série especial A Sã Doutrina, vamos entender sobre o que são os Livros Apócrifos e o porque de eles não  constarem nas traduções das Bíblias Protestantes.

A Verdade X a Tradição


"Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver; a fim de que todo homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar todas as boas ações. (...) "Porquanto a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes; capaz de penetrar até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é sensível para perceber os pensamentos e intenções do coração." - 2 Timóteo 3:16, 17; Hebreus 4:12 [Versão King James Atualizada]

A Constituição Dogmática sobre Revelação Divina, o Concílio Vaticano II, declarou que "Ela (a igreja) sempre considerou as Escrituras junto com a tradição sagrada como a regra suprema de fé, e sempre as considerará assim".

Nós, cristãos protestantes, rejeitamos a tradição como regra de fé. Quando a Igreja Católica Romana se refere ao cânon [A palavra "cânon" significa régua, e em relação à Bíblia, significa a regra usada para determinar se um certo livro podia ser medido satisfatoriamente de acordo com um padrão. No entanto, é importante ressaltar que os manuscritos bíblicos eram canônicos no momento em que foram escritos. Escritura era Escritura quando a caneta tocou o pergaminho.]  do Velho Testamento inclui uma série de livros chamados "Apócrifos" [Do grego "apokryphos" falso, suspeito. Expressão usada quando um fato ou uma obra não tem sua autenticidade provada, ou seja, ela tem sua origem suspeita ou duvidosa.], os quais não aparecem nas versões evangélica e hebraica da Bíblia. 

O resultado disto foi que, na opinião popular dos católicos, existem duas Bíblias: uma católica e outra protestante. Mas semelhante asseveração não é certa. Só existe uma Bíblia, uma Palavra (escrita) de Deus.

Apócrifos, o que significa?


No grego clássico, a palavra apokrypha significava "oculto" ou "difícil de entender". Posteriormente, tomou o sentido de "esotérico" ou algo que só os iniciados podem entender; não os de fora. Na época de Irineu e de Jerônimo (séculos III e IV), o termo apokrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo Testamento, mesmo aos que foram classificados previamente como "pseudepígrafos".

Como os apócrifos foram aprovados


A Igreja Romana aprovou os apócrifos em 8 de Abril de 1546 para combater a Reforma protestante. Nessa época, os protestantes se opunham violentamente às doutrinas romanistas do purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras etc. A primeira edição da Bíblia católico-romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do papa Clemente VIII.

Os reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos, colocando-os entre o Antigo e o Novo Testamentos, não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor literário histórico. Isto continuou até 1629. A famosa versão inglesa King James (Versão do Rei Tiago) de 1611 ainda os trouxe. Mas, após 1629, as igrejas reformadas excluíram totalmente os apócrifos das suas edições da Bíblia, e 
"induziram a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, sob pressão do puritanismo escocês, a declarar que não editaria Bíblias que tivessem os apócrifos, e de não colaborar com outras sociedades que incluíssem esses livros em suas edições". 
Melhor assim. Tinham em vista evitar confusão entre o povo simples, que nem sempre sabe discernir entre um livro canônico e um apócrifo.

Há várias razões porque rejeitamos os apócrifos. Eis algumas delas.


Porque rejeitamos os apócrifos?


Não temos nenhum registro de alguma controvérsia entre Jesus e os judeus sobre a extensão do cânon. Jesus e os autores do Novo Testamento citam, mais de 295 vezes, várias partes das Escrituras do Antigo Testamento como palavras autorizadas por Deus, mas nem uma vez sequer mencionam alguma declaração extraída dos livros apócrifos ou qualquer outro escrito como se tivesse autoridade divina.

  • Historicidade


A conquista da Palestina por Alexandre, o Grande, ocasionou uma nova dispersão dos judeus por todo o império greco-macedônico. Morrendo Alexandre, seu domínio dividiu-se em quatro ramos, ficando o Egito sob a dinastia dos Ptolomeus. O segundo deles, Ptolomeu Filadelfo, preocupou-se em enriquecer a famosa biblioteca que seu pai havia fundado. 

Muitos livros foram traduzidos para o grego. Segundo um relato de Josefo, o sumo sacerdote de Jerusalém, Eleazar, enviou, a pedido de Ptolomeu Filadelfo, uma embaixada de 72 tradutores a Alexandria, com um valioso manuscrito do Velho Testamento, do qual traduziram o Pentateuco. A tradução continuou depois, não se completando senão no ano 150 antes de Cristo.

Essa tradução, que se conhece com o nome de Septuaginta ou Versão dos Setenta, foi aceita pelo Sinédrio judaico de Alexandria; mas, não havendo tanto zelo ali como na Palestina e devido às tendências helenistas contemporâneas, os tradutores alexandrinos fizeram adições e alterações e, finalmente, sete dos livros apócrifos foram acrescentados ao texto grego como apêndice do Velho Testamento. Mas os judeus da Palestina nunca os aceitaram no cânon de seus livros sagrados.

Depois de referir-se aos cinco livros de Moisés, aos treze livros dos profetas e aos demais escritos (os quais "incluem hinos a Deus e conselhos pelos quais os homens podem pautar suas vidas"), ele continua afirmando: 
"Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja".

  • Testemunho dos pais da Igreja


Orígines ➡ No terceiro século a.D., Orígenes (que morreu em 254) deixou um catálogo de vinte e dois livros do Antigo Testamento, preservado na História Eclesiástica de Eusébio, VI: 25. Inclui a mesma lista do cânone de vinte e dois livros de Josefo (e do Texto Massorético), inclusive Ester, mas nenhum dos apócrifos é declarado canônico, e se diz explicitamente que os livros de Macabeus estão "fora desses [livros canônicos]".

Tertuliano ➡ Tertuliano (160-250 d.C.) era aproximadamente contemporâneo de Orígenes. Declara que os livros canônicos são vinte e quatro.

Hilário ➡ Hilário de Poitiers (305-366) os menciona como sendo vinte e dois.

Atanásio ➡ De modo semelhante, em 367 d.C., o grande líder da igreja, Atanásio, bispo de Alexandria, escreveu sua Carta Pascal e alistou todos os livros do nosso atual cânon do Novo Testamento e do Antigo Testamento, exceto Ester.

Jerônimo ➡ (340-420. a.D.) fez a seguinte citação:
"Este prólogo, como vanguarda, com capacete das Escrituras, pode ser aplicado a todos os livros que traduzimos do hebraico para o latim, de tal maneira que possamos saber que tudo quanto é separado destes deve ser colocado entre os apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho de Siraque, e Judite e Tobias e o Pastor (supõe-se que seja o Pastor de Hermas), não fazem parte do cânon. Descobri o Primeiro Livro de Macabeus em hebraico; o Segundo foi escrito em grego, conforme testifica sua própria linguagem".

Melito ➡ A mais antiga lista cristã dos livros do Antigo Testamento que existe hoje é a de Melito, bispo de Sardes, que escreveu em cerca de 170 d.C.
"Quando cheguei ao Oriente e encontrei-me no lugar em que essas coisas foram proclamadas e feitas, e conheci com precisão os livros do Antigo Testamento, avaliei os fatos e os enviei a ti. São estes os seus nomes: cinco livros de Moisés, Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio, Josué, filho de Num, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, os dois livros de Crônicas, os Salmos de Davi, os Provérbios de Salomão e sua Sabedoria, Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, Jó, os profetas Isaías, Jeremias, os doze num único livro, Daniel, Ezequiel, Esdras".
É digno de nota que Melito não menciona aqui nenhum livro dos apócrifos, mas inclui todos os nossos atuais livros do Antigo Testamento, exceto Ester. Mas as autoridades católicas passam por cima de todos esses testemunhos para manter, em sua teimosia, os apócrifos!

As heresias dos apócrifos


  • Tobias - (200 a.C.) - É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel (pai de Tobias) e alguns milagres preparados pelo anjo Rafael.
Apresenta:
➡ justificação pelas obras – 4:7-11; 12:8;
➡ mediação dos Santos – 12:12;
➡ superstições – 6:5, 7-9,19;
➡ um anjo engana Tobias e o ensina a mentir – 5:16 a 19.

  • Judite - (150 a.C.) É a história de uma heroína viúva e formosa que salva sua cidade enganando um general inimigo e decapitando-o. Grande heresia é a própria história onde os fins justificam os meios.
  • Baruque - (100 a.D.)  Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista do profeta Jeremias, numa exortação aos judeus quando da destruição de Jerusalém. Mas é de data muito posterior, quando da segunda destruição de Jerusalém, no pós-Cristo. Traz, entre outras coisas, a intercessão pelos mortos – 3:4.
  • Eclesiástico - (180 a.C.) - É muito semelhante ao livro de Provérbios, não fosse as tantas heresias:
➡ justificação pelas obras – 3:33,34;
➡ trato cruel aos escravos – 33:26,30; 42.1, 5;
➡ incentiva o ódio aos samaritanos – 50:27,28
  • Sabedoria de Salomão - (40 a.D.) Livro escrito com finalidade exclusiva de lutar contra a incredulidade e idolatria do epicurismo (filosofia grega na era Cristã). Apresenta:
➡ corpo como prisão da alma – 9:15;
➡ doutrina estranha sobre a origem e o destino da alma – 8:19,20;
➡ salvação pela sabedoria – 9:19.
  • 1 Macabeus - (100 a.C.) - Descreve a história de três irmãos da família "Macabeus", que no chamado período interbíblico (400 a.C.  – 3 a.D) lutam contra inimigos dos judeus visando a preservação do seu povo e terra.
  • 2 Macabeus - (100 a.C.) Não é a continuação de 1 Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de lendas e prodígios de Judas Macabeu. Apresenta:
➡ a oração pelos mortos – 12:44 - 46;
➡ culto e missa pelos mortos – 12:43;
➡ o próprio autor não se julga inspirado –15:38-40; 2:25-27;
➡ intercessão pelos santos – 7:28 e 15:14
  • Adições a Daniel:
➡ Capítulo 3:24-90 - o cântico dos três jovens na fornalha.
➡ Capítulo 13 - A história de Suzana – segundo esta lenda Daniel salva Suzana num julgamento fictício baseado em falsos testemunhos.
➡ Capítulo 14 - Bel e o Dragão – Contém histórias sobre a necessidade da idolatria.

Lendas, erros e outras heresias


1. Histórias fictícias, lendárias e absurdas. 


Tobias 6:1-4
"Partiu, pois, Tobias, e o cão o seguiu, e parou na primeira pousada junto ao rio Tigre. E saiu a lavar os pés, e eis que saiu da água um peixe monstruoso para o devorar. À sua vista, Tobias, espavorido, clamou em alta voz, dizendo: 'Senhor, ele lançou-se a mim.' E o anjo disse-lhe: 'Pega-lhe pelas guelras, e puxa-o para ti.' Tendo assim feito, puxou-o para terra, e o começou a palpitar a seus pés".

2. Erros históricos e geográficos.


Esses livros contêm erros históricos, geográficos e cronológicos, além de doutrinas obviamente heréticas; eles até aconselham atos imorais (Judite 9:10,13). Os erros dos apócrifos são frequentemente apontados em obras de autoridade reconhecida. Por exemplo: o erudito bíblico DL René Pache (1904-1979, renomado teólogo e biblista francês) comenta: 
"Exceto no caso de determinada informação histórica interessante (especialmente em 1 Macabeus) e alguns belos pensamentos morais (por exemplo, Sabedoria de Salomão). Tobias contém certos erros históricos e geográficos, tais como a suposição de que Senaqueribe era filho de Salmaneser (1:15) em vez de Sargão II, e que Nínive foi tomada por Nabucodonosor e por Assuero (14:15) em vez de Nabopolassar e por Ciáxares... Judite não pode ser histórico porque contém erros evidentes... [Em 2 Macabeus]. Há também numerosas desordens e discrepâncias em assuntos cronológicos, históricos e numéricos, os quais refletem ignorância ou confusão."

3. Ensinam artes mágicas ou de feitiçaria como método de exorcismo


Tobias 6.5-9 
"Então disse o anjo: 'Tira as entranhas a esse peixe, e guarda, porque estas coisas te serão úteis.' Feito isto, assou Tobias parte de sua carne, e levaram-na consigo para o caminho; salgaram o resto, para que lhes bastassem até que chegassem a Ragés, cidade dos Medos. Então Tobias perguntou ao anjo e disse-lhe: 'Irmão Azarias, suplico-lhe que me digas de que remédio servirá estas partes do peixe, que tu me mandaste guardar.' E o anjo, respondendo, disse-lhe: 'Se tu puseres um pedacinho do seu coração sobre brasas acesas, o seu fumo afugenta toda a casta de demônios, tanto do homem como da mulher, de sorte que não tornam mais a chegar a eles. E o fel é bom para untar os olhos que têm algumas névoas, e sararão'".
Este ensino de que o coração de um peixe tem poder para expulsar toda espécie de demônios contradiz tudo o que a Bíblia diz sobre superstição.

4. Ensinam que esmolas e boas obras limpam os pecados e salvam a alma


a) Tobias 12:8,9 
"É boa a oração acompanhada do jejum, dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro; porque a esmola livra da morte (eterna), e é a que apaga os pecados, e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna".
b) Eclesiástico 3:33  
"A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados".
A salvação por obras destrói todo o valor da obra vicária de Cristo em favor do pecador.

5. Ensinam o perdão dos pecados através das orações


Eclesiástico 3:4 
"O que ama a Deus implorará o perdão dos seus pecados, e se absterá de tornar a cair neles, e será ouvido na sua oração de todos os dias".
O perdão dos pecados não está baseado na oração que se faz pedindo o perdão, não é fé na oração, e sim fé naquele que perdoa o pecado.

6. Ensinam a oração pelos mortos


2 Macabeus 12:43-46  
"...e tendo feito uma coleta, mandou 12 mil dracmas de prata a Jerusalém, para serem oferecidas em sacrifícios pelos pecados dos mortos, sentindo bem e religiosamente a ressurreição (porque, se ele não esperasse que os que tinham sido mortos, haviam um dia de ressuscitar, teria por uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos); e porque ele considerava que aos que tinham falecido na piedade estava reservada uma grandíssima misericórdia. É, pois, um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (grifos meus).
É nesse texto de um livro não canônico que a Igreja Católica Romana baseia sua doutrina do purgatório.

7. Ensinam a existência de um lugar chamado purgatório


Sabedoria 3:1-4 
"As almas dos justos estão na mão de Deus, e não os tocará o tormento da morte. Pareceu aos olhos dos insensatos que morriam; e a sua saída deste mundo foi considerada como uma aflição, e a sua separação de nós como um extermínio; mas eles estão em paz (no céu). E, se eles sofreram tormentos diante dos homens, a sua esperança está cheia de imortalidade" (grifos meus).
A Igreja Católica baseia a doutrina do purgatório na última parte desse texto. Afirmam os católicos que o tormento em que o justo está é o purgatório que o purifica para entrar na imortalidade. Isto é uma deturpação do próprio texto do livro apócrifo.

8. Tobias 5.15-19

"E o anjo disse-lhe: 'Eu o conduzirei e to reconduzirei.' Tobias respondeu: 'Peço-te que me digas de que família e de que tribo és tu?' O anjo Rafael disse-lhe: 'Procuras saber a família do mercenário, ou o mesmo mercenário que vá com teu filho? Mas para que te não ponhas em cuidados, eu sou Azarias, filho do grande Ananias.' E Tobias respondeu-lhe: 'Tu és de uma ilustre família. Mas peço-te que te não ofendas por eu desejar conhecer a tua geração'".
Um anjo de Deus não poderia mentir sobre a sua identidade sem violar a própria lei santa de Deus. Todos os anjos de Deus foram verdadeiros quando lhes perguntado a sua identidade. Veja Lucas 1:19.

Decisão polêmica e eivada de preconceito


Resumindo todos esses argumentos, essa postura afirma que o amplo emprego dos livros apócrifos por parte dos cristãos desde os tempos mais primitivos é evidência de sua aceitação pelo povo de Deus. Essa longa tradição culminou no reconhecimento oficial desses livros, no Concílio de Trento, como se tivessem sido inspirados por Deus. Mesmo não-católicos, até o presente momento, conferem aos livros apócrifos uma categoria de paracanônicos, o que se deduz do lugar que lhes dão em suas Bíblias e em suas igrejas.

O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24) livros em hebraico, que, nas Bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século IV a.C. Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria. Visto que alguns dos primeiros pais da igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram esses livros em seus escritos, a igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. 

No entanto, até a época da Reforma esses livros não eram considerados canônicos. A canonização que receberam no Concílio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse Concílio foi polêmica e eivada de preconceito.

Que os livros apócrifos, seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que tiverem, não são canônicos, o que se comprova pelos seguintes fatos:

  1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos.
  2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
  3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua canonicidade.
  4. Nenhum concílio da igreja os considerou canônicos senão no final do século IV.
  5. Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os livros apócrifos.
  6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.
  7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras.
Em virtude desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se fossem Palavra de Deus, nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã. Com efeito, quando examinados segundo os critérios elevados de canonicidade estabelecidos, verificamos que aos livros apócrifos faltam:
  1. Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.
  2. Não detêm a autoridade de Deus. O prólogo do livro apócrifo Eclesiástico (180 a.C.) diz: "Muitos e excelentes ensinamentos nos foram transmitidos pela Lei, pelos profetas, e por outros escritores que vieram depois deles, o que torna Israel digno de louvor por sua doutrina e sua sabedoria, visto não somente os autores destes discursos tiveram de ser instruídos, também os próprios estrangeiros se podem tomar (por meio deles) muito hábeis, tanto para falar como para escrever. Por isso, Jesus, meu avô, depois de se ter aplicado com grande cuidado à leitura da Lei, dos profetas e dos outros livros que nossos pais nos legaram, quis também escrever alguma coisa acerca da doutrina e sabedoria... Eu vos exorto, pois, a ver com benevolência, e a empreender esta leitura com uma atenção particular e a perdoar-nos, se algumas vezes parecer que, ao reproduzir este retrato da soberania, somos incapazes de dar o sentido (claro) das expressões" (grifo meu). 
Este prólogo é um auto-reconhecimento da falibilidade humana.


Conclusão


Diante de tudo isso, pergunto: Merecem confiança os livros Apócrifos? A resposta obvia é enfático e sonoro: NÃO!

Natureza e número dos apócrifos do Antigo Testamento


Há quinze livros chamados apócrifos (quatorze, se a Epístola de Jeremias se unir a Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai). Com exceção de 2 Esdras, esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cristo.
  • Significado da palavra Pseudoepígrafado
Literalmente significa "escritos falsos" - Os apócrifos não são necessariamente escritos falsos, mas, sim, não-canônicos, embora também contenham ensinos errados ou hereges.

Diferença entre as Bíblias hebraicas, protestantes e católicas


  • 1. Bíblia hebraica [a Bíblia dos judeus]

a) Contém somente os 39 livros do VT

b) Rejeita os 27 do NT como inspirado, assim como rejeitou Cristo.

c) Não aceita os livros apócrifos incluídos na Vulgata (versão Católica Romana).

  • 2. Bíblia protestante

a) Aceita os 39 livros do VT e também os 27 do N.T.

b) Rejeita os livros apócrifos incluídos na Vulgata, como não canônicos.

  • 3. Bíblia católica

a) Contém os 39 livros do VT e os 27 do N.T.

b) Inclui, na versão Vulgata, os livros apócrifos ou não canônicos que são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1º e 2º de Macabeus, seis capítulos e dez versículos acrescentados no livro de Ester e dois capítulos de Daniel.

A seguir, a lista dos que se encontravam na Septuaginta:
  1. 3 Esdras
  2. 4 Esdras
  3. Oração de Azarias
  4. Tobias
  5. Adições a Ester
  6. A Sabedoria de Salomão
  7. Eclesiástico (Também chamado de Sabedoria de Jesus, filho de Siraque).
  8. Baruque
  9. A Carta de Jeremias
  10. Os acréscimos de Daniel
  11. A Oração de Manassés
  12. 1 Macabeus
  13. 2 Macabeus
  14. Judite

[Fontes de pesquisas: ICP - Instituto Cristão Pesquisa; Revista Defesa da Fé, ano 6, nº41, dezembro, 2001, pág. 54-59]

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