quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A SÃ DOUTRINA - A "TRINDADE"

Estudando a Escritura, constatamos que Deus é um ser triúno por natureza. Ele é o único Deus, manifestando-se em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ao longo da história do cristianismo surgiram outras concepções para explicar a natureza de Deus que divergiam do que a Bíblia afirma. Entre as mais conhecidas citamos o unitarismo e o modalismo.

Em contraste com a filosofia grega, cuja base repousa no conhecimento de si mesmo, o cristianismo tem como fundamento o conhecimento de Deus. Esse conhecimento é o "principio da sabedoria" (Provérbios 9:1) e a condição para a "vida eterna" (João 17:3). Somente através da revelação divina, conforme expressa em Sua Palavra, poderemos chegar a uma correta compreensão de Deus. Entretanto, ao estudarmos a respeito de Deus não nos devemos olvidar de que estamos em terreno sagrado.

Muito embora a palavra "trindade" não se encontre na Bíblia, a ideia por ela expressa é uma das verdades fundamentais das Escrituras. Na Bíblia, as prerrogativas divinas são atribuídas a três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Todos os demais conceitos teológicos são afetados direta ou indiretamente pela noção que tivermos dessa doutrina.

Evidência da Trindade no Antigo Testamento


Ainda que o Antigo Testamento não apresente provas tão claras para a doutrina da Trindade quanto às do Novo Testamento, nele podem ser encontradas grande número de evidências que atestam a existência de uma pluralidade na Divindade.

Em Gênesis 1, o nome hebraico para Deus é Elohim. Esse nome ocorre ao todo cerca de 2.500 vezes no Antigo Testamento, sendo ele a forma plural de El, que é o nome comum para Deus entre os semitas. Para alguns, o fato de Elohim ser um nome plural não prova a Trindade, mas apenas indica "a riqueza e a plenitude do Ser Divino".

Porém A. H. Strong (✟1836/✩1921 - Augustus Hopkins Strong foi um teólogo, educador e escritor batista norte americano) nos adverte que "o fato de Elohim ser algumas vezes usado num sentido restrito, como aplicável ao Filho (Salmos 45:6; cf. Hebreus 1:8), não nos deve impedir de crer que o termo era originalmente considerado como contendo uma alusão a certa pluralidade na natureza divina". E João 1:1-3 lança luz sobre o fato de que o Pai e o Filho estavam unidos na obra da Criação do mundo, e em Gênesis 1:2 temos o Espírito Santo também envolvido nessa obra.

No Antigo Testamento, encontramos ainda referências nas quais Deus fala de Si mesmo no plural, como por exemplo: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gênesis 1:26). Há quem interprete o plural como incluindo os anjos, mas qualquer inferência de que outros tenham tomado parte em nossa criação é completamente alheia ao capítulo como um todo e ao desafio presente em Isaías 40:14: "Com quem tomou Ele conselho?" Trata-se antes do plural de plenitude, que… haveria de ser revelado como tri-unidade, nos posteriores 'nós' e 'nossa' de João 14:23 (com 14:17).  Encontramos, portanto, na peculiar fraseologia de Gênesis 1:26 uma alusão a um sublime concílio entre as pessoas da Divindade (Ver também Gênesis 3:22; 11:7; Isaías 6:8.).

Outra evidência importante encontramos nos textos que se referem às manifestações do "Anjo do Senhor" (Gênesis 16:7-13; 18:1-13; 19:1-28; 22:11-16; 31:11-13; etc.), os quais apresentam uma indicação de distinções pessoais em Deus.

Em Malaquias 3:1 e Atos 7:35-38 o "Anjo do Senhor" é identificado como sendo Cristo, o Filho de Deus, que em Gênesis 31:11-13 é declarado ser Deus. Portanto, exatamente como o Espírito de Deus era uma expressão veterotestamentária aguardando seu esclarecimento completo no Pentecostes, assim "o Anjo do Senhor", como expressão referente ao próprio Senhor, ganha significado somente à luz dAquele '...que o Pai… enviou ao mundo', o Filho preexistente.

Segundo John Bright (✟1811/,✩1889) "a religião de Israel não se fundamentava em proposições teológicas abstratas, mas na memória de uma experiência histórica interpretada e correspondida… Israel acreditava que Iahweh, seu Deus, o havia livrado do Egito pelo poder de Sua onipotência e que, mediante uma aliança o havia constituído Seu povo".
 
Entretanto, mesmo nas profecias messiânicas encontramos indícios de uma pluralidade na Divindade. Em Isaías 9:6 o Messias é chamado "Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz", e no Salmo 45:6 e 7 o "Ungido de Deus" é dito ser Deus, à semelhança dAquele que O ungiu. No Salmo 33:4-6 e em Provérbios 8:12-31, aparecem a "Palavra" e a "Sabedoria" de Deus sendo personificadas como uma antecipação ao "Verbo" de Deus descrito no evangelho de João 1:1-14.

Já em Isaías 48:16 aparece uma distinta referência à Trindade: "Agora o Senhor Deus (o Pai) Me enviou a Mim (o Filho) e o Seu Espírito (o Espírito Santo)." Há também quem considere as palavras do rei Nabucodonosor, encontradas em Daniel 2:47, como uma referência à trindade: "Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses (o Pai), e o Senhor dos reis (o Filho), e o Revelador dos mistérios (o Espírito Santo)". Portanto, reconhecemos que o Velho Testamento contém uma clara antecipação da plena revelação da Trindade no Novo Testamento.

A Trindade no Novo Testamento


Uma vez que a revelação da verdade é progressiva, encontramos no Novo Testamento provas concretas da doutrina da Trindade, que lançam luz sobre as evidências encontradas no Antigo Testamento. O cumprimento das profecias messiânicas e a promessa do Espírito Santo são sumamente elucidativas para a compreensão deste tema.

Na promessa feita pelo anjo a respeito do nascimento de Jesus, encontramos uma referência distinta aos membros da Trindade (Lucas 1:35), que viria a tornar-se ainda mais notória por ocasião do Seu batismo. Nessa ocasião, o Filho de Deus foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como uma pomba, e o Pai falou: "Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo" (Mateus 3:16 e 17; Marcos 1:10 e 11; Lucas 3:21 e 22; João 1:32 e 33).

Os ensinos de Cristo são igualmente de natureza a enfatizar essa distinção. Na promessa do espírito Santo, Ele fala a respeito de "outro Consolador" (João 14:16 e 26), e todos os que viessem a crer deveriam também ser batizados "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19).

Igualmente na bênção apostólica aparece novamente referida a Trindade: "A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós" (2 Coríntios 13:13). O apóstolo Pedro inicia a sua primeira epístola com uma clara referência à Trindade (1 Pedro 1:2), e em Judas 20 e 21 ela também é mencionada.

Portanto o Novo Testamento reconhece o Pai como Deus (João 6:27, Efésios 6:23; 1 Pedro 1:2; etc.), a Jesus Cristo como Deus (João 1:1 e 18; 20:28; Romanos 9:5; Colossenses 2:2 e 9; Tito 2:13; Hebreus 1:8; 1 João 5:20; etc.), e ao Espírito Santo como Deus (Atos 5:3 e 4; 1 Coríntios 2:10 e 11; 1 Coríntios 3:16; etc.).

A Distinção Entre os Membros da Trindade


Muito embora a expressão "...porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um", que algumas versões da Bíblia trazem em 1 João 5:7,8, provavelmente não fazia parte do original e tenha sido acrescentada posteriormente, isto não invalida em nada a doutrina bíblica da Trindade. Alegar que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são simplesmente três aspectos diferentes de um único Ser Divino Se manifestar, é confundir o conceito bíblico a respeito. Se assim fosse, a quem Jesus Cristo estaria Se dirigindo ao orar ao Pai? Por que então deveriam ser mencionados separadamente os membros da Trindade tanto na fórmula do batismo (Mateus 28:19), como na bênção apostólica (2 Coríntios 13:13) e em outros textos? 

A Bíblia não apenas reclama natureza espiritual para os membros da Trindade, como também personalidades distintas entre o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Isto é claro não apenas nas características pessoais atribuídas aos três, como também no fato de o Pai ter enviado o Filho (João 14:24; 20:21) e o Pai e o Filho enviarem o Espírito Santo (João 14:16 e 26; 16:7). Alguns têm tido dúvidas quanto ao Espírito Santo, imaginando ser Ele apenas um poder despersonalizado proveniente de Deus; porém os ensinos de Cristo não deixam dúvidas a esse respeito. Ao prometer o Espírito Santo, Ele disse: "Convém-vos que Eu vá, porque se Eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, Eu for, eu vo-lo enviarei" (João 16:7). A palavra "Consolador" é a tradução do termo grego Paracleto, que em João 14:26 é identificado como sendo o Espírito Santo.

De acordo com o teólogo James Robertson, 
"do ensino de Jesus, não resta a menor dúvida que o outro Paracleto é uma pessoa. A cada passo, Jesus fala desta maneira: 'Ele vos ensinará todas as coisas'; 'Ele Me glorificará'. Personalidade está implicada no título 'Paracleto', o qual, em algumas versões, é traduzido impropriamente 'Confortador'. 
A palavra significa 'um que é chamado para ficar ao nosso lado, especialmente em ocasiões de dificuldade e conflito'. É, portanto, a palavra que designa um advogado, e é assim usada a respeito de Jesus mesmo, em 1 João 2:1, onde lemos: 'Nós temos um Paracleto (advogado) com o Pai, Jesus Cristo, o justo.' Está implicada também, no ensino de Jesus, que o outro Paracleto é uma pessoa divina. 
Jesus não poderia dizer que era melhor que Ele fosse, se o Seu substituto fosse menos do que divino. Nem poderia ter dito que '...ao que disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; porém, ao lhe falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro' (Mateus 12:32). Também não poderia ter juntado 'o Pai, o Filho e o Espírito Santo', como faz na fórmula do batismo (Mateus 28:19), se todos os três não fossem divinos".
Portanto, a doutrina da Trindade não está baseada em especulações e conjeturas humanas, mas na própria Revelação Divina – a Sua Palavra. Porém, uma vez que tenhamos compreendido a distinção que a Bíblia estabelece entre as pessoas da Trindade, deveremos também analisar o relacionamento existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Conclusão


A palavra "trindade" não aparece nas Bíblias comuns que usamos. Por esse motivo, eu evito o uso dela. Procuremos falar sobre assuntos bíblicos usando linguagem bíblica.

As pessoas que usam termos como trindade, Deus trino, etc. as empregam para explicar um conceito da existência de três pessoas distintas que podem ser chamadas de Deus. Vamos considerar, em termos bem resumidos, o que a Bíblia diz a respeito dessa ideia.
  • Há um só Deus (Efésios 4:6). O fato que existem mais de uma pessoa divina, como vimos acima, não sugere múltiplos deuses. A doutrina bíblica não se compara com as doutrinas politeístas de algumas religiões pagãs.
  • O Pai, o Filho e o Espírito Santo são pessoas distintas. No batismo de Jesus, cada um fez seu papel, concordando com os outros dois, mas distinto deles. Jesus subiu das águas; o Espírito desceu como pomba sobre Ele; o Pai falou dos céus (Marcos 1:9-11).
  • As doutrinas de algumas igrejas que dizem que o Filho e o Pai são a mesma pessoa contradizem afirmações óbvias das Escrituras: O Pai é maior do que o Filho (João 14:28). O Pai enviou e instruiu o Filho (João 14:24).
  • Jesus é Deus. As seitas que negam a divindade de Jesus trabalham muito para evitar o significado de diversas passagens. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, usam uma versão das Escrituras cheia de acréscimos e traduções equívocas calculadas justamente para negar as provas textuais da divindade de Jesus. Mas, ele é eterno, divino e merecedor de adoração (João 1:1; João 8:24,58; Mateus 4:10; 14:33; 28:9,17; João 9:38; Hebreus 1:6; Apocalipse 5:9-14; etc.)
  • O Espírito Santo é pessoa divina, não apenas força ativa. Reconhecemos algumas dificuldades quando estudamos a palavra "espírito" na Bíblia. Sabemos que o espírito do homem não é outra pessoa (1 Coríntios 2:11). Apesar de alguns trechos difíceis (veja o aviso de 2 Pedro 3:16), não podemos negar a personalidade do Espírito Santo.
  • O mesmo Pai que enviou Jesus enviou o Espírito (João 14:26). Jesus o chamou de "outro Consolador", mostrando que Ele pertence à mesma categoria que Jesus: uma pessoa divina (João 14:16).
  • Vários textos apresentam o Pai, o Filho e o Espírito Santo como pessoas unidas em essência mas distintas em personalidade (veja Mateus 28:19 e o último versículo de 2 Coríntios).
  • O Espírito ensina (João 14:26); habita nos fiéis como o Pai e o Filho o fazem (João 14:17,23) e intercede como Cristo também o faz (Romanos 8:26,34).
Para negar tais afirmações, alguns distorcem o sentido das passagens ou até jogam fora livros bíblicos que não apoiam suas doutrinas humanas. O verdadeiro seguidor de Cristo aceitará toda a Verdade, até as coisas difíceis de entender (João 8:32; 17:17; Deuteronômio 29:29). Que a compreensão daquilo que Ele é em essência, recaia sobre seu coração! Amém.

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