terça-feira, 27 de setembro de 2016

"DIA DO PERDÃO", MAIS UMA TENTATIVA DE JUDAIZAÇÃO DA IGREJA

"Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. (...) "Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas" (Filipenses 2:10,11; Apocalipse 7:9, grifos meus). 
Temos observado que várias igrejas hoje no Brasil estão vivendo cada vez mais de corpo inteiro a busca de uma judaização dos costumes e da doutrina da igreja (muito influenciado pelas tais Visões M-12, G-12 e congêneres). E ainda cometem a gafe de denominar tal movimento de "geração profética". Mas quem foi que profetizou isso? 

Olhando para as Escrituras, que é onde devemos de fato buscar o discernimento para tudo isso, vamos encontrar um fato extraordinário ligado ao Dia de Pentecostes que joga por terra qualquer justificativa dessa judaização da igreja hoje ou em qualquer tempo.

Um pentecostes universal


No dia da vinda do Espírito conforme Atos 2:1-13 está registrado o fato de que haviam representantes dos povos partos, medos, elamitas, gente da Mesopotâmia, da Judeia, Capadócia, Ponto, Ásia, Frígia, Panfília, Egito, Líbia, romanos, cretenses, árabes e que todos estes ouviram os crentes judeus falarem as maravilhas de Deus não em hebraico, mas em suas próprias línguas. Isso é singular e vital nessa questão do debate sobre a judaização da igreja.

Se fosse propósito de Deus que toda a igreja cristã estivesse pautada em uma judaização, ou seja se a igreja fosse uma espécie de judaísmo restaurado ou coisa que o valha, o acontecimento de pentecostes seria outro. Os estrangeiros que testemunharam aquelas manifestações de idiomas seriam capacitados a falar e ouvir em hebraico (ou aramaico até), sendo esta a língua dos judeus, pois a língua é um fator determinante da identificação cultural de um povo, a língua diz quem um povo é, da língua partem toda uma estrutura, uma cosmovisão e uma realidade de vida e vice versa. 

Isso é tão importante e impactante que mesmo os judeus dos tempos modernos fizeram do aprendizado do hebraico uma condição "sine qua non" (locução adjetiva, do latim, que significa "sem a qual não". É uma expressão frequentemente usada no nosso vocabulário e faz referência a uma ação ou condição que é indispensável, que é imprescindível ou que é essencial)na reconstrução do estado moderno de Israel. Sem uma língua não existe um povo. A prova cabal disso está no episódio da torre de Babel (Gênesis 11).

Focando apenas nesse ponto, todos aqueles que advogam esta judaização (prática ou teórica) da igreja hoje (que muitas vezes chega ao ridículo através de uma mistura de judaísmo moderno, textos do antigo testamento mau usados, etc., a confecção de uma horrenda colcha de retalhos mau costurados) com o uso de nomes hebraicos, utensílios judeus, mantos, bandeira de Israel, gestuais, uso de arca da aliança, cerimônias e etc. (que nem os judeus de fato usam).

Os que fazem isso estão se esquecendo que no pentecostes a igreja já se universalizava, e que o Espírito Santo levou a igreja que nascera em berço judaico a se tonar gentílica e portanto mundial. A cultura judaica nunca foi referendada como a cultura prevalecente sobre as outras culturas onde o evangelho haveria de chegar, se assim fosse teríamos todos de falar hebraico e viver como judeus mesmo.

Na linguagem do evangelho


O evangelho como dizem os missiólogos é traduzível a qualquer cultura, não é como o islamismo que vê no árabe uma língua sagrada. O evangelho pode ser vivido e encarnado em cada cultura, expurgando aquilo que não é saudável ou que seja pecaminoso dentro de cada expressão cultural.

Não é tornando-se como judeus que iremos encarnar a fé cristã, pois mesmo um judeu que se converte hoje, passa a encarnar o seu judaísmo dentro de uma perspectiva cristã neo-testamentária. Ele se torna um judeu cristão e não um cristão judeu, assim como um brasileiro deve se tornar um brasileiro cristão, assim deve ser com cada povo da terra que irá expressar a fé cristã em sua própria cultura, buscando ser livre das marcas do pecado presentes em todas as culturas da terra.

Yom Kipur, o dia do Perdão


Pois é, mesmo com todo o absurdo que é essa tentativa bizarra de judaizar a igreja ocidental, o que faz com que muitos – em linguagem peculiar – paguem o maior mico, ora andando vestidos com roupas de saco, ora colocando a quipá na cabeça, ora tocando berrante (que insistem em chamar de shofar) no meio do meio louvor, ora hasteando a bandeira de Israel, ora com músicas e vestuários típicos... e tanta apoteose que mais parece um espetáculo circense e/ou um desfile de escola de samba do 3º grupo, quando a gente pensa que já se esgotou a "criatividade" dessa gente, eis que eles nos apresentam mais um ato. Agora estão importando o Yom Kipur, o Dia do Perdão. 

Entendendo o contexto cultural


Nesta época (início do outono – Israel ou primavera – Brasil), os judeus do mundo comemoram a sequência de festas típicas da estação de outono: o Rosh Hashaná (também conhecido como festa das trombetas), os 10 dias de Arrependimento (cujo último dia é conhecido como Yom Kipur, o dia do Perdão) e a Festa dos Tabernáculos ou festa da colheita (Sucôt).

Qual é a origem desses dez dias de arrependimento?


Em Levítico 23:24, encontramos uma ordem: 
"…No sétimo mês, ao primeiro dia do mês, tereis descanso solene, um memorial ao som da trombeta, uma santa convocação". 
Após o exílio Babilônico, este dia do "soar da trombeta" tornou-se conhecido como Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico. Na Torá, tudo o que conhecemos é que é um dia de "fazer tocar as trombetas". No livro de Salmos, encontramos referências interessantes:
  • Salmo 81:3  –  "Tocai a trombeta na lua nova, na lua cheia, no dia da nossa festa". Nesse Salmo encontramos o tocar da trombeta (Shofar, que é um chifre de carneiro) na lua nova, que é a primeira do mês, é também chamada "o dia de nossa festa". 
  • O Salmo 81 traz à luz um outro aspecto tradicional dessa festa. De acordo com a tradição desse dia, Rosh Hashaná, que é o primeiro dia do sétimo mês, é também um dia que os judeus coroam Deus como Rei de suas vidas e da vida da nação. Entre o Rosh Hashaná, que é o primeiro dia do sétimo mês, e o dia da expiação (Yom Kipur), que é o décimo dia do sétimo mês, há um período de dez dias separados para o arrependimento e perdão dos pecados de Israel. Esses dez dias são como um período especial onde as pessoas se tornam mais cerimoniais e contemplativas acerca de seus pecados, num nível coletivo-nacional. Deus concedeu um dia para expiação dos pecados da nação. O bode expiatório que era enviado ao deserto era uma prefiguração do trabalho de Yeshua (Jesus) o Messias, que morreu na cruz pelos pecados do mundo inteiro. Por causa da solenidade que traz esse dia, tornou-se tradição tomar dez dias entre os dois dias santos para contemplação e arrependimento.

Como acontece na tradição judaica?


Os judeus, de modo geral, levantam bem cedo, antes do nascer do sol, e recitam orações e cânticos de arrependimento que expressam a profunda tristeza que cada indivíduo e toda coletividade tem pela fraqueza e pelos pecados que eles cometeram.

Não há nenhuma outra nação que gaste dez dias meditando acerca da expiação e perdão dos pecados como a nação de Israel.

  • O jejum


No dia da expiação quase todo Israel e a comunidade judaica ao redor do mundo jejua. Ninguém come ou bebe, por um período de 24 (vinte e quatro) horas. Cada pessoa, que não esteja doente ou grávida, ou seja maior de doze anos jejua, abstém-se de comida e bebida por 24 (vinte e quatro) horas, isto aumenta a seriedade do dia no qual a pessoa contempla seus pecados e fraquezas. 

  • O culto


Os cultos nas Sinagogas geralmente acontecem na noite anterior, normalmente pela manhã bem cedo, e o último às 18:30 deste dia. Muitas pessoas permanecem na Sinagoga por 10 (dez) horas, para orar e suplicar a Deus pelo perdão do pecados.

A consciência de pecado ensinada pelo apóstolo Paulo está provavelmente influenciada pelas orações do dia da expiação. Passagens como Romanos 7:24  – "Desventurado homem que sou? Quem me livrará do corpo desta morte?", podem estar influenciados pelas confissões do dia da expiação, que repetidamente enfatizam a fraqueza e a vulnerabilidade do homem.

A confusão judaica


Para o povo Judeu que não acredita em Jesus como sendo o messias, o processo de arrependimento é complicado pelo fato de que há muitos textos bíblicos que são lidos os cultos do dia da expiação que mencionam a necessidade de sangue e sacrifício para a perdão de pecados. 

Aqueles que acreditam em Yeshua, o Messias, sabem que o sangue de bodes e touros não mais corre no altar para expiar os pecados de Israel, mas o sangue derramado por Yeshua por nossas transgressões está ainda disponível para expiar e perdoar e redimir os judeus de seus pecados (Hebreus 9). 

O que eu posso aprender com o Yom Kipur?


Contudo, o Dia do Perdão judaico pode sim me ensinar muita coisa para minha vida prática, sem, contudo, nenhuma importação de seu contexto cultural e/ou ritualístico, mas de sua essência espiritual. Vejamos:
  • 1 - Estabelecer um tempo para meditar acerca de seu "status" com Deus, sua necessidade de arrependimento e deixar que este tempo seja oportuno para se fazer um esforço concentrado.
  • 2 - Durante esse tempo separado para arrependimento, você deve levantar-se bem cedo e começar seus dias com uma confissão de pecados.
  • 3 - Há itens que exigem um arrependimento coletivo e, consequentemente, devem envolver toda a congregação no processo de arrependimento.
  • 4 - Embora o arrependimento seja de responsabilidade individual, é importante que as pessoas façam isto juntas, estabelecendo um tempo especial para isso.
Há algumas pessoas que desprezam essa ideia e dizem que devemos nos arrepender diariamente e instantaneamente quando nos surpreendemos em pecado. Sim, isto é verdade. Mas, a verdade também é que há muitos pecados que cometemos inadvertidamente e, sem ter consciência deles. Nós precisamos gastar tempo em nos concentrar como a comunidade judaica faz nos dez dias de arrependimento.

Conclusão


Minha oração neste ano é que durante estes dez dias de arrependimento o Senhor revelará ao Seu povo amado já proveu o cordeiro para expiação dos pecados. Por outro lado, minha oração é também para que o mundo cristão gaste tempo e avalie seus erros e pecados coletivos e individuais cometidos, e gaste mais tempo ainda re-aplicando o sangue de Jesus que está ainda fresco e não seco, capaz de perdoar os pecados não só de um povo mas de toda a humanidade.

Quero concluir citando o historiador e teólogo Justo Luiz González:
"A cultura dos discípulos (que eram judeus) é uma das muitas culturas nas quais o evangelho irá se encarnar… O que o Espírito faz em pentecostes não é capacitar todos os presentes a entender a língua dos discípulos, mas exatamente o contrário: o Espírito faz todos escutarem, cada qual em sua própria língua. ...Toda língua e toda cultura podem ser veículo para o evangelho, e nenhuma língua e nenhuma cultura devem ter domínio sobre ele." ('Cultura e Evangelho', páginas 86,89,90, Ed. Hagnos)
Que possamos buscar ser e viver uma igreja cristã que reconhece sim suas heranças judaicas, mas que caminha firmada na palavra daquele que diz: "Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21:5b). Amem!!! 

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