terça-feira, 6 de setembro de 2016

A SÃ DOUTRINA - OS "NICOLAÍTAS"

 
"Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Assim declara Aquele que tem as sete estrelas na mão direita e anda no meio dos sete candelabros de ouro: 'Conheço as tuas obras, tanto o teu trabalho árduo como a tua perseverança, e que não podes tolerar pessoas más, e que puseste à prova aqueles que a si mesmos se declaram apóstolos mas não são, e descobriste que eram impostores. (...) Tens, contudo, a teu favor que odeias as práticas dos nicolaítas, as quais Eu também odeio. (...) Além disso, tens também alguns que, semelhantemente, seguem a doutrina dos nicolaítas'." - Apocalipse 2:1,2,6,15

Dando sequência a série especial sobre A Sã Doutrina, vou falar aqui acerca de mais uma dúvida que, devido à má interpretação, além de alimentarem outras dúvidas, também geram uma série de equívocos. Afinal, quem são os tais nicolaítas citados nas Escrituras apenas no livro do Apocalipse? Seriam um povo? Eu já ouvi dizer que os tais nicolaítas foram um grupo de homossexuais. Mas, afinal, quem ou o que foram os tais nicolaítas?  

Análise contextual


  • nikh = vitória (no sentido de dominar), laos = ...o povo peculiar (de Israel ou Cristãos); gente, multidão; ...do Século IV em diante, às vezes se refere ao leigo (conforme o grego moderno "laikos" = leigo, no sentido de povo comum)
Portanto, o nome Nikolaitwn (nicolaítas) composto destas duas palavras tem o sentido de "vitória sobre o povo" ou "os que dominam o povo".

I. A Origem


Esta era uma heresia que se formava já no fim da era apostólica, com os falsos mestres deturpando a Pureza da Doutrina de Cristo e seus Apóstolos (a Sã Doutrina). A doutrina nicolaíta concebeu a ideia de uma casta especial e superior na Igreja, ou seja, o chamado Clero. Indo além, formou-se a ideia de uma hierarquia eclesiástica dentro deste mesmo clero. 

Há uma grande probabilidade, lógica e historicamente, de que estes nicolaítas, dos quais muito pouco se sabe, sejam os formadores do pensamento Católico Romano e, portanto, seus antecessores. Eles estavam, no final do século I, infiltrados nas igrejas de Cristo como podemos ver no texto base. Evidentemente, este desejo de exercer poder sobre o   povo disseminou entre muitos homens de liderança nas igrejas, movidos pelo instinto carnal de domínio, pela soberba e pela torpe ganância de posição e riquezas. 

Especialmente entre os pastores das grandes igrejas, nos grandes centros, com congregações numerosas, tornava-se uma tentação estabelecer uma ostentação de poder sobre o rebanho e outros pastores de rebanhos menores. Eis o porque de estabelecer-se o "centro da igreja" e o "trono do Papa", como o maioral e chefe máximo do Catolicismo em Roma. 

Sendo ela a capital e maior centro urbano de sua época, Roma permitia a que seus pastores nutrissem uma imagem de mais poderosos e importantes que os demais. É claro que, com o apoio de Constantino (no começo do século IV) definitivamente o Bispo de Roma conquistou esta supremacia. Não fora o Nicolaísmo, não existiria o erro de uma igreja universal, com sede em algum lugar. Nem mesmo a primeira Igreja, formada por Jesus pessoalmente, em Jerusalém, tinha autoridade sobre as demais. 

Veja em Atos 15, a postura da Igreja de Jerusalém com relação a Antioquia, como mãe que exorta a seu filho independente num momento de necessidade, mas não considera justo lhe impor nada. Observe-se, ainda, o próprio falar dos Apóstolos Pedro e Tiago (que estavam em Jerusalém e não em Roma), como não exercem eles domínio sobre a Igreja, mas servem como conselheiros junto a Ela e com o Espírito Santo (vv.23,25 e 28).

II. O problema hoje (Nicolaísmo X Cristianismo)


Nicolaítas, não são portanto, como muitos pensaram, seguidores de um "tal Nicolau", nem do papai Noel (São Nicolau), nem tampouco um movimento homossexual, mas os partidários da ideia de uma hierarquia dominante dentro da Igreja. Esta heresia tem influenciado o pensamento de muitos religiosos que pensam galgar degraus na escada da Fama, Fortuna e Força. 

Por isto, alguns pobres infelizes "querem ser pastores", sem o chamado divino; pastores buscam popularidade e posição em organizações; trocam de igreja em busca simplesmente de uma maior ou que pague mais, sem convicção da vontade de Deus; pastores disputam posições e até brigam por isto. E também a criação de títulos pomposos que servem como patentes de credencial hierárquica nos círculos eclesiásticos.
 
Mas não deve ser assim na Igreja de Cristo! Em Marcos 10:42-44 podemos ver claramente o Seu ensino de que o grande é o que serve e não o que manda. Ou seja, na ótica de Deus, o maior cargo é o que ninguém quer ostentar: o de SERVO!

Erros como o de se pensar que só os pastores podem realizar batismos ou ministrar a Ceia, efetivamente não tem base bíblica e provém do pensamento nicolaíta de que estes são uma categoria com poderes especiais. Se uma Igreja tem pastor local, é evidente que, sendo este seu líder espiritual deverá exercer tais funções mas, caso a Igreja não o tenha, deve entender que a autoridade para estes serviços foi dada à Igreja e Ela pode escolher um irmão local que tenha boas condições espirituais e esteja assim apto a liderar a Igreja em tão solenes atos. 

É claro que, se assim entender, a Igreja poderá também convidar o pastor de uma Igreja irmã para lhe prestar estes serviços, embora não o seja absolutamente necessário. Jesus concedeu à Igreja (pessoa) esta autoridade e não ao pastor. Ele o faz, como SERVO (que é o verdadeiro significado da palavra MINISTRO) da Igreja.

Cristo estabeleceu irmãos com condições diferenciadas na Igreja sim, mas isto foi feito apenas visando o melhor desenvolvimento dos crentes e organização da Igreja e não para estabelecer uma hierarquia dominante (Efésios 4:11,12 e 1 Corintios 12:12-31). Assim, era necessário que houvesse Apóstolos, pastores, mestres, pregadores e evangelistas, mas isto não é uma corrente hierárquica onde um manda no outro. Cada um deles tem autoridade, mas só aquela concedida, não pelo título que ostenta, mas pela igreja, de acordo com o que o Espírito Santo lhe concede pela Palavra.

Todo Ministro (SERVO) de Deus deve ser respeitado por causa da sua função como líder e condutor espiritual da Igreja e como um irmão que seja um bom exemplo ao rebanho (Hebreus 13:7,17). Mas isto não o faz "dono da igreja" e todo pastor tem que tomar o cuidado de ser zeloso sem, no entanto, exercer domínio por força sobre o rebanho (1 Pedro 5:1-4). 

Na Bíblia [versão] Vida Nova encontramos um bom estudo a respeito, no item 2.085 – "Características dos verdadeiros ministros" do que eu destaco: Humildade, abnegação, gentileza, dedicação e afeto para com o rebanho. A atitude de poder sobre a Igreja é diabólica, maligna e, portanto, precisa ser totalmente rechaçada. 

III. Os cuidados


Sendo assim, nosso papel como Ministros (SERVOS) de Deus, seja como missionário, evangelista, professor (mestre), pregador, diácono ou pastor, é o de SERVIR e não permitir que a síndrome de satanás se aposse de nós, fazendo com que presumamos de nós, mais do que realmente somos. Liderança é necessária para que haja organização, ordem, decência e, principalmente edificação, seja na Igreja ou em encontros de várias igrejas, jovens, e mesmo de pastores e obreiros. Mas nunca deve haver o pensamento de buscar o primado ou a superioridade entre os demais (Lucas 22:26). Isto estraga a comunhão, prejudica o aprendizado e a edificação dos participantes. Não sejamos como Diótrefes, um exemplo bíblico de nicolaíta que, buscando o primado, tantos males causou (3 João 9-10).

Conclusão


Você sabia que servir é um privilégio, uma honra? Se a sua resposta for negativa, com este artigo quero levar você a refletir sobre o assunto.

Todo cristão deveria se conscientizar da importância de servir ao próximo. De como é gratificante quando você, de alguma maneira, pode ajudar alguém.

Servir é estar à disposição, é poder auxiliar, cuidar, ser prestativo. O maior exemplo foi dado por Jesus. Ele, mesmo sendo Rei, ensinou e personificou a humildade do servir. Quando lemos a Sua Palavra, notamos que Jesus não serviu a Si mesmo, mas veio para servir. Por isso está escrito: "Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos" (Mateus 20:28.)

Existem pessoas que sentem dificuldade para servir. Quando alguém lhes pergunta: "Ei, você pode ajudar?" Elas desconversam, inventam alguma desculpa, ou então, saem de fininho. Claro que alguns, por um motivo ou outro, realmente não podem ajudar. Porém, muitos querem somente ser servidos, e nunca servir.

Servir é uma decisão pessoal. É uma entrega. É ser humilde para reconhecer que alguém precisa de sua ajuda. É olhar ao redor e perceber que existe alguém chorando, necessitando de cuidados.

A Palavra diz que Jesus esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Que verdade maravilhosa! Jesus abriu mão de Sua divindade para servir (Filipenses 2).

Precisamos aceitar os ensinamentos de Deus (a Sã Doutrina) e resistir à doutrina nicolaíta para a nossa vida. Mas não somente aceitá-los. É imprescindível que os ponhamos em prática. O desejo de nosso Pai, é que sigamos o Seu exemplo.

Uma das passagens mais lindas e comoventes da Bíblia, e que revela o ato de servir, está em João 13:1 quando Jesus, em uma ação de humildade, lava os pés de Seus discípulos. A Bíblia Vida Nova – Referências, Notas Explicativas, Enciclopédia de Assuntos – traduz este ato como "a soberania de Cristo que se revelou supremamente no serviço de um escravo". Com esta passagem, Jesus ensina que devemos fazer o mesmo com o nosso semelhante, devemos servir uns aos outros.

Mais gratificante para aquele que serve, não é receber algo em troca, mas o sorriso de alegria de quem foi servido. Cabe aqui a frase dita por Martinho Lutero, responsável pela Reforma Protestante no século XVI: 
"Nenhuma árvore produz para seu consumo próprio. Tudo quanto há na vontade de Deus se dá em favor dos outros. Somente Satanás e os homens sob a influência do Maligno é que buscam o proveito próprio."
Que em tudo tenha Cristo a primazia (Colossenses 1:18) e nós tenhamos nossos irmãos em consideração como superiores a nós mesmos (Filipenses 2:3).

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