E lá se vai mais uma Olimpíada. O Brasil será o primeiro país sul-americano a receber os Jogos Olímpicos. Nosso país competiu pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, em 1920. Desde então, o Brasil participou de cada edição, com exceção dos Jogos de 1928.
E o resultado dessas participações, em números, revela-se em 20 medalhas de ouro, 25 de prata e 46 de bronze. Na edição de Londres, realizada em 2012, fomos o vigésimo segundo lugar no quadro geral de medalhas.
Livre de comparações, somente na edição de 2012, os EUA (maior potência esportiva do mundo) levou para casa 104 medalhas até o momento, número maior que o de toda a história olímpica brasileira, e que garantiu aos norte americanos o primeiro lugar.
Um dos segredos dos EUA para vencer no quadro de medalhas é o maciço investimento no esporte. O país possui, por exemplo, centros com tecnologia de última geração e, quando as equipes vão embora do local, eles tornam-se um importante legado para a população da cidade.
"Seremos quem (ou quantos) em 2016?"
Para os brasileiros que disputaram provas em Londres, ganhar ou não uma medalha é circunstancial. Não devemos desonrá-los por uma derrota e sim parabenizá-los pela lição de cidadania que trouxeram na bagagem (17 medalhas no total). Mas agora em 2016, como país sede, qual será nossa reação se terminarmos as Olimpíadas em vigésimo segundo lugar? O que poderá ser feito para incentivar e universalizar o acesso aos esportes olímpicos no país?
Creio que a cobrança nos atletas brasileiros nessa próxima edição das Olimpíadas será muito maior, e empenho e garra não serão suficientes. Teremos também que conquistar muitas medalhas, e acima de tudo investir intensamente no esporte. Ou seja, nessa edição, muda-se o ditado, e o importante não será apenas participar.
O outro lado da medalha
Agora vamos à realidade dos fatos. Nenhuma cidade brasileira tem condições de sediar os Jogos Olímpicos. Nem o Rio de Janeiro, a nossa cidade-sede, que, válido relembrar, disputou a indicação com Chicago, Tóquio e Madri (até hoje me pergunto como conseguiu vencer). Apesar de sua inegável beleza natural, isso não foi o bastante para ser a sede de um dos mais importantes eventos mundiais. Mesmo com toda a caríssima maquiagem que fizeram, a paisagem carioca não consegue esconder as mazelas da cidade.
As gritantes distorções sociais, a falta de infraestrutura urbana elementar, a violência urbana - em crescimento escandaloso -, os maus-tratos ao meio ambiente, a inexistência de mentalidade olímpica e a experiência negativa do Panamericano de 2007 são alguns fatores que por mais que tente o Rio não consegue esconder.
O Tribunal de Contas da União (TCU) já constatou ter havido superfaturamento de 1.000% (você não leu errado, é 1.000% mesmo) nas contas do Pan realizado na cidade. Existem inúmeros processos sobre a má utilização do dinheiro público na ocasião. Esse fato, isolado, repercutiu muito mal no exterior e ainda que tenham "passado desapercebidos" aos membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), órgão responsável pela organização e realização dos jogos olímpicos, estão registrados no extenso capítulo de escândalos na história do Brasil. Isto o público não verá, mas nos bastidores a impressão de descuido com o dinheiro público é patente.
Legado de "elefantes brancos"
A experiência do Pan também mostra que os complexos esportivos que foram construídos, além de muito caros, não servem para Jogos Olímpicos. Nenhuma obra de infraestrutura prometida no dossiê de candidatura foi construída. A cidade continuou sem mais linhas de metrô, sem novas avenidas, sem mais ônibus, sem hospitais de qualidade, e a lagoa Rodrigo de Freitas e a baía de Guanabara continuaram poluídas, inapropriadas para a prática de esportes. Alguém acha que para os Jogos Olímpicos as autoridades agiram diferente? Cumpriram o prometido? É óbvio que não! Tudo o que fizeram foram caríssimas maquiagens e quando acabarem os Jogos Olímpicos essas maquiagens irão borrar, revelando uma imagem bizarra, como a máscara de um palhaço suado.
Perdeu! Perdeu!
A segurança no Rio de Janeiro é outro fator preocupante. Pelos dados da Secretaria de Segurança Pública, em 2009 houve 2.759 assassinatos no Estado, 12,3% a mais do que os ocorridos no mesmo período em 2008.
Isso sem contar outros tipos de crime que viraram banais, como os furtos e pequenos roubos. Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio, No mês de maio foram registradas 368 vítimas de homicídio doloso no estado do Rio de Janeiro, indicando um aumento de 21 vítimas em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar do aumento, esse número reflete uma redução importante dos números registrados nos cinco primeiros meses de 2016, quando foi registrada uma média de 428 mortes por mês.
Conclusão
E, como se não bastasse sermos um país pobre, submerso em avalanches de crises moral, financeira e política, com escândalos de corrupção pipocando do Oiapoque ao Chui, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) apresentou a proposta mais cara e mesmo assim conseguiu vencer (repeto: ainda não consigo entender como) e sediar as Olimpíadas, entretanto, enquanto o Brasil não for, a exemplo das demais candidatas derrotadas, medalha de ouro em saúde, educação, transporte, moradia, meio ambiente, segurança, alimentação, luz elétrica e esportes para todos, gastar tanto dinheiro em Jogos Olímpicos é um ato de violência contra o povo mais pobre.
Antes de fazer jorrar dinheiro público para construção de "elefantes brancos", como houve no caso do Panamericano, o Brasil precisava melhorar seus índices sociais. Essa ideia de que os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro transformarão o Brasil em potência é equivocada. Uma verdadeira propaganda enganosa. O tempo - senhor da razão - revelará os fatos e contra fatos não há argumentos. O caminho é justamente o inverso. Temos que, antes, ser socialmente grandes e justos - verdadeiramente gigantes pela própria natureza, belos, impávidos colossos, para que assim o futuro espelhe essa grandeza - para só então pensar em Olimpíadas.
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