Alto lá, meu blog NÃO É um espaço para repercutir fofocas de celebridades, sub-celebridades e afins. Para isso eu teria de competir com os Fuxicos (o secular e o gospel), sites especializados em... nisso mesmo, fuxicos. Eu perderia feio. Não tenho capacidade para tanto.
O que quero aqui é tratar de um assunto bem sério e que tem tomado espaço na mídia. O termo ''cultura do estupro'' ganhou notoriedade nas últimas semanas. Invadiu redes sociais, memes e ''textões''. Não faltou quem o explicasse, mas também quem não o compreendesse. Ou quem, mesmo compreendendo, não conseguisse visualizar o tamanho do problema. Essa incompreensão não diz respeito a qualquer incapacidade, demérito pessoal ou dificuldade cognitiva. De fato, é uma parte fundamental da questão.
Cultura do estupro
Cultura do Estupro é um conceito cunhado nos anos 1970 pelo feminismo norte-americano (do inglês Rape Culture). Basicamente, apontava a tendência massiva da sociedade em culpar a vítima e tornar ''natural'' a violência masculina. Não foram poucos os críticos que, mesmo reconhecendo essa tendência social, negaram que ela fizesse parte ou pudesse ser nomeada como cultura. Esses mesmos críticos, embora reconhecendo o fenômeno do estupro, não se cansaram em demonstrar que tal violência foi sempre rechaçada e, portanto, não poderia ser considerada uma ''cultura''. Falemos sobre isso.
O conceito de cultura
Em primeiro lugar, é necessário deixar claro com qual conceito de cultura estamos lidando. Embora englobe e se expresse no que conhecemos como produção cultural, a cultura a que nos referimos tem um sentido mais amplo.
Estamos aludindo às bases estruturais e naturalizadas de nossa sociedade, por isso mesmo, quase invisíveis, difíceis de serem percebidas. Tais bases informam não somente nossas atitudes diante do crime de estupro, mas da nossa fala cotidiana, da forma como criamos nossas filhas e filhos, de nosso comportamento na rua, na escola, no grupo de amigos (dentro e fora do WhatsApp).
Logo, perceber a cultura do estupro como algo real acaba por levar a uma completa revisão de coisas que estão muito além do fato do estupro em si. Envolve rever nossos parâmetros e o que parece comum em nosso dia a dia.
É natural que os pais digam às suas filhas que não voltem tarde nem sozinhas. É normal que outros pais se orgulhem de filhos pegadores e repitam que, afinal, ''eles não engravidam''. É comum que outros tantos pais digam a suas filhas que se cuidem, que se preservem, que se deem valor.
Outros papais dizem à suas meninas que o fulaninho da escola que lhe bateu, mordeu, xingou, puxou seu cabelo, na verdade, ''gosta dela''. Ou seja ensinam as meninas a tolerar o abuso e a violência porque ''é próprio dos meninos''. Ao mesmo tempo ensinam os meninos que eles somente serão aceitos como ¿meninos de verdade? se forem violentos, desregrados, indisciplinados, selvagens, pois ''é isso que os homens são''.
A cultura nos antecede e estamos imersos nela. Contudo, ela não é sempre a mesma e nem é uma mera capa dos impulsos biológicos. Pelo contrário, é ela que os molda. Por conta disso, muitos elementos de nosso comportamento foram se alterando ao longo da história. Outros, porém, permanecem. No caso da relação entre os gêneros feminino e masculino, podemos notar tanto elementos de continuidade como de ruptura.
Em termos legislativos, a imensa maioria das sociedades do passado dedicou um momento para debater e legislar sobre o lugar das mulheres na sociedade. Inúmeras leis foram promulgadas para negar seu espaço público, durante muito tempo. Ora, se são necessárias leis é porque elas precisam coibir comportamentos que existem. Quando as leis cessam de existir é porque o comportamento que ela proibia não mais ocorre. Hoje, precisamos fazer leis que garantam às mulheres o espaço público e, pior, desconsideramos a história ao dizer que, podendo ocupá-lo, elas não o fazem por que não querem.
Sexualidade feminina
Esse é somente um dos inúmeros exemplos. Podemos falar de outro em que encontramos uma ruptura significativa, a que diz respeito à sexualidade feminina. Até meados da época Moderna (considerando aqui apenas a história europeia), as mulheres eram descritas como loucas por sexo, insaciáveis e perigosas. Logo, o estupro teria um papel didático ao submeter as características demoníacas de todas as mulheres.
Os avanços nos modelos de controle social nos séculos 18 e 19 abriram espaço a um novo olhar sobre as mulheres. Agora, passa a haver dois tipos: as perdidas e as puras. Essas últimas não gostavam do sexo, submetiam-se a ele como um favor aos homens e à ordem bíblica de procriar. Se, dentre as que deviam ser puras, encontrávamos alguma dissonante, essa era inscrita no rótulo da anormalidade: a histérica, a louca. Nos dois casos, forçar o sexo não era um problema. As primeiras deviam respeitar as necessidades masculinas. As segundas poderiam ser curadas de seus males.
Durante o século 20, as mulheres lutaram para voltar a ter o controle de sua sexualidade, o que lhes fora negado por séculos, tanto na sua descrição de insaciáveis, como na sua descrição de recato e repulsa ao sexo. Contudo, a ruptura foi apenas parcial. A cultura que informava todo o resto da sociedade e seu olhar sobre as mulheres mudou a roupagem, mas não a essência.
Controle, poder e medo
E qual seria essa essência? Esse ponto cultural que não conseguimos visualizar nitidamente? O controle. Essa é a questão. O controle dos comportamentos femininos. O controle sobre seus corpos, suas vontades. A cultura do estupro é a cultura do medo. Todas as mulheres são criadas para ter medo. Elas podem ser as próximas e por mais que se comportem, obedeçam, façam tudo ¿direitinho?, pode acontecer com elas também. Dizemos isso o tempo todo.
Quando perguntamos sobre as roupas das vítimas, seus horários, comportamento prévio, etc., dizemos as nossas meninas: viram, se vocês forem comportadas e obedientes isso não lhes acontecerá. E, se acontecer (e acontece), seremos os primeiros a lhes perguntar o que elas fizeram? Como se colocaram naquela situação? Como foram confiar naquele rapaz específico? Aquele rapaz que pode ser o namorado, noivo, marido, pai, tio, avô...!
A cultura do estupro X o sexo
A cultura do estupro nada tem a ver com sexo, embora um de seus objetos seja o controle da sexualidade feminina. A cultura do estupro tem a ver com o poder. E com o medo. Por isso, ela não se restringe a um momento. Ela está em tudo. Está na arte, na propaganda, na literatura, na novela. Didaticamente organizada para autorizar os homens a exercerem poder (disfarçado de romantismo, impulso biológico, masculinidade incontrolável, macheza) e para as mulheres se dobrarem a esse poder (disfarçado de romantismo, amor eterno, glamour, proteção, cuidado).
Se, ainda assim, você acha que a cultura do estupro não existe, imagine um mundo diferente do nosso. Um mundo em que as mulheres não temem os homens. Mas, principalmente, imagine um mundo em que os homens não são qualquer tipo de ameaça a nenhuma mulher. Consegue imaginar? Só se for na imaginação mesmo, pois esse mundo não existe!
Agora sim, vamos ao MC Biel
Esse moço é mais um subproduto da indústria da música descartável. Sucesso entre os adolescentes, o funkeiro MC Biel, 20 anos, se envolveu numa grande polêmica: uma repórter do portal iG o denunciou por assédio sexual. O caso teria ocorrido durante uma entrevista em que ele deveria falar sobre seu disco de estreia, "Juntos Vamos Além", no mês passado, e foi gravado em áudio e vídeo, conforme o iG. As gravações estão com a 1ª Delegacia da Mulher de São Paulo.
Conforme o site, a gravação em áudio registra Biel respondendo a perguntas sobre o novo trabalho e sua vida pessoal. Acompanhando a entrevista de outro repórter, a jornalista do iG menciona ter quase a mesma idade do artista, que retruca: "Idade não significa nada. Se te pego, te quebro no meio." Em outro momento, ele a teria chamado de "gostosinha". Além de registro em áudio e vídeo, o comportamento inadequado do cantor foi testemunhado por outras cinco pessoas. Segundo a delegada titular Giovanna Valenti, há fortes evidências de que a jovem de 21 anos tenha sido vítima do crime.
Em face a essa situação, seria de se esperar que Biel fosse a público desmentir as acusações ou se retratar. Não o fez. No Instagram, Biel disse que tudo seria um mal entendido: "Não consigo entender como não levaram na brincadeira", afirmou. Depois, acusou a vítima e a imprensa: "O lobo mau será sempre o vilão se só escutarem a versão da chapeuzinho." Também atribuiu a situação à inveja: "Infelizmente, a felicidade acompanhada do sucesso incomoda."
"Guerra" nas mídias sociais
Vendo oportunidade de opinar sobre o assunto, o vlogger Felipe Neto [Felipe Neto Rodrigues Vieira é um empresário, vlogger, ator, comediante e escritor brasileiro. Ficou conhecido por ter criado um dos primeiros canais da história do YouTube brasileiro.] contou no Snapchat que estava escrevendo o roteiro de um vídeo sobre o caso. Pouco depois, no Twitter, Biel postou uma mensagem que soou como ameaça: "@felipeneto, quando você perceber que está mexendo com a pessoa errada vai poder ser tarde demais, garotinho".
A mensagem, posteriormente apagada, não surtiu efeito. Felipe Neto fez o vídeo, que foi colocado na Internet e que entrou para a lista dos tópicos mais comentados do Twitter
Por mais oportunista que seja o vídeo de Felipe, o rapaz – que tem público da mesma faixa etária de Biel – prestou um baita serviço. Colocou sua popularidade à disposição de um tema polêmico e que nem sempre é discutido entre os adolescentes: os limites dos relacionamentos. De forma descontraída, Felipe trouxe à tona também a séria questão da cultura do estupro.
Nossa sociedade naturalizou comportamento agressivo de homens que esperam a subserviência feminina como resposta. Mas não deve ser assim, e o recente e chocante caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro colocou essa proposta de transformação social em evidência (repercuti o caso aqui http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2016/05/assim-caminha-humanidade.html).
Diante do fato, seria mais inteligente que MC Biel – que até aqui contava com uma reputação de bom rapaz – pedisse desculpas e aproveitasse para conscientizar sua plateia também. Seria uma postura mais adequada a um ídolo juvenil.
Plantou, colheu!
Apesar de as fãs mais ardorosas estarem ignorando os fatos em favor de seu ídolo, Biel já começa a contabilizar prejuízos na carreira que vão além da má-reputação (e um processo judicial).
O Comitê da Rio-2016 cortou o funkeiro da lista de condutores da Tocha Olímpica. Ele conduziria a chama em Fortaleza. O Comitê, que achou por bem excluí-lo depois da repercussão negativa do caso.
– "Preferimos que os valores olímpicos não sejam vinculados a esse acontecimento. Queremos passar uma imagem de paz. Por isso, MC Biel foi desconvidado" – informou a assessoria de imprensa do Comitê.
A carreira promissora do jovem ¿cantor? já começou a dar sinais preocupantes.
A confusão tem feito o ¿cantor? perder contratos. Além de uma marca de cadernos, duas outras empresas, uma de artigos esportivos e uma marca de barbeadores desistiram de contratar Biel para campanhas publicitárias.
O jovem estava bem cotado entre anunciantes antes de se envolver nessa polêmica, mas a imagem dele está prejudicada no momento.
Estima-se que só com novos contratos publicitários, o ¿cantor? tenha deixado de ganhar R$ 1 milhão após a denúncia de assédio.
Programas de TV - aqueles enfadonhos dos domingos, que viviam bajulando o rapazote - estão reticentes com relação a convites para MC Biel. Por enquanto, a ordem geral nas produções das emissoras é evitá-lo.
A procura por shows do rapaz segue intensa, mas ninguém sabe se a investigação do caso, que segue em andamento, não pode prejudicar ainda mais MC Biel.
Biel e sua ostentação de imbecilidades
Sobre Biel o que tenho a dizer é que ele é um ¿cantor? que você, com mais de 13 anos, certamente não sabia que existia até aparecer na mídia "pedindo desculpas" por alguma coisa.
Sim, certamente não é a primeira vez que isso acontece com você: afinal, foi assim que Justin Bieber entrou em sua vida - e acaba aqui as comparações por favor, pois, apesar dos pesares, o tal de Bieber tem um genuíno talento.
Não sei por que, mas o brasileiro Biel nasceu como imitador oficial do astro canadense. A polêmica sobre o comprovado assédio sexual à repórter não foi a primeira do nosso ¿talentoso? sub-Bieber. Vamos aos fatos.
- O menino já chegou querendo provar alguma coisa
Como se vê, ele sempre trabalhou para que as pessoas admirassem sua música e não sua forma física. Como se vê, ele sempre trabalhou para que as pessoas admirassem sua música e não sua forma física.
- Agora veja isso
E tem mais
Estou com tempo e fiz as contas: Biel teria que ficar sem dormir por 168 horas e achar duas mulheres para beijar a cada hora. Esse é fera! Morra de inveja, Mr. Catra!
Será que tanta auto-afirmação tem a ver com isso aqui? Foi o que a repórter assediada perguntou.
E então ele saiu para a defesa. Como alguém ficaria "decepcionado" depois de ouvir que seria quebrado ao meio, não?
Engraçado que há alguns meses… Uai? Faltou cérebro, Biel?
E ainda arrumou briga com outro que adora fazer arruaças parecidas.
Para fechar sua defesa, cometeu essa pérola do "quero fingir que sou feminista mas não faço ideia do que se trata".
Conclusão
Brincadeiras à parte, fatos e criaturas como essas são só um lampejo do reflexo da preocupante alienação e futilidade da cada vez mais crescente geração "nem-nem". Estudos indicam que três em cada dez meninas nem estuda, nem trabalha. Gravidez precoce é uma das razões para abandonar a escola sem sequer concluir ensino médio. A pesquisa revela que as meninas são maioria na geração "nem-nem", jovens que nem estudam, nem trabalham... Juventude alienada e manipulada pela indústria midiática e todos os seus sub-produtos descartáveis.
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