segunda-feira, 11 de abril de 2016

PAULO E O IMPRESSIONANTE EPISÓDIO DO DEUS DESCONHECIDO

O episódio de Paulo em Atenas, capital cultural do Planeta, na Grécia, além de sensacional é uma verdadeira aula de estratégia evangelística. Leio e releio essa passagem e não deixo de me surpreender com sabedoria e discernimento do apóstolo. 

Entendendo a história 


Paulo chega em Atenas por volta do ano 50 – 52 d.C., e faz um dos discursos mais interessantes de todo o novo testamento. Para melhor compreensão, é necessário que entendamos como era Atenas nos tempos de Paulo. 

Segundo Petrônio, um escritor romano que viveu entre 27 e 66 d.C., em Atenas era mais "fácil encontrar um deus do que um homem, já que cada portal ou pórtico tem um deus protetor". Desta fala podemos definir Atenas como uma cidade onde os altares, sacrifícios e templos eram tão comuns quanto as placas de trânsito em uma grande cidade brasileira. 

Com isto em mente, imagine um homem destemido e seguro, que era totalmente contrário a idolatria e seguia os preceitos de um Deus do qual os gregos sabiam da existência, mas não O conhecia. É com este cenário que Paulo passa por Atenas, enquanto aguardava a Timóteo e Silas.

A Bíblia afirma em Atos 17:16 que enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade. Quando Paulo viu em Atenas o privilégio da adoração ser reduzido ao culto de meros ídolos de madeira e pedra, o horror tomou conta dele. Paulo, no entanto, havia "passado e observado" (Atos 17:23) e descobriu algo "no" sistema que não fazia parte "do" sistema: um altar que não estava associado a qualquer ídolo! Um altar com uma curiosa inscrição: "Ao deus desconhecido". 

Paulo percebeu uma brecha na comunicação que provavelmente abriria as mentes e os corações daqueles filósofos estóicos e epicureus. Paulo, então, pronunciou: "Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio" (Atos 17:22-23). A idolatria, por sua própria natureza, carrega em si um "fator inflacionário embutido". Uma vez que os homens rejeitem o Deus único, onisciente, onipotente e onipresente, preferindo divindades menores, eles finalmente descobrem – para sua frustração – que um número infindável de divindades inferiores é necessário para preencher o espaço deixado pelo Deus verdadeiro!

Quem eram os Epicureus e os Estóicos 


Como já vimos em Éfeso e também em Filipos, Paulo era uma figura que não se segura quando o assunto é o Evangelho e a fé. Sendo assim, ele parte para a sinagoga e fala contra a idolatria. Mas como na sinagoga todos concordavam com ele, Paulo passa a pregar também na praça e é lá que ele debate com dois grupos filosóficos: Epicureus e Estóicos. Vejamos mais sobre estes grupos: 

Epicureus – A filosofia dos Epicureus foi criada por Epicuro de Samos (341 a.C – 270 a.C.). Está filosofia consistia no prazer! Para eles, o maior bem a ser alcançado é o prazer moderado, pois o prazer exagerado pode ser fonte de perturbações e a limitação do desejo gera um sofrimento corporal. Para os Epicureus não havia ressurreição (veremos sobre isto mais a frente), já que a morte é o "nada", pois a morte causaria o "extermínio das sensações". 

Estoicos – Já o estoicismo foi criado por Zenão de Cítio, um filosofo nascido em Chipre e que lecionou em Atenas. Os Estóicos ensinam que o homem deve ser indiferente a tudo o que ocorre a sua volta, mantendo a serenidade seja perante as tragédias ou perante as boas emoções. Portanto neste caso, a ressurreição também é algo inimaginável pois até a morte seria uma projeção. 

O discurso de Paulo no Areópago 


Possível local do discurso de Paulo no Areópago
O discurso de Paulo
Os dois grupos filosóficos descritos acima ao ouvirem Paulo, o levam para o Areópago. O Areópago era o local e reunião do conselho de Atenas e do Supremo Tribunal. O discurso inicia no versículo 22, leia atentamente as palavras de Paulo:
"Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; 
Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio.
O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; 
Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; 
E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; 
Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; 
Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. 
Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. 
Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; 
Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos." 
Atos 17:22-31


Entendendo o discurso de Paulo 


O discurso de Paulo se baseia em um altar onde se podia ler "Ao Deus Desconhecido". Paulo conhecia a história por trás deste altar, por isso para entendermos este discurso, vou resumir a história que se passa em meados do 600 a.C. : 

Epimênides nasceu em Cnossos, na ilha de Creta, em meados dos anos 600 a.C. Diz-se que esteve em Atenas no tempo de Sólon, onde os achados históricos lhe atribui ter limpado a cidade de uma praga que a assolava. Epimênides foi, portanto, um herói cretense que atendeu ao pedido de Atenas feito por Nícias para que aconselhasse a cidade sobre como se livrar de uma praga. Epimênides ofereceu sacrifícios baseado em três suposições. 

Assim ele afirmou: a) Minha primeira suposição é que existe ainda outro deus interessado na questão desta praga – um deus cujo nome não conhecemos e que não está, portanto, sendo representado por qualquer ídolo em sua cidade; b) Segundo, vou supor também que esse deus é bastante poderoso e suficientemente bondoso para fazer alguma coisa a respeito da praga, se apenas pedirmos a sua ajuda; c) A terceira suposição é muito simples. Qualquer deus suficientemente grande e bondoso para fazer algo a respeito da praga é também poderoso e misericordioso para nos favorecer em nossa ignorância – se a reconhecermos e o invocarmos. 

Assim, ao chegar a Atenas, Epimênides conseguiu um rebanho de ovelhas pretas e brancas e soltou-as na Colina de Marte, dando instruções para que alguns homens seguissem as ovelhas e marcassem o lugar onde qualquer uma delas se deitasse. O propósito dele era dar a qualquer deus eventualmente ligado à questão da praga, uma oportunidade de revelar sua disposição em ajudar. Epimenides provavelmente conduziu essa experiência de manhã bem cedo, quando as ovelhas estavam famintas, o que tornaria logicamente impossível alguma se deitar diante de um campo verdinho para comer. No entanto, algumas das ovelhas deitaram e os atenienses as ofereceram em sacrifício sobre os altares sem nome, construídos especialmente com esse propósito. A praga foi assim removida da cidade (Fonte: "Melquisedeque, Fator"; Richardson, Don - À saber: Don Richardson é um missionário internacional canadense. Tem 81 anos é professor, escritor e palestrante internacional. O missionário é reconhecido por seu trabalho antropológico e linguístico. 

Don Richardson foi missionário em Irian Jaya, parte Indonésia e ocidental da Ilha de Nova Guiné, em uma das regiões mais desconhecidas e misteriosas do planeta, habitada por tribos Papuas que ainda vivem da maneira mais primitiva.

Durante sua missão na Indonésia, o doutor Don Richardson traduziu o Novo Testamento e ensinou uma tribo primitiva a ler em seu próprio idioma. Mais da metade do povo aceitou Jesus Cristo como Senhor e Salvador. 

Don é doutor honorário em literatura pela Biola University, em La Mirada, Califórnia. É autor de vários best-sellers na área de missões, entre eles Fator Melquisedeque, Senhores da Terra e o Totem da Paz.). 

Paulo compreendia o pano-de-fundo histórico do altar ao "deus desconhecido" de Epimênides. Isso fica claro porque Epimênides, além de ter habilidade para lançar luz sobre problemas obscuros das relações entre o homem e Deus, era também um poeta e Paulo citou a poesia de Epimênides! Essa poesia está registrada em Tito 1:12-13, quando Paulo, ao deixar Tito para fortalecer as igrejas na ilha de Creta, escreveu: "Foi mesmo dentre eles, um seu profeta que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente para que sejam sadios na fé". 

As palavras citadas por Paulo são de um poema atribuído a Epimênides. Paulo chamou Epimênides de "profeta". O termo grego é propheetees, o mesmo usado geralmente pelo apóstolo para os profetas tanto do Antigo como do Novo Testamento. Paulo não teria honrado Epimênides com o título de profeta se não conhecesse o caráter e as obras do mesmo. 

Paulo, portanto, fala acerca do altar construído a mando de Epimênides, ao Deus Desconhecido, que na realidade é o único Deus verdadeiro! 

Mas Paulo vai além e diz que haverá um dia de juízo, ora isto não fazia sentido nem para os epicureus e muito menos para os estoicos. Mas o que causa o "escarnio" em relação a Paulo é a ressurreição: "Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos" (At 17:31). Mas a palavra não é perdida: Dionísio, uma mulher chamada Dâmaris e outras pessoas creram na palavra de Paulo. 

Conclusão 

A lição de Paulo em Atenas 


A lição mostrada por Paulo em Atenas prova aquilo que Dr. Don Richardson chamou de "fator Melquisedeque". Ora, como Epimênides poderia crer em um único Deus sem nunca ter ouvido falar sobre ele? Isto se explica, já que o vento sopra aonde quer e Deus se revela as mais diferentes pessoas, porque ele tem a liberdade de dar o dom da salvação a quem ele quiser! 

Portanto, não condenemos as pessoas que, em regiões e culturas diferentes da nossa, não compartilhem conosco da mesma ideia de fé. Já que o Espírito se revela a elas conforme a capacidade de consciência delas. De tal modo que eu particularmente acredito que nenhuma pessoa foi tirada da terra sem ter a oportunidade de conhecer o Espírito que testifica em nós.

É claro que as vezes, como ocorreu em Atenas, as pessoas não sabem identificar o que está acontecendo e passam a chamar de "Deus Desconhecido", mas o importante é que o Espírito está falando de Jesus para milhões de pessoas ao redor do mundo e naquele dia teremos muitas surpresas!

Um comentário:

  1. Um pedaço deste discurso está nos primeiros km do Catecismo da Igreja católica. É a gasolina azul daqueles que empreendem a longa viagem de 2865 km na rodovia deste catecismo. É um discurso mais erudito e orgânico que o habitual de Paulo. É o mais fracassado discurso fulminante da história religiosa dos humanos. Tinha que sê-lo para que fechasse a ignorância dos tempos passados. Somos criancinhas de fraldas peregrinos na terra. E quando nos arrogamos doutores, temos horror à verdade, ou talvez crianças mimadas. Um dia minha filha me disse que iria com seu marido em Atenas. Lembrei a ela que lá fica uma pequena colina referência geográfica deste discurso e não disse e não pedi nada. Com muita gratidão a São Paulo que monitorou tudo e fez com que minha filha me trouxesse uma foto tirada pelo seu marido, ela bem ao lado de uma placa em bronze no alto da colina contendo o discurso em alto relevo do maior bandeirante do evangelho...:)

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