"Porventura, o cálice da benção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é uma comunhão de do corpo de Cristo?" - 1 Coríntios 10:16
O Que é uma Ceia do Senhor (popularmente chamada de Santa Ceia)? - A Ceia é uma das experiências mais ricas vividas pelo cristão. Ela é uma expressão concreta do amor de Deus e da experiência de pertencer e ser parte da Igreja do Senhor. A Ceia do Senhor é a manifestação de um dos maiores desejos de Deus em relação aos seus filhos: comunhão, relacionamento íntimo.
O Que é uma Ceia do Senhor (popularmente chamada de Santa Ceia)? - A Ceia é uma das experiências mais ricas vividas pelo cristão. Ela é uma expressão concreta do amor de Deus e da experiência de pertencer e ser parte da Igreja do Senhor. A Ceia do Senhor é a manifestação de um dos maiores desejos de Deus em relação aos seus filhos: comunhão, relacionamento íntimo.
Em Lucas 22:19 Jesus disse: "...fazei isso em memória de mim" . Então a Ceia é um memorial da morte de Jesus. Um momento em que paramos para reconsiderar o que Jesus fez por nós e confirmar nosso compromisso com Ele.
Por que precisamos participara da Ceia do Senhor? - Conforme Mateus 26:26-30, a Ceia do Senhor nos revela pontos importantes no nosso relacionamento com Deus. Vejamos quais são:
- v. 26: Partilha (Princípio da comunhão);
- v. 27: Renovação da Aliança (Princípio do compromisso);
- v. 28: Ação de Graça (Princípio da gratidão);
- v. 29 : Anunciar a vinda de Jesus (Evangelismo, missões);
- v. 30: Preparação para sair e vencer o mundo (Batalha espiritual).
"E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos. E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus." - Lucas 22:14-16
Antes de comentarmos sobre o significado da Santa Ceia, cabe-nos recordar sobre a páscoa, a primeira das três festas dos judeus. Esta festa também era conhecida como a Festas dos Pães asmos (Êxodo 12:1-28; 23:15, Deuteronômio 16:6).
A Bíblia nos relata que foi instituída por Deus e celebrava a saída do Egito, o êxodo dos judeus, sua libertação da escravidão egípcia.
A Páscoa
Para os egípcios
Para os egípcios a Páscoa significou o juízo divino final sobre o Egito, Faraó e todos os deuses cultuados ali. O Senhor havia enviado várias pragas e concedido tempo suficiente para que Faraó se rendesse, deixando o povo partir. Deus é misericordioso, longânimo e deseja que todos se salvem (2 Pe 3:9b). Porém, Ele é também um juiz justo que se ira contra o pecado: "Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias" (Salmo 7:11).
O pecado, a idolatria e as injustiças sociais suscitam a ira do Pai. O povo hebreu estava sendo massacrado pelos egípcios e o Senhor queria libertá-lo. Restava uma última praga. Então o Senhor falou a Moisés: "À meia-noite eu sairei pelo meio do Egito; e todo primogênito na terra do Egito morrerá" (Êx 11:4,5). Foi uma noite pavorosa para os egípcios e inesquecível para os israelitas.
Para Israel
Era a saída, a passagem para a liberdade, para uma vida vitoriosa e abundante. Foi para isto que Cristo veio ao mundo, morreu e ressuscitou ao terceiro dia, para nos libertar do jugo do pecado e nos dar uma vida cristã abundante (João 10:0). Enquanto havia choro nas casas egípcias, nas casas dos judeus havia alegria e esperança. O Egito, a escravidão e Faraó ficariam para trás. Os israelitas teriam sua própria terra e não seriam escravos de ninguém.
Para nós
Como pecadores também estávamos destinados a experimentar a ira de Deus, mas Cristo, o nosso Cordeiro Pascal, morreu em nosso lugar e com o seu sangue nos redimiu dos nossos pecados (1 Co 5:7).
Para nós, cristãos, a Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em Cristo. No Egito um cordeiro foi imolado para cada família. Na cruz morreu o Filho de Deus pelo mundo inteiro (Jo 3:16). Para nós cristãos a Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em Cristo.
Um acontecimento tão importante como aquele que deu origem à nação de Israel não poderia ser ignorado pelo Novo Testamento. Isso pode ser comprovado nos cinco pontos abaixo:
1. A morte de Cristo, que ocorreu exatamente no período da páscoa, sempre foi considerada um evento capital para os primeiros cristãos, e daí por diante, durante todo o cristianismo. Jesus é chamado de nosso "Cordeiro pascal" (ver 1 Co 5:7). Isso tem sido associado pelos cristãos à ideia de expiação e livramento, que nos liberta dos inimigos da alma.
2. A ordem de não ser partido nenhum osso do cordeiro pascal foi aplicada por João às circunstâncias da morte de Jesus Cristo (ver Êxodo 12:46 e João 19:36), pelo que foi estabelecido um vínculo entre os dois eventos, fazendo o primeiro ser símbolo do segundo. A ideia de expiação, como é patente, faz parte vital da questão.
3. O cristão (tal como os antigos israelitas) deve pôr de lado o antigo fermento do pecado, da corrupção, da malícia e da desobediência, substituindo-o pelos pães asmos da sinceridade e da verdade. A santificação (vide) faz parte necessária da experiência cristã.
4. A última Ceia é exposta nos evangelhos sinópticos como uma refeição pascal. O evangelho de João (18:28; 19:14) apresenta o fato de que a refeição foi tomada antes da celebração, e Jesus foi crucificado ainda naquele mesmo dia (lembrando que, para os judeus, o dia começava às 18:00 horas). Para muitos, isso constitui um dos grandes problemas de harmonia dos evangelhos, porém essa pequena deslocação cronológica em nada contribui para anular a associação da última ceia com a pascoa. Talvez o Senhor Jesus tenha antecipado a refeição por algumas poucas horas. Nesse caso o quarto evangelho expõe a correta cronologia quanto à questão.
A Ceia do Senhor, segundo o apóstolo Paulo
O ensino paulino sobre a última ceia (1 Co 11:23-26) faz com que a mesma seja um memorial tanto da morte libertadora de Cristo quanto da expiação. Ambos os elementos faziam parte da páscoa do Antigo Testamento, segundo já vimos. Paulo não menciona especificamente a páscoa, daquela seção, embora ele o faça em 1 Co 5:7.
Eusébio aceitava o conceito da páscoa cristã no sacrifício de Cristo. E essa também era a ideia tradicional da Igreja antiga. É interessante que a palavra hebraica para, páscoa, pascha (pessach), é tão parecida com a palavra grega para sofrer, péscbo, que alguns cristãos antigos fizeram a ligação entre elas, embora não haja qualquer conexão histórica entre esses termos. Cristo sofreu e Ele é a nossa pascoa, um jogo de palavras empregado por Eusébio. Para os cristãos, a palavra grega anámne (memorial), é uma palavra-chave.
A ceia do Senhor é um memorial que deve ser mantido vivo, até que o Senhor retorne. Essa é a ênfase paulina, que não se vê nos evangelhos sinópticos, embora. apareça em Lucas 22:19. Provavelmente, esse elemento foi uma adição crista às declarações feitas por Jesus, embora sugerida pelo que ele havia dito, se é que ele mesmo não ensinou assim. Por outro lado, é possível que Mateus e Marcos tenham omitido uma afirmação genuína de Jesus, e que Paulo e Lucas preservaram.
O que é certo é que Jesus reinterpretou a páscoa em consonância com as suas próprias experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja cristã como uma daquelas muitas coisas que receberam cumprimento e adquiriram maior significação na pessoa de Cristo, retendo o tipo de símbolo e de lições que descrevi na quarta seção deste artigo, acima.
A ideia de pacto também se faz presente. Yabweh firmou um pacto com a emergente nação de Israel. E Jesus estabelece um pacto com sua emergente Igreja.
5. O êxodo cristão. Não nos deveríamos esquecer desse aspecto. A páscoa do Antigo Testamento marcava o começo de urna saída da escravidão; e, de fato, era o poder por detrás dessa libertação. Assim também, em Cristo, encontramos um êxodo que nos liberta da velha vida com sua escravização ao pecado. No sentido teológico, algo foi realizado que não poderia ter sido realizado pela lei. Esse é o tema principal tanto de Paulo (com sua doutrina da justificação pela fé) quanto do tratado aos Hebreus.
O êxodo judaico libertou um povo inteiro da servidão física. O êxodo cristão oferece a todos os homens a libertação do pecado, bem como a outorga do Reino da Luz, onde impera perfeita liberdade. Em Cristo, pois, os homens podem tomar-se filhos de Deus (Gl. 4:4-6), transformados segundo a imagem do Filho (Rm. 8:29), participantes da natureza divina (2 Pe. 1:4; Cl. 2:10). E agora eles olham para a Cidade celeste como a sua pátria, da mesma maneira que Israel buscava uma nova pátria (ver Hb, 11:10). [2]
“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” João 1:29
Nossa participação na natureza divina de nosso Senhor Jesus Cristo"Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo." 2 Pedro 1:4
Anunciando e Profetizando a segunda vinda de Cristo"Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha." 1 Coríntios 11:26
A Ceia foi instituída por Jesus Cristo na noite em que Ele foi traído. Essa noite era o dia da páscoa judaica. "E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós." Lucas 22:19,20
O significado da Ceia do Senhor - Co 11.23-26
O entendimento de Paulo a respeito da Ceia do Senhor se originava de uma revelação direta de Deus. O apóstolo apresenta a autoridade da sua narrativa “fundamentada em um alicerce imutável”. Quando Paulo recebeu o evangelho diretamente de Cristo (Gálatas 1:11-12), e não do homem, ele também recebeu instruções relativas à Ceia do Senhor. Além disso, ele havia transmitido estas informações à igreja de forma cuidadosa e fiel. Assim, o apóstolo podia afirmar com segurança e autoridade: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei (23).
A Ceia representava a inauguração de um novo pacto de graça, e deveria ser observada como um memorial. Tanto o “corpo partido” quanto o “sangue derramado” deveriam ser considerados como símbolos e não como referências literais ao corpo de Cristo. Quando Jesus disse, isto é o meu corpo que é partido por vós (24), ele não estava fisicamente sentado à mesa.
Qualquer ideia sobre uma transformação milagrosa, tanto no pão quanto no vinho, é contrária ao relato bíblico. Finalmente, a Ceia do Senhor deveria ser celebrada como um memorial ou lembrança, e não como meio de salvação. As afirmações: Fazei isto em memória de mim e Anunciais a morte do Senhor, até que venha (26) confirmam a ideia de que a Ceia é uma lembrança espiritual ou um símbolo da morte de Cristo.
Celebração da Ceia do Senhor (11:27-34)
A Ceia do Senhor é uma recordação espiritual do ato de redenção de nosso Senhor, e um testemunho público da nossa fé em Jesus Cristo. Portanto, ela deve ser celebrada como um agradecimento solene.
a) Participação indigna (11.27)
Paulo afirma que é possível comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente. O advérbio indignamente se refere à diferença de pesos; portanto ele significa “pesos diferentes” ou “indevidamente equilibrados”. A atitude de uma pessoa pode não estar equilibrada com a importância da ocasião. Se ela participar da Ceia do Senhor de forma frívola e descuidada, sem respeito ou gratidão, ou mesmo se estiver em pecado ou manifestando amargura contra outro irmão crente, estará participando indignamente.
Participar indignamente é ser culpado do corpo e do sangue do Senhor. A palavra culpado (enochos) significa “ser passível do efeito penal de um ato; aqui a palavra... [envolve] a culpa pela morte de Cristo”. Ao invés de se apresentar à mesa com uma atitude imprópria ou pecadora, o crente deve comparecer “na fé, e com o devido comportamento em relação a tudo aquilo que é apropriado a este ritual solene”.
b) Exame espiritual (11:28).
Antes de participar desse serviço sagrado, examine-se o homem por meio de uma análise rigorosa. Essa palavra significa testar; portanto, o crente deverá examinar seus motivos e seus atos. Certamente ninguém poderá ganhar, como um pagamento, a graça e o perdão de Deus. Mas, por outro lado, um sincero exame irá indicar se a pessoa compareceu à mesa sagrada levada por motivos sinceros e uma obediência ativa ao Senhor. O ensino de Paulo é totalmente positivo. Ele não diz que alguém deva fazer um auto-exame, e deixar a mesa do Senhor em uma situação de desespero. Pelo contrário, ele aconselha o homem a examinar seu coração e, em seguida, cheio de uma fé sincera, coma deste pão, e beba deste cálice.
c) Os perigos da irreverência (11:29-30)
A versão ARA (Almeida Revista e Autorizada) traduz o versículo 29 da seguinte forma: “Quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. A palavra krima, que a versão ARA traduz como juízo, significa condenação, como na versão ARC (Almeida Revista e Corrigida). Paulo não tem a intenção de afirmar que a pessoa que comparece à mesa sem a qualificação espiritual adequada será eternamente amaldiçoada. Ele quer dizer que tal ato irá trazer a condenação e a culpa. Não discernindo o corpo do Senhor significa que o crente não foi capaz de distinguir entre o memorial sagrado da Ceia de Senhor e outros tipos de refeição.
O apóstolo indica que como resultado do abuso da Ceia do Senhor... há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem (30). E muito grave declarar que o abuso da Ceia do Senhor resulta na maldição eterna, mas Paulo adverte que o castigo de Deus poderia acontecer, trazendo enfermidades e até a morte física. A palavra fracos (asthenes) está relacionado a enfermidades; o termo doentes (arrostos) quer dizer enfermidade e decadência, enquanto a palavra dormem (koimaomai) é usada frequentemente no N.T para indicar a “morte daqueles que pertencem a Cristo”.
Godet diz que Paulo está descrevendo um “julgamento prévio, especificamente infligido por Deus, como aquele que Ele envia para despertar o homem para a salvação”.
d) Participação reverente (11:31-34)
A maneira de evitar o castigo de Deus é nos julgarmos a nós mesmos de modo voluntário e sincero (31). Mas, quando Deus envia seu julgamento para o crente, este é repreendido pelo Senhor (32). Nesses casos, os castigos de Deus não são severos, mas símbolos do seu amor. “Eles são enviados para nos livrar dos caminhos do pecado e para não participarmos da condenação do mundo”.
A maneira adequada de observar o sacramento é esperar uns pelos outros (33). Os membros devem esperar até que todos estejam reunidos e depois, com afeição fraterna e respeito, conduzir a festa do amor. A determinação final do versículo 34 é novamente uma advertência para não considerar a Ceia do Senhor uma refeição comum. Se um homem estiver com fome, coma em casa. A finalidade da Ceia é lembrar aos crentes a obra redentora de Cristo e despertar na igreja um espírito de unidade e amor.
Alguns outros pontos relativos a este assunto ainda exigem alguma atenção. Sobre eles Paulo escreve: Quanto às demais coisas, ordena-las-eis quando for ter convosco (34). Esses problemas estavam afetando seriamente a vida da igreja e podiam ser adiados para uma outra ocasião. Quais eram as demais preocupações que Paulo tinha em mente? Talvez ele quisesse separar completamente a ideia da festa do amor da celebração da Ceia do Senhor. Sabemos que por volta do ano 150 d.C. o costume de fazer uma refeição junto com a Ceia do Senhor havia sido abandonado.
Para os cristãos existe “Força através das Ordenanças”:
1) Elas foram instituídas pelo Senhor, 23a;
2) Elas são memoriais do sacrifício de Cristo, 23-26;
3) Elas exigem um auto-exame, 27-29;
4) Elas produzem a preocupação pelos outros, 33-34.
"Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade" - 1 Corintios 5:7, 8. Portanto, entendemos que: A Ceia do Senhor é um memorial da morte redentora de Cristo por nós e um alerta quanto à sua vinda. A Ceia do Senhor é um momento de comunhão da Igreja.
A primeira Páscoa, a qual foi realizada no Egito, foi diferente das demais que foram realizadas posteriormente. A Páscoa realizada no Egito está relacionada à décima praga; a morte dos primogênitos dos egípcios e de seus animais e, também com a saída de Israel do Egito (Êx 12). Naquele dia, cada família fora instruída a imolar um cordeiro, ou cabrito, sem defeitos, e, aplicar o seu sangue nas ombreiras e na verga da porta de suas casas, como sinal que lhes asseguraria segurança se ficassem em casa. Contudo, precisavam obedecer à ordem divina. Portanto, o sangue aspergido nos marcos das portas, fora efetuada com fé obediente (Êx 12:28; Hebreus 11:28); essa obediência pela fé, então resultou na redenção mediante o sangue (Êx 12.7,13). Evidentemente o evento da Páscoa e do Êxodo, é sem dúvida, a mais linda história de Israel no A.T. A história de um povo resgatado da escravidão. Temos realmente certeza, de que se Deus, não houvesse agido e libertado o Seu povo, da escravidão do Egito, a história de Israel seria outra.
Conclusão
A trajetória da igreja cristã é composta por muitas histórias, símbolos e tradições. Infelizmente, muitos deles têm sido esquecidos ou deixados de lado. Isso ocorre pelo simples desgaste do tempo ou porque nós mesmos deixamos de dar valor aos fatos históricos, às pessoas, aos costumes e às práticas de nossa igreja. As igrejas vão assim deixando de ter “cara de igreja”.
Mas pior do que deixarmos as tradições e costumes de lado é não vivermos a essência do que é a igreja, ou seja, um espaço de comunhão, amor e solidariedade. Faço uma pergunta a você, irmão ou irmã: quantas vezes na vida você já tomou a Ceia do Senhor? Sim, eu sei que é difícil responder a essa pergunta. Sabemos que a Ceia do Senhor é um sacramento que simboliza o sacrifício de Jesus Cristo por nós. Mas, ao participarmos dessa cerimônia, quantas vezes já paramos para pensar no importante significado que ela tem?
A Páscoa celebrada pelos judeus no tempo de Jesus é para eles, até hoje, um memorial que relembra a saída do povo hebreu do cativeiro egípcio. Podemos perceber pelo texto bíblico que Jesus valorizava a tradição, pois pediu a seus discípulos que preparassem a Ceia Pascal. Ele aproveita o ensejo da comemoração da Páscoa, com seu sentido de libertação do cárcere, para lhe atribuir um novo caráter, de transformação de vidas.
Talvez quisesse dar seus últimos ensinamentos aos discípulos sobre como eles deveriam se comportar e executar sua missão. Aquele era, sem dúvida, um momento crucial, a última chance que Jesus teria de instruir seus discípulos antes de ser crucificado. Quando refletimos sobre o significado de cada elemento que compõe a Ceia do Senhor, passamos a compreender quão profundo e importante é esse ato que realizamos mensalmente.
Há um elemento na Ceia que é pouco citado, mas que tem muito a nos ensinar: a mesa. Num dia a dia marcado por correria e agendas lotadas como o nosso, sentar-se à mesa para fazer uma refeição é quase um luxo. Dentro da cultura judaica, no tempo de Jesus, nunca era permitido que um pecador ou impuro dividisse a mesa com outras pessoas. Já Jesus, nos três anos de seu ministério, questiona essa restrição e assume uma nova prática.
Em diferentes passagens do Evangelho, podemos vê-lo sentando-se à mesa com pecadores e marginalizados, pessoas consideradas impuras e não merecedoras de respeito ou da graça de Deus. Em sua última refeição, Jesus senta-se à mesa com seus discípulos, inclusive com aquele que iria traí-lo. Nós, como igreja, devemos assumir esse ensinamento que a mesa da Ceia nos transmite: ser um espaço que acolha todas as pessoas, ainda que sejam pecadoras, marginalizadas ou pensem diferente de nós. A igreja deve ser um local onde as pessoas possam entrar, sentir-se amadas e receber a palavra transformadora de vidas.
Já o pão pode simbolizar uma série de coisas, como, por exemplo, a solidariedade, a partilha, a divisão. Na Bíblia, o pão representa muitas vezes a provisão de Deus a seu povo.
Podemos lembrar-nos do maná no deserto e também da multiplicação dos pães por intermédio de Jesus. Na noite de sua última ceia, Jesus diz, referindo-se ao pão: “Isto é o meu corpo oferecido por vós”. Portanto, quando juntos nos alimentamos do pão, passamos a fazer parte de um só corpo – o corpo de Cristo (cf. 1 Co 10:17). A raiz latina da palavra “pão” é com panis, que curiosamente também é a raiz das palavras “companhia” e “companheiro”. Ou seja, quando comemos do pão, estamos entendendo e aceitando o desejo de Jesus de sermos companheiros de caminhada, ou um corpo que se une e reconhece seus diferentes membros e a importância de cada um deles para o cumprimento da missão.
O terceiro elemento da Ceia é o vinho. Na verdade, ele nem é citado no texto bíblico, mas podemos subentender que era esse o conteúdo do cálice de que a Bíblia fala, já que Jesus se refere ao fruto da vinha. Mas não é qualquer cálice; é o Cálice da Nova Aliança, que simboliza o sangue de Jesus vertido na cruz, que desfez o jugo do pecado e da morte. Assim, não há mais nada que nos condene ou nos afaste do amor de Deus, nem a lei, nem a religião, nem coisa alguma.
Uma igreja que quer realizar a missão de Jesus Cristo precisa viver a dimensão do perdão que se manifestou na cruz. Não cabe a nós acusar, julgar ou condenar quem quer que seja. Só nos foi dada uma alternativa: perdoar. Assim como Jesus nos salvou por meio de um sacrifício, precisamos estar dispostos a sacrificar nosso orgulho, nossa arrogância e, em muitos momentos, nossa teimosia, e perdoar nosso próximo.
Fonte / Bibliografia: [Antonio Gilberto - Uma jornada de fé — A formação do povo de Israel e sua herança espiritual; 4° LIÇÃO 1°TRI 2014-A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA; CHAMPLIN, Russell Norman; Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pág. 101-102; Donald S. Metz, Comentário; Bíblico Beacon, Editora CPAD. Vol. 8. pág. 329-331; PFEIFFER Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe, Ed. CPAD; Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal; Bíblia de Estudo Pentecostal; Bíblia Defesa da Fé.
Olá, Paz...
ResponderExcluirDeus abençoe sua vida, família e ministério.
Excelente estudo...