quinta-feira, 19 de novembro de 2015

DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA DE QUEM MESMO?

A história foi manchada com a tragédia do separatismo e a discriminação entre seres humanos por muitas razões: pela cor, pela nacionalidade, pela cultura, pela origem e até mesmo por nada que realmente tivesse valor. Índios foram varridos do solo americano até o solo brasileiro; povos e nações, dizimados, entre tantas outras atrocidades que os líderes parecem não ter aprendido como evitar. Ao longo da existência humana, as nações tiveram em suas diferenças a oportunidade para evoluir, mas fizeram delas um motivo para tentar ser melhor e superior ao outro.

Desde tribos do homem neandertal – o Homo neanderthalensis, que habitou a Europa e partes do oeste da Ásia, cerca de 300.000 anos atrás até aproximadamente 29.000 anos atrás, tendo coexistido com os Homo sapiens – até os Incas, Astecas, Maias, Judeus e Árabes, as civilizações não conseguiram compreender suas diferenças como força para superar desafios e evoluir no plano terreno. Todos se tornaram seguidores de um modelo de que, para um existir, o outro precisa sofrer e até não existir.

O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil, dedicado a uma reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, e assim procura lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro, em 1594. 

Nesta semana, em todo o país, ocorreram comemorações relativas à data. Em muitas capitais Brasil afora é feriado. Esta é uma data importante para os negros e negras do Brasil que lutam contra o racismo e por políticas reparatórias ao povo negro que contribuiu para a construção deste país e foi colocado à margem da sociedade por políticas deliberadas do Estado brasileiro. 

No entanto, não entendemos este dia apenas como mais um dia de festas, quando muitos usufruirão da belíssima arte e cultura afro-brasileiras, mas como um dia, sobretudo de reflexões, debates e protestos pela situação social, econômica e política na qual permanece o povo negro neste país. Nesse sentido, é necessário recuperar também a memória de Zumbi, grande líder do Quilombo dos Palmares assassinado no dia 20 de novembro de 1695 (Zumbi foi morto por ser traído por Antônio Soares, um de seus capitães.), e de outras personalidades que deram a vida na luta contra a opressão. 

A localização do quilombo ficava onde é hoje o estado de Alagoas, na Serra da Barriga e foi levantado para abrigar escravos fugitivos, pois muitos não suportavam viver tendo que aguentar maus tratos e castigos de seus feitores, como permanecerem amarrados aos troncos, sob sol ou chuva, sem água e sofrendo com açoites e chicotadas. O local abrigou uma população de mais de vinte mil habitantes.  

Na verdade, essa luta é luta de todos e conclama a uma análise da opressão, desigualdade e discriminação que negros e negras sofrem todos os dias e enseja o envolvimento de todos nas atividades desenvolvidas pelos movimentos afro-brasileiros organizados que ocorrerão no dia 20 de novembro. 

Mesmo com a crise econômica no Brasil, seguramente sabemos que, quando for necessário pagar a conta dos rombos que ainda aparecerão, serão os trabalhadores deste país a serem chamados mais uma vez. E os negros e negras estão entre os primeiros a serem atingidos. 

A trajetória do negro na História do Brasil


Ao longo da história, os negros não foram tratados com respeito, passando por grandes sofrimentos. Pelo contrário, foram escravizados para prestar serviços pesados aos homens brancos, tendo que viver em condições desumanas, amontoados dentro de senzalas.

Muitas vezes suas mulheres e filhas serviam de escravas sexuais para os patrões e seus filhos, feitores e capitães do mato, que depois as abandonavam.

As casas dos escravos eram de chão batido, não tinham móveis nem utensílios para cozinhar. As esposas dos barões é quem lhes concedia alguns objetos, para diminuir as dificuldades de suas vidas. Nem mesmo estando doentes eram tratados de forma diferente, com respeito e dignidade. 

Ficavam sem remédios e sem atendimento médico, motivo pelo qual inventaram medicamentos com ervas naturais, ações aprendidas com os índios durante o período de colonização.

Algumas leis foram criadas para defender os direitos dos negros, pois muitas pessoas não concordavam com a escravização. A Lei do Ventre Livre foi a primeira delas, criada em 1871, concedendo liberdade aos filhos dos escravos nascidos após a lei. No ano de 1885, criaram a Lei dos Sexagenários, dando liberdade aos escravos com mais de sessenta anos de idade.

Porém, com a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, foi que os escravos conquistaram definitivamente sua liberdade.

O grande problema dessa libertação foi que os escravos não sabiam realizar outro tipo de trabalho, continuando nas casas de seus patrões, mesmo estando libertos. Com isso, a tão esperada liberdade não chegou por completo. As oportunidades de vida que tiveram eram limitadas apenas aos trabalhos pesados, como não haviam estudado e não aprenderam outros ofícios além dos braçais, porém, alguns conseguiram emprego no comércio.

O dia da consciência negra, portanto, surgiu para lembrar o quanto os negros sofreram, desde a colonização do Brasil, suas lutas, suas conquistas. Mas também serve para homenagear àqueles que lutaram pelos direitos da raça e seus principais feitos. Na data são realizados congressos e reuniões discutindo-se a história de preconceito racial que sofreram, a inferioridade da classe no meio social, as dificuldades encontradas no mercado de trabalho, a marginalização e discriminação, tratando-se também de temas como beleza negra, moda, conquistas, etc.

Conclusão


Quem precisava mesmo de um “dia de consciência” seriam os “brancos”, para lembrar e refletir sobre a mancha que deixaram no mundo com a escravidão dos negros. De todos os atos ocorridos na história humana, a escravidão talvez seja a maior mancha existencial cometida pelos povos que subjugaram seus semelhantes.

O cuidado para que certas lembranças não sejam apagadas da história não deve fomentar o mesmo rancor que as causou, mas sim evitar que o sangue de novos inocentes permaneça na história que será contada no futuro. Não é uma questão somente do “Dia da Consciência Negra”. É uma questão do Dia da Consciência Humana, inspirada em páginas forjadas na escuridão das mentes retrógradas, insensíveis e atrozes que impuseram ao seu semelhante a mesma ignorância que tinham em seus corações empedrados pela obscuridade existencial.

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