segunda-feira, 17 de agosto de 2015

RESUMO SOBRE A HISTÓRIA PROTESTANTE

Estudando a História da Igreja, não resisti e tive de fazer esse artigo que é um resumo do que vi sobre a Reforma Protestante - um dos marcos fundamentais na História da Igreja. Este texto nasceu de minhas anotações durante a ministração das aulas.
A Reforma Protestante foi uma das inúmeras reformas cristãs que aconteceram após a Idade Média, quando o povo começou a questionar o que era imposto pela Igreja Católica – que tomava atitudes consideradas insatisfatórias e que fugiam dos seus princípios iniciais, fazendo-a entrar em grande contradição.

Essa reforma foi iniciada no começo do século XVI por Martinho Lutero, que publicou suas 95 teses em 31 de outubro de 1517. Ele protestou em frente à igreja do Castelo de Wittenberg, contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana. No dia 31 de outubro de 1517 um monge agostiniano, Martinho Lutero, afixou na porta da Catedral de Wittemberg 95 teses que queria discutir com a comunidade acadêmica e que versavam sobre a autoridade papal para perdoar pecados e vender indulgências. Este fato é tido como o ponto inicial do movimento da Reforma Protestante do século XVI.

Lutero foi seguido por Calvino, quem foi o Reformador de Genebra, onde estabeleceu uma nova forma de governo, formado pelo Consistório, um modelo mais representativo de participação popular no governo da cidade. A Igreja Católica, inicialmente, condenava o acúmulo de capitais, mas ela mesmo fazia isso, juntando altas somas de dinheiro (geralmente dos fiéis) e possuindo terras.

Começaram a vender indulgências pregando que qualquer cristão poderia (e deveria) comprar o perdão para os seus pecados. Lutero discordou publicamente dessa prática realizada pelo Papa Leão X. A Igreja Católica possuía muito poder político, o que naquela época não deveria acontecer (estavam em fase de transição do sistema feudal para monarquias nacionais).

A Pré-Reforma


Foi um período anterior à Reforma Protestante, que espalhou as bases ideológicas que Martinho Lutero tanto defenderia. Pedro Valdo era um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo em 1174 e com o tempo, passou a pregá-lo para o povo sem sequer possuir o cargo de sacerdote. Também renunciou suas atividades e os bens, que repartiu entre os pobres. A denominação cristã criada por Valdo e seus seguidores possuía o nome de Valdenses. Eles reuniam-se em casas de famílias e grutas, clandestinamente.

Foi durante o século XIV, com John Wycliffe, que o debate e questionamentos sobre a Igreja Católica começaram, quando suas contradições foram ficando mais claras. Ele defendia que o poder político deveria ficar apenas nas mãos do rei, pedia para o retorno da Igreja Católica à primitiva pobreza dos tempos evangelistas e que a igreja deveria limitar seu poder apenas às questões espirituais.

A Reforma Protestante


A Alemanha e a França destacaram-se quando se tratava da Reforma Protestante:

Na Alemanha - Iniciou-se com o monge alemão Martinho Lutero, que teve suas 95 teses espalhadas pela Europa em menos de um mês. Foi processado por heresia notória pela Igreja Católica, excomungado e exilado por um ano. Mas já era tarde, a população começava a apoiar Lutero e até alguns padres e freiras entraram nessa rebelião ideológica a favor dele. Alguns conflitos armados aconteceram, em resposta às questões sociais. Martinho Lutero chegou a ser convocado para desmentir suas teses, mas no lugar disso, ele continuou defendendo-as e pedindo por uma reforma.

Na França - Com o inicialmente humanista João Calvino e ex-integrante do Clero, a França começou sua reforma no ano de 1534. Ele era visto como um representante importante do movimento protestante e logo atraiu muitos banqueiros e burgueses para o “calvinismo”. Mesmo após a sua morte, em 1564, ele permanece como uma figura central da história da Suíça (local para qual fugiu depois de perseguições na França).

Em resposta a Reforma Protestante, a Igreja Católica iniciou a contra-reforma, tentando frear os protestantes. O principal acontecimento dessa medida desesperada da igreja foi o massacre de São Bartolomeu, que vitimou cerca de 100 000 protestantes na França. E após toda essa luta pela reforma, o Protestantismo conseguiu tornar-se um dos principais ramos do cristianismo.

Em Zurich surgiu Huldreich Zwínglio, quem foi Reformador. Como ponto central de sua ideia reformadora estava o fato de que as Escrituras, e somente elas, são obrigatórias aos crentes e normatizam a vida de fé e prática. Zwínglio cria que a comunidade era a palavra final na interpretação das Escrituras, criando um conceito que mais tarde veio a se chamar “comunidade hermenêutica”. Com esta posição Zwínglio estava sentando as bases para o movimento da Reforma Radical, também conhecido por Anabatismo.

Três dos seus seguidores, inconformados com a falta de coragem de Zwínglio em levar às últimas consequências as afirmações que sustentava, acreditava que o batismo, por ser um ato de fé, só pode ser feito por quem tenha consciência do ato. Negavam assim a validade da prática do batismo infantil. Estes três discípulos do reformador suíço, Blaurock, Grebel e Mantz, decidiram se rebatizar. O fato teve profundas implicações políticas, porque ao se rebatizarem, estavam negando o poder estatal de decidir a religião dos súditos, afirmando que a fé é uma questão de foro íntimo e que ninguém pode decidir por alguém qual a religião que irá seguir. Assim passaram a pregar a separação da igreja e do Estado, fato revolucionário em uma época em que a Igreja Católica era um Estado, em que Lutero e Calvino estavam vinculados ao Estado seja para proteção ou para governo, e Zwínglio estava em caminho parecido ao dos demais reformadores.

Os anabatistas foram perseguidos por suas posições revolucionárias e fugiram de uma parte a outra da Europa, em busca de regiões onde reis os tolerassem. Desenvolveram a ética do trabalho, sendo exímios lavradores, forma encontrada para evitar que fossem constantemente expulsos, por causa dos lucros que traziam. Os anabatistas também foram conhecidos como os propulsores da Reforma Radical, por suas posições doutrinárias e políticas. Muitos deram suas vidas por crer na separação entre a Igreja e o Estado, coisa tremendamente revolucionária naquele tempo e que se tornou padrão entre quase todas as igrejas evangélicas do século XXI.

Outro aspecto foi a radical observância do princípio da não-violência, negando a pena de morte e até a morte por legítima defesa. As igrejas anabatistas são conhecidas como “igrejas da paz”, pois muitos de seus membros se recusam ao serviço militar, a pegar em armas e não apoiam ações bélicas, pois rejeitam a ideia da “guerra justa”. O conceito de separação da Igreja e do Estado foi ganhando força e hoje é aceito na quase totalidade dos países do mundo ocidental. O modelo constitucional norte americano da completa separação está influenciado por anabatistas e não é coincidência que a declaração de independência tenha sido feita na Pennsylvania, terra então majoritariamente habitada por Menonitas, Quackers e Irmandade.

Há um outro elemento no anabatismo: o estilo de vida simples. Afirmam que a pessoa deve viver com o mínimo para que tenha uma vida decente, mas sem se entregar ao luxo e ao consumismo. Entre os mais radicais estão os Amish, que se recusam a usar energia elétrica, telefone, carros, usam charretes e se vestem de forma simples, com roupas escuras e sem adornos. Outros, menos radicais, procuram não ter mais que um aparelho de TV na casa, compram somente o que é necessário e evitam coisas caras e dispendiosas. Este modelo de vida é, muitas vezes, acompanhado de outro elemento: evitam gastar consigo mesmo para que possam ter mais para ajudar pessoas que realmente estão em necessidade. A conjunção da não-violência com o estilo de vida simples tem produzido pessoas que são verdadeiros exemplos de vida e de serviço.

Conclusão 


No próximo dia 31 de outubro, comemoramos mais um aniversário da Reforma Protestante, e, mais do que nunca, estes princípios de separação da Igreja e Estado precisam ser relembrados, em um momento em que setores da igreja evangélica brasileira se envolvem com a política, transformam púlpitos em palanques e têm projetos de criar um estado religioso de fundamentação cristã/evangélica. Isto é negar um dos elementos basilares da Reforma.

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