quinta-feira, 21 de maio de 2015

SAL INSÍPIDO

Hoje em dia, basta ligarmos o rádio ou a televisão e encontraremos muitos pregadores que sabem manusear bem as palavras. Objetivos e diretos, eles são conscientes de que demonstram uma acentuada convicção em tudo o que afirmam. Chegamos, algumas vezes, a ficar embasbacados ao ouvi-los. Assim, entre o entorpecimento de tal verborreia e a realidade da clássica frase "as palavras convencem, mas o exemplo arrasta", surge uma pergunta em nosso criticismo interior: Tal eloquência teria essência?

A Bíblia nos revela vários personagens eloquentes. Citemos apenas dois deles: Balaão, o profeta, e Paulo, o apóstolo dos gentios.

Vamos começar por Balaão. Ele não era apenas um grande orador (conforme podemos ver entre os capítulos 22 e 24 do livro de Números), mas também possuía uma grande veia poética. Sua riqueza literária era tão cirurgicamente profunda e bela que não erra quem considera que Balaão era um iluminado, um homem de profunda e inefável convicção. Um profeta pregador.

Ora, com tantas qualidades evidentes, o que poderia haver de errado com ele? A resposta é simples: o seu caráter. Por cobiça, tornou-se desleal. Tal deslealdade tornou-o um oportunista, ao ponto de amaldiçoar o povo de Israel, a caminho da Terra Prometida. Daí a jumenta que motava ter tido mais visão do que Balaão, que, perdido em sua cobiça, deslealdade e oportunismo, levaria o povo à idolatria e seria o responsável direto pela morte de 24 mil pessoas. 

Ainda que não cheguem a tanto (ainda bem!), assim também são os pregadores eloquentes de hoje. Ora, eloquência sem essência é sal insípido.

Por outro lado, encontramos na Bíblia fartas referências a outro notável pregador, que viveu no início da Era Cristã. Imagine-se sendo transportado até o Areópago, em Atenas, no ano 47 d.C. Eis então o destemido cristão, que levou o Evangelho aos gentios, surpreendendo os mais exigentes filósofos estóicos e epicureus - a elite cultural - ao afirmar para aquela plateia de areopagitas que os considerava "o povo mais religioso do mundo". S e analisarmos Atos, capítulo 17, observaremos que a exposição paulina foi breve. Ele, com sabedoria divina, apenas disse à seleta plateia que considerava os atenienses profundamente religiosos, já que, observando seus objetos de culto, viu até um altar dedicado ao "Deus Desconhecido" e, nele, o Deus Conhecido dele.

O que Paulo fez? Curvou-se à sabedoria dos filósofos? Encantou-se com a grandeza de Atenas? Desviou-se de sua fé e invocou para si alguma glória? Corrompeu-se pela nobreza de seus ouvintes? Não e não. Paulo enxergou, pelo Espírito, que a existência de um deus abstrato entre tantos outros cultuados no panteão grego, traria a fonte inesgotável do Cristianismo aos atenienses, pois Jesus, o Cristo, também era desconhecido por aquele povo. Ora, Paulo foi eloquente, mas com essência. Esta é a diferença: o apóstolo tinha caráter e compromisso com a vontade de Deus!

Ter eloquência nas palavras e pregações não é suficiente para demonstrar se um homem tem ou não comunhão plena com o Senhor - afinal, é possível ser eloquente e vazio ou eloquente e ter essência. Curiosamente, os dois exemplos citados tiveram fim semelhante: Balaão foi morto à espada e sem Deus. Já Paulo também tombou ao fio da espada, mas ao lado do Senhor. O apenas eloquente fala, gesticula e hipnotiza. Já o eloquente com essência, prega, ministra, exorta e converte os corações ao Deus da Bíblia, através da regeneração provida pelo Pai , da obra vicária do Filho e da ação dunamis do Espírito Santo.

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