Há poucas semanas a estreia da novela Babilônia, atração do horário nobre na Rede Globo, de autoria do veterano novelista Gilberto Braga, causou alvoroço no meio evangélico. Com a exibição de um beijo lésbico, muito sexo e violência já no primeiro capítulo, a trama não agradou e foi rechaçada pelo grande público – capitaneado pelos evangélicos – e gerou até manifestações de repúdio e campanhas de boicotes nas mídias sociais.
Há tempos tem uma discussão sobre as influências das telenovelas na sociedade. Elas influenciam? Fazem bem ou mal? Se há uma influência, ela é determinante nos rumos da sociedade? Esse assunto já foi pauta de mestrados, doutorados e a despeito dos anais acadêmicos, uma coisa é certa. Um número expressivo de indivíduos é noveleiro assumido. Do tipo que perde a vida, mas não perde o capítulo da novela. Tem até o caso de dependência crônica, daqueles indivíduos que assistem a todas as novelas das programações diárias nas TVs. E as novelas conseguem um feito hercúleo: a união de pessoas dos mais diferentes credos, dos mais diferentes níveis socioculturais em torno do mesmo "propósito". Louvável, convenhamos. O mais recente fenômeno aconteceu no dia de exibição do último capítulo da novela "Avenida Brasil". O Brasil parou na noite da sexta-feira para assistir ao capítulo final da telenovela, que com uma mistura de humor, drama, futebol e - mas, muita mesmo! - traição retratou a ascensão da classe emergente. Bares e restaurantes disputaram clientes com promoções anunciadas durante toda a semana que tinham como gancho principal a transmissão da novela da Rede Globo em telões montados especialmente para a ocasião. Em muitos locais de São Paulo e Rio de Janeiro, as ruas habitualmente cheias de automóveis e pessoas ficaram vazias, como se fosse uma final de Copa do Mundo. Fenômeno de audiência, a trama de João Emanuel Carneiro registrou uma média de 49 pontos, equivalente a 69% dos televisores ligados nos lares em que o Ibope fez medições e promoveu o novelista ao posto de autor principal na Rede Globo, posição que já foi ocupada por nome como o da novelista Janete Clair (1925-1983), uma das mais celebradas até hoje na teledramaturgia.
Epopeia
Demonizada por uns e cultuadas por outros fato é que a telenovela continua rompendo e construindo mitos. Vilões de caráter duvidoso e capazes de cometer as maiores torpezas - como foi o caso da Nazaré Tedesco, vivida por Renata Sorrah em "Senhora do Destino", Carminha, defendida por Adriana Esteves, em "Avenida Brasil" e Felix, "a bicha má", interpretado pelo ator Mateus Solano, que, pelo brilhante desempenho do primeiro vilão gay da teledramaturgia, recebeu o prêmio de personalidade do ano de 2013 em arte e cultura, oferecido pela Editora Três (revistas IstoÉ, IstoÉ Gente e IstoÉ Dinheiro) - caem nas graças do telespectador e, mesmo com todos os contras em suas personalidades, se transformam nos preferidos do público. Inversão de valores ou apenas ficção, entretenimento? Há os que vão mais longe e afirmam que as novelas são "obras do diabo", usadas como estratégia para aprisionar as pessoas e enredá-las em sua tríplice intenção de matar, roubar e destruir.
Os homens, as mulheres e as novelas - "triângulo amoroso"?
Foi-se o tempo em que novela era programa para mulheres. A tal disputa entre as novelas e o futebol é coisa do passado. Atualmente não faltam homens que são noveleiros de mão cheia. Mas, se as telenovelas afetam o bolso das mulheres, no homem, considerado o mais prático, a deformação é pior: afeta o cérebro, ou seja, o embrutece e o emburrece. A mulher é mais versátil nesse sentido. Os estudos recentes de neurolinguística mostram que se o homem tele maníaco sofrer um acidente que lesione o seu cérebro, ele terá mais dificuldades de recuperação. As chapadas que o homem recebe são mais impiedosas. Lamentavelmente, de vez enquanto encontramos homens comentando cenas de novelas em locais de trabalho… Ou seja, homens que assistem novelas emburrecem e se embrutecem. Mulheres que assistem novelas são manipuladas por padrões de moda e de beleza irreais. Em seu subconsciente querem "transportar" para suas vidas, toda a "magia" dos personagens engenhosamente criadas por seus "criativos" autores.
Torre de Babel - Mudando ou criando conceitos?
As telenovelas querem reconstruir a torre de babel. Estão mutilando o futuro de muitas pessoas. A sexualidade e erotização abordada na TV é doentia e excessiva e exibida em horários inadequados para jovens e crianças. Quantos pais já não se envergonharam ao serem obrigados a assistir junto de seus filhos cenas “apimentadas” e optaram em fingir que nada viram? Outros temas são mal abordados como traições, homossexualidade (esse virou tema obrigatório nas novelas), mentiras etc. A sociedade está a criar uma geração dos filhos de Nietzsche. Deus está “morto” (só que Alá, Kardec, Buda... estão vivos) agora tudo é permitido: faltar respeito aos pais, demolindo os valores impostos pela tradição e acabar com a instituição chamada FAMÍLIA.
O figurino do momento é ter uma geração de políticos, profissionais, estudantes, donas de casas egoístas, orgulhosos, arrogantes, seduzidos pela moda, pela conta bancária e seguem um modelo de conduta de burguês rumo aos povos que seguem o mesmo caminho. A inveja, delação, ciúme, perseguição, agressividade e humilhação estão quase sempre presentes. Que chatice. Deus nos acuda. A primeira novela brasileira se chamou: “A Sua Vida me Pertence” (Produzida e exibida pela extinta TV Tupi São Paulo, de 21 de dezembro de 1951 a 02 de fevereiro de 1952, às 20 horas e teve de 15 capítulos) - Seria uma "novela profética"? - e é isso que acontece quando a pessoa a ela se entrega de corpo e alma. Não é mais a pessoa que vive, mas a novela vive na pessoa. A novela passa a ser a sua senhora do destino.
Controle remoto, “santo remédio”
Há outros aspectos de telenovelas que não vou discutir neste artigo, até porque já me alonguei muito e também são mais polêmicos, como, mensagens subliminares de passagem de ideologias e processos manipulatórios da mente do telespectador e da destruição de princípios cristãos. Vale lembrar que os princípios são imutáveis, enquanto que os métodos nós os adaptamos. Talvez isso explique a proliferação de igrejas que pregam a teologia da prosperidade e outras como o islamismo. A população está em acentuada e contínua perda do poder aquisitivo. Para a nossa população só a educação irá libertá-las.
Numa formulação de síntese, a televisão pública deve primar por conteúdo prioritariamente educativo. Em relação às novelas, se é para continuar a trilhar nesse caminho, cada país deveria então produzir suas, com base na realidade concreta, que retratem a realidade específica, estreladas e exaltem também valores do negro e analisem a administração pública, os interesses econômicos e privados, a política e os problemas sociais. E nós os outros, é preciso que cada pessoa tenha noção de sua própria identidade e seus alvos pessoais. Multipliquemos os prazeres lendo jornal e livros e cerrar fileiras em torna da família, a célula “mater” da nossa sociedade, da qual participamos e recebemos herança genética, principalmente, a moral. Dela depende a nossa personalidade.
Finalmente, o dia em que a cúpula que dirige as televisões públicas começar a sentir vergonha teremos um bom começo. Parece que o lema que reina nos donos do mundo da televisão, é: “a programação que aliena não se mexe”, parafraseando o Dr. Waldemar Essuvi Tadeu, sociólogo pesquisador do tema. O meu sonho é que o ser humano comece a usar a cabeça. Devemos começar a apelar para a cabeçada de vez em quando, sem medo de manchar nossas páginas de vida, contra esse programa crack da humanidade, cujo efeito é rápido e provoca aos nossos filhos, irmãs, pais, sociedade, destrói irreversivelmente o cérebro humano e o resto que “se dane”. Talvez só assim seremos craques mundiais, ou seja, os melhores do mundo. Fica, portanto, decretado que a telenovela é o “crack” da nossa sociedade.
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