segunda-feira, 16 de março de 2015

O IMPEACHMENT DA DILMA, UM EQUÍVOCO DOS DESINFORMADOS

A série de manifestações convocadas via redes sociais e realizadas ontem (domingo, 15) pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff coloca em questão esse instituto jurídico. Aliás, o simples fato do alarde ao impeachment de Dilma já mostra que o brasileiro em sua maioria não conhece o processo político da nação. Segundo cientistas políticos, não há condições favoráveis para a a presidenta seja tirada de seu cargo, uma vez que sobre ela não pesa nenhuma acusação de improbidade no exercício da presidência da república, caso totalmente diferente do ocorrido com o ex-presidente Fernando Collor de Mello. O processo que culminou com a renúncia de Collor, em 29 de dezembro de 1992, foi resultado de meses de investigação parlamentar provocada por denúncias de corrupção divulgadas pela imprensa.Veja abaixo dez mitos e verdades sobre o processo de impeachment.

O que é Impeachment


Impeachment é uma palavra de origem inglesa que significa "impedimento" ou "impugnação", utilizada como um modelo de processo instaurado contra altas autoridades governamentais acusadas de infringir os seus deveres funcionais. Dizer que ocorreu impeachment ao Presidente da República, significa que este não poderá continuar exercendo funções.

Abuso de poder, crimes normais e crimes de responsabilidade, assim como qualquer outro atentado ou violação à Constituição são exemplos do que pode dar base a um impeachment.

O impeachment ocorre no Poder Executivo, podendo acontecer no Brasil, por exemplo, ao Presidente da República, Governadores e Prefeitos. Quando acontece o impeachment, significa que o mandato fica impugnado ou cassado.

O que leva ao impeachment?


Para que o pedido de abertura de impeachment tenha consistência, devem existir provas de que o mandatário cometeu algum crime comum (como homicídio ou roubo) ou crime de responsabilidade – que envolve desde improbidade administrativa até atos que coloquem em risco a segurança do país, explicitados na lei 1.079.

O segundo colocado nas eleições assume?


Não. Segundo a Lei 1.079/50, caso o processo de impeachment seja julgado e considerado procedente, quem assume é o vice, no caso, Michel Temer (PMDB-SP), que permanece até o fim do mandato. Caso o vice também seja afastado ainda durante a primeira metade do mandato, serão convocadas novas eleições. Caso ele seja afastado a partir da segunda metade do mandato, as eleições são indiretas, no caso, apenas os membros do Congresso Nacional podem votar nos candidatos. Enquanto as eleições acontecem, quem assume é o terceiro na linha sucessória, o presidente da Câmara dos Deputados, atualmente o peemedebista Eduardo Cunha.

Qualquer pessoa pode pedir o impeachment do presidente?


Sim. Qualquer pessoa pode encaminhar ao Congresso Nacional uma denúncia de crime de responsabilidade, o que inclui políticos como parlamentares. No entanto, cabe ao presidente da Câmara dos Deputados julgá-la procedente e abrir uma comissão especial para analisar o pedido.

O pedido de impeachment pode ser feito via abaixo-assinado?


Não. A denúncia por crime de responsabilidade precisa ser feita por uma pessoa física e deve ser acompanhada dos documentos que a comprovem. No caso do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, o processo durou cerca de sete meses, desde a instalação da comissão parlamentar mista de inquérito, em 1º de junho de 1992, até a renúncia de Collor, em 29 de dezembro de 1992.

Impeachment leva a uma nova eleição direta?


A única possibilidade de ocorrer uma nova eleição é se, além do presidente, o vice também for afastado ainda na primeira metade do primeiro mandato. Enquanto a eleição é convocada, no entanto, quem assume é o presidente da Câmara dos Deputados.

Impeachment pode ser decidido por voto popular?


Não. Quem recebe a denúncia e avalia se ela será transformada em processo e encaminhada aos parlamentares é o presidente da Câmara dos Deputados. 

CPI pode aprovar impeachment?


Não, a Comissão Parlamentar de Inquérito não tem o poder de decidir pelo impeachment. Quem recebe a denúncia e avalia se ela será transformada em processo e encaminhada aos parlamentares é o presidente da Câmara dos Deputados. 

Qual a diferença entre impeachment e cassação?


Impeachment é o processo que envolve a cassação do mandato de um político do Executivo, tornando-o inelegível por oito anos. Já a cassação envolve a perda do mandato e pode resultar na inelegibilidade, como nos casos em que o político é cassado com base na Lei da Ficha Limpa. O impeachment contra o ex-presidente Fernando Collor foi aprovado por 441 dos então 509 deputados em 29 de setembro de 1992. Collor foi afastado e substituído por Itamar Franco, seu vice. Sabendo que seria afastado, ele acabou renunciando no dia 29 de dezembro, mas o Senado prosseguiu o julgamento, afastando-o do cargo e privando-o dos direitos políticos por oito anos por 76 votos a 3. A decisão foi confirmada pelo STF em 1993. 

Pode ocorrer uma intervenção militar no país?


Segundo o artigo 142 da Constituição, "as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem." Segundo especialistas, hoje não parece haver indícios de que as Forças Armadas teriam interesse em intervir no processo democrático do país. Não há grandes lideranças militares e os quadros das Forças Armadas parecem mais preocupados com questões como o soldo e melhoria do padrão de vida. 

Quem pode determinar o impeachment?


O pedido de impeachment é avaliado pelo presidente da Câmara dos Deputados e, caso seja encaminhado aos parlamentares, precisa receber os votos de dois terços dos 513 deputados da Casa para continuar. Depois o processo é levado para julgamento no Senado, e também precisaria da adesão de dois terços dos 81 membros. Atualmente a presidente Dilma Rousseff conta com 304 deputados e 52 senadores em sua base aliada. A sessão é presidida pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e precisa ocorrer em até 180 dias depois que chega ao Senado, período pelo qual o presidente fica afastado do cargo e o vice assume. Se o julgamento não tiver sido concluído nesse prazo, o presidente volta às funções.

O que precisa haver de provas para se afastar um presidente?


Especialistas em direito constitucional afirmam que há uma confusão entre insatisfação política e a real necessidade de um impeachment. Segundo eles, o processo democrático nem sempre agrada. A população confunde institutos jurídicos com a insatisfação. Além da necessidade de se provar que houve de fato crime de responsabilidade, ela lembra que a possibilidade de impeachment está intimamente ligada ao prestígio de que o presidente goza dentro do Congresso Nacional e do Senado. Antes de qualquer coisa, o impeachment é uma decisão política dentro do universo jurídico, afirmam os especialistas. A grande pergunta agora é se o Congresso tem interesse nesse processo.

Ou seja...


Por mais que as manifestações de protesto ao governo Dilma/PT tenham expressado o grito de um povo insatisfeito com o atual cenário político, econômico e social do Brasil - só aqui em Belo Horizonte, estima-se que em torno de 30 mil pessoas foram às ruas -, determinando o sucesso das manifestações; por mais que seja impossível ao governo ignorar a "voz do povo" - e, caso ignore, aí é caso de internação em um hospício -, pensar no impeachment da dona Dilma é dar atestado de ignorância no que tange ao processo político brasileiro. Não basta ter consciência política. Há que se ter conhecimento da causa e muita razoabilidade ou tal consciência será na verdade uma enorme lacuna. E lacunas podem ser preenchidas por qualquer bobagem, qualquer mentira. Cidadania sim, burrice não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário