segunda-feira, 30 de março de 2015

O "EU" X O "NÓS"

Estamos vivendo novos tempos. A Era do Vazio baseia-se em um novo estágio histórico do individualismo, uma nova era democrática que se traduz pela redução da violência e pelo desgaste do que há um século vem sendo considerada como vanguarda, onde as sociedades democráticas avançadas estão agora situadas na era "pós-moderna". Um traço preocupante é expresso nas características desta sociedade. Crianças, adolescentes e jovens cada vez mais consumistas, cada vez mais egoístas, cada vez mais narcisistas, cada vez mais "pavões". Para essa geração não há limite algum e ela vive como se o globo terrestre girasse em torno de sua circunferência umbilical. Também não aceita o “não” como resposta e pensa ter o cetro dos desejos em suas mãos. É a geração “não vai dar nada pra mim”. O máximo que sabem sobre relacionamento e afetividade cabe na palma da mão, no monitor de um dispositivo eletrônico. Os que integram essa geração são seres insociáveis, que não respeitam as mínimas normas de convivência em sociedade, justamente por acharem que o universo se prostra aos seus pés. 

E os pais? 


Aos olhos dos pais, eles sempre serão os mais bonitos, inteligentes e bem-sucedidos. Mas sabe-se que a realidade não é bem assim. Para um observador neutro, a maioria das crianças é bem parecida, seja em graça e beleza, seja em esperteza. Enquanto não há nada de anormal em considerar a própria prole mais especial que a alheia, existe um risco quando se diz isso aos filhos de maneira exagerada e constante. Pesquisas sugerem que o excesso de autoconfiança resulta em gerações mais egoístas, irrealistas e frustradas. 

Na semana passada, repercutiu um estudo que demonstrou como os pais podem estimular o narcisismo ao falar para as crianças que elas são muito especiais. Embora defendam uma relação de carinho e incentivo intrafamiliar, os cientistas da Universidade de Amsterdã que realizaram a pesquisa ressaltaram que os pequenos cujo ego é inflado constantemente têm maior probabilidade de desenvolver uma personalidade vaidosa ao extremo. O estudo acompanhou 565 crianças ao longo de um ano e meio.

De fato, a cada nova geração, observam-se comportamentos mais autocentrados e egoístas, alega a psicóloga americana Jean Twenge. Autora dos livros Gerenation me (Geração eu, não editado no Brasil) e The narcisism epidemic (A epidemia do narcisismo, também não publicado por aqui), Twenge analisa como a autopercepção de crianças e jovens está 
aumentando desde a década de 1960. A especialista chegou à conclusão de que, mais do que nunca, eles tendem a acreditar que o mundo gira em torno de seus umbigos. Isso, diz ela, é péssimo para a sociedade e pior ainda para quem não apenas pensa ter o rei na barriga, mas se considera a própria majestade. 

Em casa, eles são incentivados a se tornarem pequenos ditadores, tendo o que querem na hora que desejam — afinal, são os próprios pais que garantem não haver ninguém mais especial na face da Terra. Como, então, não acreditar? John Reynolds, psicólogo da Universidade Estadual da Flórida, estudou os efeitos disso a longo prazo. Constatou que a tendência desses jovens é se transformarem em adultos frustrados e deprimidos. De acordo com ele, as crianças criam grandes expectativas em torno delas mesmas ao ouvirem desde cedo o quanto são maravilhosas. Dessa forma, pensam que podem tudo e que sempre se sairão melhores que os outros. Ao falhar nesse objetivo, seja na escola, na faculdade, seja no mercado de trabalho, o choque de realidade pode ser custoso demais.

A culpa, aponta Jean Twenge, não é das crianças ou dos jovens. Ela diz que, se antes, a cultura ocidental incentivava a humildade e a modéstia, hoje muitas pessoas enxergam nessas virtudes verdadeiros defeitos. Até a linguagem escrita tem sido influenciada pelo estilo de vida narcisista — uma pesquisa que a psicóloga fez na base de dados do Google Books mostrou que o uso do pronome pessoal “nós” caiu 10% nas publicações entre 1960 e 2008, enquanto que o “eu” aumentou 42%.

Os autores da pesquisa que evidenciou a influência da família no narcisismo dos filhos ressaltaram, em entrevista à France-Presse, que apoio e carinho são uma estratégia melhor que inflar o ego. No estudo, os jovens cujos pais diziam o quanto os amavam tinham a autoestima elevada, sem, contudo, serem narcisistas. “As pessoas com boa autoestima não acreditam ser melhores que as demais, mas os narcisistas pensam que são”, disse Brad Bushman, coautor do estudo. “Os pais podem ser orientados sobre como expressar afeição a seus filhos, sem dizer que eles são superiores aos outros.”

Eu fico com a Bíblia: "O orgulho leva a pessoa à destruição, e a vaidade faz cair na desgraça. É melhor ter um espírito humilde e estar junto com os pobres do que participar das riquezas dos orgulhosos." 

Provérbios 16:18, 19

[Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde]

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