quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

TEOLOGIA CRISTÃ: ESPIRITUAL OU FILOSÓFICA?

Outro dia fiquei intrigado ao ler um livro sobre a modernidade em que havia uma constatação mais do que verdadeira - a de que a teologia cristã está conhecendo hoje uma de suas crises ais profundas, ao abandonar seus clássicos instrumentos de trabalho.

A profusão de artigos teológicos, nas mais diversas publicações, oferecem, cada vez menos, explicações oriundas de outros ramos do conhecimento, tais como psicologia, economia e até mercadologia. E, cada vez menos os assuntos teológicos são tratados dentro de sua própria natureza.

A teologia está se desviado de seu foco, especialmente o de promover um intenso diálogo entre a fé e a razão com o uso de instrumentos tais como a exegese e a filosofia, e perdendo até o seu vocabulário. O problema é que uma ciência que perde o seu vocabulário perde também a capacidade de interação com o mundo, caminhando para sua implosão.

Pior que isso é abandonar conceitos fundamentais e deixar de ter em seu núcleo formador um caráter auto-referido, isto é, que se explique a si mesmo. é como se um indivíduo, de uma hora para outra, perdesse a sua própria identidade e se esquecesse até do lugar onde mora.

Com a oficialização dos cursos de graduação pelo Ministério da Educação, por exemplo, o aumento de professores no curso de teologia, com formação em ciências da religião,  ampliaram essa crise. Os cursos de pós-graduação em teologia feitos no país em modalidade livre, não são aceitos pela legislação. Isto provocou um descolamento epistemológico da teologia.

O problema é que, em vez de aprender a utilizar instrumentos próprios do pensar  teológico, o teólogo será formado com ferramentas da psicologia, sociologia e outras carências que, de auxiliares, passam a ser suas linhas mestras e interpretativas. Assim, em vez de teólogos-ministros, poderemos ter tudo, menos isso. Seria como dar a um dentista uma moto-serra para fazer seu trabalho.

Tudo isso sem contar que a visão da religião como um mercado da fé tem transformado o crente num cliente cada vez mais exigente. A construção teológica vem incorporando conceitos mercadológicos. Trata-se de uma troca simbólica gravíssima para sobrevivência do cristianismo.

É claro que muitos teólogos acabaram trancafiados em gabinetes, esquecendo-se do mundo e buscando respostas que pouco interessam à realidade contemporânea. Muitos acabaram "subindo" tanto ao céu que esqueceram dos dilemas concretos da vida. Resta à teologia cristã um reencontro consigo mesma, um retorno ao uso de suas ferramentas essenciais de trabalho. Enfim, uma volta à Bíblia como Palavra de Deus, sua fonte inesgotável de verdade e não apenas um mero livro de referência.

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