O livro 50 Tons de Cinza, compõe a trilogia escrita pela autora britânica Erika Leonard James, conhecida pelo pseudônimo E.L. James - os outros títulos são: 50 Tons Mais Escuros e 50 Tons de Liberdade - e é um dos livros mais lidos nos últimos tempos. Bestseller absoluto, o livro é considerado "pornô para mamães". A trilogia de E.L. James tornou práticas sexuais nada ortodoxas palatáveis para o grande público: “As mulheres se sentiram encorajadas a voltar a falar sobre sexo”, diz a autora.
Mas há controvérsias. Muitos consideram o livro um assinte à moral e aos bons costumes. Com doses cavalares de sedução, erotismo, sexo e sadomasoquismo, 50 Tons... causou muito incômodo para uns e verdadeiro frissom para outros (detalhe: são mais leitoras do que leitores da obra). Pronto, virou sucesso. Tanto que, como era de se esperar, recebeu sua versão para as telonas. Eu li o livro e, sinceramente, ele tão ruim, mas tão ruim que, não dá para entender o motivo de seu sucesso, ou dá, sei lá.
A história
Anastasia Steele é uma radiante garota na flor de seus 21 anos, prestes a se formar em literatura. Ingênua e bem-comportada, ela nunca teve sequer um namorado. Na verdade, ainda é virgem. Perto dos 30 anos, Christian Grey tem cabelos acobreados, é alto, forte, de corpo muito bem definido, porém não musculoso demais, e bi – isto é, bilionário. Os dois se encontram por acaso quando ela vai, no lugar de uma amiga, entrevistá-lo para o jornal da faculdade. A atração mútua é fulminante e avassaladora. Se Grey é a imagem perfeita do príncipe encantado dos sonhos de Anastasia, ele não suporta mais ficar um instante longe dela. Parece se tratar de uma união simplesmente divina, não fosse o fato de o magnata possuir um traço terrível e obscuro em sua personalidade.
Na luxuosa cobertura envidraçada onde vive, na cidade americana de Seattle, entre valiosas obras de arte e um piano de cauda branco – que ele toca com o talento de um virtuose -, existe “o quarto da dor”. Decorado com veludo vermelho e couro negro, o cômodo é equipado com cama gigante, almofadas confortáveis, chicotes, coleiras, correntes, algemas e todo o aparato necessário para intensas sessões de sexo sadomasoquista. Em vez de propor casamento, Grey espera que Anastasia se torne sua escrava sexual e principal objeto de prazer. “Não sou do tipo romântico”, diz, em tom autoritário, para a aterrorizada porém perdidamente apaixonada donzela. Mesmo hesitante, ela aceita o desafio, que inclui total submissão, açoitamento, palmadas, olhos vendados, punhos atados e nenhum carinho.
Tudo descrito nos detalhes mais gráficos, epidérmicos e voluptuosos. Conseguirá a inocente heroína conquistar o amor verdadeiro mergulhando nessa relação no mínimo doloridíssima? Esse é o enredo de Cinquenta Tons de Cinza, o livro que todo mundo leu (e ainda está lendo), comprou (e ainda está comprando), baixando na internet, comentando, recomendando (ou não), discutindo e, acima de tudo, a-do-ran-do no mundo inteiro. Devido ao caráter extremamente explícito das cenas de sexo, que vêm misturadas à linguagem simples dos romances baratos e ao enfoque descaradamente água com açúcar da história de amor, a obra já foi qualificada como “pornô para mamães” e “Cinderela tarada”.
O Sucesso: é ruim, mas é bom
Desde seu lançamento nos Estados Unidos, em março de 2013, vendeu mais de 10 milhões de exemplares em apenas seis semanas, tornando-se o maior fenômeno editorial dos últimos tempos e deixando para trás pesos-pesados como o mega-best-seller O Código Da Vinci e a saga Crepúsculo. 50 Tons de Cinza segue uma fórmula batida – a atração dos opostos e a torcida pelo amor. Mas a “monstruosidade” do protagonista é um ingrediente secreto que está por trás de tanto sucesso.
Nosso cérebro é uma incansável máquina de classificar, está o tempo todo tentando categorizar automaticamente tudo o que vê pela frente: é bom ou mau, claro ou escuro, bonito ou feio, pequeno ou grande? Que cor? Qual espécie? Para que serve? Quando nos deparamos com algo que não é facilmente classificável, ou que por algum motivo fica no limiar entre uma ou mais categorias, ficamos intrigados. O conflito criando em nossa mente prende a atenção e coloca o pensamento em looping tentando decifrar o mistério. Esse é, para alguns, o motivo de os monstros serem tão bem sucedidos na ficção. Sendo ao mesmo tempo mortos e vivos, humanos e animais, visíveis e invisíveis, eles atiçam nossa curiosidade.
Eis o ingrediente secreto por trás do sucesso de 50 Tons de Cinza. O protagonista, Christian Grey, é um desses seres. Jovem, rico e solteiro, mas avesso a qualquer envolvimento afetivo. Gentil e sedutor, mas frio e manipulador. Bonito e um expert sexual, mas cruel e sádico. E agora? Torcemos por ele ou contra ele? Seria um monstro? A tensão bastaria para apelar a nosso cérebro. Mas a fórmula não para por aí. A mocinha da história, sua escolhida, Anastasia Steel, em tudo o oposto do Sr. Grey. Sem dinheiro, inexperiente, desajeitada, romântica, aguardando o homem certo para se entregar. Ele tem vários carros caros, ela só um Fusca. Em oposição aos seus ternos impecáveis, sua roupas parecem andrajos. E enquanto o rapaz é quase um profissional do sexo, ela é virgem. Pronto. O velho clichê dos opostos se atraindo, lutando ao longo das duas horas de filme para se entenderem, mobilizam a torcida da plateia acrescentando um toque infalível no caminho para um blockbuster. Não é um ingrediente secreto. Mas mesmo manjada, a fórmula funciona.
O filme
E, enfim, a tão aguardada versão cinematográfica de “50 Tons de Cinza” finalmente chega às telonas de todo o Brasil para agradar aos fãs que esperavam ansiosamente pelo Sr. Grey.Com direção de Sam Taylor-Johnson (de "O Garoto de Liverpool") e roteiro de Kelly Marcel (de "Walt nos Bastidores de Mary Poppins"), o longa-metragem conta apenas os acontecimentos do primeiro livro de E. L. James. Com Jamie Dornan (Grey) e Dakota Johnson (Anastasia) nos papéis dos protagonistas.
E como se não fosse suficiente, o filme – preparando caminho para as continuações do que promete ser uma longa trilogia – nos deixa com a aflição da tarefa incompleta. Como em qualquer relacionamento, uma vez que os protagonistas passam a interagir eles vão se modificando mutuamente. Se Anastasia aceita experimentar um pouco dos jogos do Sr. Grey, este parece dar sinais de estar se abrindo para o afeto. Com isso o filme nos provoca a pensar e repensar sobre seu estado híbrido de mocinho-e-bandido – será que ele deixará esse limbo existencial, e, transformado pelo toque do amor abandonará sua frieza? Assim como no primeiro livro, contudo, a resposta não vem. Como num episódio de Lost, ficamos curiosos, gostemos ou não do que vimos na tela.
A grande polêmica do filme — que obviamente está na história original do livro — é justamente a ousadia sexual do Sr. Grey e a forma como a história entre ele e Anastasia se desenvolve. Dito isso, fica a dúvida: rola safadeza no filme? Não muita, e é aqui que temos o principal problema do filme. 50 Tons de Cinza segue uma fórmula batida – a atração dos opostos e a torcida pelo amor. Mas a “monstruosidade” do protagonista é um ingrediente secreto que está por trás de tanto sucesso.
E como se não fosse suficiente, o filme – preparando caminho para as continuações do que promete ser uma longa trilogia – nos deixa com a aflição da tarefa incompleta. Como em qualquer relacionamento, uma vez que os protagonistas passam a interagir eles vão se modificando mutuamente. Se Anastasia aceita experimentar um pouco dos jogos do Sr. Grey, este parece dar sinais de estar se abrindo para o afeto. Com isso o filme nos provoca a pensar e repensar sobre seu estado híbrido de mocinho-e-bandido – será que ele deixará esse limbo existencial, e, transformado pelo toque do amor abandonará sua frieza? Assim como no primeiro livro, contudo, a resposta não vem. Como num episódio de Lost, ficamos curiosos, gostemos ou não do que vimos na tela.
Os personagens são superficialmente caracterizados. O enredo é simplório. As cenas de sexo são provocantes, parando logo antes de se tornarem explícitas. Junte tudo isso e coloque na esteira dos milhões de livros vendidos e temos um recorde de bilheteira. Ou três. Fui ver o filme mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa e também para repercuti-lo no blog, mas, assim como no livro, não há absolutamente nada de interessante ou mais chocantes que muitas cenas das novelas e minisséries exibidas pela Rede Globo, por exemplo. Eu não perdi o controle.
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