segunda-feira, 30 de novembro de 2015

CONHECENDO A AUTORIDADE DO NOVO TESTAMENTO

O Cristianismo, nas suas etapas iniciais, considerou o Antigo Testamento como a sua única Bíblia. Jesus, como os seus discípulos e apóstolos e o resto do povo judeu, citou-o como “as Escrituras”, “a Lei” ou “a Lei e os Profetas” (cf. Mc 12:24; Mt 12:5; Lc 16:16).

Com o passar do tempo, a Igreja, tendo entendido que em Cristo “as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5:17), produziu muitos escritos acerca da vida e da obra do Senhor, estabeleceu e transmitiu a sua doutrina e estendeu a mensagem cristã a regiões cada vez mais distantes da Palestina. Dentre esses escritos foi-se destacando aos poucos um grupo de vinte e sete, que pelos fins do século II começou a ser conhecido como Novo Testamento. 

Eram textos redigidos na língua grega, desiguais tanto em extensão como em natureza e gênero literário. Todos, porém, foram considerados com especial reverência como procedentes dos apóstolos de Jesus ou de pessoas muito próximas a eles.

O uso cada vez mais frequente que os crentes faziam daqueles vinte e sete escritos (convencionalmente chamados “livros”) conduziu a uma geral aceitação da sua autoridade. A fé descobriu, sem demora, nas suas páginas a inspiração do Espírito Santo e o testemunho fidedigno de que em Jesus Cristo, o Filho de Deus, cumpriam-se as antigas profecias e se convertiam em realidade as esperanças messiânicas do povo de Israel. 

Consequentemente, a Igreja entendeu que os escritos hebraicos, que chamou de Antigo Testamento, requeriam uma segunda parte que viesse a documentar o cumprimento das promessas de Deus. E, enfim, após um longo processo e já bem avançado no século V, ficou oficialmente reconhecido o cânon geral da Bíblia como a soma de ambos os Testamentos.

Divisão do Novo Testamento


Desde o século V, o índice do Novo Testamento agrupa os livros da seguinte maneira:

  • Biografia: Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João - Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de Evangelhos Sinópticos, devido a certo paralelismo que têm entre si. Estes evangelhos são assim considerados porque permitem uma visão panorâmica da vida, obra, doutrina, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
  • Livro Histórico: Atos dos Apóstolos.
  • Epístolas Paulinas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom.
  • Epístolas Gerais ou Universais: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas.
  • Livro Profético: Apocalipse.
Essa catalogação dos livros do Novo Testamento não corresponde à ordem cronológica da sua redação ou publicação; é, antes, um agrupamento temático e por autores. Talvez, deve-se ver nesse agrupamento o propósito de apresentar a revelação de Deus e o anúncio do seu reino eterno a partir da boa nova da encarnação (Evangelhos) até a boa nova do retorno glorioso de Cristo no fim dos tempos (Apocalipse), passando pela história intermediária da vida e da incumbência apostólica da Igreja (Epístolas).

A Transmissão do Texto


É realmente extraordinário o número de manuscritos do Novo Testamento que chegou a nós depois de tantos séculos desde que foram escritos. Ao todo, são mais de 5.000. Alguns são apenas pequenos fragmentos, tão deteriorados pelo tempo e pelas más condições ambientais, que a sua utilidade é praticamente nula. Mas são muito mais numerosos os manuscritos que, no todo ou em parte, se conservaram num estado suficientemente satisfatório para transmitir até o presente a sua mensagem e testificar assim a fidelidade dos cristãos que os escreveram.

Assim sendo, os manuscritos que conhecemos não são autógrafos, isto é, nenhum provém da mão do próprio autor. Todos, sem exceção, são cópias de cópias dos textos originais gregos ou de traduções para outros idiomas. Copistas especializados pacientemente consagrados a esse labor de muitos anos de duração, os produziram nos lugares mais diversos e no decorrer de séculos.

As cópias mais antigas até agora conhecidas são papiros que datam do século III, procedentes do Egito. O papiro é uma planta abundantemente encontrada às margens do Nilo. Da sua haste, cortada e prensada, preparavam-se tiras retangulares, que se uniam formando folhas de uns 30 centímetros de largura e vários metros de comprimento. Uma vez escritas, enrolavam-se as folhas com o texto para dentro, atando-as com fios.

Os rolos de papiro eram de fácil fabricação, mas o seu manejo era incômodo. Ademais, tanto a umidade como o calor seco danificavam o material e impediam a sua prolongada duração. Por isso, em substituição ao papiro, entre os séculos II e V, se difundiu o uso de pergaminho, que era uma folha de pele de ovelha ou cordeiro especialmente curtida para poder-se escrever nela. 

Esse novo material, bastante mais custoso que o anterior, porém muito resistente e duradouro, permitiu, primeiro, a preparação de cadernos e, depois, o de códices, isto é, livros na forma em que os conhecemos atualmente. Entre os diversos códices da Bíblia descobertos até o dia de hoje, os mais antigos e, simultaneamente, mais completos são os chamados Sinaítico e Vaticano,ambos datados do século IV.

Palestina Romana


Jesus nasceu em fins do reinado de Herodes, o Grande (47 a 4 a.C.). Homem cruel (cf. Mt 2:1-16) e, sem dúvida, inteligente, distinguiu-se pela grande quantidade de terras e cidades que conquistou e pelas numerosas e colossais construções com que as dotou. Entre estas, o templo de Jerusalém, do qual apenas se conservaram uns poucos restos pertencentes à muralha ocidental (o Muro das Lamentações).

Após a morte de Herodes (Mt 2:15-19), o seu reino foi dividido entre os seus filhos Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. Arquelau (Mt 2:22), etnarca da Judéia e Samaria, foi deposto pelo imperador Augusto no ano 6 d.C. A partir de então, o governo esteve em mãos de procuradores romanos, entre eles Pôncio Pilatos, que manteve o cargo desde o ano 26 até 36. Herodes Antipas (Lc 3:1) foi tetrarca da Galiléia e Peréia até o ano 39; e Filipe (Lc 3:1), até 34 o foi da Ituréia, Traconites e outras regiões orientais do Norte (Ver a Cronologia Bíblica).

No ano 37, o imperador Calígula nomeou rei a Herodes Agripa e o colocou sobre a tetrarquia de Filipe, à qual logo acrescentou a de Herodes Antipas. Com a morte de Calígula (assassinado no ano 41), o seu sucessor, Cláudio, ampliou ainda mais os territórios de Agripa com a anexação da Judéia e Samaria. Desse modo, Agripa reinou até a sua morte (44 d.C.), praticamente sobre toda a Palestina.

Antipas foi aquele que mandou prender e matar a João Batista (Mc 6:16-29); e Herodes Agripa foi quem perseguiu a igreja de Jerusalém e mandou matar a Tiago e prender a Pedro (At 12:1-19). O Novo Testamento fala também de outro Herodes Agripa, filho do anterior: o rei que, acompanhado da sua irmã e mulher Berenice, escutou o discurso pronunciado por Paulo em sua própria defesa, em Cesaréia (At 25:13 - 26:32).

Por detrás de todos esses personagens se manteve, sempre vigilante, o poder romano. Roma era quem empossava ou demitia governantes nos países submetidos ao seu domínio, conforme lhe convinha. Durante a vida de Jesus e até à destruição de Jerusalém no ano 70, sucederam-se em Roma sete imperadores (ou césares). Três deles são mencionados no Novo Testamento: Augusto (Lc 2:1), Tibério (Lc 3:1) e Cláudio (At 11:28; 18:2). E há um quarto, Nero, cujo nome não é mencionado, a quem Paulo faz tácita referência ao apelar ao tribunal de César (At 25:10-12; 28:19).

A Palestina fazia parte do Império Romano desde o ano 63 a.C. Essa circunstância significara a perda definitiva da sua independência nacional. Dois longos séculos de agitação política a tinham levado a um estado de irreparável prostração moral, de que Roma, pela mão do general Pompeu, aproveitou-se apoderando-se do país e integrando-o na província da Síria.

A fim de manter a paz e a tranquilidade nos seus territórios, Roma atuava geralmente com muita cautela, sem pressionar excessivamente a população submetida e sem forçá-la a mudar os seus próprios modelos da sociedade, nem os seus costumes, cultos e crenças religiosas. Inclusive, às vezes, a fim de pôr uma nota de tolerância e boa vontade, consentia a existência de certos governos nacionais, como os de Herodes, o Grande, e dos seus sucessores dinásticos.

O que Roma nunca permitiu foi a agitação política e muito menos a rebelião aberta dentro das suas fronteiras. Quando isso ocorria, o exército se encarregava de restabelecer a ordem, atuando com presteza e com o máximo rigor. Foi isso que aconteceu no ano 70 d.C., quando Tito, filho do imperador Vespasiano, arrasou Jerusalém e provocou a “diáspora” (ou dispersão) de grande parte da população, a fim de acabar de uma vez por todas com as revoltas judaicas iniciadas uns quatro anos antes.

Configuração Física da Palestina


O Jordão é o rio da Palestina. Nasce no monte Hermom e percorre o país de norte a sul, dividindo-o em dois: a Cisjordânia, ou lado ocidental, e a Transjordânia, ou lado oriental. Depois de atravessar o mar da Galiléia, corre serpenteante ao longo de uma depressão geológica cada vez mais profunda, até desembocar no mar Morto, a uns 110 km do lugar do seu nascimento e a quase 400 m abaixo do nível do Mediterrâneo.

O mar Morto, de quase 1000 km² de superfície, deve o seu nome ao fato de que a alta proporção de sal e outros elementos dissolvidos nas suas águas fazem nelas impossível a vida de peixes e de plantas. Ao contrário, o mar (ou o lago) da Galiléia, também chamado de lago de Genesaré ou de Tiberíades (cf., p. ex., Mt 4:18; 14:34 e Jo 61), de 145 km² de superfície e situado igualmente em uma profunda depressão (212 m abaixo do nível do Mediterrâneo), é uma grande represa natural de água doce em que abundam os peixes (cf. Lc 5:4-7; Jo 21:6-11).

A Palestina é uma terra de montanhas. Na época do Novo Testamento, quase todas as suas cidades estavam situadas em algum ponto da cordilheira que desce, desde os maciços do Líbano (3.083 m) e do Hermom (2.760 m) até os limites meridionais do país na região desértica do Neguebe. Essa cadeia só se vê cortada pela planície de Jezreel (Js 17:16), que penetra nela, deixando ao norte os montes da Galiléia e ao sul os desvios das montanhas de Samaria.

Alguns nomes do sistema orográfico da Palestina se conhecem pela menção que deles fazem os relatos bíblicos. No lado oriental do Jordão, p. ex., encontra-se o monte Nebo, de 1.146 m de altura; e, no lado ocidental, o Carmelo (552 m), o Gerizim (868 m), o monte das Oliveiras (uns 800 m) e o Tabor (562 m).

A Palestina achava-se limitada pelos desertos da Arábia e da Síria ao leste e, a oeste, pelo mar Mediterrâneo, separado das montanhas pelas terras baixas que começam na fértil planície de Sarom (cf. Ct 2:1; Is 35:2), junto ao monte Carmelo.

Populações da Palestina


Os Evangelhos e Atos dos Apóstolos mencionam um bom número de cidades, vilas e aldeias espalhadas pelo país, especialmente a oeste do Jordão e do mar Morto. Na região da Galiléia se encontravam, às margens do lago de Genesaré, Cafarnaum, Corazim e Magdala; e, mais ao interior, Caná, Nazaré e Naim.

Na região da Judéia, a quase 1.150 m acima do nível do mar Morto, eleva-se Jerusalém. Perto dela, ao sul, Belém; a leste, sobre o monte das Oliveiras, Betânia e Betfagé; e, a oeste, Emaús, mais longe, Lida e, por último, o porto de Jope. A partir daqui, descendo pelo litoral, Azoto e Gaza.
O Novo Testamento menciona também algumas cidades e vilas palestinas que não pertenciam à Judéia ou Galiléia: Cesaréia de Filipe, na Ituréia; Sarepta, Tiro e Sidom, no litoral da Fenícia; Siquém, em Samaria.

Sociedade e Cultura no Mundo Judaico


Os relatos dos evangelistas oferecem uma espécie de retrato da forma de vida dos judeus de então. As parábolas de Jesus e as ocorrências nos percursos que fez pela Palestina destacam a importância que, naquela sociedade, representavam os trabalhos do campo. A semeadura e a colheita de cereais, o plantio de vinhas e a colheita de uvas, a produção hortícola e as referências à oliveira, à figueira e a outras árvores são dados reveladores de uma cultura basicamente agrária, completada com a criação de rebanhos de ovelhas e cordeiros, de animais de carga e, inclusive, de manadas de porcos. Por outro lado, a pesca ocupava um lugar importante na atividade dos moradores que viviam nas aldeias costeiras do mar da Galiléia.

Junto a essas profissões exerciam-se também outras de índole artesanal. Ali se encontravam perfumistas, tecelões, curtidores, carpinteiros (cf. Mc 6:3), oleiros e fabricantes de tendas de campanha (cf. At 18:3); e, certamente, também servidores domésticos, comerciantes, banqueiros e cobradores de impostos (ver Publicanos na Concordância Temática).

Nos degraus mais baixos da escala sócio-econômica estavam os peões contratados ao salário do dia, os escravos (cf. Êx 21:1-11), as prostitutas e um número considerável de pessoas que sobreviviam com a prática da mendicância.

Religião e Política


A religião e a política caminham juntas no mundo judaico. Eram dois componentes de uma só realidade, expressa no sentimento nacionalista que brotava da mesma fonte, a fé no Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A história do povo de Israel é a história da sua fé em Deus; e a sua fé é a fé em que Deus governa toda a sua história.

Por isso, o sumo sacerdote em exercício era precisamente aquele que presidia o Sinédrio,máximo órgão jurídico e administrativo da nação. Este consistia num conselho de 71 membros, no qual estavam representados os três grupos político-religiosos mais significativos da época: os sacerdotes, arrolados na sua maioria no partido saduceu; os anciãos, geralmente fariseus; e os mestres da Lei.

O Sinédrio gozava de todas as competências de um governo autônomo, salvo aquelas em que Roma se reservava os direitos de última instância. O Sinédrio, p. ex., era competente para condenar à morte um réu, mas a ordem da execução exigia o visto da autoridade romana, como sucedeu no caso de Jesus (cf. Jo 19:10).

Em relação aos partidos, convém assinalar que os fariseus eram os representantes mais rigorosos da espiritualidade judaica. Com a sua insistência na observância estrita da Lei mosaica e no respeito às tradições dos “pais” (isto é, os antepassados), exerciam uma forte influência no povo. Jesus reprovava o seu exagerado zelo ritual e o afã de satisfazer os mais insignificantes aspectos da letra da Lei, que os fazia esquecer frequentemente os valores do espírito que a anima (cf. Mc 7:3-4,8-13. Ver 2 Co 3:6).

Os saduceus representavam, de certo modo, a aristocracia de Israel. Esse partido, mais reduzido numericamente que o fariseu, era formado, em grande parte, pelas poderosas famílias dos sumos sacerdotes. Na sua doutrina, em contraste com o que ensinavam os fariseus, os saduceus mantinham “não haver ressurreição, nem anjo, nem espírito” (At 23:8).

Tradicionalmente, se tem considerado que os zelotes constituíam um grupo judaico nacionalista que se rebelou contra Roma. Eram conhecidos também como cananitas. Com ambos os epítetos se identifica no Novo Testamento Simão, um dos doze discípulos de Jesus (ver Lc 6:15, nota n e cf. Mt 10:4 e Mc 3:18 com Lc 6:15 e At 1:13). Os zelotes desempenharam um papel muito ativo na rebelião dos anos 66 a 70.

À parte desses três grupos, havia outros, como os herodianos, cuja identidade não se conseguiu esclarecer totalmente. É provável que se tratasse de pessoas a serviço de Herodes, embora alguns achem que o nome se adapte melhor aos partidários de Herodes e de sua dinastia.

Os escribas, mestres da Lei ou rabinos formavam um grupo profissional e não um partido. Eram os encarregados de instruir o povo em matéria de religião. Não pertenciam, em geral, à classe sacerdotal, mas eram influentes e chegaram a gozar de uma elevada consideração como intérpretes das Escrituras e dirigentes do povo.

Pouco tempo e pouco espaço necessitou Jesus de Nazaré para realizar uma obra cujas bênçãos haveriam de alcançar a todos os seres humanos de todos os tempos e de todos os lugares. O Novo Testamento dá testemunho disso: ele é o registro que, com a mesma singeleza com que o Filho de Deus se manifestou em carne, também fala do amor de Deus e da sua vontade salvadora.

Conclusão


Os escritores do Novo Testamento, no entanto, não fizeram a Bíblia; tudo o que eles fizeram foi adicionar à Bíblia o que já estava lá. Mas que direito eles tinham de acrescentar? Onde está a autoridade necessária ser encontrada?

Deve ser encontrada, em última análise, em Jesus. Jesus reivindicou uma autoridade plenamente igual à dos escritores do Antigo Testamento, e sua reivindicação foi apoiada tanto por seus milagres e por toda a natureza da sua Pessoa. O que quer que Jesus dissesse foi indubitavelmente verdadeiro; tudo o que ele ordenou deve ser obedecido implicitamente.

Mas Jesus nada escreveu; nenhum dos livros do Novo Testamento, nem mesmo aqueles que lidam com suas próprias palavras e atos, vieram a nós diretamente dele. Se os livros devem ser considerados como autoritários, sua autoridade deve aparentemente ser procurada em outro lugar. Que outra autoridade se manifestou na Igreja primitiva, além de a autoridade de Jesus?

A resposta a esta pergunta é simples. A autoridade de Jesus na Igreja primitiva foi continuada pela autoridade dos seus apóstolos. A autoridade dos apóstolos aparece em sua própria afirmação, uma vez que se torna evidente em particular nas epístolas de Paulo. Ele também aparece na reverência com que foram considerados não apenas pelos seus contemporâneos, mas também por todas as gerações subsequentes. 

A autoridade dos apóstolos difere, porém, da de Jesus em que não foi devido a qualquer virtude inerente nas pessoas de que a possuía; os apóstolos eram homens com na necessidade de perdão, como o resto da humanidade. De onde, então, foi a sua autoridade derivada? A resposta é simples. Foi derivado da comissão que havia recebido do próprio Jesus. 

Assim como o Pai o havia enviado ao mundo, da mesma forma Jesus os enviou ao mundo, João 17:18; seu Espírito guiaria em toda a verdade (João 16:13). Clemente de Roma foi inteiramente correto quando, escrevendo em cerca de 95 AD para a igreja em Corinto, disse: “Os Apóstolos receberam o evangelho para nós da parte do Senhor Jesus Cristo; Jesus Cristo foi enviado de Deus. Assim, pois Cristo é de Deus, e os apóstolos são de Cristo. “(I Clemente, 42, traduzido por Lightfoot).

Foi em virtude dessa autoridade que os apóstolos adicionado à Bíblia de seu tempo os livros que são que a compõem no Novo Testamento. Assim, a Igreja tem mantido desde o início; o critério decisivo para determinar se um livro devia ser considerado com autoridade foi encontrado pela Igreja primitiva na genuinidade da sua “apostolicidade.” Apenas os livros foram recebidos pela Igreja, os que foram escritos por apóstolos, com exceção dos escritos de Marcos e Lucas que foram dados à Igreja sob sanção apostólica. 

A Igreja não criou a autoridade dos livros do Novo Testamento; ela só reconheceu a autoridade que aqueles livros possuíam em si mesmos desde o início. Os apóstolos não tinha presunçosamente usurpado a função estupenda de adição à Bíblia; eles receberam-no em virtude de sua comissão abrangente de Jesus, e eles cumpriram pela inspiração do Espírito Santo, da qual Jesus tinha prometido.

Aos escritos desses homens devemos a nossa vida cristã hoje. O próprio Jesus, como já foi observado, nada escreveu; até mesmo o registro de suas palavras e ações nos vem apenas na autoridade de seus apóstolos. Na verdade, havia muitas coisas que na própria natureza do caso não poderia ser dito até depois da ressurreição. Jesus não veio, mera e principalmente, para revelar a natureza de Deus; ele veio, em vez disso, realizar uma obra de salvação. 

Até que o trabalho fosse realizado, seu significado não poderia ser completamente explicado; a explicação completa poderia ser dada somente após o trabalho ser feito. A proclamação e explanação do trabalho concluído de Cristo constituiu o evangelho apostólico; o evangelho, como preservado para nós no Novo Testamento, ainda é o fundamento da Igreja.

[Fonte: Composição do texto em tradução literal extraído do A rapid survey of the literature and history of New Testament times: Student's text book. A one year course for young people (eletronic ed.), página 6. Editora The Rose Tree Press.]

O DOM DE MESTRE: CHAMADO PARA ENSINAR

"E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo" - Efésios 4:11-13.
Um dos grandes dilemas que muitos cristãos enfrentam é o de descobrir qual o seu chamado e/ou sua vocação ministerial. 

O que é um chamado e/ou uma vocação ministerial


No cumprimento de Seu propósito, Deus sempre contou com homens e mulheres que se dispuseram a serem usados por Ele, no entanto, para isso, sempre foi necessário o critério da escolha e do chamado de Deus.

Um dos grandes privilégios do relacionamento entre Deus e o homem é sem dúvida o fato de ser chamado por Deus para a execução de um trabalho em prol do Seu Reino. Porém, existem condições para que esse ofício seja realizado de forma plena e perfeita, e além de ter a convicção da chamada, o que a recebe de Deus deve saber de fato que significa ser chamado por Deus.

Quando se fala em chamada, também se pensa em vocação, devido o fato de ambos se parecerem ao ponto até mesmo de se confundirem em seus significados, mas afinal, Chamada e Vocação, existe diferença ou não, se existe quais seriam?

Para responder essa questão passemos a analisar o significado dessas palavras, e assim poderemos iniciar uma explicação à luz da Palavra de Deus.

Vocação – Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Português, Vocação é o ato de chamar...; Tendência ou inclinação para um estado, uma profissão etc...; Apelo ao sacerdócio ou à vida religiosa...; aptidão natural; talento; um médico de vocação.

Chamada – Segundo o Dicionário Bíblico Vine (CPAD, 2002), o verbo chamar pode ter várias conotações, tais como: Kaleõ – chamar alguém, convidar, convocar; fazendo referência ao convite às pessoas a participarem das bênçãos da redenção (Rm 8:30); eiskaleõ – literalmente chamar para dentro...; metakaleõ – formando meta, implicando mudança..., chamar de um lugar para outro, convocar...; proskaleõ – formado de pros, “para”,... chamada divina em confiar aos homens a pregação do Evangelho (At 13:2; 16:10).

Com essas definições resumidas já é possível ter uma ideia acerca do assunto, podendo notar que realmente há muitas semelhanças entre os significados da palavra, e que, deixando-as assim a compreensão do tema fica limitado, ou seja, quando alguém falar de vocação dentro desta perspectiva atribuirá à chamada, bem como quando falar de chamada atribuirá à vocação.

Após analisarmos o significado das palavras é indispensável que se analise à luz da Palavra de Deus, pois é dentro dessa realidade (chamada divina) que estamos abordando o assunto. 

Observe que Vocação, além de significar em parte o ato de chamar, aponta também para a realidade de tendência, inclinação e talento, sendo assim, analisando dentro da realidade de vida é possível dizer que esta palavra aponta mais para este último significado, dentro do que estamos estudando. Por exemplo, há pessoas que têm vocação para advogados, médicos, e até mesmo no campo da oratória, mas isso não significa que são chamadas por Deus.

Deve-se observar que é verdade o fato de Deus chamar pessoas vocacionadas, e que partindo da vocação serão usadas pelo Espírito de Deus para resultar em benefício para o Reino e a glória de Deus. Entretanto, Ele chama também pessoas sem alguma vocação específica e dota esse indivíduo com habilidades (unção) para atuação em alguma área da Igreja local. E foi exatamente o que aconteceu comigo que naturalmente nunca tive aptidão para o ensino e, contudo, fui ungido (habilitado) para atuação como mestre no Reino de Deus. E é justamente sobre o dom ministerial de mestre - que absolutamente nada tem a ver com magistério - que irei falar na sequência deste artigo.

O dom de mestre (ou doutor)


Entre os dons ministeriais, concedidos por Deus para edificação e “aperfeiçoamento dos santos”, nas igrejas locais, está o de “doutor” ou “mestre”. Não é um dom muito reconhecido em geral, nas comunidades cristãs, por falta de entendimento acerca do seu valor, ou até por preconceito contra esses termos. As pessoas não têm qualquer receio de tratar um obreiro como “pastor”, “evangelista”, “bispo” ou até “apóstolo”, nos dias presentes. Mas não é comum um obreiro, que tem o dom de mestre ser chamado de “mestre” ou “doutor”. Isso se deve à visão que se tem do que é ser dotado de capacidade para o exercício desse dom ministerial, tão importante quanto os demais dons de Deus. Ou pelo “ar de superioridade” que alguns demonstram no exercício desse dom.

Em parte, também, percebe-se que, em muitos casos, os mestres ou doutores não têm a devida humildade no exercício do dom que Deus lhes concedeu. Alguns, ressaltamos, portam-se com diletantismo ou soberba, pelo fato de serem intelectualmente mais galardoados do que outros. Há até os que cobram “cachê” para ensinar, seguindo o exemplo de cantores ou pregadores, que só servem por dinheiro, e mercantilizam os dons e talentos que são concedidos por Deus. Não se deve generalizar em caso algum o comportamento dos obreiros. Há os mestres ou doutores que, a despeito de seu elevado grau de conhecimento bíblico, teológico e secular, são humildes e sinceros, colocando-se como servos a serviço das igrejas.

Os bons mestres ou ensinadores são muito úteis às igrejas locais. Muitas vezes, os pastores, assoberbados com as atividades administrativas, construindo templos, cuidando do patrimônio, em viagens pastorais, e tantas atividades, próprias dos que realmente trabalham em prol da obra do Senhor, não têm tempo de preparar estudos e mensagens substanciais, para alimentar a igreja local. E recorrem aos mestres ou ensinadores, para que lhes ajudem nessa imensa tarefa de edificar o rebanho. Quando o pastor também é mestre pode suprir a igreja com o ensino da Palavra. Mas nem todo pastor tem esse dom. Assim como nem todo mestre tem o dom de pastor.

Unção (e/ou) graça específica


“E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo” - Efésios 4:7.

Juntamente com cada chamado foi concedida uma graça de acordo com a medida repartida por Cristo. Existe uma graça que envolve o ministério do apostolo, que não é a mesma que envolve o do profeta e assim por diante, nos cinco dons ministeriais ou não, ha uma graça que nos acompanha.
A atividade primordial do mestre, doutor ou ensinador é cuidar do ensino fundamentado da Palavra de Deus. É tão importante que a Bíblia requer que haja dedicação ao exercício desse dom. “...Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino" (Romanos 12:7 - grifo meu). 

Talvez seja uma das grandes falhas em muitos ministérios, nas igrejas, a falta de dedicação ao ensino. Há pessoas que querem ensinar sem o mínimo preparo para essa atividade. 

Nos tempos pós-modernos, mais do que nunca, existe a necessidade de bons ensinadores. Há questionamentos e problemas que não havia há alguns anos. E muitos pastores não estão preparados para dar respostas adequadas ao rebanho.

O avanço das ciências, das tecnologias, as questões da bioética, as mudanças rápidas no comportamento social provocam questões que exigem, não só o conhecimento bíblico e teológico, mas também secular.

O mestre, doutor ou ensinador precisa ter o cuidado de não se considerar superior ao pastor ou dirigente de uma congregação, pelo fato de ter mais conhecimento que a média dos obreiros. Humildade, modéstia, sabedoria e equilíbrio são qualidades indispensáveis aos que são dotados por Deus de mais capacidade para se dedicarem ao ensino. Mais cuidado ainda, deve ter o mestre, pois deles será requerido mais, como diz Tiago: "Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo" - Tiago 3:1.

1 - Jesus, o Mestre por Excelência

a) O significado de Mestre


A palavra Mestre, nas escrituras, tem o sentido de designar “uma pessoa que é superior às outras, em poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto”. 1) No hebraico, a palavra "adon" que dizer “soberano” ou “senhor”. A palavra "rab" designa um “professor comum”. Com relação a Jesus, foi usada a palavra “rabi” (cf. João 4:31), indicando que ele era um mestre superior. As pessoas chamavam de “meu mestre”, “meu Senhor”, a quem tinha esse título. Jesus recebeu esse tratamento diversas vezes (Jo 1:38,49; 3:2,26).
 
Quando Jesus ressuscitou, Maria usou a palavra "Raboni", quando o reconheceu: "Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)!” - Jo 20:16. Em seus ensinos, "O Senhor Jesus proibiu o uso deste termo entre os discípulos por causa do orgulho e da exaltação pessoal com que era utilizado entre os fariseus" - Mateus 23:7,8).

b) O Mestre da Galileia


Jesus era o Mestre perfeito. Além de Pastor, pregador, missionário e evangelista, exercia com excelência a missão de ensinar. Evangelizava e discipulava de maneira eficaz. Era o Mestre perfeito; o Doutor incomparável (Mt 4:23-25).
Seus ensinos, seus sermões ou discursos e suas aulas eram eloquentes e profundamente convincentes aos que o ouviam. Ele não ensinava teorias abstratas ou acadêmicas que impressionassem pela retórica. Seu ensino era bem recebido pelas multidões, porque Ele vivia o que ensinava e ensinava o que vivia.

O Mestre dos mestres fazia diferença em seus ensinos perante as multidões. O povo estava descrente das mensagens dos escribas e fariseus, que proferiam discursos eloquentes e legalistas, mas vazios de autenticidade e poder. Não foi por acaso, que as multidões que seguiam Jesus aumentavam a cada dia. A diferença dos ensinos de Jesus e os dos fariseus, era que Jesus falava com autoridade (Mt 7:28,29). Ele era incomparável, como Rabi da Galileia (Jo 3:2).

c) O Mestre dos Mestres deixou-nos grandes exemplos de sua pedagogia


1) Conhecia a matéria que ensinava (Lc 24:27);
2) Conhecia seus alunos (Mt 13; Lc 15:8-10; Jo 21);
3) Reconhecia o que havia de bom em seus alunos (Jo 1:47);
4) Ensinava as verdades bíblicas de modo simples e claro (Lc 5:17-26; Jo 14:6);
5) Variava o método de ensino conforme a ocasião e o tipo de ouvintes (Parábolas, perguntas, discursos, preleção, leitura, demonstração, etc.).


2 - O Mestre divino

O ensino do Mestre Jesus não teve nem tem paralelo em qualquer instrução, discurso ou filosofia dos homens. São ensinamentos para serem vividos, e não apenas pregados. Não eram como os ensinos dos fariseus ou dos doutores de sua época (Mt 7:29). Tempos depois, seu discípulo e apóstolo, Paulo, que não conviveu com Ele, afirmou: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2:4). 

Uma das maiores causas do descrédito no evangelho pregado por muitas igrejas e muitos pregadores é a falta de autenticidade na vida deles. Jesus demonstrou, com sua palavra e com seus feitos que era o Mestre Divino. Ele pregava o evangelho vivo, que não consistia apenas em belos sermões, mas em vidas transformadas.

2 - A importância do dom ministerial de Mestre

a) O discipulado permanente


O ensino da Palavra de Deus, na igreja local, é indispensável e de fundamental importância. Depois da evangelização, vem o discipulado dos novos convertidos. Mas o discipulado não deve ser visto como apenas algumas lições da Escola Dominical. O discipulado cristão é para toda a vida. Ninguém deixa de ser discípulo pela idade ou "por tempo de serviço". O pastor ou bispo deveria ser também mestre e ter sempre a capacidade para ensinar. Diz Paulo: "Convém que o bispo seja... apto a ensinar" - 1 Tm 3:2 - grifo meu. 

Em Efésios 4.11, o dom ministerial de “pastores” vem bem junto ao de “doutores”. Mas nem sempre esses dois dons são encontrados em todos os pastores. Por isso Deus resolveu designar algumas pessoas com a missão de dedicar-se ao ensino (cf. Rm 12:7). “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores...” - 1 Co 12:28.

A missão dos mestres ou doutores, nas igrejas, é de grande valor. Os pregadores, os evangelistas ou os missionários pregam a Palavra de Deus, atraindo as almas para Cristo. Os novos convertidos são como “crianças” espirituais, que precisam receber o alimento espiritual de acordo com o seu tempo de conversão; os crentes mais antigos, supostamente, devem ter mais maturidade; mas todos precisam do ensino fundamentado, que expresse a sã doutrina. Sem o ensino, os crentes ficam sem o conhecimento indispensável ao seu crescimento na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 2 Pe 3:18).

b) O papel dos Mestres


A necessidade do ensino da Palavra de Deus requer pessoas preparadas para ministrá-la com sabedoria, graça e unção da parte de Deus. Diante disso, vem o papel dos mestres e doutores. São pessoas que se dedicam ao ensino (cf. Rm 12:7). Eles não se consideram superiores aos demais obreiros, pelo fato de terem recebido o dom de ensinar. Mas, pela dedicação constante ao estudo e à pesquisa bíblica, reúnem informações e subsídios, extraídos das Escrituras, para compartilhar com toda a igreja.

Quando o pastor da igreja local reúne em si a condição de pastorear e ensinar, a igreja é bem servida com o ensino bem fundamentado que atende às necessidades espirituais dos crentes. Mas, como foi dito antes, nem todo pastor é mestre. Mas todos são apascentadores, que zelam, cuidam, vigiam e protegem o rebanho de Cristo aos seus cuidados.

Os mestres, doutores ou ensinadores, que recebem o dom de ensinar, podem (e devem) cooperar com a liderança da igreja na ministração de estudos valiosos e profundos para a edificação dos crentes. Igrejas sem mestre são igrejas fracas espiritualmente. Por isso, deve-se reconhecer a importância e a necessidade do ministério do ensino. É através do ensino sadio e racional, inspirado pelo Espírito Santo, que a igreja se justifica contra as falsas doutrinas e que se fortifica contra os ataques espirituais de Satanás.

c) Requisitos para ser um bom Mestre


Um bom ensinador, mestre ou doutor é pessoa que, usada por Deus, na unção do Espírito Santo, pode muito contribuir para a edificação espiritual e moral dos crentes. O Eclesiastes resume o valor dos que ensinam com a sabedoria de Deus: “As palavras dos sábios são como aguilhões e como pregos bem fixados pelos mestres das congregações, que nos foram dadas pelo único Pastor” - Eclesiastes 12:11. Para ser um bom mestre, na igreja, são necessários alguns requisitos.

1) Apresentar-se a Deus. “Procura apresentar-te a Deus aprovado... que maneja bem a palavra da verdade” - 2 Tm 2:15a. Um bom mestre deve ser um obreiro aprovado por Deus, e não apenas nas faculdades de teologia ou seculares. O que ensina deve ser aprovado:

a) No testemunho pessoal (1 Tm 4:16; 2 Tm 4:5);
b) Na vida familiar (SI 128:1);
c) Na vida social (Mt 5:16);
d) Na igreja (Ec 5:1,2).

2) “Que não tem de que se envergonhar...” (2 Tm 2:15b). Quem é mestre precisa ser exemplo dos fiéis (1 Tm 4:12). Deve ter uma vida íntegra, para não ser alvo de acusações por parte dos que o ouvem ou dos de fora da igreja. Se um ensinador dá escândalo compromete seu nome, sua imagem e seus ensinos.

3) “Que maneja bem a palavra da verdade...” (2 Tm 2:15c). Esse requisito é muito importante, porque o mestre ou doutor é o homem que faz uso da Palavra de Deus para ministrar o ensino à igreja. Seu manual de ensino é a Bíblia Sagrada. Ele deve conhecer bem a Palavra para poder preparar estudos, mensagens e reflexões a serem compartilhadas, verbalmente ou por escrito, para a edificação da igreja. Devem ser “aptos para ensinar” (1 Tm 3:2; 2 Tm 2:24). Para ter esse manejo, é preciso que o mestre ou doutor tenha certos cuidados:

a) Seja um leitor persistente e estudioso da Bíblia (1 Tm 4:13).
b) Seja dedicado ao ensino (Rm 12:7b). Essa dedicação exige esforço e disciplina para o desenvolvimento de um ministério frutífero;
c) Seja um leitor de bons livros de estudo bíblico (2 Tm 4:13). Os bons livros não substituem a Bíblia, mas, quando são escritos por homens de Deus, são excelentes auxílios ao preparo de estudos e mensagens;
d) Procure conhecer versões variadas da Bíblia, principalmente as de estudo bíblico, examinando seus comentários, para evitar inserções heréticas, em suas notas;
e) Utilize dicionários, concordâncias e enciclopédias bíblicas.
f) Seja um leitor de sites, livros, revistas, jornais, e periódicos (evangélicos e seculares), que tenham subsídios para fortalecer o ensino.
g) Tenha preparo teológico. Um curso teológico de boa qualidade não faz um excelente mestre no ensino da Palavra de Deus. Esse é feito por Deus. Contudo, o curso dá uma visão ampla do estudo sistemático da Palavra de Deus, a partir da Teologia Sistemática e suas divisões; da Hermenêutica, da Homilética, da História da Igreja, da Geografia Bíblica, Ética Pastoral, Didática, Psicologia, etc... A Bíblia diz: “Examinai tudo. Retende o bem...” (1 Ts 5:21). 

d) Um mestre deve ter conhecimentos acima da média de seus alunos

Tiago adverte que muitos não queiram ser mestres (doutores ou professores), visto que “receberemos mais duro juízo” (Tg 3:1). Diante disso, é importante que os mestres sejam pessoas cuidadosas no exercício de sua missão, pautando-se pelos princípios éticos e morais da Palavra de Deus, para que possam contribuir para o crescimento espiritual dos crentes, nas igrejas, auxiliando os pastores ou líderes a melhor conduzirem o rebanho do Senhor Jesus.

3 - O ensino na Igreja no primeiro século

1. A ordem de Jesus


O Mestre, antes de sua ascensão aos céus, em sua despedida dos discípulos, determinou-lhe de modo solene que deveriam ir a “todas as nações”; “ensinando-as a guardar todas as coisas” que lhes tinha mandado (cf Mc 28:19, 20). Os Atos dos Apóstolos registram a obediência dos primeiros apóstolos e discípulos, no cuidado em cumprir a determinação de Jesus. Após a descida do Espírito Santo (At 2.1 -6), o discurso de Pedro foi um verdadeiro ensino de pneumatologia (At 2:14-40).

2. A Doutrina dos Apóstolos


O ensino do evangelho de Cristo aos novos convertidos era tão sério e profundo, que os primeiros crentes eram batizados em águas, E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2:42, 43 — grifo meu). A “doutrina dos apóstolos” era o conjunto de ensinos, ministrados por eles aos novos crentes, de forma eficaz, produzindo mudanças e transformações na vida dos que se convertiam, com sinais e maravilhas. Essa doutrina apostólica ainda está em vigor em nossos dias. Os mestres ou doutores, com humildade e amor, devem fundamentar seus estudos nos ensinos preciosos do evangelho de Cristo.

3. O ensino constante


Os primeiros mestres ou ensinadores foram os integrantes do Colégio Apostólico. Como pioneiros na propagação do evangelho, foram perseguidos, presos e alguns mortos. Mas cumpriram a ordem de Jesus de pregar e ensinar a sua Palavra. Diz o texto bíblico: “E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo” (At 5:42). Não perdiam tempo. Não havia templos cristãos. A igreja começou nas casas. O ensino era ministrado a pequenos grupos nos lares. 

O apóstolo Paulo, falando aos anciãos de éfeso, mostrou o caráter do seu ensino como verdadeiro mestre cristão: “servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:19-21 — grifo meu).

4. Doutores na Igreja


As conversões ao cristianismo se multiplicaram grandemente, após a dispersão dos discípulos provocada pela perseguição dos judeus (At 11:19-24). Dentre as cidades que mais acolheram a mensagem do evangelho, destacou-se Antioquia. Para lá, foi enviado Barnabé, mas ele percebeu que, com tantas pessoas convertidas, necessitava de mais alguém para ajudar no ensino da Palavra. Com muita sabedoria e humildade, foi até Tarso, para buscar Saulo a fim de ajudá-lo no discipulado e ensino dos novos crentes.

Antioquia tornou-se um centro de irradiação do evangelho de Cristo. Não só pela evangelização, mas pelo cuidado com o ensino, através de pessoas preparadas para a ministração da Palavra. “Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo” (At 13:1 — grifo meu).

5. A necessidade do Ensino


Nos primórdios da Igreja de Cristo, o desafio da formação de novos decididos, oriundos do judaísmo e de religiões heréticas foi além das expectativas dos primeiros apóstolos, evangelistas ou líderes da comunidade cristã. De um lado, havia os judaístas ou judaizantes, que insistiam que, mesmo após a conversão, o homem precisa tornar-se judeu, obedecendo os ritos e preceitos da Lei. Paulo foi um exemplo marcante desse grupo, a ponto de perseguir a Igreja de Jesus, sendo “extremamente zeloso quanto as tradições” recebidas de seus pais (Gl 1:13,14). Mas, depois de sua dramática conversão, no caminho de Damasco, tornou-se um mestre ou doutor nas Escrituras (2 Tm 1:11).

Havia os legalistas, que entendiam que o cumprimento dos preceitos da lei, praticando boas obras, seriam salvos. O Doutor Paulo foi usado por Deus para doutrinar acerca do combate aos legalistas e escreveu contra as misturas doutrinárias (Gl 5:10-12).

Assim como Paulo, Pedro, Tiago, João e outros apóstolos e discípulos foram usados por Deus para ministrar o ensino correto, nos primeiros séculos da Igreja Cristã. E, hoje, Deus continua a usar homens e também mulheres, que se dedicam à tarefa de ensinar aos crentes em Jesus.

Conclusão


O dom ministerial de mestre ou doutor é de fundamental importância para a edificação dos crentes, em todas as igrejas. Ao lado dos outros dons ministeriais contribui para o fortalecimento da fé cristã, propiciando conhecimentos bíblicos e teológicos, que preparam os que são discípulos de Jesus. Ser mestre ou doutor não é sinal de superioridade diante dos que não possuem tais dons. Significa mais responsabilidade diante de Deus. Tiago exorta: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3:1).

domingo, 29 de novembro de 2015

COMO SER UM BOM PREGADOR DA PALAVRA DE DEUS?


"Ouvi-me, todas as ilhas, e vós, povos e nações longínquas, prestai atenção! Antes de eu nascer o Senhor me escolheu e convocou; desde o ventre de minha mãe ele pronunciou o meu nome. De minha boca fez uma espada cortante, abrigou-me na sombra da sua mão; fez de mim uma seta afiada, escondeu-me na sua aljava" - Isaías 49:1, 2.
Preparando a lição do Discipulado Dominical, o capítulo 27 do excelente livro "Em Busca de Timóteo - Descobrindo o potencial dos colaboradores e voluntários da Igreja" (pg 233), da autoria de Tony Cooke (2014, Ed.Rhema Brasil Publicações), me veio a inspiração para o texto desse artigo. 

É fato que muitos irmãos "tremem na base" quando recebem a oportunidade para ministração da Palavra em suas igrejas. Tal preocupação é relevante e até certo ponto espiritualmente saudável. Entretanto, apesar de nem todos que pregam sejam pregadores, todos devemos estar preparados para tal oportunidade. Estar preparado é um dever de todo o cristão.

Sou pregador da Palavra do Senhor há pelo menos 20 anos. Devido a isso e pelo fato de escrever vários artigos aqui no Blog, muitas pessoas me perguntam como fazer para ser um bom pregador da palavra de Deus. Qual o caminho a seguir? De fato, o ministério da pregação da palavra de Deus é fascinante. Não é à toa que a Bíblia diz: "Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!" (Romanos 10:14-15). 

O ministério da pregação é muito importante e é também muito importante que os pregadores tenham isso em mente, pois a Bíblia também nos dá uma advertência severa: "Maldito aquele que fizer a obra do SENHOR relaxadamente!" (Jeremias 48:10). Ditas estas coisas, gostaria de compartilhar algumas estratégias importantes para quem deseja ser um bom pregador da palavra de Deus. Estratégias que uso em minha própria caminhada e que aprendi (e sigo aprendendo...) com grandes mestres. Vamos à elas:

1 – Avalie se você tem o chamado para esse ministério


Todos nós temos o chamado de Deus para pregar o Evangelho, para anunciar as boas novas da salvação (Marcos 16:15). No entanto, algumas pessoas são chamadas por Deus para pregar esse Evangelho de uma forma especial, através da exposição da Palavra de Deus seja em um púlpito de uma igreja, num pequeno grupo, numa célula ou até mesmo em uma reunião evangelística ao ar livre. 

É muito importante que a pessoa que deseja ser uma pregadora da palavra entenda se tem realmente esse chamado. Uma das formas de se saber isso é analisando o próprio coração: você tem um grande desejo de ensinar as pessoas sobre as coisas de Deus? Gosta muito de estudar - texto e contexto - a Bíblia e de aprender os significados das passagens bíblicas? Fica torcendo para que alguém te chame para ministrar a palavra de Deus em algum lugar? Ora muito a Deus pedindo que te ajude a ser um bom pregador? Se você respondeu sim a essas perguntas é porque dentro do seu coração arde essa chama que Deus colocou em você para ser um pregador da Palavra.

2 – Vida com Deus em ordem


Aquele que deseja ser um pregador deve saber que terá muita responsabilidade sobre si. Isso porque o pregador tem muito maior conhecimento sobre as verdades de Deus e, por isso, tem muito mais responsabilidade de ser um praticante delas. O pregador não é alguém que apenas comunica a mensagem de Deus, antes, ele a vive. Por isso, para ser um grande pregador é essencial que a vida do pregador esteja em ordem. 

É preciso ter comunhão constante com Deus, proximidade com o Pai, pois Deus é a fonte de onde o pregador tira as suas mensagens. Um pregador sem uma vida cheia do Espírito Santo fatalmente pregará mensagens vazias e ficará envergonhado. Por isso, vale alertar que as disciplinas espirituais como oração, meditação na palavra, jejum, comunhão, serviço, etc., precisam fazer parte da vida do pregador.

3 – Estudar a Bíblia todos os dias


A fonte das mensagens do pregador é Deus, através do Espírito Santo, fonte inesgotável da unção dunamis. E Deus deixou a Sua Palavra como a base do trabalho do pregador. Por isso, para ser um bom pregador é preciso muita, mas muita Bíblia. A vida de um bom pregador deve conter o estudo sistemático da Bíblia, ou seja, o estudo da Palavra deve fazer parte da rotina do dia a dia dele, mesmo que não tenha uma mensagem para preparar naquele momento. 

O estudo da Bíblia prepara o coração do pregador para viver na presença de Deus e também para entregar a mensagem de Deus com unção e poder quando for solicitado pelo Senhor. Daí a importância de estar sempre preparado.

4 – Pedir a Deus oportunidades


Um bom pregador não é alguém passivo, ou seja, que fica à espera de oportunidades para expor a palavra de Deus. O bom pregador é ativo, buscando sempre em oração a Deus oportunidades para ministrar a palavra da salvação, e sempre se colocando à disposição de seus líderes e da sua igreja para ser usado sempre que surgir oportunidades. 

Sabendo disso o bom pregador está sempre estudando a Bíblia, sempre buscando a direção de Deus, anotando o que Deus fala com Ele para estar preparado para entregar uma pregação cheia das verdades da Palavra aonde Deus o enviar.

5 – Preparar-se com bons recursos


Um bom pregador não pode achar que já nasceu pronto. Deus nos dá o Espírito Santo, mas também deseja que avancemos como cooperadores (1 Coríntios 3:9). Isso implica em fazermos a nossa parte. Sim, o bom pregador precisa estudar, precisa se preparar. Quando eu comecei a sentir o desejo de pregar a Palavra eu tinha dificuldades com a fala. Era gago e não conseguia pronunciar bem algumas palavras, sequelas de um coma de 28 dias pelo qual havia passado. Se fosse para eu olhar esses obstáculos, não teria aceitado o meu chamado para o dom ministerial de mestre. Mas, antes, procurei me aprimorar e me preparar para o exercício do ministério.
Assim, Deus me fez entender que eu estava sendo lapidado. Deus colocou em meu caminho pessoas que investiram em mim e logo já estava fazendo meu primeiro curso teológico, onde recebi noções de  Homilética (a arte de pregar), Oratória (a arte de falar em público) e Exegese  (a arte de interpretação).

Tais treinos fizeram com que a minha confiança fosse aumentando e também o meu conhecimento. Foi aí que Deus foi me usando cada vez mais. É por isso que hoje indico a todos os que desejam ser bons pregadores que invistam em sua preparação. Acabei de conquistar minha segunda graduação teológica e não pretendo parar. Para sem um bom pregador o caminho da preparação é obrigatório!

6 - Ler, ler e ler


Para ser um bom pregador é indispensável que você goste de literatura. Ler bons livros é muito importante. Ter uma boa base literária é uma indispensável ferramenta para o pregador que o ajuda além da informação, a escrever e se comunicar melhor. Além do bom senso, nesse caso é imprescindível o conhecimento da Palavra para a escolha de boas obras. Há muitos livros com a tarja de "cristãos" que são verdadeiros lixos tanto no contexto da literatura, quanto no contexto doutrinário. E, é importante lembrar, NENHUM LIVRO, POR MELHOR QUE SEJA, SUBSTITUI A BÍBLIA SAGRADA. Ela É a Palavra de Deus absoluta e insofismável em sua fidedignidade e autoridade.

7 - Postura


Um ministro da Palavra deve se portar como tal. Existe sim uma etiqueta, um padrão que um ministro deve observar, como por exemplo seu linguajar, seus trajes e suas atitudes no púlpito. O altar do Senhor não é plataforma de divulgação do marketing pessoal de ninguém. É um local para exposição da Palavra (e/ou de tudo o que diga respeito a ela no intuito do louvor e adoração ao Senhor). 

Hoje em dia, há pregadores que mais parecem animadores de auditório, showmen (performáticos e cheios de pirotecnias), comediantes de stand up comedy (usam o púlpito para ficar fazendo piadinhas) e meros palestrantes, tipo esses que enchem auditórios com suas estratégias de feedback (marketing pessoal), que chamam a atenção para suas performances do que pela mensagem que tentam transmitir. A Palavra de Deus se sustem em seu poder e autoridade, portanto, não precisa se escorar nessas muletas remendadas. O pregador não tem de chamar atenção para si e sim para o Senhor, o autor da Palavra.

Conclusão


Para ser um bom pregador é preciso muito mais do que vontade. É preciso entender o chamado de Deus e fazer a sua parte. Nada vai cair do céu. As dificuldades irão aparecer, mas vencer cada uma delas e entregar a mensagem de Deus as pessoas vale cada luta. Investir em seu preparo é imprescindível. Tempo com Deus, leitura e estudo da Bíblia, muita oração e consagração, além de fazer a sua parte e estudar com bons cursos de pregação é algo muito importante. E, por fim, ser cheio do Espírito Santo é fundamental, pois não adianta nada ser um excelente pregador se não tiver unção. A unção na ministração é o selo de identificação da presença de Deus.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O "SIM" E O "NÃO" DOS VOTOS A DEUS

Fazer voto a Deus é uma prática comum no segmento cristão. A Igreja Católica o chama de "promessa". Os dicionaristas definem o voto como: s. m. Promessa solene com que nos obrigamos diante da divindade; promessa solene; juramento; oferenda em cumprimento de promessa; súplica à divindade; desejo íntimo, ardente. Vejamos ainda: vo.to 1) sm (lat votu) - 1) relativo a promessa livre e deliberada feita a Deus de alguma coisa que lhe é agradável, à qual nos obrigamos por religião. 2) Desejo sincero. 3) Oferenda feita em cumprimento de promessa anterior ou em memória e por gratidão de graça recebida. 4) Obrigação contraída em razão de promessa ou juramento. 5) Súplica ou rogativa a Deus.

No contexto cristão, segundo definição da Bíblia de Estudos Genebra [Poucas pessoas já ouviram falar da Bíblia de Genebra. No entanto, essa tradução notável foi um best-seller em seus dias (ano de 1560 do século XVI). Sua renomada exatidão textual e as inovações na apresentação e no leiaute, fizeram dela a favorita do público. Os dramaturgos ingleses Shakespeare e Marlowe a usaram como fonte de suas citações bíblicas.], o voto é um acordo que você faz com Deus. Se for abençoado, com aquilo que deseja, retribuirá ao Senhor. “Os acordos eram feitos com Deus sob a forma de votos para assegurar sua presença, proteção, provisão, etc. As promessas feitas sob essas circunstâncias eram sempre condicionais. Pessoas em situação difícil poderiam fazer votos prometendo algo a Deus caso ele atendesse às suas orações. Normalmente, esses votos eram acompanhados por uma oferta pacífica no momento de serem feitos e, depois, novamente, ao serem atendidos (p. 136)." “Votos a Deus são o equivalente devocional dos juramentos e devem ser tratados com seriedade (p. 556)." Encontramos também na Bíblia votos que não são condicionais, ou seja, pessoas que fizeram voto ao Senhor sem esperar alguma coisa da parte dele, mas como gratidão pelas inúmeras bênçãos dele recebidas. 

Nos dias atuais, há uma vertente do cristianismo que ainda considera espiritualmente válida a prática de se fazer votos a Deus e, no outro extremo, há os que condenam a prática por considerarem que ela "anula" o sacrifício de Jesus Cristo na cruz do calvário. Não entrarei nos meandros dessa pendenga de cunho doutrinário mas vou fazer uma análise sobre os prós e contras na prática dos votos. 

O "sim" 


Muitos de nós sabemos de cor todas as promessas bíblicas: "em Cristo somos mais que vencedor", "nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda" e inúmeros outros. Mas, neste aspecto, a minha palavra não é sobre as promessas de Deus, que também conheço e também me edifico nelas. Todos nós na hora do aperto, oramos mais, nos consagramos mais, jejuamos mais, e intensificamos nosso relacionamento com Deus. Até aí tudo bem, ótimo que recorramos a Deus. Mas ao orar, principalmente nos apertos, falamos com Deus e nos dispomos a ser "fiéis". "Senhor, ouve minha necessidade, preciso de Ti...", "Pai, usa-me segundo a tua vontade." 

Em relação ao voto, não o confundamos com meras práticas religiosas de negociações de "bençãos". O que quero aqui é alertar que somos primeiramente devedores a Deus, ao seu amor incondicional. Assim sendo, acredito que tudo o que fizermos para Deus ainda é pouco. Até (e por que não?) os votos feitos conscientemente e de livre e espontânea vontade. Ninguém, nem mesmo nosso grandioso Deus, obriga ninguém a nada, mas se algo colocamos no coração como propósito a ser feito para Ele, este propósito deve ser cumprido. 

É comum encontrarmos pessoas se comprometendo há algo com Deus, e no meio do caminho mudando de ideia, pois "sentiu no coração, que não era para fazer mais". Tal atitude vai contra tudo o que nos ensina as Escrituras Sagrada a respeito do relacionamento com Deus. Portanto é de suma importância estarmos atentos a nosso comportamento, a nosso relacionamento com Deus. Ele não precisa de nós, porém, Ele nos ama, ou seja, tudo o que colocarmos no coração para o Senhor, deverá primeiramente ter nossa ardente vontade de executar. Seja o que for, uma vez a vontade gerada, o próprio Deus nos capacitará para execução. Resumindo, se sua intenção é simplesmente agradar a Deus faça-o, esforça-te e tem bom ânimo. Deus não lhe pede nada que você não possa dar. E o que Ele não pediu, mas se você se propôs a oferecê-lO, faça-o. Nesse contexto não há nada de errado em se fazer votos a Deus. Reflita nos versículos: 
"Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. (...) Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o." - Eclesiastes 5:1, 4 

O "não" 


Nos tempos do Antigo Testamento as pessoas faziam diversos tipos de votos com Deus. Um exemplo disso encontramos em Gênesis 28:20-22, onde Jacó promete dizimar se contasse com a presença de Deus em sua jornada: 
“Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então, o SENHOR será o meu Deus; e a pedra, que erigi por coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo.” 
Veja que o voto não era impossível de ser cumprido por Jacó e foi feito diretamente com Deus. Os votos eram feitos com frequência nesse período e, por essa razão, encontramos no capítulo 30 de Números várias orientações escritas por Moisés com respeito ao cumprimento de votos feitos a Deus. A pessoa deveria pensar bem antes de fazer um voto, analisando se conseguiria ou não cumpri-lo. Um voto feito a Deus não deveria ser considerado levianamente e, portanto, não deveria ser feito precipitadamente: 
“Quando fizeres algum voto ao Senhor, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de fazer o voto, não haverá pecado em ti.” - Deuteronômio 23:21, 22. 
“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras.” - Eclesiastes 5: 4, 5. 
Além de Jacó, Jefté e Ana também realizaram votos a Deus. 

Quem não se lembra de Jefté, leia Juízes 11. Era um juiz que conduziu os israelitas na vitória sobre os inimigos (filhos de Amom). Porém, a questão é que ele havia feito um voto de oferecer em holocausto a Deus o que surgisse primeiro diante dele quando regressasse da batalha. O problema é que quem regressou foi sua filha e ele cumpriu o voto (não farei aqui uma discussão se ele sacrificou a vida dela ou se apenas a separou para servir a Deus, como algumas pessoas sugerem). O que vem ao caso neste momento é que ele fez um voto (que é chamado "voto de tolo"). 

Já no caso de Ana (1 Samuel 1) é um exemplo semelhante. Por não poder ter filhos, fez um voto a Deus: caso ela tivesse um filho, ele seria dedicado ao Senhor e seus cabelos e barba não seriam cortados. Há inúmeros outros exemplos menos específicos (como nos livro dos Salmos) em que a realização de votos é citada, afinal, fazia parte da tradição religiosa judaica. Mas o que podemos dizer desses casos? 

Em primeiro lugar, foram manifestações individuais e exclusivamente humanas. Deus não instruiu nenhum deles a votar, nem condicionou suas conquistas a esses votos que fizeram. Eles decidiram por si mesmos e conseguiram o que almejaram, assim como muitos outros conquistaram sem nunca terem feito votos. No caso de Jacó, leia Gênesis 28 todo e verá que Deus já havia prometido a ele que sua descendência teria a terra em que estava, que esses descendentes seriam muito numerosos e que se expandiriam pela Terra. Além disso, Jacó recebera a promessa de que seria guardado por onde passasse, de que seria conduzido por Deus de volta àquela terra e de que não seria deixado enquanto todas as promessas não fossem cumpridas na vida dele. Ou seja, o voto de Jacó, não importa o que fosse, não teria poder algum para mudar o que Deus já havia prometido.

No Novo Testamento, Jesus ensinou que o ideal é não fazermos juramentos ou promessas: 
“Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.” - Mateus 5:33-36. 
E orienta que a nossa palavra seja sim, sim; não, não (verso 37). 

Hoje em dia, algumas (muitas delas, convenhamos) pessoas tentam usar votos e promessas para barganhar com Deus, esquecendo-se do sentido original do voto: a consagração e gratidão a Deus. Neste contexto, a prática dos votos não é nada louvável.

Caso você faça um acordo com Deus, não o faça com a intenção de "forçá-lo" a abençoar mais você. Lembre-se de que as bênçãos de Deus, inclusive a salvação, vêm pela graça e não por nossos méritos próprios: 
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” - Efésios 2:8-9. 
Tudo o que fazemos em nossa vida cristã, deve ser em ação de graças pela salvação recebida. 

Com base no que foi exposto, podemos seguir as seguintes orientações: 

1) O ideal, de acordo com Mateus 5:33-36, é não fazermos juramentos, promessas ou votos (principalmente os impossíveis de serem cumpridos); 

2) Nossa palavra deve ser sim, sim; não, não. Devemos ser honestos em nossa vida e não necessitarmos de juramentos (Mateus 5:37); 

3) Se você fez algum voto a Deus possível de ser cumprido, cumpra-o sem demora (Eclesiastes 5:4-5). 

Conclusão 


Analise, pois, cada um a si mesmo, avalie suas atitudes, busque equilíbrio na Palavra de Deus e procedam de acordo com sua consciência. Entretanto, é importante ressaltar que voto, promessa ou acordo algum significa absolutamente nada diante do sacrifício de Jesus Cristo na cruz do calvário. Sua obra foi completa. "Está consumado!", disse Ele antes de morrer. Não há mais sacrifícios possíveis ou preços a serem pagos, pois o sacrifício permanente (Cristo) já foi oferecido por toda a humanidade. E é por esse sacrifício que recebemos tudo o que Deus, por graça, decide nos conceder.

A BLACK FRIDAY "DRIBLARÁ" A CRISE?

Fim de ano, Natal, compras, consumo. É sempre a mesma coisa. Agora tem a tal da Black Friday, mais um naco da cultura norte americana - mestra em matéria de consumismo - que veio enlatada para o Brasil. Até parece que os brasileiros precisavam de um "empurrãozinho" para o consumismo. 

Mas e a crise? O ano de 2015 não tem sido fácil para o comércio brasileiro. As tradicionais datas de movimento alto decepcionaram com queda nas vendas pela primeira vez em muitos anos. Mas varejistas nutrem expectativas positivas de uma reviravolta com as festas de final de ano e estão de olho em uma data que vinha mostrando um desempenho cada vez mais forte: a Black Friday, nesta sexta-feira. Mas como será neste momento de recessão e cenário sombrio no comércio? A ideia do dia de "superdescontos" terá força para para convencer o brasileiro a finalmente ir às compras?

O Dia das Mães não registrava uma queda havia 13 anos. Isso se repetiu no Dia dos Pais – algo inédito desde 2005 – e no Dia dos Namorados – o primeiro recuo em seis anos. No ano, o varejo acumula uma retração de 3,3%, segundo o IBGE. Mesmo assim, segundo especialistas, os profissionais ligados ao evento e ao mercado estão cautelosos, mas otimistas e preveem um crescimento de dois dígitos nas vendas geradas pelo evento em 2015.

Tornaram-se comuns reclamações por promoções enganosas e problemas técnicos dos sites participantes


Os consumidores, o grande alvo da megapromoção, precisam estar atentos para não cair em armadilhas e ter a Black Friday transformada no que se apelidou em edições passadas de “Black Fraude”. 

Entre denúncias relatadas em anos anteriores estavam alta de preços pouco antes da data do evento para depois baixá-los e nomeá-los como “superdescontos”, diferenças entre os preços anunciados no momento da compra e na hora do pagamento do pedido, além de desrespeito aos prazos de entrega dos produtos. Sendo assim, os consumidores precisam estar atentos para não cair em armadilhas.

Dica para fugir da Black Fraude: consulte os sites que comparam preços, produtos e serviços. Eles são boas fontes de informação, e os melhores estão constantemente atualizados. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) recomenda os seguintes sites para monitorar descontos:
Não por acaso a data acabou sendo apelidada nas redes sociais de “Black Fraude”: a data em que, segundo a piada, os produtos “custam a metade do dobro”. Muita gente também se queixou de produtos que se esgotaram nos primeiros minutos da sexta-feira, mostrando que o produto em oferta era apenas um chamariz para os sites, conforme dados do site Reclame Aqui. Outro problema recorrente foram as falhas técnicas nos sites, responsáveis por 21% das mensagens enviadas ao Reclame Aqui no ano passado. 

Consumidores protestaram, porque os sites ficavam lentos, ou eles eram colocados em filas de espera sem que nunca chegasse sua vez. Quando tinham acesso à página, o produto escolhido sumia do carrinho de compras virtual antes de finalizar a compra ou não conseguiam pagar por ele. Nas últimas duas edições, boa parte das pessoas que tentaram se frustraram, e isso se reflete no alto índice de desconfiança das pessoas em relação à Black Friday hoje em dia.

Muitos consumidores ainda estão em dúvida quanto à realidade dos descontos prometidos. A Black Friday, o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, é tradicionalmente um dia de descontos no varejo americano. O nome Black Friday, que em inglês significa literalmente “Sexta-Feira Negra”, faz mais sentido traduzido para o português como “Sexta-Feira Azul”, pois o feriado (nos EUA),  passou a denotar o momento em que as lojas aproveitam para sair do vermelho e passar a registrar lucro. Ou seja, cultura estadunidense em essência e absolutamente nada a ver com a cultura brasileira.

Versão brasileira


Nos últimos anos, a Black Friday foi adotada pelo varejo em outros países, como Reino Unido, Austrália, México, Romênia, Costa Rica, Alemanha, Áustria e Suíça, para marcar o início da temporada de compras de Natal. No Brasil, as promoções foram realizadas pela primeira vez em 2010, ainda de forma tímida, movimentando R$ 3 milhões em vendas, segundo levantamento da consultoria ClearSale, e cresceram exponencialmente desde então. No ano passado, o volume movimentado pelos produtos vendidos saltou para R$ 424 milhões – quase o dobro do registrado em 2012, quando o montante já havia sido 117% superior ao de 2011. Junto com o aumento das vendas, também se multiplicaram os problemas. O site Reclame Aqui recebeu no ano passado 8,5 mil reclamações por causa da Black Friday, 6,2% a mais do que em 2012.

Do total, 27% eram relativas à maquiagem de preços, nome dado à prática de elevar o valor de um produto poucos dias antes da data da promoção para oferecer então um “desconto” em que o preço cobrado é igual ou até mesmo superior ao valor não-promocional. Em 2013, uma pesquisa do Programa de Administração de Varejo, um centro de estudos em consumo, e da Íconna, empresa de monitoramento de comércio eletrônico, mostrou que o número de produtos que ficaram mais caros na Black Friday foi maior do que o dobro daqueles que receberam descontos. Após o fim do evento, 22,6% das mercadorias oferecidas com “ofertas” tiveram seus preços reduzidos. 

Selo de credibilidade


Para combater a maquiagem de preços e o clima de desconfiança gerado por ela, a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico lançou no ano passado um selo para dar credibilidade às promoções realizadas na Black Friday. Ao longo do último mês, lojas virtuais puderam se cadastrar no site Black Friday Legal, onde aderiram a um código de ética, comprometendo-se a não maquiar preços. Se descumprirem a regra, não receberão o selo no ano seguinte.

Neste ano, 500 lojas exibirão o selo, mais de trêz vezes acima das 123 varejistas credenciadas em 2013. A alta procura surpreendeu, já que a entidade esperava um aumento de 20% a 25% nas inscrições. Se ainda assim esta prática for identificada pelo consumidor, eles devem denunciá-la ao Procon, pois são crimes de oferta e publicidade enganosa, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor.

O órgão tem uma lista de 450 sites que devem ser evitados por consumidores, pois eles foram alvo de reclamações e não responderam às notificações, ou seus responsáveis não foram encontrados. Depois de 2012, quando a imagem da Black Friday ficou bem arranhada por causa de promoções enganosas, o setor fez uma reavaliação e passou a tomar mais cuidados. "Não tivemos tantos problemas no ano passado, só casos pontuais", diz a analista Fátima Lemos, do Procon-SP.

"Todo mundo perde quando a promoção não funciona como deveria. Esperamos que, com a experiência acumulada e o aprendizado, tenhamos um ano ainda melhor em 2014" Pedro Eugênio Piza, fundador do portal Busca Descontos, que trouxe a Black Friday para o Brasil em 2010, diz que as empresas também trabalharam no aperfeiçoamento dos sites para lidar com a demanda por consumidores online. Com promoções relâmpago ao longo deste ano, varejistas tentaram gerar o mesmo aumento de demanda normalmente registrado na Black Friday e, assim, identificar falhas. “As empresas começaram a se planejar mais cedo e fizeram grandes investimentos em infraestrutura para evitar problemas”, diz . “Ainda assim, temos que ter o pé no chão. É preciso entender que um site também tem limites. Assim como em uma loja física, não é possível atender a todo mundo ao mesmo tempo.”

Moderação para não cair em tentação


Válido recorrer à Bíblia: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre" 1 João 2:15-17 (Grifo meu).

Fonte: FG, Procon